1- Paul Verhoeven, Ambíguo, Lúdico e “Perverso”&
Outras Reflexões Suscitadas
Para Camille Paglia (1), a última estrela do Cinema
foi Sharon Stone no primeiro "Instinto Selvagem" (2) de Paul
Verhoeven.
Revi o filme e ele está cada vez melhor. Um dos melhores
thrillers, filmes de suspense já feitos, com um erotismo bastante ousado, nunca
visto antes no Cinema Americano, que não fosse do universo dos filmes pornôs.
Comecemos pela antológica sequência em que Catherine
(Sharon Stone), sendo interrogada por vários policiais (um deles Nick, Michael
Douglas), inverte o jogo, desnorteando a todos, cruzando as pernas e
descruzando-as, para cruzar de novo, mostrando estar sem calcinha e deixando
bem à mostra sua vagina. Algo que o espectador também vê com clareza. Ele também
está em busca de resposta para mistérios, assim como os policiais,
especialmente Nick.
Ela ainda dá fortes indícios, para estupefação maior
de Nick, que conhece elementos importantes de sua vida. Há poucos anos ele era
viciado em álcool e drogas. Numa perseguição a bandidos, as chamadas balas
perdidas mataram turistas. Estava drogado e/ou alcoolizado quando praticou
estes crimes colaterais?
A sequência onde os policiais perdem o controle, diante
da grande ousadia erótica, com Catherine invertendo o jogo, não estava prevista
no roteiro. Foi criação de Paul Verhoeven e não do roteirista Joe Eszterhas (de
bastante prestígio na época) e dá o tom do filme, com ambiguidades à exaustão,
desnorteando Nick e a nós espectadores a todo momento.
As sequências de sexo de Nick com Catherine são
apresentadas de forma bastante tórrida para nos passar o porquê um policial que
segue uma mulher, principal suspeita por bárbaro crime (morte com várias
estocadas, com um furador de gelo, de um ex- astro do rock, com quem ela tinha
um caso simplesmente erótico, segundo ela), coloca a sua vida em forte risco em
nome de um desejo irrefreável.
Mas voltemos à Camille Paglia. O Cinema depois deste
filme passou a contar ou continuou contando com estupendas atrizes como Juliete
Binoche, Meryl Streep, Julianne Moore, Isabelle Huppert, Marion Cotillard, Cate
Blanchett, Naomi Watts etc.
Mas estas, no Cinema Moderno, representam seus papéis num
outro registro que não mais nos remete ao mistério, magia, glamour, ambiguidades,
astúcias de Femme Fatales em muitas obras e onipresença etc das grandes
estrelas do chamado Star System de Hollywood etc, onde muitas pessoas iam mais
ao Cinema, com a vontade de ver estas divas, do que pelos filmes em si.
Não me oponho ao Star System, pois temos grandes clássicos/obras-primas
do Cinema que foram nos legado nesta estética, como Marlene Dietrich em "O
Anjo Azul" ( 1930) e “ Vênus Loura” (1932) de Josef von Sternberg; Rita Hayworth em “Gilda”(1946) de Charles
Vidor e “A Dama de Shangai”( 1947) de
Orson Welles; Ingrid Bergman em “Casablanca”(1942)
de Michael Curtiz e “Quando Fala o Coração ( 1945) de Alfred Hitchcock; Barbara Stanwyck em “Pacto de Sangue (1944) de
Billy Wilder etc
Uma das razões do porquê Ingrid Bergman largou família
e carreira nos EUA e foi para Roma, é porque, impressionada, viu em Roberto
Rosselini outras formas de representação, que não as de Hollywood, quando
assistiu “Roma, Cidade Aberta (1945). O resto é História do Cinema.
Quando Rosselini amplia muito o alcance da linguagem
cinematográfica com “Roma, Cidade Aberta”, tendo até uma postura ética bastante
forte por trás, criando um grande marco da História do Cinema, que influenciou
até grandes diretores iranianos como Jafar Panahi, Abbas Kiarostami etc, não se
tem aí, de modo algum tábula rasa do que foi feito antes.
