1- “O Filme da Minha Vida”, a Importância de se Rever Filmes e Outras Questões Críticas ( Ver texto completo através de Mais Informações à esquerda).
Já assisti duas vezes "O Filme da Minha Vida" (2017) de Selton Mello, com emoções renovadas. Na primeira vez me concentrei mais nas buscas e angústias do protagonista. Na segunda eu percebi novas nuances destes movimentos e tive uma visão geral aprimorada, entendendo melhor as opões que foram tomadas, incluindo pormenores significativos. ( Ver texto completo através de Mais Informações à esquerda).
O ideal é que sempre se faça isto com os todos os filmes
empenhados artisticamente. Até mais de duas vezes. “Terra em Transe” de Glauber
Rocha, por exemplo, é um filme que, decididamente, não se entrega numa primeira
visão. Mas há a questão de tempo, custo e oportunidade. E urgência para os
críticos.
Mas credito a esta limitação, com pressa de escrever
um texto, após ter visto o filme numa “cabine” especial uma vez só, sem o calor
humano de uma plateia comum, sem poder analisar
o que pode ter soado de banal ou até superlativo etc a grande decepção
com tantas críticas lidas seja na web ou em jornais impressos.
Pior do que não ler jornal é ler um só. Como grande
jornal temos hoje no Rio de Janeiro só “O Globo” e isto é muito ruim.
É impressionante como ainda em 2017, observo pessoas
movidas pelos humores do famigerado e icônico bonequinho de O Globo.
Constato bem resultados decorrentes das cotações. Alguns são
devastadores para a carreira de um filme. Mas é forçoso reconhecer que há
filmes tem carreira impulsionada por estes conceitos.
Peloboca a boca alguns filmes furam estes bloqueios,
mesmo com críticas negativas. Outros, principalmente filmes brasileiros mais
alternativos, vão ter uma segunda semana com má programação (ou até podem sair
de cartaz) se não forem bem de público no primeiro fim de semana. Algo bastante
cruel, que acontece com muitos deles.
O recente projeto Vitrine Filmes com filmes brasileiros
com preços bem inferiores aos praticados, tem trabalhado a favor destes filmes
alternativos (como “Divinas Divas” de Leandra Leal. “O Rifle” de Davi Pretto
etc ).
Mas muitos filmes não são distribuídos pela Vitrine e são jogados às
feras.
Daí a grande responsabilidade de críticos. Alguns, até
mesmo num espaço bem reduzido, se comportam como irresponsáveis baloeiros, não
se importando onde o grande balão vai cair. Tratam suas críticas num tom como
se fossem ciências exatas, não deixando espaço para algumas inquietações não
assertiva, brechas que o leitor deve construir ao assistir o filme, numa chave que
pode incorporar certo grau de humildade, sem ser nada complacente.
Uma das razões do porquê José Carlos Avellar foi um
dos melhores/grandes críticos de cinema que o Brasil já teve, é que desenvolvia
suas críticas através de um percurso de ideias concatenadas (muitas vezes
trabalhando com metonímias para chegar ao filme como um todo), que formavam uma
fascinante trajetória crítica de tom quase que ensaísta, mas sem hermetismos,
pois conhecia o leitor médio para o jornal em que escrevia, durante anos o Jornal
do Brasil ou em outros veículos. Alguém cujo prestígio o fez ter logo textos
seus coligidos, ampliados, em livros.
Assim, com marca bastante autoral, ele fugia da noção
de “patrulheiro econômico da burguesia”, nos convidando, incitando sim a
assistir ao filme criticado, pensar nesta trajetória e voltar ao texto,
ampliando-a ou discordando em parte ou até no todo. Aonde se vê algo assim hoje, com tanta força e
sem hermetismos, repito?
Se levarmos ao pé da letra as críticas de O Globo
desta semana ( de 11/7 a 16/11/2017), “O Estranho Que Nós Amamos”( 2017), o
melhor filme de Sofia Coppola até então ( Melhor direção em Cannes 2017 ) é um
lançamento bem menos interessante que “Deixa na Régua”( Brasil/2016) de Emílio
Domingues e “O Deserto do Deserto” de Samir Abujamra ( Brasil/2016). Haja
contorcionismos intelectuais, de quem escreve sobre os filmes e de quem lê.
Se a escalação da redação para a visão dos filmes
fosse outra, provavelmente outro teria sido o resultado. Ainda bem que se deu o
devido valor ao surpreendente filme finlandês “O Dia Mais Feliz da Vida de Olli
Mãki” (Finlândia/2016) de Juho Kuosmanen, bastante singular em sua estética e
temática, mesmo envolvendo a vida de um boxeador, algo que poderia ser tratado
de forma clichê.
