1- “A Promessa” de Terry George
(Sinopse e Trailer)
Michael (Oscar Isaac) é um jovem
armênio que sonha em estudar medicina, mas não tem dinheiro para arcar com os
estudos. Por isso, ele promete se casar com uma garota de seu vilarejo, na
intenção de receber o dote. Com o dinheiro em mãos, Michael viaja à Turquia e
faz seus estudos durante os meses finais do Império Otomano. Neste contexto,
conhece a armênia Ana (Charlotte Le Bon) e se apaixona, embora a professora
namore o fotógrafo americano Chris (Christian Bale), enviado à Turquia para
registrar o genocídio dos turcos contra a minoria armênia. Um triângulo amoroso
se instaura em meio à guerra.
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Terry George em “Hotel Ruanda” ( https://pt.wikipedia.org/wiki/Hotel_Ruanda)
já tinha nos mostrado aspectos e decorrências do grande genocídio em Ruanda,
onde mais de um milhão de pessoas foram mortas, no massacre que a maioria hutus
promoveu contra a minoria tutsis.
O holocausto dos armênios perpetrado pelos turcos, algo que
os governos da Turquia sempre negaram ( como se fossem coisas naturais de
guerras) já foi filmado diretamente
em “La masseria delle allodole (2007)”
de Paolo e Vittorio Taviani, indiretamente em “Uma História de Loucura” de
Robert Guédiguian e “Ararat” de Atom
Egoyan. Mas quando um milionário armênio resolveu dar milhões para retratar com
o máximo de realismo estas barbáries ( o
primeiro holocausto do século XX ), Terry George foi convidado para a direção e
o resultado é surpreendente.
Temos um triângulo amoroso em evolução, mas é o massacre que toma mais vulto na história de figurino
clássico, um autêntico épico, uma superprodução que com estes temas não se faz
mais hoje. E isto não é gratuito. Os Taviani fizeram um filme bastante autoral em que ( como
em vários de suas obras ) há momentos de
crua poesia. Por exemplo: para não ter o filho morto, que carrega nas costas,
pelos turcos, sabendo que isto é inevitável, uma mãe e outra mulher se
aproximam (de costas) e sufocam a criança pequena. Não é explicitado. Mas o
horror que sentimos é muito grande.
Já em “A Promessa” os massacres são bem explicitados como eles
foram, em vários momentos, para se ter a real dimensão de todo o ocorrido.
De Christian Bale já sabemos o grande ator que é, se
entregando totalmente aos seus personagens. Fiquemos num exemplo: em “O
Sobrevivente” de Werner Herzog, além das grandes angústias enquanto preso em um
cativeiro numa selva asiática, dá grande autenticidade enquanto fugitivo bastante
faminto que, desesperado, chega a pegar uma cobra, abrindo-a para comer.
Em “A Promessa”, a grande surpresa é o excelente trabalho de Oscar
Isaac, como um dos vértices do triângulo amoroso, mas ao mesmo tempo vai ser a
ponte entre os que observam os massacres e aqueles que realmente os sofrem, que
pagam pelo que nunca cometeram, com muitas dores, ferimentos e a imensa
maioria, com a própria vida.
Assim, esta história amorosa é algo que ainda que considerem
um clichê, tem elementos apresentados com elegância e de sobra para alavancar
as narrativas paralelas que se encontram, promovendo uma evolução do filme que
é bastante imprevisível, que é o que realmente importa.
“A Promessa” é um épico de muito boa qualidade, de uma abordagem,
ritmo, intimismo, de forma que praticamente não se faz mais, guardadas as
devidas proporções, como os grandes épicos de David Lean, de “Lawrence da Arábia”,
“Dr. Jivago”, “Passagem Para a Índia” etc. Mas para ser fruído como merece e merecemos,
deve ser visto na Tela Grande.
2- Aviso aos Navegantes
Estou cada vez mais pessimista com relação ao futuro do
Cinema na Tela Grande, que é onde ele realmente se apresenta em toda a sua
magia, para onde foi realizado, pelos cineastas que amam o Cinema.
Fellini dizia, com toda razão, que assistir um filme com
várias pessoas diante da Tela Grande, é como participar de uma missa leiga. Temo
que fora o Cinema Vídeo-Game para grandes telas, só restará para os
alternativos empenhados artisticamente, algo bem seleto, elitista, em bem
poucos e determinados espaços, como é para a Ópera hoje em dia. E assim como
esta surge aqui e ali na Tela Grande, estes filmes especiais ganharão espaço
dos outros bem comerciais, em determinadas temporadas curtas, em horários
únicos.
Hoje temos os crescentes serviços de streaming ( como a Netflix, Spotify etc; há quem já elenque por volta de 17
possibilidades no Brasil), os filmes que podem ser baixados; os filmes que
camelôs vendem; os da HBO, Telecine, Canal
Brasil, TV Aberta ou outros canais da TV fechada,
havendo até quem em um delírio de tecnologia, acredite que possa assistir um
filme num tablet, sem grande perda de aura e impacto.
Walter Benjamin, filósofo bastante prestigiado e estudado da
célebre Escola de Frankfurt, nos dias de hoje teria muito a acrescentar ao seu
famoso e grande ensaio: “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”.
Dado todas as inúmeras mudanças (uma autêntica revolução) que
tivemos ao se passar da era analógica para a digital, o filósofo teria muito
trabalho para compreender este novo mundo e reformular muitas de suas
reflexões. Mas com certeza a questão da perda de aura ainda estaria bastante
atual.