Aliás isto acontece com todo movimento
cinematográfico, como o próprio Neorrealismo, o Surrealista, o Cinema Novo, o
Novo Cinema Alemão, o Free Cinema Inglês, a Nouvelle Vague, o Dogma etc. Não existe
um antes ou depois destes movimentos, que seja mesmo bastante abrangente.
Um caso bastante eloquente é Federico Fellini. Começou
no Cinema contribuindo para roteiros de Rosselini. É um dos co-roteiristas em “Roma,
Cidade Aberta” e “Paisá” (1946).Teve
grande influência do neorrealismo no início da carreira, em “A Estrada da Vida”:
“Os Boas Vidas”: “A Trapaça”: “Abismo de Um Sonho”, mas passou depois a
trabalhar com grandes e esplêndidas fantasias no cinema, como “Fellini 8 e1/2”;
“A Doce Vida”; “Amarcord”; “Casanova de
Fellini; “Satyricon de Fellini”; ”Entrevista”; “Ensaio de Orquestra”; “E La
Nave Va” etc.
Até mesmo o desfecho de “Noites de Cabíria” (1957), onde
ela vai diminuindo suas lágrimas e se recompondo com sorriso nos lábios, sendo
acompanhada por um trupe de artistas, quase que circenses, foge completamente
do neorrealismo. Não é à toa que radicais vetustos de esquerda abominaram este
final, que é um dos mais belos da História do Cinema.
Talvez quisessem que Cabíria se matasse, pois foi mais
uma vez ludibriada por um homem que lhe daria redenção na sua vida de
prostituta, casando-se com ela, mas que por pouco não a afogou num rio.
Até mesmo Vittorio De Sica que realizou outra obra
marco do neorrealismo que foi a obra-prima “Ladrões de Bicicletas” (1948), em
“Milagre em Milão” (1951), como se não suportasse mais retratar tantas misérias,
fez os favelados voarem para os céus em cabos de vassoura, algo que foge aos princípios básicos do neorrealismo.
Os terríveis críticos do Cahiers Du Cinéma,
principalmente François Truffaut, em seu irônico e demolidor “Um Cinema Francês
de Qualidade”, estigmatizaram filmes feitos em estúdio, com diálogos poéticos (
tal os de Jacques Prévert), como “O Boulevard
do Crime” (1945) de Marcel Carné, onde reina a grande estrela e diva Arletty e Jean-Louis
Barrault.
Só que, por grande ironia, várias vezes em que fazem
um referendum para escolha do melhor filme da História da Filmografia Francesa
desponta, simplesmente, “O Boulevard do Crime.....
Sharon em "Instinto Selvagem" traz toda
ambiguidade, divismo, magnetismo, beleza estupenda, incendiando a tela quando
aparece, construindo um filme neo-noir, sendo uma femme fatalle, autêntica
referência ao Star System. Se Verhoeven não a tivesse encontrado, o filme
jamais teria a força que tem.
Sharon Stone tem depois um extraordinário trabalho
como Ginger (que vai da extrema beleza à autodestruição completa que anula esta
beleza, por mergulhar nas drogas) em "Cassino" (3) (1995), uma das
obras-primas de Martim Scorsese, pouco comentada.
Sharon ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz
Dramática, provando que realmente que é grande atriz, não restrita a "Instinto Selvagem". Pena que por
más escolhas e/ou ofertas ruins, não tenham me chegado notícias de outros
grandes desempenhos.
Mas em "Cassino", com tantos temas entrelaçados,
tendo como epicentro o mafioso Sam Rothstein ( Robert De Niro), não há como
dizer que Sharon trabalhe no registro do Star System, capitulo louvável, mas
encerrado no Cinema Americano.
"Instinto Selvagem" é o que chamo de
clássico do Cinema que não é necessariamente uma obra-prima. Há nele malabarismos de perseguições
automobilísticas que remetem a clichês.
Atenção Spoilers Entre Aspas
(Comenta-se que o final do filme é em aberto quanto ao
responsável pelos assassinatos. Mas não consigo explicação para o fato de
Catherine (depois de mais uma transa bem quente com Nick e então deitados, de
costas um para o outro) tentar pegar algo (que imaginamos ser um picador de
gelo) e depois de um movimento que nos assusta, dirigir simplesmente sua mão
para abraçar melhor Nick, que se volta para ela.
