1- Del Toro: A Realidade Nua e Crua e o Cruzamento com
o Mundo da Fantasia.
Ler meus comentários após a Sinopse
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http://www.adorocinema.com/filmes/filme-246009/- “A Forma da Água” (2017)- Sinopse – Trailer - Créditos - Crítica AdoroCinema-
Críticas Nacionais e Internacionais.
Sinopse
Década de 60. Em meio aos grandes conflitos políticos
e transformações sociais dos Estados Unidos da Guerra Fria, a muda Elisa (Sally
Hawkins), zeladora em um laboratório experimental secreto do governo, se
afeiçoa a uma criatura fantástica mantida presa e maltratada no local. Para
executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles
(Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer).
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A Forma
da Água “de Guillermo Del Toro superou todas as minhas expectativas.
Selecionado para 13 Oscars tem estatura para ganhar todos.
No roteiro original brilhante, Guillermo Del Toro e Vanessa
Taylor, “não dão um ponto sem nó”. Tudo no filme é bastante significativo.
Se ao acordar, em sua rotina, Elisa põe ovos para
cozinhar e se masturba na banheira isto terá belíssimos efeitos mais adiante;
se Giles, homossexual, é expulso de um bar onde ia com frequência, pois seria só
um lugar de família, isto vai impulsionar a narrativa; à medida que Forma,
homem anfíbio ( Doug Jonas, sensacional tanto
como o fauno a que deu vida para “O Labirinto do Fauno”) vai se sentindo amado
por Elisa e a ama, vai se revelar melhor mais tarde, de forma surpreendente,
sua natureza; um espião russo infiltrado
que ama o seu país, mas ama também bastante a ciência tem grande peso na
história; se Elisa, tendo como vizinho de porta Giles, mora acima de um cinema,
onde se exibe filmes bíblicos e é pouco frequentado, isto não é toa,
repercutindo numa das sequências mais belas do filme; a história se passar no
período bem forte de Guerra Fria dos
anos 60 ( mas com ecos evidentes no presente) é um grande achado, impulsionando
a direção de arte num mundo quase que onírico, mesmo com pesadelos e criando
forte clima de paranoia etc.
“A Forma da Água” em sua exposição tanto de cenas bem
violentes e de outras que nos lembra contos de fadas, só encontra paralelo em
“O Labirinto do Fauno” (2006- Vide 3-a)
do próprio Del Toro, onde temos um plano violentíssimo da ditadura de Franco, tendo
ainda grupos rebeldes em luta e outro na fantasia, com a garota de 10 anos, Ofélia,
seguindo um fauno em seu labirinto e com provas a serem vencidas.
Tudo contribui, em “O Labirinto do Fauno” para um dos desfechos
mais perturbadores e instigantes de um filme já feito. Mas o de “A Forma da
Água” também é memorável.
Como os dois filmes tem forte ar de conto de fadas
para adultos ( e sabemos que na origem estes não eram para crianças), faz
sentido grandes vilões, que não economizam maldades, como o Captain Vidal (Sergi
López) que passa a ser padrasto de Ofélia, para repulsa da menina, tanto como o
bastante perturbado Richard Stricland ( Michael Shannan ), chefe do laboratório
governamental, que pretende um futuro ingrato para Forma, utilizando-o para angariar
superioridade na Guerra Fria.
Mas este lhe arrancou dois dedos, que implantados
provocarão suspense se será operação bem-sucedida ou não. Isto o deixou com
mais ódio contra a criatura encontrada na Amazônia.
Nos dois filmes temos um mundo brutal convivendo com um
universo da mais pura fantasia. Mas o que diferencia estes dois de muitos
outros é que a fantasia faz parte da realidade concreta destas obras. Só o
toque de Del Toro para dar consistência a estes mundos que convivem como se
fosse um só.
Tanto um como o outro tem desfecho mágico formidável e
bastante poético. Mas se em “A Forma da Água” ele é mais patente, em “O
Labirinto do Fauno” é sujeito a interpretações.
No contexto da guerra fria, mas com fortes ecos no
mundo de hoje, com tantos retrocessos, temos em “A Forma da Água” um tom terno
com personagens marginais em sociedades que querem os tornar invisíveis, dentre
outras mazelas que lhe são impostas.
