Os Melhores Filmes de 2023 de Acordo com Diferentes Segmentos
A- Os Melhores Filmes Internacionais Estreados em 2023,Seja no Cinema e/ou Streaming
Em Ordem de Preferência
1- Empate entre “Assassinos da Lua das Flores” de Martin Scorsese e “Oppenheimer” de Cristopher Nolan, filmes para História do Cinema e não simplesmente como destaques maiores do ano.
“Assassinos da Lua das Flores” – Um grande épico de três horas e meia que não cansa, onde tudo é significativo, que nos mostra que por trás de um cineasta que abordou bastante histórias bem violentas (sem abdicar de espiritualidade, principalmente em “Silêncio”), existe um grande humanista, ao nos mostrar a saga do povo indígena Osage, da inesperada riqueza advinda de petróleo a mortes suspeitíssimas, no Cinema, como ninguém abordou antes.
“Oppenheimer”- Para quem acredita que Nolan não se importa com as bombas jogadas no Japão, basta acompanhar os olhares cada vez mais melancólicos de culpa de Cilliam Murphy compondo Oppenheimer e suas posturas corporais ( no melhor desempenho masculino do ano), alguém que não se defende como poderia em impiedosos interrogatórios, como que se oferecendo em holocausto, para se punir.
Uma história narrada por três versões que se complementam, a da mãe, a do professor e a do aluno, tem no fundo uma história terrível de bullying contra atrações homoeróticas, que surgem nos primórdios da adolescência, revelando-nos uma sociedade de automatismos desumanos e por tabela um mundo, que são, estes sim, realmente monstruosos.
3- “Decisão de Partir” de Park Chan-wook
Temos um filme neo-noir com toques hitchcockianos em que nada é o que pensamos inicialmente ser, com um dos desfechos mais atordoantes já mostrados no Cinema recente, com excelentes atuações cheias de ambiguidades, com roteiro mais do que brilhante. E uma suis generis história de amor condenada à tragédia envolvendo um detetive e uma possível assassina. A volta desta mulher remete a “Um Corpo que Cai” ( “Vertigo”) do mestre do suspense.
4- “Os Banshees de Inisherin” de Martin McDonagh
Collin Farrell e Brendan Gleeson, que também trabalharam juntos em “Na Mira do Chefe” (“In Bruges”) do mesmo diretor, são dois amigos de longa data em que um deles rompe a amizade súbita e unilateralmente, deixando o outro bastante aturdido, o que vai provocar um torvelinho de pequenas tragédias do cotidiano. A química dos atores é sensacional, já provada em “Na Mira do Chefe”. Collin Farrell merecia o Oscar vencido por Brendan Fraser por “A Baleia”, pois aqui meio caminho da interpretação veio de maquiagem muito pesada.
5- “Sem Ursos” de Jafar Panahi
Um diretor de cinema faz um filme à distância, na fronteira do Irã com a Turquia e mais do que de um Estado totalitário, que atrapalha a vida de um casal que para fugir do Irã apela para passaportes falsos, objetos do filme dentro do filme, também esbarra no preconceito de tradições arraigadas bem atrasadas numa comunidade. Jafar Panahi faz mais um filme metalinguístico, no qual os cineastas iranianos são mestres. E como no mais recente “Taxi Teerã”, ficção e documentário se misturam de forma deliberada a nos confundir, como nos filmes mais antigos de Panahi como “O Balão Branco”, “O Espelho”, “O Círculo”, dentre outros.
Os limites que o Estado ainda impõe a Jafar Panahi e como ele os dribla é tema de documentário a ser feito.
6- “Tár” de Todd Field
Um filme desconcertante do começo ao fim com Cate Blanchett sublime como a Maestro (como ela gosta de ser chamada) Tár, tão ciosa de sua vida profissional de sucessos e grande ascensão, que descuida de sua vida particular, de forma bastante arrogante, o que a vai levar a cancelamentos e a uma decadência dolorosa.
