sexta-feira, 10 de março de 2023

Oscar 2023: Os Indicados, Os Esnobados, Os Que Sobram, Os que Prefiro e os Que acredito que Vençam, independentemente do Meu gosto.

Oscar 2023: Os Indicados, Os Esnobados, Os Que Sobram, Os que Prefiro* e os Que acredito que Vençam, independentemente do Meu gosto.

*Para tal devo me ater só aos indicados. 



1- Oscar 2023-Os Indicados 

Tudo em Todo o Lugar lidera com 11 indicações; veja lista- Fonte: https://www.omelete.com.br/oscar/oscar-2023-indicados 

Cerimônia deste ano acontece em 12 de março

Omelete

Caio Coletti 

24.01.2023, às 10h57

Atualizada em 02.02.2023, às 15h46

O Oscar 2023 revelou hoje (24) os seus indicados, com Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo na liderança da lista com 11 nomeações, incluindo melhor filme, melhor direção (para os Daniels) e melhor atriz (Michelle Yeoh). Confira a lista completa mais abaixo.

A segunda posição, enquanto isso, ficou com Nada de Novo no Front, filme de guerra alemão lançado pela Netflix, que surpreendeu ao faturar nove indicações (incluindo melhor filme). Ele veio empatado com Os Banshees de Inisherin, que também foi lembrado nove vezes pela Academia.

Enquanto isso, Elvis levou oito indicações, e Os Fabelmans apareceu com sete. Os vencedores do Oscar 2023 serão revelados em cerimônia que acontece em 12 de março.

MELHOR FILME

Nada de Novo no Front


Avatar: O Caminho da Água


Os Banshees de Inisherin


Elvis


Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


Os Fabelmans


Tár


Top Gun: Maverick


Triângulo da Tristeza


Entre Mulheres


MELHOR DIREÇÃO

Martin McDonagh, por Os Banshees de Inisherin


Daniel Kwan & Daniel Scheinert, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


Steven Spielberg, por Os Fabelmans


Todd Field, por Tár


Ruben Östlund, por Triângulo da Tristeza


MELHOR ATOR

Austin Butler, por Elvis


Colin Farrell, por Os Banshees de Inisherin


Brendan Fraser, por A Baleia


Paul Mescal, por Aftersun


Bill Nighy, por Living


MELHOR ATRIZ

Cate Blanchett, por Tár


Ana de Armas, por Blonde


Andrea Riseborough, por To Leslie


Michelle Williams, por Os Fabelmans


Michelle Yeoh, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


MELHOR ATOR COADJUVANTE

Brendan Gleeson, por Os Banshees de Inisherin


Brian Tyree Henry, em Causeway


Judd Hirsch, em Os Fabelmans


Berry Keoghan, por Os Banshees de Inisherin


Ke Huy Quan, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Angela Bassett, por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre


Hong Chau, por A Baleia


Kerry Condon, por Os Banshees de Inisherin


Jamie Lee Curtis, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


Stephanie Hsu, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Martin McDonagh, por Os Banshees de Inisherin


Daniel Kwan & Daniel Scheinert, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


Steven Spielberg & Tony Kushner, por Os Fabelmans


Todd Field, por Tár


Ruben Östlund, por Triângulo da Tristeza


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Edward Berger, Lesley Paterson & Ian Stokell, por Nada de Novo no Front


Rian Johnson, por Glass Onion: Um Mistério Knives Out


Kazuo Ishiguro, por Living


Ehren Kruger, Eric Warren Singer & Christopher McQuarrie, por Top Gun: Maverick


Sarah Polley, por Entre Mulheres


MELHOR FOTOGRAFIA

James Friend, por Nada de Novo no Front


Darius Khondji, por Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades


Mandy Walker, por Elvis


Roger Deakins, por Império da Luz


Florian Hoffmeister, por Tár


MELHOR TRILHA SONORA

Volker Bertelmann, por Nada de Novo no Front


Justin Hurwitz, por Babilônia


Carter Burwell, por Os Banshees de Inisherin


Son Lux, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


John Williams, por Os Fabelmans


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Sofia Carson - "Applause" (de Tell it Like a Woman)


Lady Gaga - "Hold My Hand" (de Top Gun: Maverick)