Estes marginais, movem bastante a narrativa, não estando
elencados por paternalismo e impulsos politicamente corretos.
Dentre eles temos a faxineira muda (Elise), a alma do
filme tanto quanto o Forma, uma criatura que não seria digna de ser “filha de
Deus”; outra faxineira, que é negra, Zelda, passível de racismo e sexismo, que
compreende a linguagem dos sinais da colega, trazendo humor para a trama, com
Otavia Spencer trabalhando muito bem com seus olhares; o homossexual Giles que
sublima solidão, a homofobia que sofre, através da pintura e companhia de
Elisa, com quem se comunica também; o casal de negros que é rechaçado do bar
pois o espaço já teria sido reservado, num efeito propício para que Giles seja
expulso também, depois de pequeno gesto audacioso e por fim temos as posições
subalternas desprezadas das faxineiras, enfatizada quando Stricland vai ao
banheiro e ignora a presença das duas, nem lhes pedindo para virarem o rosto.
O elenco todo de “A Forma da Água” está afiadíssimo
com a proposta. Mas Sally Hawkins, como a faxineira Elisa muda que se apaixona
pelo Forma, está simplesmente sublime, bastante tocante, com expressões faciais
com variada gama de emoções, que vai da grande ternura, ao medo, à raiva etc e
com movimentos de corpo que falam, que acompanham num certo nível os fabulosos
de Forma, que acaba por entender os sinais de fala dela.
Duas sequências antológicas, no mínimo, teremos em
função destas posturas e do amor mútuo e do desejo que surgem. Ela quer mais do que salvar Forma, quer
ficar com ele. Mas tem de planejar a partida dele por um canal que o levará até o mar, sendo que a época
propícia calculada fica com data marcada num calendário de parede, com folhas
retiradas, mas é mais um dado que vai
ter peso inesperado na narrativa.
Enfim, “A Forma da Água” pertence ao gênero fantasia
que merece ser bem mais valorizado. Este desprestígio se mede também pelo fato
de um dos grandes mestres de filmes notadamente do gênero, que é Tim Burton,
com seus filmes potentes e inusitados, sendo alguns góticos, ter passado até
hoje em branco por Oscars importantes da Academia.
“A Marca da Água” tem potencial para agradar amplas
plateias dado os níveis de leitura que tem. Um deles relatado em excelente
entrevista com Del Toro (Vide 3-b) é o
fato de os únicos personagens que vivem realmente o presente, com sabedoria,
ser Elisa e o Forma.
2- Outros Filmes, Contrastes e Paralelos
Um filme completamente antípoda destes de Del Toro é
“Todo o Dinheiro do Mundo” (2017) de Ridley Scott também em cartaz (Vide 3-c).
Em 1971, em Roma, o neto John Paul Getty III (Charlie
Plummer) é sequestrado, mas o avô John Paul Getty ( Cristopher Plummer), considerado
o mais rico homem do mundo de então, se recusa a pagar o resgate milionário. Toda as consequências virão deste fato,
primordialmente, onde o sequestrado pode mudar de mãos, mas ainda uma quantia milionária
por ele ainda será desejada.
O filme, baseado em história real, se vale da
liberdade das ficções e se torna um grande filme de suspense, onde Cinquanta (Roman
Duris) vai desempenhar papel importante como um bandido intermediário entre a
mãe Gail Harris (Michele Willians, excelente), o investigador e ex-espião, homem de segurança de John Paul Getty, Fletcher
(Mark Wahlberg) e os sequestradores de roupa alinhada.
Pelo caráter híbrido de “A Forma da Água” há fortes elementos
de suspensão da descrença que aceitamos, mas em “Todo Dinheiro do Mundo não,
como em certas perseguições, fugas e encontros que soam fáceis demais.
Um fator que diferencia os dois filmes é que no de Del
Toro, temos pessoas cruéis, mas não só, havendo as que são impulsionadas pela
generosidade e pelo desejo.
Mas já na pequena cidade italiana de “Todo o Dinheiro
do Mundo”, aonde estão os sequestradores, as maviosidades envolvem habitantes hostis, medrosos e carentes de generosidade, policiais comprados e até um médico também para
um “trabalho” que Scott poderia ter nos mostrado de forma elíptica, insinuando
bem mais do que mostrando.
