1) Duas Ou Três Coisas Que Sei Dele, Domingos Oliveira.
Domingos Oliveira, infelizmente agora falecido neste 23/03/2019, era simplesmente um gênio. a)
Numa conversa com o diretor Ivan Sugahara (mentor do prestigiado Grupo Teatral Os Dezequilibrados), há poucos anos, depois de uma montagem sua no Teatro Poerinha, sobre Domingos, concordamos inteiramente com esta acepção de gênio.
Domingos foi uma das pessoas mais brilhantes que este país já teve.
Foi um artista praticamente completo: poeta, dramaturgo, roteirista, adaptador, ator, cineasta, diretor de teatro, diretor de televisão.
Nos espetáculos Cabarés Filosóficos que promovia no Planetário da Gávea, regado a uísque, tocava piano, declamava poemas e até arriscava-se em passos de dança.
Em entrevista, mais recente, por volta de quando escrevia sua autobiografia “Vida Minha”, Domingos assumiu influências do Cinema do Pós-Guerra, principalmente da Nouvelle Vague.
Dentre outros aprendizados, além do uso de câmeras mais leves, com Jean-Luc Godard aprendeu o direito à toda liberdade, desde que esteja a serviço de grande expressividade do filme, da sua arte.
É muito bom Domingos Oliveira, um dos cineastas mais comunicativos da História do Cinema Brasileiro, afirmar esta influência de Godard que tanto Fassbinder como Almodóvar admitem também.
O fato de Jean-Luc Godard ter muitos filmes considerados herméticos, não esmaece a grande influência na Cinematografia mundial, que nenhuma História do Cinema, pode negar.
E há os casos de filmes dele onde se viaja muito bem, ainda que fora da noção bem clara de compreensão vigente, como “Pierrot Le Fou”(1965).
Mesmo críticos que não gostam de seu cinema de hoje (como por exemplo de “Imagem e Palavra” (2018)) , reconhecem que ele teve fases de autêntico gênio, num conjunto imenso de filme.
Com François Truffaut, como exemplo, Domingos aprendeu que se pode associar música clássica com sequências bem coloquiais.
Em “Edu, Coração de Ouro” (1968) percebe-se muito bem estas influências.
Mas claro que em sua carreira Domingos não vai ficar preso só a estas influências, comparecendo Woody Allen, John Cassavetes, dentre os mais perceptíveis.
O crítico de Teatro e Cinema Daniel Schenker foi ao ponto certo ao resumir os procedimentos artísticos de Domingos Oliveira: “Tinha a habilidade de dizer verdades profundas, com o máximo de informalidades”.
Até mesmo seu jeito um tanto gauche de interpretar estava bastante adequado aos personagens que escolheu como alter ego.
Neste e em outros sentidos, como as intermitências do coração, os jogos amorosos intrincados, os encontros e desencontros nas relações de modo geral, o lado fatalista, o humor que surge de situações inusitadas, o tom agridoce de muitas histórias, o peso das falas em excesso em nome de forte expressividade e outros elementos, nos lembra bastante Woody Allen.
Quando não é ele, Domingos, é Paulo José, seu alter ego.
Em “Separações” (2002) b), uma de suas obras-primas, Domingos Oliveira criou um papel bastante significativo para si, que ninguém faria melhor pois, embora estejamos no domínio da ficção, muitos dos seus sentimentos e pensamentos, mais do que em outros de sua maturidade, estão no filme.
Sua relação íntima com Priscila Rosembaum, numa vida de grandes cumplicidades, levada à tela, com as mentiras sinceras ficção, de forma enviesada, sob o signo de uma separação, o faz nos remeter claramente a Woody Allen, uma referência inescapável, conforme já comentado.
Cabral (alter ego de Domingos) abre o filme, numa mesa de bar, rodeada de amigos e com a mulher Glória (Priscila Rosembaum), com o relato do Modelo de Sofrimento de Kübler-Rosse, estudo sobre pacientes terminais, onde viriam em ordem: Negação, Revolta, Negociação, Agonia e Aceitação.
Uma ciranda de separações é desenvolvida, centrada na com maior densidade de Cabral e Glorinha, sendo esta apresentada de acordo com estas 5 fases citadas, trazidas para o seio da relação conjugal, metaforicamente.
Cabral tem muito da expressividade emotiva de Domingos. Nenhum grande ator representaria assim, com grande cumplicidade artística com Priscilla Rosembaum.
Motes espirituosos de Cabral envolvem os personagens e suas relações amorosas: “Quando os casais se separam é melhor se tornarem amigos, pois se não, o mundo fica muito cruel”; “É melhor se arrepender de algo que fez do que do que não fez”.
Recentemente, em “BR 716” (2016) c), último filme de Domingos lançado no circuito, bastante premiado no Festival de Gramado. Caio Blat fez este personagem icônico, mas remetendo aos primórdios da carreira do diretor, em que Domingos queria ganhar a vida como escritor.
No filme há muitas festas, namoros com muitas mulheres e gastos, tudo atrapalhando seus escritos. Ameaçado de despejo encontra num pai compreensivo a possibilidade de retomar sua vida.
Mas como sempre acontece com os personagens mulherengos de Domingos, nunca há sinal de qualquer cafajestice.
Tudo é fruto de atos e indecisões de quem ama muito as mulheres e fica perdido, naufragando num oceano delas.
Neste sentido lembra bem o clima das des (aventuras) amorosas de Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud), alter ego de François Truffaut, que surge em vários filmes, ao longo do tempo, acompanhando a idade do ator, desde a adolescência em “Os Incompreendidos” (1959) até a idade bem madura em “O Amor em Fuga” (1979), em filmes esparsos, onde neste último, divorciado, Doinel passa a se lembrar de mulheres que passaram por sua vida.
O genial neste filme de 1979 é que Truffaut se vale de imagens de outras obras, onde Antoine Doinel aparece com suas encrencas amorosas, em magnífica colagem.
Isto anos antes de termos um prodigioso “Boyhood- Da Infância à Juventude” (2014) de Richard Linklater ou a Trilogia deste, “Antes do Amanhecer” (1994), “Antes do Entardecer” (2004) e “Antes da Meia Noite” (2013), os três com os mesmos personagens Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy).
Em Domingos e seus filmes sobre o amor às mulheres, nos vem à lembrança também o delicioso “O Homem que Amava as Mulheres” (1977) do próprio Truffaut, com um dos mais belos e poéticos finais trágicos do cinema.
Domingos tem obras dramáticas, cômicas e principalmente agridoces, todas com alto grau de comunicabilidade, sem prejuízo da qualidade, também maior.
Tendo morado na cidade do Rio de Janeiro a partir de janeiro de 1997, vindo de São José dos Campos, São Paulo, para trabalhar, logo que me formei em Engenharia no ITA, pude assistir várias montagens teatrais de suas peças, outras com direção dele de autores diversos e filmes de Domingos.
