sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

“Onde os Fracos Não Tem Vez” (EUA/2007) dos Irmãos Joel Coen e Ethan Coen: Nenhum Altar Para a Deusa Justiça

 

“Onde os Fracos Não Tem Vez” (EUA/2007) dos Irmãos Joel Coen e   Ethan Coen 

(O texto foi publicado originalmente no Jornal Montblãat e depois no meu Blog anterior. Aqui se encontra com correções, acréscimos, cortes, atualizações e spoilers, com detalhes adiantados para a análise pretendida)  

Nenhum Altar Para a Deusa Justiça 







Quando Roman Polanski foi presidente do júri do Festival de Cannes de 1991, comentou que o filme que gostaria de premiar junto com seus colegas, era aquele que sem prejuízo da reflexão crítica e dos valores estéticos, fosse também um ótimo entretenimento. É claro que até um árido filme como “Hitler: Um Filme da Alemanha” (1977), de 7 horas,dirigido por Hans-Jürgen Syberberg, com horas de câmera fixa, de “vanguarda”, mas também emulando técnicas dos primórdios da sétima arte, como as de Meliés em “Viagem à Lua” (1902), pode ser uma forma de arte e entretenimento para uma mentalidade bastante intelectualizada, proporcionando grande prazer a quem o assiste. 

Mas não eram filmes como este que Polanski procurava. Como em boa parte de sua vasta e grandiosa obra, tendo o sucesso “Chinatown”(1974), como um dos seus momentos mais extasiantes (ainda que seu primeiro longa-metragem “A Faca na Água”(1962) seja uma obra-prima mais seca e difícil, como também o são “Repulsa ao Sexo” (1965) e “Armadilha do Destino”(1966)), o gênio franco/polonês almejava por um filme de comunicabilidade mais evidente e com grande apuro formal, técnico e artístico, não se esquecendo do gozo na fruição enquanto “espectador”, mais do que como crítico, jurado ou cineasta. Sobre críticos Polanski já chegou a dizer, ironicamente, que não passam de colecionadores de selos...






O júri acabou dando a Palma de Ouro de melhor filme para “Barton Fink- Delírios de Hollywood” (1991) dos irmãos Joel e Ethan Coen, um filme que se encaixou como uma luva nos ideais estéticos de Polanski, pois dialoga com sua própria obra, como vários outros desta dupla fantástica, ao cotejar o macabro dentro das relações humanas, com espírito crítico e agudo humor negro que se instala com sutileza. Este é um panorama mais geral. Nos detalhes as diferenças de estilo entre estes grandes cineastas se impõem.

“Barton Fink-Delírios de Hollywood” alavancou ainda mais a carreira dos Coen e se concentra na crise criativa de um dramaturgo prestigiado da Broadway, sucesso de público e de crítica, que aceita um convite para trabalhar em Los Angeles, tendo que obedecer a cânones bem comerciais de um produtor a princípio compreensivo com a insegurança do roteirista principiante, que tem de trabalhar uma história que envolva luta livre e homens gordos com collant... Um homem instalado no mesmo hotel que o escritor, um “homem comum” como ele tanto adora mostrar em seus trabalhos, se envolve com ele numa ciranda de acontecimentos que beiram o surreal, gerando a inspiração para o roteiro que deve escrever.

A angústia do personagem Barton Fink no fundo revela afinidades eletivas e temas dos próprios Coen: dar vida ao que pode haver de incomum, grotesco, trágico, cômico, recorrente na vida de homens comuns da sociedade americana, quando algum elemento do cotidiano pode fugir das “alegrias catalogadas” (conforme Clarice Lispector) e desencadear o imprevisível trabalho do acaso, que parece ser muito mais fruto de um demônio brincalhão do que de um deus misericordioso, desordenando e redimensionando o que Ferreira Gullar chama de “a estranha vida banal”.