Rihanna - "Lift Me Up" (de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre)


"Naatu Naatu" (de RRR)


Son Lux - "This is a Life" (de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)


MELHOR EDIÇÃO

Mikkel E.G. Nielsen, por Os Banshees de Inisherin


Matt Villa & Jonathan Redmond, por Elvis


Paul Rogers, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


Monika Willi, por Tár


Eddie Hamilton, por Top Gun: Maverick


MELHOR FIGURINO

Mary Zophres, por Babilônia


Ruth E. Carter, por Pantera Negra: Wakanda Para Sempre


Catherine Martin, por Elvis


Shirley Kurata, por Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo


Jenny Beavan, por Sra. Harris Vai a Paris


MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

Nada de Novo no Front


Avatar: O Caminho da Água


Babilônia


Elvis


Os Fabelmans


MELHOR CABELO & MAQUIAGEM

Nada de Novo no Front


Batman


Pantera Negra: Wakanda Para Sempre


Elvis


A Baleia


MELHOR SOM

Nada de Novo no Front


Avatar: O Caminho da Água


Batman


Elvis


Top Gun: Maverick


MELHORES EFEITOS VISUAIS

Nada de Novo no Front


Avatar: O Caminho da Água


Batman


Pantera Negra: Wakanda Para Sempre


Top Gun: Maverick


MELHOR ANIMAÇÃO EM LONGA METRAGEM

Pinóquio de Guillermo Del Toro


Marcel the Shell with Shoes On


Gato de Botas 2: O Último Pedido


A Fera do Mar


Red - Crescer é uma Fera


MELHOR ANIMAÇÃO EM CURTA METRAGEM

The Boy, the Mole, the Fox and the Horse


The Flying Sailor


Ice Merchants


My Year of Dicks


An Ostrich Told Me the World is Fake and I Think I Believe It


MELHOR CURTA METRAGEM EM LIVE-ACTION

An Irish Goodbye


Ivalu


Le Pupille


Night Ride


The Red Suitcase


MELHOR FILME INTERNACIONAL

Nada de Novo no Front (Alemanha)


Argentina, 1985 (Argentina)


Close (Bélgica)


EO (Polônia)


The Quiet Girl (Irlanda)


MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM

All That Breathes


All The Beauty and the Bloodshed


Fire of Love


A House Made of Splinters


Navalny


MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA METRAGEM

The Elephant Whisperers


Haulout


How do You Measure a Year?


The Martha Mitchell Effect


Stranger at the Gate


2- Os Esnobados, Os Que Sobram 

Para melhor entendimento das minhas escolhas sugiro ler também a postagem anterior onde comento os melhores filmes vistos em 2022. Comentários, de modo geral, não serão repetidos aqui onde aparecem filmes que só consegui assistir em 2023.  

Mesmo com todos os erros cometidos, sou fã do Oscar porque é inegavelmente a grande festa mundial do Cinema, num nível internacional que os grandes festivais como Cannes, Berlim e Veneza não alcançam. 

Numa época em que muitas pessoas acabam se restringindo ao que conseguem ver no streaming ou pelos torrentes da vida, é preciso termos esta festa que celebra a força do Cinema na Tela Grande. Praticamente, mesmo que acabem no streaming, com exceção absurda de “Nada de Novo no Front”, dos curtas-metragens e documentários, a maioria dos filmes indicados passaram/passam/passarão pela Tela Grande, onde os filmes são vistos em comunhão como uma missa leiga, como gostava de se referir Federico Fellini.

2.1 Melhor Filme  

Babilônia 

O filme mais subestimado nesta temporada de premiações e indicações é “Babilônia” de Damien Chazelle, “uma carta de amor ao Cinema”, mas escrita com muita raiva sobre tudo que pode ocorrer de ruim durante as filmagens, principalmente na transição do Cinema Mudo ao Cinema Falado. 

Damien Chazelle se inspira em filmes conhecidos, mas inova bastante no tratamento deste tema, com grande dose de coragem, sem receio de trabalhar com escatologias.Nunca vimos antes nada parecido com “Babilônia”. É um passo além de “Cantando na Chuva”, “Crepúsculo dos Deuses” e “O Artista”. Para tal, conta com excepcional entrega de Margot Robbie, como Nellie LaRoy, uma atriz que luta para ter sucesso no Cinema Mudo que não vai se adaptar ao Cinema Falado, assim como o astro vivido por Brad Pitt, Jack Conrad, num misto de fragilidade e cinismo.   