Mas acontece que a câmera vai se abaixando e revelando
um justamente um picador de gelo embaixo da cama. Ou seja, o que provavelmente
ocorre é Catherine ter realmente ficado apaixonada por Nick e tê-lo poupado da
morte. O suspense que fica é até quando ela vai controlar seus impulsos, seu
instinto básico.
Os crimes vão acontecendo de acordo com sequências que
Catherine descreve em seus romances policiais.
Num jogo de gato e rato ela se aproxima de Nick também
para ter material para seu livro “O Atirador”, inspirado em momentos do passado
de Nick quando drogado e viciado também em álcool, matou turistas, em fatídicas balas perdidas num tiroteio contra bandidos,
conforme já mencionado.
Estamos diante de uma obra em progresso em que as
aproximações dela com ele, as atitudes deste amante (que se arrisca bastante) são
excelentes material de trabalho. E há mais mortes misteriosas que acontecem, além
da retratada de forma bastante cruel no início, mas necessária para criar o
clima de perigos em jogo.
No livro quando ela dá por acabado, o policial
inspirado por Nick morre. Nada mais natural que ela desta vez também queira
fazer a vida imitar a arte. Mas por ora desiste. Um abraço por ora vence. Até
quando? Este sim é o grande mistério ao final do filme.
Apesar de muitas pistas sobre a Dra. Beth Garner
(Jeanne Tripplehorn), psicóloga da polícia (que teve um affair com Nick e
cuidou /cuida dele quanto ao controle e efeitos das drogas e álcool), estas são
demolidas adiante, no filme. Incluindo depois de uma sequência que emula com
objetividade e intenção clara, o início do assassinato no chuveiro de “Psicose”
de Hitchcock.)
Aliás a esplêndida trilha sonora de Jerry Goldsmith
nos remete claramente às de Bernard Herrmann de tantos filmes de Alfred
Hitchcock e outros clássicos como “Táxi Driver” de Martim Scorsese.
“Instinto Selvagem” apesar de nos remeter à era do
divismo, com estrelas envolvidas em glamour, mistérios, ambiguidades
etc está muito longe de insinuar grande
sensualidade como, por exemplo, Gilda tirando as luvas em “Gilda” de Charles
Vidor, como se fosse um autêntico strip-tease.
Neste filme de Verhoeven não há nenhuma apelação erótica.
Mas é bastante importante, para entendermos as forças psicológicas, psicanalíticas e policiais em jogo, que as
sequências de sexo sejam bem fortes mesmo.
E tinha que ser um diretor europeu (no caso da
Alemanha), sediado na América, para ter a coragem para tantas audácias
eróticas. O Cinema Americano de modo geral (até o altamente transgressivo
Quentim Tarantino) é pródigo em sequências das mais violentas, mas bastante
pudico quando se trata de sexo. Algo
muitas vezes mostrado às pressas e/ou com os personagens vestidos.
Quanto a “Robocop- O Policial” do Futuro” (4 ) ( 1987)
de Paul Verhoeven, não tenho um grande apreço equivalente ao de “Instinto
Selvagem”. É um filme talvez pesado demais, com tiroteios demasiados também.
Lendo sobre ele é que descobri pequenos detalhes das
situações da obra, que me passaram despercebidos, dado o tanto de uma história
cheia de som e fúria, com atordoamentos, contada por um cineasta talentoso e
criativo, mas que eclipsa significados.
Mesmo para um filme de ficção científica temos
premissas um tanto difíceis de aceitar, a não ser com alargamento da suspensão
da descrença. A favor do filme, é bom ressaltar que ele tem clima de ser baseado
em quadrinhos, quando acreditamos em siituações especiais.
E “Robocop- O Policial do Futuro” é um filme de ficção
científica, onde premissas fortes valem e o principal mesmo é analisar a coerências internas da obra.
Filmes de fantasia de Tim Burton (muitos excepcionais)
também praticam este jogo com o espectador. Podemos nos lembrar ainda neste
quesito dos filmes surpreendentes de Terry Gilliam.