Sua peça "Do Fundo do Lago Escuro"(1977) d) é considerada sua obra-prima, sendo estudada pelo bastante conceituado crítico teatral Sábato Magaldi em livro sobre clássicos do Teatro Brasileiro.
Apesar de ter ganho o prêmio de Melhor Texto de Comédia, conferido pelo extinto Serviço Nacional de Teatro em 1977, “Do Fundo do Lago Escuro” possui um forte apelo dramático.
Paulo José montou o texto como “Assunto de Família” tendo Fernanda Montenegro e Fernando Torres como os pais do alter ego menino de Domingos e Carmem Silva como a matriarca dominadora, sutil e à vezes nem tão sutil em sua crueldade, Mocinha.
O problema desta montagem foi ter o lado bem-humorado ressaltado demais, em detrimento do drama.
Foi montada pelo Grupo Tapa em São Paulo, dentro de um projeto de só se trabalhar com clássicos da dramaturgia brasileira, tendo Beatriz Segall como a matriarca, Mocinha, de uma família de classe média lacerdista, que quase que obrigava os familiares a assistir com ela os discursos de Carlos Lacerda na televisão, dentre outras perversidades de diferentes graus, dissimuladas como sabedoria e necessidade de pragmatismos. Seria a que tem "a cabeça no lugar" na família.
A avó do bastante sensível jovem/menino Rodrigo tem personas, em tudo bem diversas das que Domingos construiria para predominar em sua vida, dado que um dos seus grandes motores artísticos e de relação com os artistas, era o grande afeto por todos.
Não consigo imaginar Domingos Oliveira gritando com um dos atores, algo que sabemos que ocorre até com grandes cineastas e diretores teatrais, nacionais e internacionais.
Em 2010 Domingos Oliveira dirigiu sua peça, "Do Fundo do Lago Escuro", onde ele mesmo, travestido, incorporava Mocinha.
Tive o grande prazer de ouvir Domingos Oliveira numa noite, em palestra informal, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no início dos anos 80, onde houve encontros com as mais variadas personalidades da cultura brasileira, como Arnaldo Jabor, Eduardo Escorel, Leopoldo Serran, Yan Michalski etc.
Ele nos disse que (como constatamos na maior parte de sua obra) só poderia nos dar depoimentos pessoais.
Comentou o prestígio que "Do Fundo do Lago Escuro", de forte cunho autobiográfico, tinha conseguido no meio teatral, começando por uma noite de leitura dramatizada para a classe, deixando a todos bastante emocionados e o considerava seu melhor trabalho realizado, até então, em qualquer área.
Ressaltou que muitas vezes, a melhor obra de um artista pode estar no meio da carreira e não na maturidade, no fim. Lembrou-nos de Fagner e sua visceral interpretação de "Noturno" e) (“Ai, coração alado. Desfolharei meus olhos neste escuro véu. Não acredito mais no fogo ingênuo da paixão. São tantas ilusões perdidas na lembrança ......”).
Para escrever ele subia nos ombros de um gigante, para enxergar melhor, tal como leituras de Fiódor Dostoiévski, “Longa Jornada Noite Adentro” (traduzida de forma mais adequada anos depois por Bárbara Heliodora, como “Longa Jornada de Um Dia Para Dentro da Noite”, pois é disto que se trata) de Eugène O’Neal.
Assim, nos apresentou com grande ênfase e entusiasmo estes dois autores. Para ele, Dostoiévski representava um grande salto na consciência da humanidade. E é claro que isto me incendiou a mente, lá pelos meus 25 anos.
A peça de O’ Neal cheguei a assistir, numa primeira vez, em excelente montagem com Cláudia Costa, Mauro Mendonça, Nathália Timberg, Otávio Augusto e Wolf Maya, no Teatro Copacabana, de então.
Eugène ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, assistindo vários de seus trabalhos montados como “A Mais Sólida Mansão”, “Desejo”, mas este texto, “Longa Jornada....”, que tanto impressiona Domingos e a mim também (além de Nelson Rodrigues), dentre outros, o autor só autorizou montagem para anos depois de sua morte.
A razão? Descobriu-se anos depois. Era um texto de bastante cunho autobiográfico, onde retratava sua família, com fortes jogos cruzados de culpas lançadas e o mais angustiante, extraordinário e pungente de tudo, é que não temos como escolher alguém como “o responsável”. Todos são e ao mesmo tempo ninguém é. Mas isto não impede um ritual de ruína da família que vai se repetir todos os dias.
Domingos para escrever “Do Fundo...” deve ter subido nos ombros do gigante O’Neal e sua “Longa Jornada ...”, para enxergar melhor como escrever uma peça que refletisse sua família.
Quanto a Fiodor Dostoiévski, bastante influenciado por Domingos, passei a devorar “Crime e Castigo”, “Os Irmãos Karamazóv”, “Noites Brancas”, “Notas do Subterrâneo”, dentre outras obras.
Domingos, como sempre esteve atento a projetos de baixo orçamento e grande qualidade, chamou-nos a atenção para os primeiros filmes de Rainer Werner Fassbinder, onde em espaços reduzidos, com baixo custo, conseguia trabalhos de extraordinária potência, com foco maior na forte dramaturgia e no excelente trabalho dos atores, o que poderia gerar tantos grandes peças como filmes, como foi o caso do sucesso estrondoso no Brasil de “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” ( escrita em 1972), montada anos depois no Brasil, com Fernanda Montenegro, Renata Sorrah e Juliana Carneiro da Cunha.
Fassbinder também filmou “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” em 1972.
Se antes já conhecia alguns filmes de Fassbinder, passei a não perder mais mostras com seus pequenos grandes filmes, como “O Medo Corrói a Alma”( 1974), “O Direito do Mais Forte”(1982), “ Quero Apenas que Vocês me Amem”( 1976) etc e depois a viajar também com seus filmes de alto orçamento como “Berlim Alexanderplatz” (1980, monumental série feita para a televisão, mas também exibida em cinemas), “O Casamento de Maria Braun”(1978) etc.
Nada mais diverso em termos de visão de mundo, de postura diante da vida do que Fassbinder e Domingos Oliveira. Mas isto não impediu que Domingos admirasse e sentisse toda a autenticidade e intensidade do célebre diretor alemão, que se deixou consumir pela própria arte ( “Posso descansar quando estiver morto”), morrendo de uma overdose de cocaína e barbitúricos aos trinta e sete anos, ao contrário de nosso grande artista que saboreou a vida até seus 82 anos, transbordando criatividade.
Há ainda por vir uma série inédita escrita por ele: “Confissões de Mulheres de 50 “.
“Todas as Mulheres do Mundo” (1966) f), estreia auspiciosa de Domingos Oliveira no Cinema, é um filme de alta voltagem poética, uma obra encantadora, que encontrou grande sucesso de público e de crítica. Para seu orçamento pode-se dizer, relativamente, que foi um estouro de bilheteria.