7- “Folhas de Outono” de Aki Kaurismäki
O diretor finlandês, mesmo que não atinja o nível de sua grande obra-prima “O Homem Sem Passado”, mais uma vez presta tributo ao Cinema minimalista de Robert Bresson. Mas comparece aqui, mesmo em sequências dramáticas, um humor que é peculiar do diretor. Algo que Bresson não tem. E mais uma vez, com poucos minutos de projeção, já reconhecemos se tratar de uma obra do diretor, dado as suas constantes estéticas, como planos fixos, atores com expressões que parecem esconder os verdadeiros sentimentos, cores pouco vibrantes etc...
8- “Os Fabelmans” de Steven Spielberg
Spielberg volta suas lentes e câmeras para quando era criança, jovem e adulto que consegue trabalhar na televisão, antes de se tornar o grande diretor que conhecemos. São várias as sequências memoráveis: em uma delas por suas filmagens flagra a mãe traindo o pai com o melhor amigo da família e vai mostrar o que descobriu à mãe; em outra John Ford dá lição a Spielberg sobre a altura em que este deve colocar a câmera. Enfim, Spielberg vai descobrindo pequenos truques mais domésticos que profissionais, antes de ser o grande mago do Cinema que conhecemos, num filme embebido de poesia e lirismo.
9- “Godzilla Minus One” de Takashi Yamazaki
Esta versão mais recente feita por japoneses presta homenagem ao clássico de 1954, que vai completar 70 anos em 2024, contando com excelente roteiro, com significativas reviravoltas e belos, quanto assustadores efeitos especiais. Um piloto ao pressentir que o Japão vai perder a guerra não vê mais sentido em ser kamikaze e pousa no posto de manutenção. Mas é descoberto pois não descobrem nenhum problema em seu avião. Este personagem e seu drama de consciência vai ser o fator humano mais forte que vai detonar situações bastante significativas para a derrota do monstro. Ou pelo menos para que ele não ataque Tóquio outra vez.
O diretor é mestre em efeitos especiais. Este é o seu primeiro longa-metragem onde dá régua e compasso ao filme como um todo.
10- “Maestro” de Bradley Cooper
Com janela curta nos Cinemas (o que é uma pena) este filme da Netflix tem na longa sequência em que Bradley compõe Leonard Bernstein regendo uma sinfonia de Mahler, bastante efusivo, o seu melhor momento. Mesmo assim há muito mais para se ver e ouvir, em períodos mostrados num lindíssimo preto e branco e outros em cores. Carey Mulligan como a mulher de Leonard, Felicia Montenegro, está soberba, sabendo da atração dele também por homens, mostrando-se um esteio emocional da carreira dele. Bradley Cooper compõe um Leonard com rigor e vigor. Mais de sua história como querem só com um filme de duração bem maior.
A Seguir Mais Filmes, Mas Sem Ordem de Preferência
11- “A Noiva de Tchaikovsky” de Kiril Sebrennikov
12- “Close” de Lukas Dhont
13- “A Menina Silenciosa” de Colm Bairéad
14- “Batem à Porta” de M. Night Shyamalan
15- “Napoleão” de Ridley Scott
Este merece alguns comentários. Não é a obra-prima que poderia ter sido, mas de forma alguma é um filme a se descartar. Muito pelo contrário. As batalhas ganhas ou perdidas por um Napoleão sedento de poder e tirano são magnificamente encenadas, em especial aquela em que os inimigos são atraídos para as camadas de gelo que quebram. Um grande diferencial deste filme é mostrar que sob o ponto de vista do amor/paixão por Josephine, vivida com brilho por Vanessa Kirby, Napoleão se torna fraco e vulnerável, mesmo depois que se separa dela, por ela não poder dar-lhe um herdeiro. Joaquin Phoenix se torna majestoso. Um cartaz onde vemos Napoleão sentado desajeitadamente num trono na Rússia, sem poder (pois os russos foram embora de Moscou e deixaram algumas construções em chamas) é emblemático do que é o filme.
16- “EO” de Jerzy Skolimowski
Homenagem à “A Grande Testemunha” (“Au Hasard Balthazar”) de Robert Bresson, mas sem o minimalismo deste e sim trabalhando com muitos efeitos de cores, culminando num corredor para a morte do burrico. Tristíssimo. Neste ponto comunga com o filme inspirador de Bresson.