Assim, como não sou crítico de cinema profissional, que tem
que estar preparado para tudo, dentro de sua área de atuação, eu só tendo a
comentar aqui, os filmes que considere minimamente bom ou em patamares superiores
como muito bom ou ainda obras-primas. No máximo regular não me interessa, nem
gosto de comentar.
Não quero que nem um leitor do que eu escreva seja
influenciado a não assistir na Tela Grande qualquer filme. As exceções seriam
os filmes que, ao meu ver, considere fascistas como “Menina Má.Com” de David Slade, “Valente” de Neil Jordan etc.
Estes detonarei com prazer. Que os espectadores os vejam por sua conta e risco.
Posso, diante de um filme tão comentado, badalado, com
excelentes críticas de modo geral, como foi “Mad Max: Estrada da Fúria” ( 2015 ) de George
Miller, não resistir e passar minha visão, que neste caso é negativa. Vindo de um
solilóquio de “Macbeth” de Wiliam Shakespeare, já num grande processo de perda
da razão, este filme de Miller ( que chegou a fazer parte até da lista dos 10 melhores
do ano da Cahiers du Cinéma e da dos 10
mais da ACCRJ, Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro ) é uma
história contada por um diretor em momento idiota, cheia de som e fúria,
significando nada.
Indicado para vários Oscars, o filme de Miller só ganhou
prêmios técnicos. Mas não ganhou nem o de melhores efeitos visuais. Este ficou
com “Ex- Machina- Instinto Artificial” ( 2015) , que foi lançado no Brasil
direto em DVD.
Claro que deve haver muitos filmes bastante fascistas dos
quais nem passo perto. E também, não sendo profissional, posso me dar ao luxo
de não assistir, prevendo que não vá gostar, só pelo trailer e informações
variadas, como a franquia que não acaba
nunca de “Velozes e Furiosos”, com tantas correrias e explosões, que sei que
atrai até empenhados amantes do Cinema. Mas acredito que esta seja uma questão
geracional. As pessoas jovens passam cada vez mais a gostar e acompanhar bem jogos
vorazes de velocidades no Cinema.
Infelizmente muitas vezes, como deve estar acontecendo agora,
mais de 90% das salas do país são ocupadas por filmes correlatos à franquia “Velozes
e Furiosos”, mesmo que com visuais mais atraentes, sofisticados, como em “Rei
Arthur-A Lenda da Espada” de Guy Ritchie. Até mesmo o recente “A Bela e a Fera”,
um bom filme, não tem quase tempos para respiro.
Faz parte também desta ocupação, a enxurrada de comédias
ligeiras, de humor óbvio que já é constatado pelos trailers. Sãos casos que não
pago para ver, a não ser por recomendações de quem dou crédito, sejam amigos ou
jornalistas.
Só o resto das salas, quase que com condescendência, é reservado para os filmes brasileiros e estrangeiros
artisticamente empenhados, mesmo que acabem falhando ou com fissuras em suas intenções
que surjam quando os conferirmos.
Nenhum filme assim é necessariamente minimamente bom. Nem
sempre o diretor é o melhor critico de sua obra. Mas vale a pena correr riscos,
pois se forem ruins, cada um é assim à sua maneira. Não reina a mesmice.
Não sou avesso a todo blockbuster chamado filme pipoca. Gosto
muito de vários deles: o profético “Matrix” (só o primeiro) dos então Irmãos
Washovsky ( antes de mudança de sexo); o
mais do que profético “V de Vingança” de James McTeigue ( produção dos Washovsky
) ; “Sin City-A Cidade do Pecado” de Robert Rodriguez; “A Origem” de Cristopher
Nolan; os dois “Batman” de Tim
Burton; “Superman” de Richard Donen e tantos outros.
Mas mesmo assim não gosto nada do fato, quando ocupam mais de
90 % das salas do país, uma situação que a classe cinematográfica brasileira, tão
desarticulada e desunida, não consegue discutir seriamente com representantes
selecionados, para propor algo bem objetivo, eficiente e prático
na execução. Sugiro estudar políticas públicas quanto ao Cinema na França e até
mesmo na Coreia do Sul.
Os manifestos e manifestações que surgiram diante de um
suposto golpe jurídico midiático ou parlamentar que não houve pois seguiu-se só
ditames da constituição, são uma mera cortina de fumaça para uma união, coesão,
força política, que não existe.
Existe filmes bem híbridos, que não são de alto orçamento,
que tanto tem um lado comercial forte, mas com grandes apelos artísticos
também, como tivemos neste 2017 com “Fragmentado” de M. Night Shyamalan e em
agora em cartaz com o surpreendente “Corra!”( 2016) de Jordan Peele , do qual é melhor saber muito pouco dele, para ser
melhor surpreendido com as viradas de roteiro.
Mas me arrisco a escrever que (
Atenção Leitores: Spoilers) é um mix de
“Adivinhe Quem Vem Para Jantar” de Stanley Kramer, dos filmes paranoicos de
Roman Polanski , de momentos de humor ( negro também) e do toque especial sanguinolento gráfico e
paródico de Quentin Tarantino, especialmente este que lida também com o tema do
racismo, que é o sensacional “Django Livre”, com excelente roteiro, que deu a
Tarantino seu segundo Oscar na categoria original.
Nelson Rodrigues de Souza
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