“Fargo” (1996), “Ajuste Final” (1990), “O Homem Que Não Estava Lá” (2001), bem como o pioneiro “Gosto de Sangue” (1984), filme independente de baixíssimo orçamento para os padrões de Hollywood, grande prêmio do júri no Sundance Film Festival em 1985, obras essenciais na filmografia dos Coen, nos mostram personagens movidos pela ambição desenfreada e/ou vingança ou até ciúmes, que arquitetam planos que os envolverão numa roda-viva, muitas vezes feita de sangue, violência, desespero, obstinação, crueldade, perseguições estilo gato X rato, etc..., num caleidoscópio de reviravoltas, sempre filmadas com notável plasticidade, delimitando com frescor, clareza e densa poesia visual, os seres prisioneiros de enrascadas as mais variadas.

“E o pássaro viu-se livre para ir em busca de uma nova gaiola”. Esta é uma pequena síntese da condição humana que nos dá Franz Kafka. Essa questão que também é uma angústia metafísica,   permeia a obra dos Irmãos Coen. Há os imperativos morais categóricos driblados e vilipendiados. Homens fogem às suas responsabilidades éticas, movidos muitas vezes pelo mais vil e galopante argentarismo. Com os homens fugindo de uma gaiola para encontrar outra, as consequências dos seus atos humanos (ou muitas vezes desumanos), entretanto, são dificilmente abarcadas pelo o que se chama de “justiça dos homens”. Há uma força superior que tanto pode protegê-los como, o que mais acontece, ampliar seus becos sem saída. Há casos como o de “O Homem Que Não Estava Lá” em que o protagonista é condenado não pelo que fez, mas pelo que não fez. Até neste sentido ele cumpre a sina de ser “o homem que não estava lá”, com a síndrome do não pertencimento no mundo, que só acaba com a pena de morte. 



“Onde os Fracos Não Têm Vez”, vencedor de vários prêmios da crítica americana, de sindicatos da classe artística dos EUA, Oscar de Melhor Filme , Direção, Ator Coadjuvante para Javier Bardem, Roteiro Adaptado, com muitas indicações, triunfante apesar de fugir bastante do estereótipo do que se convencionou chamar de “filme do Oscar”), representa a maturidade artística até então dos  Irmãos Coen (os posteriores tem o seu grande encanto, mas não a força deste), aquele filme em que forma e conteúdo se imbricam de forma ainda mais bela, contundente, envolvente e chega a ser até curioso que isto se dá quando eles não estão trabalhando com seus ótimos atores fetiches, como Frances McDormand, John Turturro, Steve Buscemi, George Clooney e fazem roteiro sob obra alheia, no caso um romance de Cormac McCarthy, mas que tem muitos pontos de contato com o Universo dos Coen. 

A obra traça por metonímia, numa história ambientada numa localidade do Texas próxima à fronteira com o México, na década de 80, um retrato agudo, visceral, assustador (definitivo e irreversível?), de uma sociedade em agonia ética, moral e espiritual que se afogou num oceano de materialismo empedernido e consumismo compulsivo, fruto de uma originária pseudo-ética tida como protestante, fundamentada em chavões como “In God We Trust”( ou seria Gold/Ouro?), “There is No Gain Without Pain”( “Não Existe Ganho Sem Dor”), que prometia construir a sociedade mais bem acabada do planeta, ainda que com imperfeições que uma entidade impalpável e caprichosa chamada mercado corrigiria o melhor que pudesse.

Esta utopia da mediocridade foi sendo imposta como modelo ao restante do planeta, muitas vezes a ferro e fogo, guerras e golpes militares programados e insuflados ou até mesmo, conforme revelou Frances Stonor Saundeurs em “Quem Pagou a Conta? A Cia na Guerra Fria da Cultura” (Record/2008), por um insidioso e dissimulado investimento desta agência em instituições como a Fundação Ford, que patrocinaram intelectuais renomados ou não, para divulgar o american way of life mundo afora em palestras e/ou artigos em revistas “respeitáveis”. Afinal como os EUA não têm Ministério da Cultura era imperioso para a Cia fazer este trabalho, mesmo que sub-repticiamente, para se contrapor ao temido e famigerado poder do “ouro de Moscou” que circulava pelo planeta...