O oficial Alex J. Murphy (Peter Weller), num projeto
tido como Omni Consumer Products (OCP), é enviado propositadamente por seus
superiores para uma missão suicida, onde recebe saraivada de tiros, principalmente
nas pernas. Morto, depois de cirurgias. passa a usar uma forte armadura e um capacete
que só lhe deixa a boca livre, com vários gadgetes de defesa, facilidades e se
torna o primeiro Robocop, para dentro da lei prender bandidos que infestam/
atormentam Detroit.
Robocop com o auxílio da policial amiga Annie Lewis,
única pessoa em que ele passará a confiar, começa a ter memórias esparsas de
quando era simplesmente o policial Murphy. Mas alguém que morreu mesmo, pode
ter lembranças? Ou depois de tantos tiros ele se transformou num morto-vivo que
o projeto Robocop salvou?
O filme também nos fala de corrupção em altas esferas,
a promiscuidade de autoridades com bandidos comuns, o enorme kafkianismo das
grandes corporações que esmagam os indivíduos.
Uma das grandes intenções por trás do projeto OCP-Robocop
é higienizar a cidade para se ter um grande empreendimento imobiliário modernoso
de gentrificação. Qualquer semelhança com fatos que ocorrem no Brasil de uns
tempos pra cá, mostra a atualidade do filme.
Paul Verhoeven não gostou de “Robocop” (5) (2014) de
José Padilha, porque o diretor teria retirado todo humor da história. E sem
este, o filme fica esquisito.
De fato, o filme de Verhoeven, não pode se levar tanto
a sério assim, como o recente “Ella” (6) (2016). Assim, mesmo em sequência bem
violenta, revela humor para respiro, quando um grande policial robô, mastodôntico
e desajeitado, é apresentado numa reunião, com vários membros da corporação à
mesa.
Tem-se uma máquina brutamontes pura, sem cérebro
humano. Um dos presentes é instado a apontar uma arma para a geringonça. Ela
com sua voz metálica pede que ele largue urgentemente a arma. Ele a deixa cair
no chão. Mas por um problema técnico, a máquina policial não ouviu o barulho de
arma caindo no chão e metralha até a morte o convidado ao teste, deixando todos horrorizados e se escondendo
por baixo ou bastante inclinados em relação à mesa.
Atenção Spoilers entre Aspas
(Adivinhem se esta máquina atrapalhada não lutará com
Robocop? Este vai descobrir que uma
quarta condição de sua existência, não lhe ensinada antes é não poder matar nem
lutar com um superior hierárquico. Mas o roteiro encontrará uma solução inteligente
para o contorno disto)
“Robocop- O Policial do Futuro” de Verhoeven, com suas
grandes originalidades típicas de herói de quadrinhos, mas construído
diretamente para o Cinema, em que pese as restrições apontadas, é um filme
muito bom e que pode até ser considerado, dentro da lógica que costumo
apresentar, um clássico( mas não uma obra-prima).É um filme que passou a fazer
parte do imaginário cinéfilo de muitas pessoas.
Certa decepção com ele vem do fato de que se torna um
grande anticlímax ao assisti-lo, depois do magnetizante e hipnótico “Instinto
Selvagem”, filme do qual não tiramos os olhos da tela, por nada.
E convenhamos,
é muito mais agradável ver cenas de sexo ousadas, magnificamente filmadas, do
que tiroteios sem fim, por mais que tenham a ver com a história, pois é
necessário mostrar o grau de resistência do Robocop, para melhor acreditarmos
neste policial metade máquina, metade homem.
Atenção Spoilers entre Aspas
(Que Robocop descubra todo rosto para mostrar à amiga Anne Lewis como está a face de Murphy entende-se, mas que
a partir daí ele o deixe descoberto, saindo para as lutas, é algo
incompreensível, pois se torna bastante vulnerável.
Cheguei a ler que na franquia (que não assistirei além
deste primeiro, pois de modo geral decepcionam, podendo virar até mesmo caça
níqueis), Robocop aparece com o rosto descoberto o tempo todo.
Em uma ficção científica um roteirista/diretor pode
tomar várias liberdades como premissas, desde que estejam de acordo com nossa
suspensão da descrença. Mas a partir daí deve obedecer a lógicas internas.