17- “Puan” de Maria Aché e Benjamin Naishtat
18- “Passagens” de Ira Sacks
19- “Pare Com Suas Mentiras” de Oliver Peyon
20- “Wonka” de Paul King
O melhor filme, realmente para todas as idades, que assisti em 2023.
21- “Triângulo da Tristeza” de Ruben Östlund
Quem quiser sutilezas do diretor que veja seu “Força Maior”. Aqui como em “Square-A Arte da Discórdia”, os dois vencedores da Palma de Ouro em Cannes, reina a suprema ironia, com sequências bem críticas e escatológicas, num desfecho surpreendente e visceral.
22- “Holy Spider” de Ali Abassi (o mesmo diretor iraniano/sueco do mais que intrigante e original “Border” de 2018).
Embora a ação se passe no Irã, este filme com serial killer de prostitutas impune por preconceitos arraigados, que preocupa apenas uma jornalista tenaz e intensa, foi feito fora do Irã.
23- “Culpa e Desejo” de Catherine Breillat
Refilmagem com toques franceses de “Rainha de Copas” de May el-Toukhy, produção sueco-dinamarquesa.
B- Os Melhores Filmes Nacionais Estreados em 2023, Seja no Cinema e/ou Streaming
1- “Propriedade” de Daniel Bandeira
Disparado, o melhor filme nacional lançado em 2023 é uma alegoria sobre luta de classes levada a extremos de crueldade. O desfecho extremamente impactante desafia a lógica de que quando morremos não levamos nada desta vida. Mas como disse o diretor em pré-estreia, se o filme tivesse mais uns dez minutos, o final poderia ser outro, pois a sociedade brasileira tem sido historicamente impiedosa e inclemente com revoltosos.
Os desempenhos são excepcionais e mais ainda o de Malu Galli que trabalha mais com o gestual e as expressões faciais, muito poucas palavras, fechada que fica dentro de um carro cheio de recursos, bastante blindado, que o marido lhe presenteou pois ela sofreu um assalto traumático e agora tem que lidar com uma revolta popular das pessoas que trabalham na sua fazenda e que descobrem que serão mandadas embora, pois um hotel será construído no lugar. Mas o carro precisa de senha que ela não tem para sair do lugar. Só lhe resta ficar ali reclusa.
Pena que lançaram o filme numa época de fim de ano, onde muitas pessoas só querem saber de festas. Já na segunda semana foi para um único horário no Estação Net Botafogo 2, a menor sala do complexo Estação.
A Seguir Mais Filmes Nacionais, Mas Sem Ordem de Preferência
2- “Retratos Fantasmas” de Kleber Mendonça Filho
3- “Elis e Tom, Só Tinha Que Ser Com Você” de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay
4- “Nosso Sonho” de Eduardo Albergaria
A história da dupla Claudinho e Buchecha foi o maior sucesso de público do Cinema Brasileiro em 2023. Merecidamente. Cinema popular feito com requinte.
5- “Pedágio” de Carolina Markowicz
Será impressão minha? O roteiro não mostrou bem as consequências da morte do picareta que promovia sessões de cura gay por preço abusivo para o poder de compra das pessoas da região de Cubatão, um personagem da história.
6- “Mussum, o Films” de Sílvio Guindane
Ailton Graça está em estado de graças.
(É sempre bom lembrar que o talentoso ator, diretor de Teatro e Cinema Sílvio Guindane começou como o menino de “Como Nascem os Anjos”, uma das obras-primas de Murilo Salles.)
7- “Tia Virgínia” de Fábio Meira
8- “Mato Seco em Chamas” de Adirley Queiroz e Joana Pimenta
Se o filme não exagerasse na fusão documentário e ficção, nos confundindo demais, poderia ser bem melhor. Não supera o magnífico “Branco Sai, Preto Fica” de Adirley Queiroz, menos ambicioso, mas com melhores resultados, que se passa também no inferno na Terra que é Ceilândia.