Temos também em destaque o faz tudo que se torna produtor Manny Torres (Diego Calva, magnífico) que vai sobreviver a todas as intempéries, inclusive ao inferninho subterrâneo de Hollywood apresentado por James McKay (um irreconhecível Tobey Maguire) e vai vivenciar nos anos 50 uma experiência de riso e choro diante do encantamento do Cinema ( visto numa sala cheia ) e da experiência que conhece do quanto pode haver de dor por trás das imagens feitas. 

Logo de início somos apresentados a uma grande festa babilônica, onde comparece até um elefante, Nellie LaRoy se exibe para possíveis produtores e Jack Conrad, já estabelecido é levado bêbado para casa por Manny Torres. Mas o que se vê no inferninho apresentado por James é da ordem do inominável. Aqui, nesta festa, ainda há glamour. 

“Babilônia” é um filme de excessos calculados e com filmagens incríveis sejam as simultâneas do Cinema Mudo, onde o som pode vazar, à vontade, como as silentes do Cinema Falado, onde qualquer coisa que não saia como previsto, vai necessitar novo take.

“Babilônia” tem direção, direção de arte, fotografia, trilha sonora etc...nada menos que aliciantes e poderosas, confirmando o que disse William Friedkin num doc , que Damien Chazelle é o cineasta do futuro. “Whiplash”, “La La Land”, “O Primeiro Homem” e agora “Babilônia” confirmam isto. Friedkin convidou Chazelle para ir à sua casa conhecer as obras de arte que colecionou através de suas viagens pelo mundo com seus filmes, privilégio dado a poucos. 







Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo  

O filme mais superestimado de 2022 e não só no Oscar, é “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, onde temos muito barulho por nada, como diria o bardo inglês. A ideia de explorar o multiverso não é nada nova (aliás “Matrix”, o clássico de 1999 de certa forma já fazia isto e com lutas marciais realmente belas, nada espetaculosas e kitchs como aqui). Em “Tudo...” usa-se este pretexto até para invadir filmes como “2001:Uma Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick, “Amor à Flor da Pele” de Wong Kar-Way, “O Tigre e o Dragão” de Ang Lee, “Kill Bill Volume 1 e 2” de Quentin Tarantino etc... 

A personagem de Michelle Yeoh (trabalho que o filme tem realmente de melhor) trafega por vários universos junto ao marido, à filha (que vai descobrir ser sua maior inimiga...(sic)), tudo numa montagem irritante de um filme longo demais para os seus propósitos, para chegar a conclusões um tanto pueris, óbvias e clichês, a esta altura da História do Cinema. 







Triângulo da Tristeza 

“Triângulo da Tristeza” de Ruben Östlund deu a segunda Palma de Ouro ao diretor, depois de tê-la conquistado também com “The Square- A Arte da Discórdia”. Ele costuma ser acusado de ter a mão pesada, mas este peso nestes dois filmes tem um propósito. No primeiro dinamitar as hipocrisias, tiranias e cinismo por trás das disparidades das lutas de classes. No segundo o alvo são as empulhações do universo das artes conceituais, focando nas agruras de um curador. 

Mas em “Força Maior” Ruben Östlund trabalha com sutileza o tema ligado às obrigações patriarcais, quando um pai abandona sua família na iminência de uma grande avalanche numa estação de esqui que acaba se dissipando, mas deixando marcas profundas nele, na mulher e nos filhos. 

“Triângulo da Tristeza” tem três partes bem distintas mas que dialogam entre si e tem um desfecho em aberto bastante incômodo onde teremos de apelar a nossos valores morais e o que esperamos dos outros para prever o que vai acontecer. Numa apresentação o diretor disse que fez questão de deixar em aberto.  







 

Tár 

Tár de Todd Field (que realizou antes os excelentes “Entre Quatro Paredes” e “Pecados Íntimos”) é o filme mais “cabeça” da temporada. Concentrando-se na vida profissional e pessoal de uma maestrina, Tár, vivida espetacularmente por Cate Blanchett, em alguns momentos exige uma familiaridade com a música clássica para entendermos falas, principalmente numa entrevista e numa aula. Mas é algo que podemos superar.   