(Spoilers entre
parêntesis para quem não conhece a história real )
(Depois de tantas negativas no pagamento do resgate,
os bandidos resolvem cortar uma orelha do sequestrado e enviá-la junto com um desenho do jovem com
esta parte decepada, condição em que a mãe não terá dúvidas se estão com o
filho mesmo).
Diante da monstruosidade, a mãe Gail, hesitante de
início e depois se valendo da imprensa que
a assediava, dá um golpe de mestre, encurralando Paul Getty, o sogro.
Um outro fator um tanto difícil de acreditar se dá
quando numa sequência de 7 anos antes, por melhor que seja o trabalho como
ator, Christopher Plummer está tão envelhecido como o vimos antes.
Kevin Spacey foi retirado do filme, imediata e sumariamente, por acusações de assédio
sexual sem trabalho da Justiça americana, num quadro perigoso de histeria de
mulheres que querem declarar corajosamente os abusos de que foram vítimas (algo
necessário e justo), mas agindo como justiceiras, sem respeito às leis, num
perigoso caça aos bruxos, um linchamento midiático. E ainda acreditando que
basta alguém declarar que foi assediado, isto já é verdade, como se não houvesse
pessoas oportunistas.
Este clima inquisitorial, que almeja até acabar com a
carreira de Woody Allen, algo absurdo e delinquente, numa denúncia requentada, quando
há anos ele já foi absolvido por duas instâncias em cidades distintas, já
mostra tentáculos bem perigosos.
É o caso do Museu de Arte de Manchester que removeu
das paredes, a pintura de J.W. Waterhouse (1849- 1917) onde vemos Hilas (o
mitológico companheiro de Jasão) tentado pelas ninfas num lago. tudo pelo medo
de haver acusações de insuflar pedofilia....
Vide artigo de João Pereira Coutinho sobre esta grande
infâmia em 3-d.
Pois bem, com Kevin Spacey, grande ator tanto como
Cristopher, teríamos mais verossimilhança no que diz respeito à idade,
trabalhando-se com maquiagem, para avanços e recuos no tempo.Incluindo o fato
de poder ser melhor um avô. Cristopher sugere ser mais um bisavô.
Mas impressiona bastante o pouco tempo em que Ridley
Scott refilmou todas as cenas em que Kevin aparecia, mantendo, fora os senões
apontados, excelente vigor cinematográfico, com grande atuação de Christopher
Plummer, favorito ao Oscar de Melhor Coadjuvante.
Em “Viva- A Vida é Uma Festa” (“Coco”-2017),
obra-prima de Lee Unkrich e Adrian Molina (Vide 3-e ), estamos no reino da
total fantasia em que as animações nos colocam.
O garoto Miguel, de 12 anos, gosta de apreciar música
e tocar um violão mexicano típico, numa família que o reprime porque tem trauma
histórico desta arte. Um membro distante da família abandou todos pela música.
Por um sortilégio Miguel vai para o mundo dos mortos e
quer encontrar o tataravô músico, para
que o ajude, justamente no dia que é um feriado para comemoração deste universo
no México.
Neste novo universo existem valores humanísticos, de
mirada até filosófica como o principal (Atenção Spoilers até o fim do
parágrafo): os mortos só morrem
verdadeiramente, definitivamente, quando não são mais lembrados nem por uma
pessoa neste nosso mundo dos vivos.
Não é por acaso que Miguel encontra outro universo,
esfuziante, pleno de festas, músicas, cores fortes. Mas vai encontrar o
debilitado Hector (no original dublado por Gael Garcia Bernal), que além de lhe
trazer segredos importantes, urgentemente tem que ser lembrado, por uma filha
que ele abandonou.
O roteiro é pleno de reviravoltas bastante inteligentes,
reveladoras e sensíveis, que fazem no conjunto total coerência.
Del Toro no díptico “O Labirinto do Fauno” e “A Marca
da Água” (tomara que ele crie mais um formando uma trilogia), numa forte
simplificação didática, transita num universo entre “Todo o Dinheiro do Mundo”
e “Viva-A Vida é Uma Festa”.