Domingos tinha se separado de Leila Diniz e quis reconquistá-la através da arte, com Paulo José como seu alter ego Paulo, que perdido entre escolher alguém “dentre todas as mulheres do mundo”, acaba por fim descobrindo que ama mesmo a professora Maria Alice (Leila Diniz), tentando reconquistá-la depois de ser pego com outra mulher.
“Todas as Mulheres do Mundo” foi tido por alguns diretores do Cinema Novo como um filme alienado em relação à sua época de grandes ebulições políticas, mas se fizermos um exaustivo trabalho, poderemos constatar que alguns destes filmes engajados ficaram datados e “Todas as Mulheres do Mundo”, fincado mais do que tudo num visão poética da vida, ainda tem muito a nos dizer.
Depois Domingos realizou “Edu, Coração de Ouro” (1968) g), também com Paulo José e Leila Diniz, mas a grande magia não se repetiu.
Apresentado como a “crônica de um carioca lírico obsceno”, Paulo José (Edu) está onipresente no filme e praticamente carrega o filme nas costas, pois Leila Diniz como a jovem Tatiana de 17 anos, estudante e vendedora de cosméticos, aparece por pouco tempo.
Tatiana é uma mulher que não hesita em levar um homem atraente para o espaço que tem, emprestado por uma amiga, mas Edu, que procura tantas mulheres, vai ter de aceitar que ela só transa com um homem uma só vez, impulsionando-o a outras procuras.
Paulo José cria um personagem adorável, que nos desperta grande simpatia, mesmo com sua vida libertina. O filme é todo seu, praticamente.
Logo de cara temos sua “filosofia de vida”: “Passa a ser correto, tudo o que der certo”; “Deus não existe. Mas se Deus existe o problema é dele”; “Quanto ao problema social, prefiro não ler jornal ”.
Isto é a fortaleza do filme, mas também sua fraqueza, ainda que ele não deixe de ter brilhos na direção, montagem e fotografia em preto e branco.
O filme apresenta Edu numa longa trip feérica existencial, com este personagem movido por suas vontades, sem compromissos com trabalho ou estudo, com o que seriam suas responsabilidades.
A partir deste nosso encontro com Domingos ao vivo e a cores, passei a perseguir todos os seus trabalhos, seja em mostras, seja no Teatro e acabei descobrindo verdadeiras joias.
Uma delas é “As Duas Faces da Moeda” (1969) h), onde Fregolente compõe um funcionário público que depois de uma jornada interior de depressão, tendo recebido mensagem de um anjo da morte de que irá morrer em 24 horas, acaba descobrindo outra vez o prazer de estar vivo.
Na sessão em que vi o filme estava programado “A Culpa” i) (1971), mas acabaram por algum problema alterando. Na saída ouvi uma senhora aliviada: “Que culpa que nada, eu queria mesmo é as duas faces da moeda”.
“A Culpa” com Paulo José e Dina Sfat, irmãos que cometem um parricídio, é um filme de temática bastante fora da curva do Domingos de então, mas ele nos relatou que era algo que precisava realizar. Era um imperativo artístico que só a psicanálise poderia explicar melhor.
Mesmo sendo um corpo estranho, dentre da obra, até então, o filme recebeu prêmios importantes, com direção para Domingos, atriz para Dina e alguns para o diretor de fotografia Rogerio Noel que morreu jovem, aos 22 anos.
Anos depois, de caráter também sombrio, dentro da política de baixo orçamento e busca de considerável qualidade, realizou o excepcional “Carreiras” (2005) j), baseado em original de Oduvaldo Vianna Filho.
Numa longa noite regada a carreiras de cocaína e desespero, Ana Laura, uma apresentadora de televisão, magnificamente interpretada por Priscilla Rosembaum, esbraveja contra o que fizeram com sua carreira, tendo sido despedida sumariamente depois de anos de dedicação ao trabalho.
É uma obra acutilante, confirmando o quanto Domingos sabe dominar também uma chave bastante dramática.
Como em “A Culpa”, o lado fatal de Domingos também se manifesta.
E precisamos lembrar do lado fatalista de Truffaut e o que comparece em muitos filmes de Woody Allen?
Depois de “Vida, Vida” (1977) que passou batido pelos cinemas, em um hiato de uns 20 anos, Domingos surpreendeu a todos com “Amores” (1998) k), superpremiado em Gramado, incluindo como melhor filme.
Gostaria de escrever mais sobre "Amores", mas não consegui mídia para rever.
Mas voltemos ao início dos anos 80, na Escola Visual do Parque Laje, no encontro inesquecível com Domingos, mesmo que tenha sido só numa noite.
Domingos mostrou-se magoado por não estar conseguindo realizar os projetos cinematográficos que tinha em mente, mesmo que não exigissem nenhum alto orçamento.
Declarou que o Brasil perdia mais em não ter os seus filmes do que ele em não realizá-los, pois afinal ele tinha sua carreira no Teatro e muitos trabalhos na televisão, onde o Caso Especial “Maria Mariana Dorotéia Íris”, com sua filha Maria Mariana (então com três anos), Ziembinsky e Marco Nanini, é considerado uma obra-prima.
Proximamente seria exibido um dos poucos filmes que conseguiu realizar em anos anteriores próximos, “Vida, Vida” de 1977, que numa primeira visão, não me encantou, dado a grande expectativa que tinha.
Do Cinema Brasileiro da época Domingos estava empolgado mesmo era com “Pixote- A Lei do Mais Fraco” (1980) de Hector Babenco.
Do Cinema Novo, mais do que tudo e todos, exaltou a grande liberdade criativa de Glauber Rocha para seus delírios dionisíacos, suas loucuras sem freios, em nome de grande expressão artística.
Glauber seria mesmo o gênio do Cinema Brasileiro. Assim para um cineasta tido por alguns como “alienado”, havia comunhão em torno de visão da grandeza do cineasta por trás de “Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), “Terra em Transe” (1967), dentre outros clássicos.
Tinha especial grande encantamento por “Barry Lyndon (1975) de Stanley Kubrick. Para ele este era o filme mais erótico, jamais feito antes.
O melhor critico de Cinema de sua época, até então, seria Ely Azeredo, decano da crítica cinematográfica hoje, ainda em atividade em O Globo, mesmo que Domingos enxergasse nele aspectos de que não gostasse. Domingos era formado em Engenharia como eu. Mas nunca trabalhou como Engenheiro.
Sendo formado em Engenharia e tendo sempre interesse por Cinema, Literatura e Teatro (depois que cheguei ao Rio) o fascínio por Domingos enquanto artista/pessoa, além de suas falas sempre pujantes e até pungentes, foi o maior que tive dentre um conjunto das palestras informais coordenadas pelo ator, tradutor, colunista e professor Roberto de Cleto na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, neste início dos anos 80.
Num nível razoavelmente comparável ao encontro com Domingos, só o com Rubens Corrêa, o melhor ator brasileiro que já vi atuando nos palcos. Se bem que aqui as conversas foram mais breves.