Todd escreveu o filme para Cate pois sabia que ela brilharia no papel. A obsessão com Tár é tal que alguns personagens e situações tem elementos que o espectador será obrigado a preencher. 

Mesmo que a cultura do cancelamento não seja o tema do filme, ele é perpassado por ele. Tár descuida-se da visão pública de sua vida íntima como uma mulher lésbica que vive com outra, criam uma filha, mas tem atração por jovens e usa seu poder como regente da Orquestra Filarmônica de Berlim para atraí-las ou afastá-las. O que talvez fosse permitido aos maestros, em Tár é imperdoável e as sequências finais serão impactantes. E Cate está genial tanto com Tár superpoderosa e profissional, quanto na decadência, dando uma volta por cima polêmica. 








 Os Fabelmans 

Com “Os Fabelmans” Steven Spielberg faz seu filme mais objetivamente autobiográfico, mesmo que família tenha sido um dos temas mais frequentes de sua carreira extraordinária. 

Quando criança a família de Sammy Fabelman o leva para assistir “O Maior Espetáculo da Terra” de Cecil B. DeMille. A princípio assustado com o que irá ver, ele sai do cinema vidrado e siderado por tudo que viu, principalmente num realista acidente de trem. Ele vai receber uma câmera de sua mãe e vai começar por um filmete onde reproduz justamente um acidente de trem. 

“Os Fabelmans” vai acompanhando Sammy descobrindo de forma autodidata os potenciais do cinema enquanto linguagem e também o que pode revelar da realidade. É através de uma filmagem que faz, que Sammy vai descobrir que a mãe tem um caso com quem chamam de “tio”, algo que emula “Blow-Up-Depois Daquele Beijo” de Michelangelo Antonioni ( uma morte numa fotografia).  

Paul Dano faz um pai engenheiro que se preocupa a princípio com o filho que não gosta de escolas. Separado da mulher, vivendo com o filho, vai incentivá-lo a ir para a televisão. Michelle Williams compõe a mãe que incentiva o filho no caminho da arte, pois ela mesmo gostaria de ter seguido uma carreira de pianista.

“Os Fabelmans” nos cativa com sequências simples e criativas e tem um momento genial quando David Linch compõe John Ford, já idoso e irascível, dando lições a Sammy sobre o que o Cinema é e não é, quando ele consegue enfim trabalho na televisão.

Na vida real Spielberg vai fazer “Encurralado” para a televisão, terá tanto sucesso que o filme irá para os cinemas e ele vai estrear dentro do espírito da transgressiva Nova Hollywood  com “Louca Escapada”. Mas sua carreira vai ser trilhada por vários caminhos, de forma única na História do Cinema, como um dos seus gênios. 








Os Banshees de Inisherin

Martin McDonagh já tinha dirigido antes Colin Farrell e Brendan Gleeson juntos em “Na Mira do Chefe” (“In Bruges”) com excelente resultado de policial de humor negro. 

Em “Os Banshees de Inisherin” dois amigos de longa data, Pádraic (Colin Farrell) e Colm (Brendan Gleeson) tem a amizade interrompida unilateralmente por Colm com este apresentando razões não convincentes. Diz que o tempo que passa com Pádraic bebendo e jogando conversa fora, poderia ser dedicado a compor uma música que ficasse para a eternidade, que não fosse algo efêmero. Quanto mais Pádraic (Colin excepcional na tristeza que o assoma ) insiste em recuperar a amizade, mais Colm se distancia e fica rígido emocionalmente, fazendo uma ameaça pesada e cumprindo: se o ex-amigo insistir vai cortar dedo das mãos, paulatinamente a cada insistência. Mas como se os dedos são instrumento de composição, do trabalho que diz tanto desejar? 

O filme se passa numa ilha remota na costa oeste da Irlanda, de onde se vê à distância ecos da guerra civil do país. Por mais que Colm se explique temos carga de mistérios em sua atitude que talvez só os Banshees (Espíritos) da Ilha expliquem. Podemos também encarar o filme como uma metáfora da guerra fratricida, ou seja entre irmãos, travada na Irlanda.