Em “O Globo” tem havido uma tendência (claro que com
exceções, com tantos críticos possíveis) de direcionar filmes mais femininos para
uma crítica veterana; os mais “encalacrados” e animações (gosto pessoal ) para
outro. Há ainda um que tende a trabalhar mais com filmes franceses; outro,
especialista em blockbusters, indicado para estes, que consegue a façanha de
comparar “Velozes e Furiosos 8” , com o 1, 2, 3 ou até o 6, 7.....Merece menção
um que passa a ser, muitas vezes, o que vai lidar com filmes em que as músicas
tem grande importância.
Tudo isto provoca grandes distorções. O mais sensato é
que os críticos estivessem preparados para a crítica de todos os filmes, todos
os gêneros e procedências, como um clínico geral pode fazer um primeiro
tratamento, até encaminhar o paciente para um especialista se for o caso.
Enfim as cartas devem ser bem embaralhadas antes de
ser distribuídas.
Uma forma de mitigar todos estes problemas é estar
atento às várias Críticas da Imprensa
Nacional e Internacional que o site Adoro Cinema oferece, mesmo com as
limitações que as individuais podem ter, conforme já mencionado. Há também as
do próprio site.
Em O Globo, “O Filme da Minha Vida” teve uma crítica que
não apontou um senão sequer ao filme. Esmerou-se em elogios. No entanto o abominável
bonequinho simplesmente olha com tédio e indiferença, o que pode influenciar
leitores preguiçosos. Já lembrei disto ao crítico em email. Mas nada foi
alterado.
Não explicar o que aconteceu é uma forma de
desrespeito ao leitor e aos participantes do filme
representados por Selton Mello.
Em compensação há uma crítica de Eduardo Escorel na
Revista Piauí que arrisca a comentar
que o filme de Selton deve se tornar um
clássico do cinema. Vide link mais abaixo, num conjunto para “O Filme da Minha
Vida”.
“O Reino da Beleza” ( 2014) de Denys Arcand, diretor canadense bastante premiado
e prestigiado, foi detonado pela crítica de O Globo em rápidas pinceladas. Distribuidores
espalharam folhetos no Estação Net Botafogo, lembrando aos leitores quem é o
diretor e apresentando no verso uma crítica bem positiva.
Procurando críticas alternativas às de O Globo para
serem expostas em seus cinemas, o Grupo Estação Net luta para não perder os
investimentos feitos, tendo em vista que há os que leem um só um jornal. Algo
pior que os que não leem nenhum,
conforme já comentado.
2- “O Filme da Minha Vida”, alto astral de que
precisamos (mas sem facilidades)
A comissão de seleção (agora escolhida finalmente pela
Academia de Cinema) para o filme brasileiro que deve representar o Brasil para
concorrer a uma vaga dentre os cinco indicados finais ao Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro, que se dará em 2018, será bastante injusta e até insana, se não
escolher "O Filme da Minha Vida".
Não se trata de uma terra de ninguém. Além do
linguajar bem brasileiro e jeito de ser de Paco (Selton Mello), ao mesmo tempo
que nos mostra um Brasil de fronteira que até nós brasileiros pouco ou nada
conhecemos, num contexto de filme de época (o surgimento da televisão), há um clima de magia
e lirismo permanentes, capaz de seduzir qualquer plateia, mundo afora.
E há o universo do Cinema, que se em “Cinema Paradiso”(1988)
de Giuseppe Tornatore é tratado de forma
direta, aqui vem de forma elíptica. Mas é impossível assistir “O Filme da Minha
Vida” sem lembrarmos do clássico e superpremiado filme de Tornatore. E é bom
lembrar que o romance que deu origem ao livro tem o título bastante pertinente “Um
Pai de Cinema”.
Não por acaso, o filme de Mello veio de Antonio Skármeta, um romancista que já havia nos dado um
clássico do cinema, o solar e mais do que lírico "O Carteiro e o
Poeta" (1994) de Michael Hadford, cineasta bastante eclético que realizou também o sombrio “1984”
( 1984) com Richard Burton e “O Mercador
de Veneza” (2004) com Al Pacino.
Skármeta* deve ter escolhido Selton Mello por seu doce,
poético, cheios de encantamentos, de sofisticada simplicidade, autêntica obra
de ourivesaria, “O Palhaço” (2011). É neste que sentiu o tom que seu livro
poderia ter na tela, além da evidente competência de Selton Mello como cineasta
que ele demonstra neste seu segundo longa-metragem**.