9- “Nelson Pereira dos Santos- Vida de Cinema” de Ivelise Ferreira e Aida Marques
10- “Seus Ossos e Seus Olhos” de Caetano Gotardo
C- Os Melhores Filmes Internacionais Vistos em 2023 no Festival do Rio ou na Mostra Varilux de Cinema, Seja no Cinema e/ou Streaming
Em Ordem de Preferência
1- Empate “O Sabor da Vida” (“La Passion de Dodin Bouffant”) de Trang Anh Hung (O mesmo diretor vietnamita de “O Cheiro da Papaia Verde”) e “A Paixão Segundo G.H.” de Luiz Fernando Carvalho
Assistindo “O Sabor da Vida” entendemos o porquê de a França ter indicado este filme ao Oscar de Filme Internacional e não “Anatomia de Uma Queda”. Direção e atores em estado de graça. Uma mulher que perdeu os pais vive para cozinhar delícias para um gourmet que a acolhe. São amantes. Ele quer casar. Ela não quer. Juliette Binoche e Benoït Magimel formam uma dupla memorável, com química invejável.
“A Paixão Segundo G.H.” é mais um grande prodígio de Luiz Fernando Carvalho, ao levar à tela com louvor um dos mais complexos textos de Clarice Lispector, homônimo. Com contribuição magnífica de Maria Fernanda Cândido temos a “história” de uma mulher que vendo-se sem a empregada, resolve adentrar o quartinho dela, vê uma barata, esmaga-a na porta e esta fica meio-viva meio-morta, o que vai fazer a senhora G.H. entrar num fluxo de consciência profundo, com muitas epifanias, só sossegando, voltando à vida normal, quando resolve comer um tanto da gosma que a barata solta, algo que a câmera volta e meia nos mostra. Algo que contado por soar excessivo, mas a beleza com que tudo é mostrado é algo raríssimo de se encontrar no Cinema. Assim como fez de “Lavoura Arcaica” de Raduan Nassar uma obra-prima, aqui temos outra para a História do nosso Cinema.
2- “As Bestas” de Rodrigo Sorogoyen.
Vencedor do Goya de Melhor Filme, este filme nos mostra um francês que vive com sua esposa numa região bastante atrasada da Espanha, onde querem permanecer para fazer um trabalho social amplo. Mas bestas humanas os espreitam querendo suas terras. Depois de compor com brilhantismo o Peter Von Kant de François Ozon, Denis Ménochet, numa chave completamente distinta, é uma força da natureza aqui. Mas para ser vencido terá de haver bastante covardias.
3- “Anatomia de Uma Queda” de Justine Triet
Um filme que levanta tantas hipóteses sobre uma morte e ainda deixa um final que me pareceu em aberto. Passou perto da irritação. Mas merece ser revisto, pois é muito rico em nuances.
4- “Vidas Passadas” de Celine Song
O melhor filme de baixo orçamento/ independente de 2023. Como vivências comuns do passado repercutem de forma distinta no presente de personagens. Um choro bastante significativo pode indicar que o autocontrole era falso. Ou não?
5- “Segredos de Um Escândalo” (“May December) de Todd Haynes
Natalie Portman é uma atriz que quer fazer no Cinema a história de uma mulher (Juliane Moore) que foi presa por transar com um adolescente e saindo da cadeia foi viver com ele, agora adulto. Com toques de “Persona” assim como “Cidade dos Sonhos” de David Linch, “Segredos de Um Escândalo” nos mostra que a verdade é uma esfinge a ser decifrada.
Sem Ordem de Preferência
6- “Almas Gêmeas” de André Techiné
7- “Crônica de Uma Relação Passageira” de Emmanuel Mouret
8- “Maestro(S)” de Bruno Chiche
9- “Making Off” de Cédric Kahn
10- “Memórias de Paris” de Alice Winocour
11- “A Musa de Bonnard” de Martin Provost
12- “Orlando, Minha Autobiografia Política” de Paul B. Preciado
13- “O Renascimento” de Rémi Bezançon
C- Os Melhores Filmes em Reprise de 2023, Vistos no Cinema
Vale antes de tudo uma menção especial honrosa aos programadores do Estação Botafogo 1, onde simplesmente assisti a praticamente todas estas grandes reprises, autênticas joias, em sessões especiais.