3- Links associados
3- a
Sinopse
Espanha, 1944. Oficialmente a Guerra Civil já
terminou, mas um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas ao norte de
Navarra. Ofélia (Ivana Baquero), de 10 anos, muda-se para a região com sua mãe,
Carmen (Ariadna Gil). Lá as espera seu novo padrasto, um oficial fascista que
luta para exterminar os guerrilheiros da localidade. Solitária, a menina logo
descobre a amizade de Mercedes (Maribel Verdú), jovem cozinheira da casa, que
serve de contato secreto dos rebeldes. Além disso, em seus passeios pelo jardim
da imensa mansão em que moram, Ofélia descobre um labirinto que faz com que
todo um mundo de fantasias se abra, trazendo consequências para todos à sua
volta.
3-b- https://oglobo.globo.com/cultura/filmes/uso-fantasia-para-discutir-politica-diz-diretor-de-forma-da-agua-recordista-de-indicacoes-ao-oscar-22351584?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilharhttps://oglobo.globo.com/cultura/filmes/uso-fantasia-para-discutir-politica-diz-diretor-de-forma-da-agua-recordista-de-indicacoes-ao-oscar-22351584?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar- Matéria Completa
( Vide Matéria Compacta em 3-f)
3- c-http://www.adorocinema.com/filmes/filme-254521/- “Todo o Dinheiro do Mundo” - (2017) - Sinopse- Trailer- Créditos- Crítica
AdoroCinema- Críticas Nacionais e Internacionais.
Sinopse
Itália, 1973. John Paul Getty III (Charlie Plummer) é
o neto favorito do magnata do petróleo J. Paul Getty (Christopher Plummer), um
dos primeiros bilionários da história da humanidade. O sequestro do rapaz
coloca a sua mãe, Gail Harris (Michelle Williams), em uma corrida desesperada
para convencer o ex-sogro a pagar o resgate milionário do filho. Frio,
manipulador e mesquinho, Getty irá encarregar o ex-espião Fletcher Chase (Mark
Wahlberg), seu homem de confiança, de descobrir quem e o que está por trás do
crime, solucionando o problema sem o desperdício de nenhum centavo de sua
fortuna.
3-d https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2018/02/novos-puritanos-nao-entendem-a-natureza-simbolica-da-arte.shtml -
Novos Puritanos Não Entendem a Natureza Simbólica da
Arte
3-e- http://www.adorocinema.com/filmes/filme-206775/- “Viva- A Vida é Uma Festa” (“Coco”- 2017)- Sinopse- Trailer- Créditos-
Crítica AdoroCinema- Críticas Nacionais e Internacionais
Sinopse
Miguel é um menino de 12 anos que quer muito ser um
músico famoso, mas ele precisa lidar com sua família que desaprova seu sonho.
Determinado a virar o jogo, ele acaba desencadeando uma série de eventos
ligados a um mistério de 100 anos. A aventura, com inspiração no feriado mexicano
do Dia dos Mortos, acaba gerando uma extraordinária reunião familiar.
3- f - Matéria Mais Compacta.
Por Carlos Helí de Almeida / Especial para O Globo 01/02/2018
RIO — A avó, católica fervorosa, tentou até exorcizar
o neto por causa do exagerado interesse que o garoto mantinha pelo ocultismo.
Ele passava horas desenhando monstros. Adulto, Guillermo del Toro construiu uma
filmografia inteira em torno de criaturas de aparência monstruosa, nem sempre
malignas, mas que surgem em cena para colocar a Humanidade em xeque. “A forma
da água”, que chega nesta quinta-feira aos cinemas como recordista de
indicações ao Oscar (foram 13), após receber o Leão de Ouro em Veneza,
representa o ápice dessa carreira. E a consagração de um gênero normalmente
menosprezado pela Academia.
— O cinema fantástico é o último dos gêneros a ser
legitimado por seus pares — diz, por telefone, o cineasta de 53 anos, o único
do trio conhecido em Hollywood como “los tres amigos” que ainda não ganhou o
Oscar de direção (Alejandro Iñárritu levou por “Birdman”, em 2015, e “O
regresso”, em 2016; e Alfonso Cuarón, por “Gravidade”, em 2014).