Foi o grande brilho no olhar, o grande calor humano e o imenso prazer de ver pessoas interessadas em arte que mais me chamou atenção.
Fiquei impressionado quando disse que uma peça para ficar realmente pronta precisa de uns dois meses em cartaz. Imaginem se este pensamento é viável hoje......
Perguntei se de um texto bem ruim, poderia se fazer um grande espetáculo. Ele pensou por certo tempo e disse que sim.
Acompanhei como pude os trabalhos de Domingos no Teatro. Alguns me marcaram bastante.
Dos textos de Bertold Brecht ele gostava especialmente de “A Boa Alma de Setsuan”, tendo dirigido sua filha como a protagonista em 1998, uma fábula aparentemente simples, com uma moral quase que aterradora: “Não se pode ser bom num mundo injusto”.
Para Tônia Carrero escreveu junto com Lenita Plonczinska, “A Volta Por Cima”, encenada em 1982, onde no primeiro ato temos uma dona de casa de vida proletária, bastante amarfanhada, maltratada pela vida, cuidando de marido e filho.
No segundo ato, há uma grande virada e ela se torna a mulher lindíssima e elegante que sempre associamos a Tônia, mas sem perder a inteligência e talento.
Domingos com este personagem em dois tempos díspares da vida, corrobora o que se viu com Tônia em montagem de “Navalha na Carne” de Plínio Marcos; em “Quartet” de Heiner Müller, dirigido por Gerald Thomas ( contracenando com Sérgio Brito ); no monólogo “Esta Valsa é Minha” de William Luce (1989) vivendo uma decadente Zelda Fitzgerald; em “Macbeth” de 1956 ( junto com Paulo Autran), dentre outros trabalhos.
Ou seja, uma grande atriz, que não fazia bem apenas personagens glamurosos.
Foi através de uma montagem de “Proibido Amar” de Neil Simon em 1977, com Ida Gomes, adaptada e dirigida por Domingos, que senti a força da dramaturgia no palco deste autor tão popular (podendo ser diminuído por isto) e tão inteligente e sofisticado.
Domingos dirigiu Caio Blat, excepcional, numa montagem de “Um Homem Frágil” (2011), um dos textos mais tristes de Dostoiévski que conheço, mas que não deixa de ser embebido de poesia e grande acuidade psicológica.
Mais uma abordagem dostoievskiana superlativa, de pensamentos e emanações da alma humana.
Uma peça de Domingos que, se bem adaptada ao cinema, daria um grande filme policial, é “No Brilho da Gota de Sangue”, que assisti numa montagem com Carlos Vereza no Teatro Gláucio Gil-RJ em 1983.
Domingos Oliveira (revezando com Aderbal Freire Filho ) trabalhou no extraordinário e inesquecível espetáculo “O Tiro Que Mudou a História", montado no Palácio do Catete em 1991, sendo Benjamin Vargas ( com Cláudio Marzo como Getúlio), montagem itinerante, passando por corredores, escadas, pelo salão com a enorme mesa em que Getúlio se reunia com seus ministros e terminando no dormitório em que o presidente se matou.
Quando Henriette Morineau estava bem idosa e ainda bastante lúcida, Domingos Oliveira teve a genial ideia de levar “Ensina-me a Viver ( “Harold and Maude-1971) de Hal Ashby, para os palcos, com madame como a octogenária cheia de vida Maude, que vai desenvolver uma história de amor com um jovem obstinado pelo suicídio, sem amor à vida, mas à morte, que é Haroldo, vivido por Diogo Vilela, num dos seus primeiros trabalhos importantes nos palcos, se não o primeiro.
Domingos não poderia deixar de escrever uma peça sobre o mito do Doppelgänger, nosso duplo que nos traz a morte, a noção de que em algum lugar do mundo existe alguém como nós, mas destruidor.
Algo que seu ídolo Dostoiévski também fez.
Até o grande cineasta polonês Krzysztof Kieślowski abordou este tema em A Dupla Vida de Véronique (1991).
Dennis Villeneuve (de “Incêndios”, “Blade Runner 2046” ) realizou o subestimado “O Homem Duplicado” (2013) baseado num romance homônimo de José Saramago, onde reina o caos e a incerteza, surgindo uma assustadora aranha gigante. Kafka?
Está em cartaz “Nós” (2019) de Jordan Peele (de “Corra!( 2017) ), onde o tema do duplo é levados a paroxismos.
Neste filme de terror e suspense, de considerável qualidade, os “Nós” querem tomar o lugar dos “Vocês”. Mas as razões são mais explicitadas, justapondo vário temas, como o lado soturno que teríamos mesmo sendo criaturas solares.
E até mesmo luta de classes, as dívidas sociais que temos com nossas vidas confortáveis, indiferentes aos pobres e suas carências fundamentais e afetivas.
Com vontade de tratar deste tema que vinha de anos, assim surgiu em 2014, “Doppelgânger ( O Mito do Duplo)” de Domingos Oliveira com André Matos, Priscilla Rosembaum e Ricardo Kosovski. l)
Domingos tinha paixão por “O Inimigo do Povo” de Henrik Ibsen, tendo dirigido duas montagens, onde numa (1984) ele era o protagonista e noutra (1997) Paulo Betti.
Dr. Thomas Stockmann faz um grande alerta de que as águas de sua cidade, que vive delas pelas suas propriedades curativas, com o grande turismo que atrai, está bastante contaminada.
O prefeito faz sua caveira junto ao povo da localidade, colocando-o contra o Dr. Stockmann e criam um inimigo comum ou melhor um inimigo do povo.
Chegam a jogar uma pedra na casa do Dr. Thomas, que quebra uma vidraça. O protagonista pega esta pequena pedra e diz: “Nem no ódio eles são sérios”.
Pede para que a família toda, mulher e filhos, se junte em torno de si e diz que tem uma grande revelação: “O homem mais forte é aquele que está mais só”. Fecha o pano.
Como depois de “Amores”, de modo geral, Domingos, a la John Cassavetes trabalhou com um conjunto de amigos, com alguns convidados, fazendo muitas vezes cinema de guerrilha ( BOAA-Baixo Orçamento, Alto Astral), tudo se passa como se a imensa solidão da sua condição de artista e as dificuldades para obter meios de produção, o fizesse mais forte.
Ela seria aplacada, num certo nível, pelos amigos e pessoas em seu entorno.
Junto com os amigos Paulo José e Aderbal Freire Filho, formou um trio de personagens amigos, já setentões, que se reencontram, em “Juventude” (2008) m), onde conversam bastante e da informalidade surge reflexões, como que filosóficas, sobre o que viveram até então e expectativas para o que virá.
É claro que Domingos com seu jeito de representar peculiar, suas falas, faz aqui mais um alter ego muitas vezes delicioso.
Como só conversas não sustentam um filme, um segredo é revelado que alavanca a narrativa, pondo em risco esta amizade de anos.