1- “2001, Uma Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick
Continua um dos melhores filmes da História do Cinema, no meu Top Ten, sendo a melhor e mais emocionante reprise que assisti neste 2023, em todo seu esplendor visual, sonoro e narrativo.
Sem Ordem de Preferência
2- “Táxi Driver” de Martin Scorsese
O desfecho polêmico pode ser um sinal que a sociedade de Nova York deste início dos anos 70 era mais doente do que imaginávamos.
3- “A Época da Inocência” de Martin Scorsese
Um filme que não fica nada a dever em suntuosidade dos ambientes e caracterização desta elite novaiorquina, ao Cinema Europeu como o de Visconti. Mas se em “Gangues de Nova York” temos lutas proletárias violentíssimas, aqui a violência se manifesta de forma sutil, mas com muitas cumplicidades, afastando os personagens de Michele Pfeiffer e Daniel Day-Lewis que se amam verdadeiramente, contando com ardis especiais da aparentemente inocente personagem de Winona Ryder.
4- “A Última Tentação de Cristo” de Martin Scorsese
Jesus sofre as tentações da carne, mas traz em si ainda forte espiritualidade. Nem antes, nem depois deste filme, houve algo assim com esta temática que fosse tão corajoso, audacioso e poderoso, com imagens belíssimas e Willen Dafoe como Jesus e Harvey Keitel como Judas, estando não menos que esplêndidos e luminosos.
5- “Depois de Horas” de Martin Scorsese
Um pequeno grande filme de Scorsese, com um personagem que come o pão que a noite e a madrugada amassaram, deparando-se no Soho com as criaturas mais esquisitas. Grande atuação de elenco, especialmente Griffin Dunne, digno de um prêmio de Melhor Ator em Cannes onde o filme venceu Melhor Direção. A imprevisibilidade das situações é sensacional.
6- “Vivendo no Limite” (“Bringing Out The Dead”) de Martin Scorsese
A grande surpresa da Mostra Scorseses, pois os demais já havia assistido. Alguns até revistos em DVD. Em “Vivendo no Limite” temos Nicolas Cage num dos seus melhores papéis, senão o melhor, vivendo um paramédico que corre toda Nova York do início dos anos setenta, em uma ambulância como o Samu, lidando com drogados, suicidas, enfartados e outras formas de ruina humana. Tem sempre alguém que o acompanha. São três que se revezam. O último está impregnado da loucura da cidade, complicando as coisas. Quando o personagem de Cage não consegue salvar vidas, passa a viver assombrado pela visão que tem dos fantasmas destas pessoas, principalmente de uma jovem que volta meia lhe vem à mente, em pesadelos ou em vigília mesmo. Magnificamente dirigido e interpretado por todos, este é mais uma obra-prima de Scorsese, muito pouco vista, tendo passado batida pelos cinemas. Lembro-me apenas que este foi um filme comentado por Cacá Diegues que o fez recuperar o amor por fazer Cinema. Roteiro com participação do cineasta e ensaista Paul Schrader, o mesmo de “Táxi Driver”, “Touro Indomável” e outros grandes filmes de Scorsese, comungando com este o tema da violência vis a vis espiritualidade.
7- “Aguirre, a Cólera dos Deuses” de Werner Herzog
Ainda um grande estudo da loucura e da ambição, onde (Spoilers Fortes ) só restará a Aguirre reinar para os macaquinhos, havendo todos de sua expedição sido mortos. Mas mesmo assim, em sua loucura, ele não desiste de chegar ao Eldorado.
8- “Durval Discos” de Anna Muylaert (Visto no Estação Net Rio)
Decididamente passou no teste do tempo e já pode ser considerado um clássico do Cinema Brasileiro, com uma história com seu Lado A e seu Lado B, como os LPs que Durval insiste em vender em sua rara, prestigiada e vintage loja. Só que se os Lados A e B dos LPs podem ser igualmente belos, teremos no filme sanidade no Lado A e loucuras no Lado B, dado que mergulhado em sua solteirice, sua atividade anacrônica antes da revalorização dos LPs, Durval não percebia o quanto sua mãe queria alguém para chamar de netinha, culminando num desfecho que não poderia ser outro.