O casting é excelente. A capacidade de Johnny Massaro,
como
Tony Terranova, expressar o que
sente, seus estados de espírito bastante variados, só com o olhar, é
impressionante. Bruna Linzmeyer ( Luna) trabalha na mesma chave. Excelente.
E Vincent Cassel ( o pai Nicolas ), ator francês que
divide sua residência entre o Rio de Janeiro e França ( de prestígio internacional, que já trabalhou até com David
Cronenberg em “Senhores do Crime”, como o fraco filho de um mafioso russo ) nos passa aqui a impressão de que nasceu para
seu personagem deste “O Filme da Minha Vida”, um pai francês, bastante desenvolto
em seu português também, que vive com a família numa localidade brasileira
perto de uma mítica fronteira com um pais latino-americano.
Não por acaso, a pequena e grande
cidade ( para eles) onde assistem filmes, vão ao bordel seja “Fronteira”.
Mesmo não tendo o espaço que obteve em "Meu
Rei"(2015) de Maïwenn e o de "É Apenas o Fim do Mundo" (2016) de
Xavier Dolan, vistos recentemente, onde brilha, sem nenhum favor, nos impressionando,
agora nesta obra de Selton, transpira emoções, seja ensinando o filho a perder o medo para
andar de bicicleta, até mesmo quando está em situação embaraçosa, dentre outros
momentos bastante significativos.
Selton com seu rústico Paco, criador de porcos, avesso
às inovações tecnológicas (alguém que não quer casar, só se acasalar com
mulheres, dentre outras manias ) agrega
mais um forte personagem à sua formidável galeria, com tons bem diversos como
em “Lavoura Arcaica” ( 2001) de Luiz Fernando Carvalho, o protagonista de “O
Cheiro do Ralo” ( 2009) de Heitor Dhalia, o traficante sedutor de “Meu Nome Não
é Johnny” ( 2008) de Mauro Lima, o Pangaré de “O Palhaço” ( 2011) dentre
outros.
Rolando Boldrin como o maquinista Giuseppe é a memória
viva, personificada, testemunha de momentos da vida dos seres que seu trem
movimenta, onde também carrega rolos de filmes.
O roteiro, brilhante, não dá nenhum ponto sem nó. Até
uma fala que mesmo em tom forte, pode soar banal, acaba mostrando ao que veio.
A direção de arte de Claudio Amaral Peixoto, os
figurinos de Kika Lopes, não são menos que primorosos e fundamentais para o
filme de época pretendido.
É melhor ir ao Cinema numa primeira vez com poucas
informações sobre seu desenvolvimento, como e quando será linear ou não, a não
ser o trailer para antevisão do clima do que se vai assistir, como maior
estímulo. Ou nem isto.
E o que dizer de Walter Carvalho? Ele não cansa de nos
surpreender, quando pensamos que já tínhamos visto tudo dele. Fortes tons
alaranjados e muitas luzes são empregados como
se fossem pela primeira vez.
A trilha sonora de Plínio Profeta é primorosa, com a
exceção, talvez, de uma música bem naïve escolhida a que me escapou a
motivação.
A direção de Selton, se não fosse tão espetacular, não
teríamos os resultados todos já apontados. Eles se perderiam.
A excelência do trabalho pode ser exemplificada com um
bordel que alia poesia e leve sordidez. Realismo e sonho imbricados. Até mesmo
as duas prostitutas em evidência, tem temperamentos bem delineados, uma delas
composta pela atriz e diretora Miwa Yanagizawa, que observa Paco com olhar
levemente crítico. Já Tony se envolve com uma bem calorosa e receptiva.
Não tivemos até hoje nada remotamente parecido com
"O Filme da Minha Vida" no Cinema Brasileiro. Mais uma razão para ele
ser incontornável.
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* “ Por que diabos o grande autor de O Carteiro e O
poeta” entregaria um livro para eu filmar? Muita responsabilidade! Quando eu
li, compreendi tudo. Os sonhadores se reconhecem de longe. As páginas iam
passando e a certeza aumentando de que eu tinha que filmar essa pequena
história passional.”- Selton Mello
** (Sincronicidade yunguiana nos acontece, quando vivenciamos
uma forte coincidência, mas ela deve estar
carregada de significados, afetividade, emoções. Enfim, ser algo realmente
importante para nós.
Quando assisti “O Palhaço” em seu lançamento, estava
fatigado e perdi muita coisa. Comprei o DVD para revê-lo. O que ainda não tinha
feito.