Em “Primeiro Dia de Um Ano Qualquer” (2012) n) , numa casa de campo ( que pertence na realidade à amiga Maitê Proença, dona da casa no filme também), o escritor e cineasta Napoleão (Domingos Oliveira, em mais um alter ego irresistível) tem uma visão olímpica diante de todos os desentendimentos e desencontros amorosos de que passa a tomar ciência, como observador e comentador in off privilegiado.
Mesmo presenciando com clareza sua mulher bem jovem transando na mata, em torno da casa, com outro homem, bem mais novo, encostada numa árvore, em uma conversa posterior com ela, reconhece isto como impulsos da juventude, não se abala com ciúmes, surpreendendo a companheira, dentre outras reflexões.
Em “Paixão e Acaso” (2013) o) Inês é uma psicanalista que se envolve com seu trabalho de tal forma, que sua vida amorosa fica em suspense. Estimulada pelo fantasma do pai que lhe aparece, vai à luta, acabando namorando um pai e seu filho, sem que estes saibam.
Em paralelo à sua vida amorosa, conhecemos problemas de dois clientes. Mas como veremos, não tem histórias estanques. O filme fecha muito bem.
E surge aqui, sem ser o centro do filme, a questão da corrupção, algo tão onipresente, nos acabrunhantes noticiários de hoje.
Ao levar o mesmo texto ao Teatro como “Turbilhão”(2011) o), Domingos trabalhou duas linguagens que domina, a teatral e a cinematográfica, incluindo cenas em uma tela no palco, fazendo os personagens interagirem.
O resultado é bastante apreciável, mas ainda assim está longe das geniais experiências, com esta mescla de linguagens, de Christiane Jatahy como em “Júlia”, “E Se Elas Fossem Para Moscou?”, “A Falta Que Nos Move”. E outras que deve estar fazendo pela Europa, onde agora trabalha.
Em parceria com o psicanalista Alberto Goldin, Domingos escreveu “Todo Mundo Tem Problemas Sexuais” (2009).
Quando Domingos montou este “Todo Mundo Tem Problemas Sexuais”, a princípio achei que fosse comercial demais. Mas não resisti e fui assistir.
Bastante comunicativa sim, sem pudores, mas sem nenhum resquício de vulgaridade.
O fato de rirmos bastante não nos tira a empatia, não nos distancia, não nos deixa superiores.
Pelo contrário: reconhecemo-nos aqui e ali, com personagens e suas situações.
A peça, dentro do projeto BOAA, não poderia deixar de ter sua adaptação cinematográfica, mantendo o título bem popular. p)
Um último extraordinário momento de Domingos Oliveira no Cinema, ainda que o posterior “BR 716” seja bastante notável, é o penúltimo lançado no circuito, bastante premiado, já feito com razoável orçamento, “Infância” (2014) q), transposição de “Do Fundo do Lago Escuro” para o Cinema”.
Fernanda Montenegro que havia interpretado a filha da matriarca Mocinha na montagem de Paulo José, como “Assunto de Família”, conforme já comentado, é agora a própria.
Mocinha, lacerdista fanática, impõe seu autoritarismo a todos, até mesmo quase que uma obrigação de assistirem discursos de Lacerda contra Getúlio Vargas na TV, mas oprime, especialmente, o fracassado genro (Paulo Betti), que ela suspeita estar enganando-a em negócios que tem feito com terrenos, com dinheiro e bens da família.
O desfecho da peça era cruel, anunciando um ritual de perda da inocência (Aqui adiante spoilers), mas em “Infância” temos algo poético e doce: o próprio Domingos surge para ele enquanto criança e lhe dá dicas de leituras, filmes para assistir.
A família de Domingos era de classe média carioca, mas tinha uma casa sem livros.
O talento de Domingos, enquanto grande artista múltiplo que se tornou, foi algo que veio de muito esforço e de algo para o qual estava destinado.
Está por estrear o último filme realizado por Domingos Oliveira, “Aconteceu na Quarta-Feira” (2018), baseado em sua peça “Doppelgänger (O Mito do Duplo)”, já comentada.
Haverá uma pré-estreia especial deste “Aconteceu na Quarta-Feira”, em homenagem a Domingos Oliveira, com Priscilla Rozenbaum, André Mattos, Ricardo Kosovski, com a presença do elenco e amigos no Cinema Estação Botafogo- Quarta (17/04) às 21h10.
Ps Assisti “Aconteceu na Quarta-Feira” em sua pré-estreia em homenagem a Domingos Oliveira e ele ainda consegue nos surpreender, mesmo que não estejamos no terreno dos seus filmes majestosos.
Júlio (Ricardo Kosovski) e Júlia ( Priscilla Rozembaum) formam um casal, são atores de Teatro e trabalham numa peça juntos.
O grande talento dela é reconhecido. O dele não, se é que o tem. Sua carreira é como se fosse carregada por ela.
Ele tem desejos homossexuais que a mulher tenta compreender, relevar, mas o casal não evita as fortes relações de amor e ódio e certa histeria.
A este quadro surge dois grandes complicadores: o psicanalista de Júlio, Marcos (André Mattos) está apaixonado por Julia e às vezes joga seu senso ético completamente para o espaço, contando a ela o que não poderia; outro é a aparição de um duplo ( “doppelgänger” ) que passa a atormentar o casal com as surpresas e interferências que pode fazer e faz, confundindo até mesmo nós, espectadores.
Neste “Aconteceu na Quarta-Feira” vão se acumulando temas como traições, narcisismo ( Júlio se apaixona pelo seu duplo), imperiosa vontade de mudar totalmente de identidade, dando adeus à vida que se tem ( como em “O Passageiro: Profissão Repórter” -1975- de Michelangelo Antonioni ).
Com muitos closes, clima teatral-cinematográfico eficiente, dentro do espirito do baixo orçamento, trabalhando com muitos amigos, Domingos constrói obra que caminha cada vez mais para um forte humor negro.
O mito do duplo envolve alguém igual a nós no mundo, mas há um lado bastante terrífico. Ele quer tomar o nosso lugar neste planeta.
Domingos com sólido texto, vai até às últimas consequências em relação ao Mito, não contemporizando.
A trinca de atores está mais do que à vontade nestes personagens bastante complexos e singulares, pois já trabalharam muito o texto (agora transformado em roteiro) no Teatro.
Mas como Cinema está nas veias de Domingos, tanto quanto Teatro, pode-se ir ao cinema sem susto, pois encontraremos uma obra cinematográfica mesmo, nada de Teatro filmado, com jogos de estilo típicos de Domingos e texto sempre espirituoso, mesmo nos momentos mais difíceis dos seus personagens.
Júlio (Ricardo Kosovski) e Júlia ( Priscilla Rozembaum) formam um casal, são atores de Teatro e trabalham numa peça juntos.
O grande talento dela é reconhecido. O dele não, se é que o tem. Sua carreira é como se fosse carregada por ela.
Ele tem desejos homossexuais que a mulher tenta compreender, relevar, mas o casal não evita as fortes relações de amor e ódio e certa histeria.