9- “Adeus, Minha Concubina” de Chen Kaige.
Este filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes, nos mostra a amizade desde a infância de dois estudiosos para a ópera de Pequim, com papéis já estabelecidos para se montar “Adeus, Minha Concubina”. Mas o que o tempo construiu com bastante arte, a Revolução Cultural chinesa com suas truculências e humilhações vai destruir, colocando-os em lados opostos, envolvendo até calúnias. De quebra uma paixão homoerótica não correspondida vai ser um amor de perdição. Um filme em que o que tem de belíssimo, tem de doloroso. Palma de Ouro em Cannes dividida com “O Piano” de Jane Champion.
10- "Blade Runner- O Caçador de Androides Versão Original do Diretor.
O filme pode não ser um clássico, não ter resistido ao tempo, mas a forte beleza e sensualidade de Brigitte Bardot o são.
D- As Melhores Séries e Minisséries Vistas em 2023 por Streaming
Por disciplina, como me dedico muito ao Cinema e quero me dedicar à Literatura, Teatro e Música, sou bastante econômico, vendo pouquíssimas séries, bem selecionadas. Ainda mais que tenho por rever “Berlim Alexanderplatz” de Rainer Werner Fassbinder, por ver o “Decálogo” de Krzysztof Kieślowski e ainda as versões integrais de “Cenas de Um Casamento” e “Fanny e Alexander” de Ingmar Bergman exibidas na televisão sueca, dentre outras obras de fôlego, como “Cacilda” de José Celso Martinez Correa, “A Viagem do Louca Esperança” do Le Théâtre du Soleil, “Angels In America” de Mike Nichols, etc.
Assim, Em Ordem de Preferência
1- “Cangaço Novo” de Aly Muritiba
Aly Muritiba” que nos deu o excelente “Deserto Particular” nos mostra aqui que as razões para existir o cangaço no passado ainda perduram no Nordeste de hoje. A série fez muito sucesso no exterior e isto pode viabilizar uma merecida Segunda Temporada, ainda mais porque pressente-se que há muito mais a contar, nesta autêntica linguagem cinematográfica em forma de série, com o protagonista aderindo à violência do meio em que passa a viver.
Onde assistir a série : https://encurtador.com.br/tBNX4
2- “Meu Querido Zelador” (“El Encarregado”), criação de Mariano Cohn e Gastón Duprat
O zelador Eliseo (Guilhermo Francella, extraordinário ), de várias faces ensaiadas para diferentes situações, é um dos personagens mais fascinantes vistos recentemente. Excelente direção de arte e do elenco. Uma planta carnívora para a qual se dá um inseto, que surge nos créditos, é um símbolo perfeito do zelador que tem o lado simpático forjado, mas ocultando um lado sombrio que só alguns moradores percebem. Teve duas temporadas.
Onde assistir a série: https://www.starplus.com/pt-br/series/meu-querido-zelador/a897EzMg7taw
A dupla de roteiristas e diretores nos deu vários grandes filmes de teor cômico e irônico como esta série do zelador :
https://mubi.com/pt/cast/gaston-duprat
3- “O Faz Nada” (“Nada”), criação de Mariano Cohn e Gastón Duprat,
Um crítico de gastronomia (Luis Brandoni) bastante arrogante colhe inimizades. O único amigo que tem é feito por Robert De Niro que mora em Nova York. Na partida de sua cozinheira e faz tudo, tem que se virar com uma jovem imigrante paraguaia, que finge ter visto de permanência. No último episódio da série, os dois amigos vão se encontrar e entenderemos melhor o título dela. Não tão boa como a série do zelador, mas ainda assim bem engraçada e com direção de arte e elenco fabulosos. Teve apenas uma temporada.
Onde assistir a minissérie : https://www.starplus.com/pt-br/series/nada/SjhlFbv2xjFx