Um acontecimento trágico com um dos seus queridos animais vai fazer Pádraic se voltar contra Colm numa relação de amor que se transforma em grande ódio. Colm aceita este ódio, vai pensar que vão ficar quites, mas Pádraic vai ser exigente, considerando que não.

Barry Keoghan (que trabalhou em “O Sacrifício do Servo Sagrado” junto com Farrell), um jovem desajustado com pai tirano e abusador e Kerry Condom como a irmã contemporizadora de Pádraic são ótimos coadjuvantes, detonadores de conflitos.  Sheila Flitton compõe uma bruxa agourenta, como se Inisherin precisasse de mais confusões. 








 Entre Mulheres 

Uma autêntica joia rara dentre os que concorrem a melhor filme, esta obra de Sarah Polley, com elenco esplêndido incluindo Ben Whishaw ( o único homem), Jessie Buckley, Rooney Mara, Claire Foy, Frances McDormand, dentre outras mulheres, tem um tom de tragédia grega, como “As Troianas” de Eurípedes.  

Mulheres forçadamente analfabetas numa comunidade religiosa sofrem vários abusos dos homens, inclusive pedofilia contra seus filhos e tem que descobrir o que fazer de forma urgente, numa reunião com o professor August (Ben Whishaw de “Brilho de Uma Paixão” de Jane Campion), homem raro, com bastante sensibilidade que fez universidade, fazendo anotações: ficar perdoando os agressores; ficar lutando contra eles ou ir embora que é diferente de fugir. 

Um grande complicador é que as mulheres tem de tomar as decisões conciliando-as com suas convicções religiosas. 

O filme tem sequências externas belíssimas que quebram a teatralidade. 

Os homens chegam a utilizar anestesiante de animais para dopar as mulheres e fazer uso de seus corpos para depois culparem demônios, mesmo que as tenham engravidado. Um deles é descoberto e entrega os outros. Enquanto estão presos esperando por conseguir dinheiro para fiança, as mulheres fazem sua reunião urgente com muitas dissidências, a começar pela Scarface Janz de Frances McDormand, que por temor a Deus considera que as  mulheres tem de ficar e perdoar os homens que tanto mal lhes infligiram.  

Já Ona (Rodney Mara) está grávida de estupro, mas ama sua criança e também August, no que é correspondida.  Salomé ( Claire Foy) se enche de ódio contra tudo o que está acontecendo. 

O filme baseia-se numa história real ocorrida em 2010 na Colômbia numa comunidade menonita, sendo baseado no livro homônimo de Miriam Toews, o que deu o prêmio de melhor roteiro adaptado no Sindicato dos Roteiristas. O filme transferiu a história para os EUA.  https://pt.wikipedia.org/wiki/Menonitas

Mariche (Jessie Buckley) é casada com Klauss que volta antes de todos, em busca de fiança, sequestrando cavalos, a tempo de, bêbado, ainda bater na mulher, deixando seu rosto com fortes marcas.   

Nestes conflitos entre Religião e Violência o filme tem toques bergmanianos como em “A Fonte da Donzela”. Como ficar e lutar com violência se isto é contra os desígnios de Deus? E qual o limite do perdão? Quando passa-se deste para a permissividade? 

 









RRR (Revolta, Rebelião, Revolução)

Este filme extraordinário como grande espetáculo épico de  Tollywood, na Índia, falado em telugu, um idioma diferente do hindi, dirigido por S.S. Rajamouli, que lamentavelmente a Índia não indicou para Filme Internacional, foi indicado ao Oscar de Melhor Música. Isto é muito pouco. Deveria ter sido indicado a Melhor Filme, Direção, Montagem, Trilha Sonora, Som e Efeitos Especiais.







Não assisti a “Top Gun: Maverick” pois desconfiei que fosse uma patriotada americana, com missões a cumprir que devem ser cumpridas, não importa quais sejam. Pensou em Iraque, Vietnã, Afeganistão, Coréia etc...? Bingo. Enfim, um filme ideologicamente indigesto para mim. Pois foi exatamente isto que escreveu o crítico Marco Fialho que acompanho no Facebook sobre este filme. Por mim não teria entrado na lista de Melhor Filme. Ser uma das maiores bilheterias do ano não o qualifica. 