Mas ao ir ao Espaço Itaú de Cinema para ver um filme
da Mostra da Nova Zelândia ou rever “O
Estranho Que Nós Amamos” às 19:40, neste
domingo 13/08, resolvi dar uma olhada nos filmes de uma Mostra Itaú 30 Anos de Cinema
Brasileira.
Qual o filme a ser exibido às 19:30 hs? Claro, “O
Palhaço”!!!
Ou seja, algo bastante importante pra mim que estou
escrevendo sobre Selton e seus dois filmes, com pontos de contato que atraíram tanto
Skármeta.
Assim foi com as emoções provocadas por “O Palhaço”,
visto agora como queria na tela grande, que apurei melhor as qualidades deste
filme conforme escrevi.)
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3- “A Frente Fria Que a Chuva Traz”, um filme de
astral antípoda, mas pertinente.
Para quem quiser ter uma ideia do quanto Johnny
Massaro e Bruna Linzmeyer são atores incríveis, brilhantes, assista-os em
"A Frente Fria Que a Chuva Traz" (2015), em personagens completamente
antípodas aos de “O Filme da Minha Vida”.
É uma volta auspiciosa e arriscada, depois de anos sem
filmar, de Neville D'Almeida, numa adaptação de um dos melhores textos do versátil
Mário Bortolotto, que faz uma ponta no filme, como um entediado vigia.
Aqui Johnny faz parte de um grupo de jovens ricos de
classe média que faz festas numa laje de favela alugada, movidas a sexo, palavrões, drogas, álcool. Chegam a
tomar sol durante o dia. Ele é o líder do grupo.
Amsterdã (Bruna Linzmeyer), é pobre e mesmo estando
ali de forma bem periférica, querendo drogas custe o que custar, uma autêntica
“junkie”, é a consciência do quanto de ruim está acontecendo com todos. Não por
acaso, no cartaz do filme temos seu rosto em evidência.
“A Frente Fria Que a Chuva Traz” nos assusta também pelos pais estarem
totalmente ausentes em relação ao que acontece, aos sentimentos e
comportamentos de seus filhos.
Um filme como este contado não é comprometido. O mais
importante é o mundo alucinante, o redemoinho de emoções e sensações, de modo
geral, que se vê na tela.
Já "O Filme da Minha Vida" se filia à tradição
das grandes histórias bem contadas no Cinema ( mesmo não se prendendo a
linearidades), que devem ser descobertas paulatinamente.
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4- Resumo da Ópera: “A Frente Fria que a Chuva Traz” e
até mesmo o primeiro filme de Selton Mello como diretor, um autêntico bode “Feliz
Natal” ( 2008) são emblemáticos do veneno da sociedade brasileira. “O Palhaço”
e “O Filme da Minha Vida” e o estado de espírito em que nos elevam, são os grandes
antídotos. Cada vez mais urgentes. Não são as ideologias rígidas e cegas,
avessas à realidade.
5- Links Correlatos
São links para os que já viram os filmes ou não se
importam em saber vários componentes deles, antes da primeira visão.
Claro que não há a pretensão de que todos sejam lidos.
Mas se estão aqui em grande quantidade, vem da natureza de um blog, onde o
leitor pode escolher o ritmo de entradas e saídas para ler/ver as escolhas que
o atraiam.
“O Filme da Minha Vida”- Sinopse e Trailer
“O Filme da Minha Vida”- Créditos
“O Filme da Minha Vida”- Críticas da Imprensa.
4- http://piaui.folha.uol.com.br/o-filme-da-minha-vida-perola-preciosa/- Novo longa de Selton
Mello tem os ingredientes necessários para se tornar um clássico do cinema
brasileiro- por Eduardo Escorel.
Desconstruindo a estética visual de 'O Filme da Minha
Vida'
“O Carteiro e o Poeta”- Sinopse
“O Carteiro e o Poeta”- Créditos (Falta referência
fundamental a Massimo Troisi ( ator, diretor e poeta, como o carteiro, último
grande trabalho do ator, que já estava doente durante a realização do filme )
Sinopse e
Trailer de “Cinema Paradiso”
“Cinema Paradiso”- Créditos
“O Palhaço”- Sinopse e Trailer
“O Palhaço”- Créditos
“O Palhaço”- Críticas da Imprensa
Crítica de “O Palhaço”- Adoro Cinema- Roberto Cunha
"A Frente Fria Que a Chuva Traz" - Sinopse e
Trailer
Créditos – “A Frente Fria Que a Chuva Traz”
16- http://www.adorocinema.com/filmes/filme-241239/criticas/imprensa/- Críticas da Imprensa- “A Frente Fria que a Chuva Traz”
“Feliz Natal”- Sinopse e Trailer
Feliz Natal-
Créditos.
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