Há quem postule que “Onde os Fracos Não Têm Vez” comente o estado das coisas no mundo. Discordo. Como “Dançando no Escuro” (2000), “Dogville” (2003) e “Manderlay” (2005) de Lars Von Trier, é dos EUA, mais especificamente, que se trata. Claro que vale a máxima de Léon Tolstói de que quanto mais se retrata a própria aldeia, mais se torna universal e são inevitáveis os pontos de contacto com o que ocorre em outros países de um mundo que se proclama globalizado, mas odeia que certas pessoas cruzem fronteiras (no filme comenta-se que os coiotes não vieram até os mortos mexicanos esparramados no chão porque não gostam desta carne...). Mas ao retomar a paisagem desértica do velho Oeste, no Texas, ícone de tantos filmes que já vimos do “gênero americano por excelência”, que é o western, os irmãos Coen nesta dolorida obra-prima, no fundo, de certa forma, celebram (se é que esta palavra é adequada) o funeral deste gênero em que de alguma forma, no último momento “o mocinho” dava um jeito de impor a lei mesmo que com a força das armas e capturava ou matava o “bandido”. Em relação ao Brasil, Caetano Veloso comentou numa de suas belíssimas letras/poemas: “Aqui tudo é construção é já é ruína”. Já os Coen parecem nos dizer: “O que pensávamos ser uma grande construção, perdeu-se numa trajetória de equívocos e hoje se mostra uma ruína”.




“Onde os Fracos Não Têm Vez” também alude ao fascínio/fetichismo que há na sociedade americana por armas como nos instigantes “Tiros em Columbine” (2002) de Michael Moore, “Na Mira da Morte” (1968) de Peter Bogdanovitch e “Elefante” (2003) de Gus Van Saint. No filme dos Coen, personagens manipulam armas como se estas fossem uma extensão natural do próprio corpo. Os Coen não nos poupam em muitos momentos dos efeitos “plásticos” dos tiros. Tirar balas e resíduos de disparos do próprio corpo passa a ter a naturalidade de quem faz as unhas das mãos e dos pés. A ausência de trilha sonora do filme amplia a tensão dos silêncios e dos tiros emitidos. Há apenas música quando aparecem mariachis no México cantando e nos letreiros finais.




No mundo de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, o que seria mais apropriadamente o chamado homem comum é Llwelyn Moss (Josh Brolin, excelente), um ex-veterano das intervenções catastróficas no Vietnã, soldador aposentado, casado com Carla Jean (Kelly Mcdonald). Numa caçada de cervos numa planície deserta típica dos westerns clássicos, ele acaba após algum tempo de perscrutação, se deparando com “um panorama após a batalha”, onde se vê corpos de mortos caídos no chão e carros parados, com vidros estilhaçados, dispostos de forma transversal. O filme jamais nos explicará com detalhes o que de fato aconteceu e nem precisa. Ele se abre com uma narração em off do representante do poder público, o homem da lei e xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones, majestoso e comovente), nostálgico dos tempos em que seu pai e o avô, também na mesma atividade, impunham respeito à lei até mesmo sem armas.

Llwelyn se apodera de dois milhões de dólares de um homem morto ao pé de uma árvore, numa maleta, fruto de algo que deu muito errado, o que ele não compreende, tendo travado contacto humano apenas com um homem agonizante que lhe pede água sofregamente, o que ele não tem. Vendo no dinheiro fabuloso a grande chance de sua vida e da sua esposa, mesmo assim, com inquietações morais, Llwelyn volta para dar água ao suplicante como uma forma de reparação, o que não será algo pacífico. 

O que Llwelyn não contava é que um aparelho instalado por entre as notas colocadas na maleta, um transponder, permite o rastreamento de suas movimentações por um perigosíssimo e suis generis psicopata, com sua arma cilíndrica de ar comprimido, com a qual pratica rituais sádicos e sanguinolentos, um dos personagens monstruosos mais fascinantes e terríveis do Cinema (desde o canibal Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes”-1991, de Jonathan Demme não vi nada igual ), Anton Chigurh, genialmente composto pelo grande ator espanhol Javier Bardem, com uma cabeleira típica dos Beatles em seus primórdios, uma das tantas ironias com que os Coen adoram rechear suas obras.