Como Melhor Filme gostaria que “Os Banshees de Inisherin” de Martin McDonagh vencesse, mas como já foi bastante consagrado pelo SAG, PGA, DGA, Sindicato dos Roteiristas, Independent Spirits Awards, etc...  acredito que o insosso e frenético até cansar  “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” seja o vencedor nesta categoria.

2.2 Melhor Direção

Gostaria que Damien Chazelle tivesse sido indicado a esta categoria por “Babilônia”. Dispensaria Os Daniels. 

Quem gostaria de ver no páreo é Baz Luhrmann por Elvis. 

Gostaria que ganhasse Steven Spielberg por “Os Fabelmans” onde ele cria forte magia com poucos elementos.  Spielberg deveria ter tido mais prêmios por seu extraordinário “West Side Story” no ano passado. Mas quem deve ganhar são os queridinhos da vez, que eu deixaria de fora dos concorrentes: Daniel Kwan e Daniel Schinert.    

2.3 Melhor Ator 

O argentino Ricardo Darín em “Argentina, 1985” nos entrega mais um grande desempenho e, no entanto, ao contrário do espanhol Javier Bardem (que já foi indicado a Oscars de Melhor Ator algumas vezes e ganhou como Melhor Ator Coadjuvante por “Onde os Fracos Não Tem Vez” dos Irmãos Coen), nunca teve nenhuma indicação. Infelizmente não foi neste Oscar 2023 que essa injustiça foi corrigida. 

A Baleia 

Sem dúvida é o desempenho de Brendan Fraser numa volta por cima sensacional na carreira depois de anos sem bons papéis, vivendo forte depressão, perseguições por ter denunciado assédio sofrido, que “A Baleia” tem de melhor. E não são as fortes camadas de próteses variadas para transformar seu Charlie num homem de obesidade mórbida de mais de 270 quilos que fazem a maior diferença. Seu trabalho é muito bom pelos olhares sensíveis e penetrantes que lança a nós espectadores, num filme de base bastante teatral, com poucas cenas externas.  

Mas se Brendan Fraser é o melhor deste filme do sempre polêmico Darren Aronofsky, ao contrário do que dizem este não é de forma alguma ruim. O arcabouço dramatúrgico é muito bom, faltando ser melhor desenvolvido. 

Charlie é um professor de criação literária e Literatura via web cam com vários alunos, mas ele alegando que seu computador está com problema na câmera, ele a deixa escura, com o centro sem imagem alguma, temendo ser visto tão gordo pelos seus alunos. 

Há oito anos atrás Charlie largou a esposa Mary (Samantha Morton) para viver com um homem por quem se apaixonou. Este era de família bastante religiosa e foi proscrito por ela. Não suportou esta barra e se matou. Sua irmã Liz ( Hong Chau) que sempre viveu longe dos valores da família, não se importando se é proscrita ou não, como enfermeira que é, vai cuidar de Charlie que entrando em forte depressão compensou bastante na comida, até se tornar o homem assustador que algumas sequências mostram, mas não são muitas. De modo geral o vemos sentado ou numa cadeira rodante que Liz comprou.

Surgem dois personagens problemáticos, mas Charlie os trata com bastante generosidade: a filha Ellie (vivida com overacting por Sadie Sink) e o jovem evangelizador Thomas (Ty Simpkins). Charlie quer deixar todo seu dinheiro para a filha em vez de ir a um hospital se tratar. Diz isto claramente a Mary quando ela o visita e lhe conta o quanto a filha é terrível, pela ausência de pai que teve e que ela chegou a colocar imagem de Charlie enorme de gordo nas redes sociais. Mas fica claro que depois que foi abandonada por um homem, Mary deixou Charlie longe da filha, tendo sua parcela de culpa. Sai eletricidade e certa ternura no reencontro de Charlie com sua ex-mulher.

O desfecho de “A Baleia” lembra o de “O Lutador” que deu o Leão de Ouro em Veneza a Darren e a Copa Volpi de Melhor Ator a Mickey Rourke. Mesmo com a morte espreitando vale a pena um último grande esforço. Em “A Baleia” como professor de Letras, Charlie se vale da força do texto de “Moby Dick” de Herman Melville. 