Ambientado nos anos 1960, “A forma da água” conta a
história de uma faxineira muda, Elisa (Sally Hawkins), que se apaixona por uma
criatura aquática aprisionada num laboratório do governo. Embora fincada na
Guerra Fria, temas como a indiferença pelo outro traçam paralelos com a atual
América de Donald Trump.
A trama é inspirada em argumento de Daniel Kraus, que
também transformou a história em livro, junto com Del Toro, a ser lançado no
fim do mês pela Intrínseca. Poucos dias após as indicações ao Oscar serem
divulgadas, o filho do dramaturgo Paul Zindel (1936-2003) veio a público acusar
o filme de plágio. De acordo com David Zindel, a história usa elementos de uma
peça que seu pai escreveu em 1969, sem lhe dar os devidos créditos. Leia a
seguir os principais trechos da entrevista com Del Toro.
O que mais o fascina no cinema fantástico?
Dependendo do narrador, é o gênero mais político que
existe. Mas, na América Latina, ele ainda é considerado, com frequência, um
cinema “menor”. Há preconceito com a fantasia, e o que pretendo com “A forma da
água”, “O labirinto do fauno”, “A espinha do diabo”, ou qualquer outro trabalho
meu, é usar o fantástico como uma parábola, ou fábula, que permita discutir
temas políticos ou históricos de maneira oblíqua, mas potente.
Para além de 'A forma da água': os filmes de Guillermo
del Toro
1 de 8
1- ''A colina escarlate' (2015)
Neste romance gótico, uma escritora descobre que a casa
do homem por quem está apaixonada é habitada por aquilo de que Del Toro mais
gosta: fantasmas e entidades misteriosas.
2- 'Círculo de fogo' (2013)
A superprodução de US$ 190 milhões não é lembrada
tanto pela solidez da história, é verdade. Mas a ação grandiosa e de tirar o
fôlego garantiu sucesso e elogios substanciais.
3- 'O labirinto do fauno' (2006)
Del Toro volta à Guerra Civil espanhola num épico
fantástico sobre escapismo em meio aos horrores da realidade. É considerado uma
obra-prima foi vários críticos de cinema.
4- 'Hellboy' (2004)
Del Toro se aventurou em outra adaptação de HQ, muito
elogiado por unir um visual afiadíssimo com boas doses de humor e ação. Ganhou
uma continuação em 2008.
5- 'Blade II - O Caçador de Vampiros' (2002)
O Caçador de Vampiros, personagem das HQs da Marvel,
ganhou uma continuação superior à original, graças ao estilo impresso pelo
cineasta mexicano.
6- 'A espinha do diabo' (2001)
O drama de terror foca num fantasma que assombra um
orfanato, servindo de metáfora para uma Espanha pós-Guerra Civil. É uma das
obras mais aclamadas de Del Toro.
7- 'Mutação' (1997)
Marcada por conflitos com o estúdio, a estreia de
Guillermo del Toro em Hollywood dividiu opiniões, com um conto sobre um inseto
criado para matar baratas infecciosas -- mas os bichos se voltam conta a
humanidade.
8- 'Cronos' (1993)
Inspirado em clássicos vampirescos, o longa de estreia
de Del Toro já mostrou as famosas marcas do diretor: muito sangue, estilo e
charme.
Foi por isso que o senhor se dirigiu aos realizadores
latinos quando foi premiado em Veneza?
Foi um chamado para que os cineastas da região com
vocação para o fantástico não percam a fé no gênero. Alguns dos narradores
literários mais potentes da América Latina, como Borges, García Márquez e Juan
Rulfo, trabalham o universo do fantástico, e são reconhecidos por isso.
Por que não podemos dar esse passo também no cinema?
Temos que abraçar as possibilidades artísticas da vertente, sem vergonha e com
muito amor.
Os prêmios podem ajudar a derrubar o preconceito em
relação ao cinema fantástico?
Tão importante quanto os prêmios é a atenção que o
gênero tem recebido. Nesta temporada há dois filmes de gênero que são
profundamente políticos: “A forma da água” e “Corra!”, duas fábulas que tocam
em temas pertinentes à situação social atual. Ganhar o Oscar ou não é o que
menos interessa agora, mas sim a discussão que esses dois filmes estão
provocando.