A este quadro surge dois grandes complicadores: o psicanalista de Júlio, Marcos (André Mattos) está apaixonado por Julia e às vezes joga seu senso ético completamente para o espaço, contando a ela o que não poderia; outro é a aparição de um duplo ( “doppelgänger” ) que passa a atormentar o casal com as surpresas e interferências que pode fazer e faz, confundindo até mesmo nós, espectadores.
Neste “Aconteceu na Quarta-Feira” vão se acumulando temas como traições, narcisismo ( Júlio se apaixona pelo seu duplo), imperiosa vontade de mudar totalmente de identidade, dando adeus à vida que se tem ( como em “O Passageiro: Profissão Repórter” -1975- de Michelangelo Antonioni ).
Com muitos closes, clima teatral-cinematográfico eficiente, dentro do espirito do baixo orçamento, trabalhando com muitos amigos, Domingos constrói obra que caminha cada vez mais para um forte humor negro.
O mito do duplo envolve alguém igual a nós no mundo, mas há um lado bastante terrífico. Ele quer tomar o nosso lugar neste planeta.
Domingos com sólido texto, vai até às últimas consequências em relação ao Mito, não contemporizando.
A trinca de atores está mais do que à vontade nestes personagens bastante complexos e singulares, pois já trabalharam muito o texto (agora transformado em roteiro) no Teatro.
Mas como Cinema está nas veias de Domingos, tanto quanto Teatro, pode-se ir ao cinema sem susto, pois encontraremos uma obra cinematográfica mesmo, nada de Teatro filmado, com jogos de estilo típicos de Domingos e texto sempre espirituoso, mesmo nos momentos mais difíceis dos seus personagens.
Há pensamentos de Domingos de Oliveira, bastante instigantes que merecem ser desenvolvidos.
“Para escrever, criar, é preciso pactuar com o mistério. Escrever é um processo de loucura controlada.”
"O artista não deve dar ao público o que ele quer. Deve dar o que ele precisa. A função dos artista é descobrir isto."
"Fazer cinema no Brasil é como querer esculpir estátuas de ouro"
“A política é importante, mas o amor é mais importante ainda”- em depoimento ao MIS-RJ ( Museu da Imagem e do Som).
“O problema do homem não é político, econômico ou social. É espiritual”. E por espiritual não se entenda algo necessariamente religioso, acrescento.
Estar em contato com arte, como ver filmes de Federico Fellini, ler poemas de Fernando Pessoa e afins, são vivências de ordem espiritual e isto seria imprescindível ao homem.
Não é por acaso que Domingos tenha escrito e dirigido o espetáculo com Sérgio Brito, “Yung e Eu” ( 2005).
No prefácio de “Memórias, Sonhos, Reflexões”, autobiografia de Carl Gustav Yung (Clássicos Cultura- 2015), Sérgio Brito escreve em “Como Encontrei Yung”, que não sabia nada sobre ele quando foi convidado para o papel e recomendaram a leitura deste livro, que analistas yunguianos dizem ser excelente contato inicial com a obra de Yung.
Sérgio conta que entendeu bem o significado de espiritualidade de Yung, que reconhecia a força da sexualidade na vida humana como Freud, mas enxergava outras grandes forças.
Sérgio narra que nenhuma das suas melhores e mais prazerosas relações sexuais, tinha o grande prazer de estar atuando num palco.
Aqui adiante Domingos é mais atual do que nunca:
“A única coisa que faz com que a humanidade não tenha enlouquecido ainda é a arte”.
Comenta-se muito (e merecidamente) a grandeza de “Todas as Mulheres do Mundo”. Mas se esta justiça é muito boa, eclipsa a obra de Domingos como um todo, onde aqui só apresentei parte.
Temos que lembrar sempre também da grandeza de “Do Fundo do Lago Escuro” (a peça) e os filmes “Separações”, “Infância”, por exemplo, dentre tantas obras de qualquer ordem, de superlativa qualidade.
Um dos segredos da grande produtividade de Domingos era sempre ter vários projetos em mente. Na medida em que um em que trabalhava começava a emperrar, ele puxava outro. Se este também parasse outras ideias também ainda teria para desenvolver.
De Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade disse que foi um poeta que viveu realmente como poeta.
Com a poesia que transbordava de todos os seus trabalhos, não há como negar que Domingos era um grande poeta e pode-se dizer algo análogo ao foi dito sobre Vinícius, por Drummond: viveu também como poeta.
2. Links Associados
a) http://www.todoteatrocarioca.com.br/pessoa/485/domingos-de-oliveira
Realizações coligidas até 2013.
http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/domingos-oliveira/trajetoria.htm
Memória Globo – Domingos Oliveira
b) “Separações” (2002)
Sinopse
Cabral (Domingos Oliveira) é um dramaturgo de 60 anos que é casado com Glorinha (Priscilla Rozembaum). Eles estão ficando entediados com a relação e chegam à conclusão de que ambos precisam de um tempo no casamento. Este tempo se transforma em uma separação real quando Glorinha se apaixona por outro homem.
Fonte: encurtador.com.br/agkp1
https://www.youtube.com/watch?v=KiHRT6wEJlA&t=1642s
“Separações”- Filme Completo
https://www.youtube.com/watch?v=iXds8rnGF4s
Separações - Domingos de Oliveira- Trecho- Saudade
Um dos trechos mais fortes desse lindo e lírico filme! Sobre a saudade...
“Nunca pensei que pudesse o homem sentir tanta saudade.
Dizem que a palavra não existe em nenhum outro idioma...
mas eu conheço o seu significado.
A alma procura a outra na velocidade do desatino.
Não há lugar senão para a busca.
Nenhuma satisfação que não seja o encontro.
Nenhum engano possível.
A alma sabe exatamente qual a outra é.
É aquela.
Em tudo maravilha, encontrada seria uma.
Um eterno abraço.
Por que não cala o trovão da mente?
Por que não seca a lágrima da obsessão?
Por que não cessa esta falta que enfraquece?
Essa dor que apenas cresce.
Porque não fecha o peito ardente.
Demente.
Ouve o abismo presente, ouve o ruído dos passos...
Então cai eternamente.
Eu não sei se é verdade que de saudade também se morre, mas, é melhor morrer do que sentir saudade.
https://www.youtube.com/watch?v=213JkDhg1Fw
“Separações” - O homem lúcido
Trecho do filme “Separações” em que Cabral lê o texto Caldaico do VI século a.C. “O Homem Lúcido”
“O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que nunca se entusiasma com ela, assim como não teme a morte. O homem lúcido sabe que viver e morrer são o mesmo em matéria de valor, posto que a Vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um mal.
“O homem lúcido sabe que é o equilibrista na corda bamba da existência. Sabe que, por opção ou acidente, é possível cair no abismo, a qualquer momento, interrompendo a sessão do circo.