Dizer que temos um filme barroco em se tratando de Darren é chover no molhado. Foi assim com “mãe!”, “Réquiem Para Um Sonho”, “Cisne Negro”(filmes de extremos) e de certa forma com o mais realista “O Lutador”.

Há um sujeito oculto em “A Baleia”: o péssimo sistema de saúde americano. Se fosse para um hospital, rapidinho Charlie gastaria suas economias e continuaria em apuros. Melhor presentear a filha de quem quer recuperar a afeição. Só que a atriz poderia manter seu diapasão dramático um pouco mais nuançado. 

E faz sentido mais uma vez temática religiosa aparecer num filme de Darren, dado que Charlie está vivendo no limite entre a vida e a morte. E se ele não quer pensar em Deus pois seu companheiro o veria como ele está agora, outros querem pensar em Deus por ele, algo muito comum. 








Como Melhor Ator gostaria que vencesse Colin Farrell por “Os Banshees de Inisherin”, com sua profunda melancolia (num segundo plano Austin Butler, sensacional, por “Elvis”), mas acredito que deva vencer mesmo Brendan Fraser, pois a academia adora uma volta por cima para um discurso emocionante, principalmente sincero.  

2.4 Melhor Atriz 

Gostaria que Margot Robbie tivesse sido incluída nesta categoria, pois conforme já comentamos, tem trabalho excepcional. Para tal pelo marketing inusitado e estranho de redes sociais junto aos votantes, eu não incluiria Andrea Riseborough por “To Leslie”. 

Gostaria que vencesse Cate Blanchett por “Tár” e acredito que vença também o Oscar. Não posso crer que numa disputa assim premiem Michele Yeoh pelo famigerado “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, cometendo o desatino do Sindicato dos Atores.

2.5 Melhor Ator Coadjuvante

Gostaria que Ben Whishaw tivesse sido indicado na categoria por “Entre Mulheres”. Idem para Diego Calva por “Babilônia”. Judd Hirsch e Ke Huy Quan estão superestimados nesta categoria. 

Quem gostaria que vencesse é Brendan Gleeson por “Os Banshees de Inisherin” . Mas quem acredito que vá vencer é Ke Huy Quan por “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, infelizmente, pois Gleeson tem momentos sublimes. 

2.6 Melhor Atriz Coadjuvante

Gostaria que uma ou duas das mulheres de “Entre Mulheres” tivesse sido indicada, seja Jessie Buckley, Rooney Mara ou Claire Foy, todas esplêndidas em suas emoções diversas diante de um mesmo grande dilema.

Quem eu gostaria que vencesse na categoria é Kerry Condon por “Os Banshees de Inisherin” . Ela é a tolerante irmã de Pádraic e quando resolve ir embora da ilha para trabalhar vai desestabilizar duas pessoas.  Mas quem deve vencer é Jamie Lee Curtis por “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, mesmo com interpretação bem caricata. 

2.7 Melhor Roteiro Adaptado 

Gostaria que vencesse o de “Entre Mulheres” de Sarah Polley. Mas quem deve vencer é o de “Nada de Novo no Front”, que não seria uma má escolha. Um filme de muitas qualidades. 

2.8 Melhor Roteiro Original 

Gostaria que vencesse o de “Os Banshees de Inisherin”, mas quem deve vencer é “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. 

2.9 Melhor Filme Internacional 

“Close” de Lukas Dhont como representante da Bélgica selecionado entre os cinco para a categoria trabalha a enorme sutileza como “Aftersun”. Mas “Close” tem algo que falta a “Aftersun”: um excelente roteiro.

Os adolescentes Léo (Eden Dambrine, magnífico) e Rémi (Gustave De Waele, não menos magnífico) são amicíssimos e brincam bastante, principalmente andar de bicicleta e correr pelos campos bastante floridos, chegando a dormir juntos e com manifestações de carinho variadas que a câmera do diretor capta muito bem com muitas belíssimas imagens e poucas palavras. 