Rosto descoberto pode ser facilmente atingido várias vezes por inimigos,
propositadamente.
Para um artista sério, não vale a máxima que muitos
brasileiros abraçam (temo que em grande percentagem do total) de que “bandido bom,
é bandido morto”.
Um filme com esta premissa, por mais bem feito que
seja, merece ser completamente rechaçado como fascista.
Robocop mesmo com todos os seus poderes, podendo
receber saraivadas de tiros e ficando incólume, tem programado dentro de si,
enquanto ciborgue que é, que deve agir conforme as leis, fazer justiça
mesmo.
Ele perseguição implacável encurrala Kurtwood Smith (Clarence J. Boddicker), o
chefe da gangue que atirou de todas as formas em Peter Weller, o que o levou à
condição de Robocop.
Há todo um clima para uma grande vingança. Mas
Kurtwood lembra os seus direitos e é levado preso. No Brasil teria sido
fuzilado à queima roupa, com muita raiva, sem dó, nem piedade.
Por mais que muitos chiem, até mesmo bandidos tem os
seus direitos humanos que devem ser garantidos, respeitados. Esta é uma questão
ética que o filme aborda. Mas diante de tantas camadas de significados que
compõe o filme, isto não é aprofundado.)
Paul Verhoeven em sua passagem pelos EUA, vindo de
sucessos na Alemanha, realizou também “Showgirls” (6) (1995) que foi muito mal
recebido tanto pela crítica como pelo público. Ganhou vários troféus Framboeza
de piores do ano. Mas hoje é reavaliado como excelente filme por muitos
críticos.
Quero ter a chance de vê-lo na Tela Grande. Kleber
Mendonça Filho, atual curador de Cinema do IMS-RJ o programou pela ocasião do
lançamento do fenômeno “Elle” (7) (2016) de Paul Verhoeven. Mas foram uma ou
duas sessões. Deveriam ter sido mais.
Na volta à Alemanha, Verhoeven realizou um grande
filme, “A Espiã” ( “Black Book”) (8), sobre uma agente dupla, durante a
segunda-guerra mundial, com pontes entre a resistência e nazistas, com
belíssima reconstituição de época. O filme tem pontos de contato com “Desejo e
Perigo” de Ang Lee.
Com o histórico de diretor bastante ousado e “perverso”
(no bom sentido da palavra, com eram Hitchcock, Fritz Lang, Claude Chabrol e são
Polanski, Brian De Palma, Alex de La Iglesia. Irmãos Cohen etc), não é de se estranhar, se surpreender, que o
roteiro de “Elle” de David Birke tenha
caído em suas mãos, ou ele tenha buscado.
Como atriz protagonista só poderia ser Isabelle
Hupertt, alguém que num outro registro fez um professora de piano refinada que de
forma oculta tem relações sadomasoquistas, envolvendo até um aluno adolescente,
dentre outros fetiches, em “A Professora de Piano”( 2001) de Michael Haneke. Aqui
temos um detalhado processo rumo à autodestruição. Um desempenho que lhe deu o
prêmio de melhor atriz em Cannes.
Filmes como “Instinto Selvagem” e “Elle só teriam a
força que tem com as parcerias de Sharon Stone e Isabelle Huppert
respectivamente, tendo um diretor como Paul
Verhoeven, que além de grande diretor de modo geral, que extrai desempenhos
excelentes de seus atores, é muito hábil também na criação de climas e com belos
e significativos movimentos de câmera.
Uma sequência de “Instinto Selvagem” é bastante
significativa. Um assassinato provavelmente ocorre, havendo muitos carros e
pessoas em volta do possível morto. O policial Nick (Michael Douglas) vai se
aproximando como pode, em meio bastante lotado e há suspense no que ele e nós
veremos e em qual situação. Uma sequência bem forte que podemos chamar de o
belo horrível que as artes podem nos proporcionar.