A fantasia é o último dos gêneros a ser legitimados
por seus pares — a comédia, o melodrama, o musical e até o policial já o foram.
Creio que o último refúgio para o fantástico é a sua legitimação como
narrativa, nem melhor nem pior com os outros tipos de cinema.
Entre os temas contemplados em “A forma da água” estão
sexismo e assédio sexual no trabalho. O senhor recebeu o Globo de Ouro de
direção numa cerimônia marcada por protestos feministas. Como vê o momento?
O filme chega aos cinemas numa época importante em
termos de políticas identitárias. Vejo como um instante decisivo para diversas
lutas e reivindicações humanitárias. Foi importante e potente a observação de
Natalie Portman ao anunciar os candidatos ao prêmio de direção, ressaltando que
eram “todos homens”.
A mudança nas relações de trabalho é vital. A
marginalização da mulher se dá em todos os âmbitos sociais. E também é
perceptível de forma terrível na América Latina. Na indústria de sapatos, no
setor bancário, no departamento científico, no entretenimento, a discriminação
é real, e tem que acabar. Só podemos aspirar por alguma esperança de futuro se
estivermos unidos.
Não há “nós” sem reconhecermos o “outro”. O grande
passo se dá pela descoberta de que estamos no mesmo barco. Ou vivemos juntos ou
morremos juntos. São as únicas opções.
A criatura aquática de “A forma da água” é vítima de
uma ideia ou de uma ideologia? Que paralelos o senhor faz entre os EUA da
Guerra Fria, descrita no filme, e os EUA de Trump?
A diferença entre ideia e ideologia é que a primeira
surge da vivência, e inteligência; e a segunda nos chega como um dogma. A
maioria dos atos brutais ocorridos ao longo da História é fruto de ideologias e
preconceitos, não de ideias. Os vilões são seres que têm a profunda certeza de
que estão fazendo o que acreditam ser o correto.
A criatura assume diferentes significados para cada
personagem: para Giles (Richard Jenkins), ela é um deus, porque lhe devolveu os
cabelos perdidos com a idade; para Zelda (Octavia Spencer), é o homem que ama a
sua melhor amiga, para os cientistas é um milagre da natureza, e para
Strickland (Michael Shannon), o agente do governo, ela é uma coisa obscura e
vil que veio da América do Sul. O filme contempla todos essas percepções.
“A forma da água” é plasticamente elaborado. De que
modo o visual expressa seu conteúdo?
A aparência de um filme é resultado da coordenação entre
os departamentos de arte, vestuário, fotografia e a direção. As cores assumem
papel fundamental na história.
Os tons de azul predominam no apartamento de Elisa; as
casas dos demais são em tons cálidos, âmbar, alaranjados. O vermelho surge em
detalhes, simbolizando o amor e a vida. O verde, a cor predominante no
laboratório, representa a obsessão de uma América pela ideia de futuro.
Essa paleta sublinha outro tema do filme: a
necessidade de se viver o presente. Há personagens apegados ao passado, como o
artista, e ao futuro, como os cientistas. Elisa e o homem-peixe são os únicos
que vivem o agora.
O filme custou US$ 19,5 milhões, mas parece uma
superprodução dez vezes mais cara. Qual o segredo?
O modo de narrar. É um filme de grandes gestos, que
faz com que o espectador acredite que é maior do que realmente é. Os primeiros
cinco minutos são de sequências de grande escala, um plano fenomenal debaixo
d’água, um laboratório gigantesco e um ser de aparência espetacular, que deixa
todo mundo embasbacado.
Há um ou outro momento grandioso mais na frente, como
o número musical entre a criatura e a protagonista. Mas, feitas as contas, 70%
da história acontecem em ambientes minúsculos. É um efeito parecido com o que
ocorre na minha vida, quando apareço um dia num restaurante caríssimo, aonde só
volto um ano e meio depois. Aí as pessoas se perguntam: “Como Guillermo leva
uma vida tão nababesca?”. (risos)
“A Forma da Água” (“The Shape of Water -2017”) Trailer
Legendado
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