O que fica claro é que se trata de uma grande amizade. Se há ou não homoerotismo ou desejo de homoerotismo isto o diretor faz questão de sonegar aos espectadores. O que quer focar é até onde pode ir a amizade entre homens em sociedades conservadoras, machistas e homofóbicas.  

Quando os dois são imersos na escola surgem os comentários maldosos e a amizade dos dois não será mais a mesma. Léo não vai deixar Rémi descansar em sua barriga no pátio junto aos outros jovens e chega a praticar um esporte que desperta adrenalina típica da masculinidade: o hóquei no gelo. Algo que joga com compulsão tal que vai acabar se ferindo, a ponto de ter de engessar o braço.  

O filme tem um turning point bastante significativo que vai redefinir a dramaturgia do filme. A primeira parte é bem mais bonita. Já o realismo nu e cru surge com cada vez mais força na segunda.









 

O filme que gostaria que vencesse como Melhor Filme Internacional é “Argentina,1985” de Santiago Mitre, representando a Argentina. As razões ficam claras na minha postagem anterior. Mas quem deve vencer é “Nada de Novo no Front”, que não é uma má escolha.




 

2.10 Melhor Trilha Sonora 

A trilha que gostaria que constasse é a de “Pinóquio de Guillermo Del Toro de Alexandre Desplat. Claro que dispenso a de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. 

A Trilha Sonora que gostaria que vencesse é a de “Babilônia” de Justin Hurwitz, colaborador habitual de Damien Chazelle. A que acredito que vá vencer é a de “Nada de Novo no Front” que não seria uma má escolha.

2.11Melhor Animação em Longa Metragem 

A que gostaria que vencesse é “Pinóquio de Guilhermo Del Toro” e é exatamente aquela que acredito que vencerá o Oscar na categoria. Uma autêntica barbada. 





2.12 Melhor Animação em Curta Metragem 

Sem conhecimento para fazer escolhas. 

2.13 Melhor Som 

Eu dispensaria “Top Gun: Maverick” e incluiria “Babilônia”.

O Oscar de Melhor Som deveria ir para “Elvis”, mas deve vencer “Avatar: o Caminho da Água”.

2.14 Melhor Curta Metragem em Live-Action 

Sem conhecimento para fazer escolhas. 

2.15 Melhor Figurino

Eu retiraria “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” e incluiria “Entre Mulheres” na lista.

O que quero que vença é “Elvis” ( num segundo plano “Babilônia”), mas acredito que vença “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”.





2.16 Melhor Documentário em Curta Metragem

Sem conhecimento para fazer escolhas.   

2.17 Melhor Documentário em Longa Metragem 

Sem conhecimento para fazer escolhas.

2.18 Melhor Edição 

Eu retiraria “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” e incluiria “Babilônia”. 

Gostaria que “Elvis” ganhasse, mas desconfio que “Top Gun: Maverick” deverá vencer o Oscar nesta categoria. 

2.19 Melhor Design de Produção 

Gostaria que “Babilônia” ganhasse, mas desconfio que “Avatar: O Caminho na Água” vença nesta categoria. 

2.20 Melhor Fotografia 

Por tudo que li eu retiraria “Império da Luz” e incluiria “Babilônia”.

Eu gostaria que “Elvis” vencesse, mas acredito que “Nada de Novo no Front” vença, o que não é uma má escolha.



2.21 Melhores Efeitos Visuais 

 O que gostaria que ganhasse é “Nada de Novo no Front”, mas o que acredito que vença na categoria é “Avatar: o Caminho das Águas”, o que não seria uma má escolha. 



2.22 Melhor Cabelo e Maquiagem

O que gostaria que ganhasse é “A Baleia” e é quem eu acredito que vença mesmo. 

2.23 Melhor Canção Original 

Faltou incluir “Ciao Papa” uma das lindas canções de “Pinóquio de Guilhermo Del Toro”. ( https://cinepop.com.br/pinoquio-ouca-ciao-papa-musica-original-da-nova-animacao-de-guillermo-del-toro-375403/ ). 

A que gostaria que vencesse é Naatu Naatu ( M.M. Keeravaani  - RRR) e é a que acredito que vença mesmo. ( https://www.letras.mus.br/mm-keeravaani/naatu-naatu-feat-kaala-bhairava/ )  

   

  


  

  

    



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