A Ed Tom Bell num clima de pré-aposentadoria, resta a missão inglória, feita com um misto de tédio, desencanto, melancolia (alguém com consciência crítica da própria impotência diante destes novos ares, deste novo país, onde não há lugar para um homem “dos velhos tempos” como ele), de pelo menos tentar salvar Llwelyn de seu algoz perseguidor, já que prender Anton é uma missão ainda mais titânica e escorregadia, uma tarefa de Hércules para a qual não enxerga em si mais “músculos”, tanto no sentido físico como psíquico e político-social. É isto que sintetiza o belíssimo título original do filme que é o mesmo do romance no qual se baseou, “No Country For Old Men” de Cormac McCarthy, traduzido no Brasil pela Alfaguara/Objetiva como “Onde os Velhos Não Tem Vez”. Esta não é a melhor tradução, mas é bem superior em exprimir a essência da obra do que o ridículo “Onde os Fracos Não Têm Vez”, que sugere uma ideia errônea do filme, uma visão proto-nazista da qual este passa longe.

Mesmo com a onipotência demoníaca de Anton que quer decidir se uma pessoa merece viver, impondo que ela jogue cara ou coroa com uma moeda, não se trata mais aqui de fracos e fortes. Não se pode dizer que os fortes tem vez. Por mais que haja quase que um caráter missionário de Anton que o move a espalhar o Mal, como uma maldição bíblica apocalíptica, matando pessoas com grande frieza, pragmatismo, com um olhar demencial e um sorriso zombeteiro, não se pode confundir suas baixezas e covardias com fortaleza. Já Ed Tom não é fraco. Simplesmente está imerso numa sociedade que promove a falência da boa vontade, da generosidade, da coragem e dos impulsos altruístas em nome de um espírito individualista atroz, travestido de ideologia básica e eivada de autoritarismo dissimulado, onde o capital floresceria, numa falácia histórica com muitos adeptos. 

Llwelyn não negocia e se agarra com obstinação e leviandade à ideia de ficar com a dinheirama, mesmo que ele e sua mulher corram sérios riscos de vida, o que não se pode chamar com propriedade de força.

“Onde os Fracos Não Têm Vez”, como de hábito nos trabalhos dos Coen, é minimalistamente calculado, com planos e angulações magníficos que se sucedem como se para tudo tivesse havido storyboards muito bem estruturados. Aumenta o fascínio pelo filme sentir que se fosse um roteiro original deles (como tem sido hábito) não nos soaria nada estranho. Eles transfiguraram o universo do romancista Cormac McCarthy, em temas autorais emblemáticos de sua poderosa obra. Por mais que os EUA sejam o iceberg, de onde vemos a ponta Texas na década de 80, algumas questões quase que metafísicas se impõem, como, principalmente, no majestoso “O Homem Que Não Estava Lá”. Neste, um barbeiro descobre que a mulher tem um caso com o patrão dela e passa a chantagear este com uma carta onde ameaça tornar pública esta relação, querendo dinheiro para uma sociedade que pretende montar para sair de sua vidinha medíocre. Como é de hábito nos Coen nada sai como se programa. A ganância humana tem um custo alto. Mas há um diabolismo (um Deus ex Machina?), que gera o acaso determinante e engendra surpresas para os personagens e o espectador, que são sempre fascinantes, formando com a ambição desmedida uma combinação explosiva.

Os Irmãos Coen, assim como os Irmãos Dardenne, os Irmãos Taviani, as agora transgêneros Irmãs Wachowski etc...fazem um Cinema com unidade de estética e pensamento. Não há esquizofrenia nas narrativas. Em extras de DVD é surpreendente como os Coen complementam raciocínios e já estive no MAM com os Irmãos Taviani, numa mesa, apresentando um filme, onde um começava um tema e o outro complementava, sem fraturas. 

Os três protagonistas (o assassino frio Anton, o argentário Llwelyn e o xerife Tom Bell) nunca se cruzam durante o filme todo. Há sim troca de tiros entre Anton e Llwelyn. Mas a sorte do primeiro vai ser selada não pela Justiça, mas por uma intervenção Deus ex Machina. 

Para os Coen, o Inferno certamente é aqui mesmo na Terra. A temperatura de seus círculos dantescos é que varia de região para região, de filme para filme. Nos chamados Estados Unidos da América, nos mostra estes travessos irmãos, a temperatura está elevadíssima e tem piromaníacos em cargos elevados. O fogo queima as almas incautas, desprevenidas, arrogantes ou até mesmo inocentes (se é que esta palavra ainda cabe neste contexto).