Pode também o homem lúcido optar pela Vida. Aí então, ele esgotará todas as suas possibilidades. Passeará por seu campo aberto e por suas vielas floridas. Saberá ver a beleza em tudo. Terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará. Resistirá aos infortúnios e até às doenças. E, se atingido por algum desses emissários, saberá suportá-los com coragem e mansidão.
Morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado por filhos e netos que seguirão sua magnífica aventura. Pairará então, sobre sua memória uma aura de bondade. Dir-se-á: aquele amou muito e fez bem às pessoas.
A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem iguale-se sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O homem lúcido que optou pela Vida, com o consentimento dos Deuses, tem o poder magno de alterar esta lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis estarão sempre em maioria.
Esta é uma cortesia que a Natureza faz com os homens lúcidos.”
c) “BR 176” ( 2016)
https://www.youtube.com/watch?v=Eflx_DSdTz4
“BR 716” com Caio Blat, Sophie Charlotte | Trailer Oficial [HD]
Sinopse
Na intensa boemia carioca nos anos 1960, o engenheiro e aspirante a escritor Felipe (Caio Blat) leva uma vida regada aos prazeres do álcool, em festas alucinantes realizadas num apartamento dado por seu pai, na famosa rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Lá, ele e seus amigos desfrutam de tudo que a liberdade pode oferecer, mesmo em meio a um momento político complicado.
d) “Do Fundo do Lago Escuro” ( peça de 1977)
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/3/22/ilustrada/26.html
"Do Fundo do Lago Escuro" exibe hipocrisia familiar- Folha de São Paulo
https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,no-bau-de-domingos-imp-,547579
Matéria do Estado de São Paulo de 2010, quando Domingos Oliveira, travestido, interpretou a matriarca Mocinha de sua peça “Do Fundo do Lago Escuro”.
https://www.jb.com.br/index.php?id=/acervo/materia.php&cd_matia=523341&dinamico=1&preview=1
Dramaturgo interpreta avó na remontagem de "Do fundo do lago escuro"- Pedro Schprejer, Jornal do Brasil
e) https://www.youtube.com/watch?v=0xZqBAHFRhg
Noturno- Fagner
f) “Todas as Mulheres do Mundo” (1966)
Sinopse
Trajetória do jornalista Paulo (Paulo José), bon vivant que vive paquerando as belas mulheres das praias cariocas. Certo dia, esse sedutor profissional acaba encontrando o verdadeiro amor ao conhecer a jovem professora Maria Alice (Leila Diniz). A partir daí, ele enfrenta o dilema de desistir de todas as mulheres do mundo para viver com uma só.
Direção e roteiro: Domingos Oliveira
Fotografia: Mario Carneiro
Montagem: Raimundo Higino/
João Ramiro Mello
Produção DO Produções Cinematográficas
Elenco
Leila Diniz, Paulo José, Flávio Migliaccio, Joana Fomm, Ivan de Albuquerque, Irma Alvarez, Fauzi Arap, Isabel Ribeiro, Ana Crisitna, Albino Pinheiro, Ana Maria Magalhães, Eduardo prado, Ana Rudge, Luiz B. Netto, Diana, Isaias Almada, Dorinha, Frances, Hidelgarde, Ilona, Ionita, Leila Marinho, Márcia Rodrigues, Maria Gladys, Marai Lúcia, Marieta Severo, Marília, Nazareth Ohana, Norma Marinho, Tânia e Vera Vianna.
Fonte: http://www.casacinepoa.com.br/os-filmes/distribui%C3%A7%C3%A3o/cole%C3%A7%C3%A3o-domingos-oliveira
https://www.youtube.com/watch?v=gJlFbhmMb0Y
Todas as Mulheres do Mundo, 1966.- Teaser
g) “Edu, Coração de Ouro” (1968)
Sinopse
Rapaz de personalidade volúvel, Edu (Paulo José) é um típico garoto carioca que flerta com várias mulheres ao mesmo tempo. Nenhuma delas, no entanto, havia conseguido prender seu coração, até aparecer em sua vida a jovem Tatiana (Leila Diniz).
Fonte: encurtador.com.br/acBEY
https://www.youtube.com/watch?v=7eKV-CROot4&t=14s
Filme Completo – “Edu, Coração de Ouro”- 1968
https://www.youtube.com/watch?v=pFpl1x3tjIs
“Coração de Ouro” – Elton Medeiros/Joacyr Santana com o Conjunto A Voz do Morro ( Paulinho da Viola, Zé Keti, Elton Medeiros, Nelson Sargento, dentre outros )
Da Trilha do filme e de onde foi extraído o título.
h) “As Duas Faces da Moeda” ( 1969)
Sinopse
Funcionário público (Fregolente) sonha com o Anjo da Morte, que lhe avisa que ele terá menos de 24 horas de vida. Acreditando no sonho, ele passa a tomar as providências: pede demissão do trabalho, pega dinheiro no banco e dá para sua filha se casar, e se encontra com o amante da esposa para conversar sobre o caso
Elenco de As Duas Faces da Moeda: Adriana Prieto, Fregolente, Hélio Ary, Jorge Dória, Nazareth Ohana.
Fonte: https://filmow.com/as-duas-faces-da-moeda-t73605/
https://www.youtube.com/watch?v=_Rjk95f2iu8
Filme-As Duas Faces da Moeda- 1969- trecho de 30 min.
i) “A Culpa” (1971)
Sinopse
Dono de uma construtora ( Sérgio Brito) é assassinado pelos filhos ( Dina Sfat e Paulo José) e por um de seus arquitetos ( Nelson Xavier). Os criminosos resolvem morar juntos, mas a culpa que os consome se intensifica dia após dia.
Fonte: encurtador.com.br/esz79
Para ressaltar como Domingos Oliveira foi bem sucedido neste trabalho, que merece ser lembrado, completamente soturno, sombrio em contraposição ao solar “Todas as Mulheres do Mundo”, apresento os prêmios recebidos:
Melhor Fotografia para Rogério Noel no Festival de Brasília, 7, 1971, Brasília - DF.
Prêmio Governador do Estado, 1971, SP, de Melhor Fotografia para Rogério Noel.
Prêmio Coruja de Ouro, 1971, do INC - Instituto Nacional de Cinema, RJ, de Melhor Direção para Domingos Oliveira e de Melhor Fotografia para Rogério Noel.
Prêmio Air France de Cinema, 6, 1972, RJ, de Melhor Atriz para Dina Sfat.
Troféu Carlitos da APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, 1972, de Melhor Revelação para Rogério Noel.
Elenco
Dina Sfat (Matilde); Nelson Xavier (Henrique); Sérgio Brito (Pai); Paulo José (Heitor); Adolpho Arruda (Anísio).
http://estranhoencontro.blogspot.com/2007/08/culpa.html
“A Culpa”- Blog Estranho Encontro de Andrea Ormond
j) “Carreiras” (2005)
Sinopse
Após perder a apresentação de um telejornal para uma novata, a jornalista Ana Laura (Priscilla Rosembaum) começa a refletir sobre o passado ao se ver diante da solidão em que mergulhou para se dedicar à profissão
Fonte: encurtador.com.br/glnDE
https://www.youtube.com/watch?v=PuH_XjSYmsI
Trailer "Carreiras"
k) “Amores” (1998)
Sinopse
Com a aproximação da virada do século XX, um grupo de amigos discute as suas relações e questiona suas vidas, traçando um rico painel sobre as inquietações humanas, tendo a caótica rotina do Rio de Janeiro como cenário.