Paul Verhoeven não deixa de ter certa razão quando
disse no Festival de Cannes, como presidente do júri. que um filme como
“Spotlight-Segredos Revelados” (2016) de Tom McCarthy (por mais que trate de
temas bastante relevantes, como a proteção a pedófilos dentro da Igreja
Católica em Boston, por seus superiores, com investigações que mudaram o quadro
de percepção da pedofilia no mundo), tem um quê de filmes televisivos. Já o que
Verhoeven fez/faz, para o bem ou para o mal, trata-se mesmo de Cinema.
Verhoeven não gosta de se repetir. Esta foi a forte
razão de sair dos EUA e voltar à Alemanha, pois é isto que queriam dele. Assim seus
filmes tendem a ter resoluções bem diversas e inusitadas.
Verhoeven, decididamente, não se apoia em
procedimentos politicamente corretos. Militantes GLBT nos EUA fanáticos se
manifestaram contra “Instinto Selvagem”, pois traria uma má imagem do
lesbianismo, da bissexualidade. Só que a variedade humana é imensa. Assim, nada
indica que não possa haver personagem como Catherine, bissexual dominadora, que
é suspeita de ser uma serial-killer, se
valendo de um picador de gelo.
Algo análogo aconteceu com “Elle”. Feministas
fanáticas rangeram os dentes. Só que como Isabelle explicou, o filme não tem a
preocupação de trazer nenhuma mensagem feminista. Ele é a história bastante
forte de uma mulher, Michèle, decidida em tudo, profissionalmente bem sucedida
como chefe na área de vídeo games ( pesados com mais intensidade porque ela
quer/obriga), mas que bastante solitária, envolve-se numa relação
sadomasoquista bastante hardcore. Algo que o filme já nos apresenta logo no início,
como o assassinato em “Instinto Selvagem”.
Há ainda o fato de que a obra apresenta elementos de
ordem psicanalítica que pode explicar seus comportamentos e que inclui também a
secura e firmeza como trata as pessoas. Mas há os momentos de sorrisos,
dissimulados ou sinceros.
Michèle não quer saber do pai preso durante anos por
terríveis crimes, tem péssimo relacionamento com a mãe e um filho que só lhe
traz aborrecimentos: não para em emprego algum, passa a ter uma namorada que a afronta
( até mesmo quando quer ajudar) e tem um filho que é negro, não podendo ser seu
neto de sangue.
Spoiler entre
aspas
(Quando Michèle
quer parar o jogo perigoso, pois está surgindo amor, o parceiro não concorda,
levando o filme a um final surpreendente, principalmente com a calma e prazer
com que ela passa a reatar a relação com a amiga de trabalho, que traia sendo
amante do marido desta.
Rejuvenescida, alegre, ela adora a ideia de ter a
amiga morando com ela, até que arrume um
lugar todo seu, pois se separou do marido.
Aqui depois de muitas perversidades acumulada
cruamente, o filme dá a volta por cima e temos o que se poderia chamar de certo
happy-end. Não é à toa que me refiro à ambiguidade de Verhoeven, que pode nos
levar pelos mais inusitados caminhos).
2- Links Associados
Preferi não saturar a postagem com muitos links
associados. Havendo interesse, qualquer filme citado, através de um Google no
título do filme, acompanhado da palavra filme, com o site AdoroCinema, pode-se
encontrar Sinopse-Trailer-Créditos- Críticas Nacionais e Estrangeiras além das
do próprio site ( nem sempre estas). No caso de títulos repetidos, incluir o
nome do diretor no Google.
Na página atingida, fora o site AdoroCinema, podem
surgir matérias bem interessantes, seja da mídia impressa ou web, que poderão
valer a pena ler.
Roda Viva Internacional | Camille Paglia | 22/10/2015
Ela fala, entre outros assuntos, de sua revisão do
feminismo e comenta suas definições sobre a cultura ocidental.
“Instinto Selvagem”- Sinopse- Trailer- Créditos
“Cassino”- Sinopse- Trailer- Créditos
“Robocop- O Policial do Futuro”- Sinopse-Trailer-
Créditos
“Robocop” ( 2014)- Sinopse-Trailer- Créditos-Críticas
“Showgirls”- Sinopse-Trailer-Créditos
“Elle”- Sinopse-Trailer-Créditos-Críticas
Nacionais e Estrangeiras
“A “Espiã”- Sinopse-Trailer- Créditos