Barack Obama foi eleito como uma tábua de salvação possível. Hoje este democrata de muitos planos se vê emparedado pelos republicanos. A prisão de Guantánamo em solo cubano ainda resiste. Será que ainda há meios, mantendo uma filosofia política primordial que já nasceu torta, para criar um país onde os “velhos homens”, com seus ideais ainda tenham espaço?

Nelson Rodrigues de Souza

Ps1. Escrevi este texto inicialmente por ocasião da eleição de Obama. Já a filmografia dos Coen, com seus atrapalhados “caipiras” e afins, dos mais variados tipos e arquétipos, como que previu a tomada da presidência nos EUA pelo abominável em todos os aspectos, Donald Trump. Agora temos em 2021 Joe Biden, com Kamala Harris como vice, que se não arregaçarem bastante as mangas, vão jogar os EUA numa nova aventura, com Trump 2, o Retorno. Se o governo deste já foi uma farsa, pode voltar como uma farsa maior ainda. 

Assusta saber que Biden depois do desastre de Trump deveria ter vencido de lavada, mas mesmo assim Trump recebeu por volta de 70,3 milhões de votos segundo página eletrônica da CNN. Olha os “caipiras” e afins do Universo dos Coen, bastante ressentidos, ainda na ativa, crendo num Mito com pés de barro e sujos.

Isto nos mostra que os Coen com seus filmes foram fundo na América profunda, que não muda tão facilmente. A invasão do Capitólio por várias falanges trumpistas, algumas armadas, foi tão surreal, que nem a imaginação bastante fértil do Coen preveriam.




Mas é bom lembrar que nem só de “caipiras” obtusos vive a obra dos Coen. Há personagens com bons argumentos, argúcia, como a policial de Frances MacDormand de “Fargo”, o xerife Ed Tom Bell de “Onde os Fracos Não tem Vez” de Tommy Lee Jones, o gangster de bom coração (mas que tem seus limites...) de Gabriel Byrne de “Ajuste Final”, o casal da comédia alucinada de erros brilhante de “Arizona Nunca Mais” (1987) que aprende duras lições etc... São exceções que confirmam a regra. 

 



 



Ps2 Um ótimo contraponto à temática de “Onde os Fracos Não Têm Vez” é o muito bom “O Gângster” (EUA/2007) de Ridley Scott, da mesma safra, baseado na incrível história real de um mafioso negro do Harlem dos anos 70, Frank Lucas (Denzel Washington), que venceu com “galhardia” outros concorrentes poderosos no tráfico de heroína, que era processada com ótima qualidade de manipulação, com grande grau de pureza, vendida a preços baixos, tida como a “mágica azul”, vinda diretamente da Indonésia, escondida em caixões de soldados mortos no Vietnã, com a cumplicidade de autoridades militares americanas ( viés que o filme não desenvolve pois seria longo demais). 

Um policial incorruptível, Ritchie Roberts (Russell Crowe), autêntica flor do lodo em que circula, prende este famoso marginal. Com a contribuição deste, um esquema de corrupção colossal na polícia na área de narcóticos é desbaratado. O gângster mesmo tendo várias mortes horrendas e “pedagógicas” em seu histórico de vida bandida foi solto 15 anos depois, saindo em 1991, anistiado pelos “altos serviços prestados”. É tudo verdade mesmo? Ficção? Qual é a regra? É uma exceção? Ainda há heróis como os do velho western? 







Ricardo Calil comenta na Bravo! de janeiro de 2008 que assim como o “lado empresarial” singular da vida de Michael Corleone (da trilogia “O Poderoso Chefão”) está sendo estudado em universidades americanas na área de economia, o mesmo vai acabar acontecendo com Frank Lucas, o “gângster americano”, conforme o título original. E o “lado empresarial” de Fernandinho Beira-Mar, das milícias, dos viciados em rachadinhas, dos promotores de vacinas superfaturadas, a evasão fiscal em offshores etc...etc...também vão ser estudados em universidades brasileiras? Os Irmãos Coen não dariam conta da realidade brasileira. 

Ps3 Pode-se vislumbrar um certo antiamericanismo no meu texto. É verdade. Não está camuflado.


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