Vieira é um escritor da TV Globo prestes a perder o emprego, enquanto se digladia com sua filha Cíntia tentando controlar sua excessiva liberdade. Telma, maior amiga de Vieira, é casada com Pedro. Não quiseram ter filhos, mas agora, com Telma na casa dos 30, estão querendo e não estão conseguindo, o que está pondo o casamento em perigo. Luiza, irmã de Telma, é uma atriz fracassada que ganha a vida contando piadas em bares. Apaixona-se loucamente pelo pintor Rafael, mas descobre que ele é soropositivo.
Roteiro: Domingos Oliveira, Priscila Rozembaum, adaptação da peça homônima
Fotografia: Jacques Cheuiche
Direção de arte: Angèle Fróes
Música: Nico Nicolaiewsky
Montagem: Guilheme Ebert
Produção TV Zero
Elenco: Domingos OliveiraClarice Niskier, Domingos Oliveira, Maria Mariana, Priscila Rozenbaum, Ricardo Kosovski, Vicente Barcelos, Nico Nicolaiewsky, Victor Bethencourt e Clara Bethencourt.
Fonte: encurtador.com.br/sJKS4 / http://www.casacinepoa.com.br/os-filmes/distribui%C3%A7%C3%A3o/cole%C3%A7%C3%A3o-domingos-oliveira
https://www.youtube.com/watch?v=HCtqMHT6mj4
Especial Domingos Oliveira – “Amores”
https://www.youtube.com/watch?v=SyxOy50_TRc
Texto Amores- Domingos Oliveira
Ana Nero
Publicado em 22 de out de 2014
Estudo sobre o texto de Domingos Oliveira.
Gravado com webcam.
l) https://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,mito-do-duplo-inspira-doppelganger--de-domingos-oliveira,1784457
Mito do duplo inspira 'Doppelgänger', de Domingos Oliveira
A partir da lenda alemã, montagem propõe um jogo que brinca com a morte provocada pela briga de um famoso casal de atores
Entrevista com Domingos Oliveira
Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo
23 de outubro de 2015
m) “Juventude” (2008)
Sinopse
David ( Paulo José) mora sozinho e decide convidar os amigos de infância para passar um dia em sua casa, em Petrópolis. Ele planeja uma série de atividades, juntamente com conversas sobre o passado de cada um. Mas um problema pessoal pode acabar a amizade.
Fonte: encurtador.com.br/ACY35
https://www.youtube.com/watch?v=XOj7beJummc
“Juventude”- Trailer
htmhttps://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2301200913.htm
Filme ( “Juventude”) é ponto alto de Domingos Oliveira- José Geraldo Couto- crítico da Folha de São Paulo
Com olhar irônico e caloroso, longa sobre três amigos que se reúnem para relembrar o passado faz uma celebração da vida
n) “Primeiro Dia de Um Ano Qualquer” (2012)
Sinopse
No primeiro dia do ano, muitos personagens se encontram em uma luxuosa casa de campo nos arredores do Rio de Janeiro. Do amanhecer até o fim da noite, todos enfrentam suas crises e limitações e procuram um sentido para suas vidas.
Fonte: encurtador.com.br/fhCS1
Trailer de “Primeiro Dia de Um Ano Qualquer”, um filme de Domingos Oliveira
https://www.youtube.com/watch?v=qyyH6EMX0Kk
“Primeiro Dia de um Ano Qualquer”- Filme Completo
0) Paixão e Acaso (2012)
Sinopse
A psicanalista Inês apaixona-se por dois homens ao mesmo tempo. Talvez pelos poderes mágicos de seu pai Vitor, que aparece como fantasma. Acontece sem que ela e nenhum deles saiba... os dois são pai e filho. Inês tem portanto seus problemas, enquanto tenta resolver aqueles dos clientes. Em particular Tavares, que está sendo vítima de um suborno profissional e Otavio, pequeno empresário inteiramente dominado pela sua própria agenda. Essa situação causa risos e lágrimas.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=RBPhUnFPThk ( Incluindo Trailer )
https://www.youtube.com/watch?v=LHZWeqtiaDc
Paixão e Acaso - Filme Completo
https://vejario.abril.com.br/cultura-lazer/vejarj-2227-moda-woody-allen/
Cultura & Lazer
À moda de Woody Allen
Comédia de Domingos Oliveira, “Turbilhão” une cenas de palco e de cinema de forma divertida
Por Carlos Henrique Braz
p) Todo Mundo Tem Problemas Sexuais (2008)
Sinopse
As dificuldades sexuais de divertidos e diferentes casais. Baseado na peça homônima de Domingos Oliveira e Alberto Goldin, o filme revela situações complicadas em meio a reflexões sobre a vida íntima.
Fonte: encurtador.com.br/HKS79
https://www.youtube.com/watch?v=z6a9JsOmQ2M
“Todo Mundo Tem Problemas Sexuais” – Trailer
q) Infância (2014)
Sinopse
Entre um discurso e outro de Carlos Lacerda contra o governo, Dona Mocinha (Fernanda Montenegro) precisa lidar com os problemas financeiros e pessoais de sua família. Enquanto que sob os olhos de seu neto, o pequeno Rodrigo*, a única coisa que importa é descobrir o paradeiro de sua cadelinha.
*O alter ego mais novo de Domingos Oliveira
Fonte: encurtador.com.br/uvCG6
https://vimeo.com/135420719
Trailer – “Infância”- Domingos Oliveira
https://www.youtube.com/watch?v=GDVZaq-ov8M&t=30s
“Infância” – Domingos Oliveira - Filme Completo
3) Gerais
3-1) Documentário acadêmico sobre o autor Domingos Oliveira - Parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=5I7Bx_MwUB0
Documentário acadêmico sobre o autor Domingos Oliveira - Parte 2
https://www.youtube.com/watch?v=bOfP6jnJ-co&t=288s
Publicado em 4 de dez de 2011
Documentário dos alunos da FACHA sobre o autor Domingos Oliveira
3-2) https://www.youtube.com/watch?v=uGAU8l01W5I
Publicado em 2 de junho de 2008
Entrevista: Domingos Oliveira e Priscilla Rozenbaum falam sobre cinema e teatro para a Revista Moviola.
Entrevista por: Aristeu Araújo
Fotografia: Guilherme S. Francisco e Thaís Grechi
Som e Still: Fernando Secco
Edição: Aristeu Araújo
www.revistamoviola.com.br
3-3) Entrevista / Flávia Guerra entrevista Domingos Oliveira.