Introdução
Temos aqui dicas de livros que podem ser presenteados não só em Natais, como em outras ocasiões ou a até a nós mesmos, pois afinal, a rigor, todo dia é dia do livro.
A postagem tem um clima de fatias de autobiografia estimulada, correlacionada com livros importantes na minha vida. Pode até ser de um gênio como Dostoiévski, como um, de certo modo, desconhecido, como “A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen”.
Enfim: para enfatizar a importância de se ler livros, trago aqui lembranças de como alguns me impactaram.
Numa época em que livrarias do porte da Saraiva e Cultura estão pedindo recuperação judicial, em atenção à carta de amor aos livros de Luiz Schwarcz, senti a necessidade e a vontade de fazer esta esta postagem.
https://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2018/11/em-carta-aberta-luiz-schwarcz-propoe-rede-de-solidariedade-para-salvar-editoras
“Em carta, Luiz Schwarcz propõe ‘rede de solidariedade’ a editoras e a cultura do livro”
Crise das grandes livrarias já levou a demissões e redução na produção de livros, segundo presidente da Companhia das Letras”
Trecho final da carta:
“Presentear com livros hoje representa não só a valorização de um instrumento fundamental da sociedade para lutar por um mundo mais justo como a sobrevivência de um pequeno editor ou o emprego de um bom funcionário em uma editora de porte maior; representa uma grande ajuda à continuidade de muitas livrarias e um pequeno ato de amor a quem tanto nos deu, desde cedo: o livro.”
Vou citar, de acordo com vários gêneros, muitos livros que li e comentar alguns mais influentes, marcantes, de acordo com o que me vem à memória, o que pode gerar imprecisões, vindo desde já minhas desculpas.
Nem sempre consegui descobrir a Editora de publicação e datas de escrita.
Alguns vão ser de difícil acesso, dado que não foram publicados mais. Através de sebos virtuais como o Mercado Livre, Estante Virtual etc e sebos de rua podem ser obtidos.
Mas é recomendável pesquisar bem. Um mesmo livro que está caro num site, porque o consideram raro, pode estar sendo vendido por preço bem razoável em outro.
Quando livros geraram adaptações cinematográficas, haverá menções aos graus de ligação.
E,claro, que há os livros reeditados, pela mesma Editora de quando os li ou haver reedições, com capas mais empenhadas artisticamente, por outras editoras.
Quando livros geraram adaptações cinematográficas, haverá menções aos graus de ligação.
Pela natureza desta postagem, alguns spoilers serão incontornáveis.
1- Contos
Quando, na primeira metade dos anos 80 fiz curso de Roteiro de Cinema e de Dramaturgia com o cineasta Alberto Salvá e o dramaturgo João das Neves, no Parque Laje, respectivamente, uma tônica dominante era: “Escreva um conto e depois o transforme num roteiro ( ou uma peça )”.
Fiquei bastante intrigado, pois um bom conto, no mínimo, já é uma obra literária acabada.
Junto ao meu trabalho de Engenheiro durante o dia, passei a fazer Português- Literatura, para a Uerj à noite. Mas por uma série de razões, acabei desistindo, tendo realmente tempo para assistir meus filmes, peças e ler livros de contos desejados, sendo que este gênero li por um bom tempo, dos mais variados autores.
Passei a perceber que a melhor forma de aprender a escrever, no mínimo bons contos, era ler os mais variados dos mais variados autores, de grandes mestres do gênero, como Aníbal Machado e Júlio Cortázar, por exemplo.
Tenho muitos contos escritos por ser mais bem trabalhados literariamente. Uns poucos foram publicados no meu Blog anterior http://pelaluzdosmeusolhos.blogspot.com/ (o mais recente Blog é http://pelaluzdosmeusolhos2.blogspot.com/). Os demais estão na fase do “escrever é reescrever, rescrever, rescrever.....”.
Mesmo estes, já publicados num blog, vão ser melhor trabalhados.
Tenho dificuldades em descrever ambientes e a natureza que envolve os personagens e que muitas vezes refletem os seus estados de espirito.
Meu forte está na história engendrada, na trama, nos diálogos e monólogos. Assim, tenho que me esforçar no “escrever é reescrever etc”, mas tenho meus limites e prefiro passar a outro conto.
1.1 “Primeiras Estórias” (1962)- Guimarães Rosa.
Ainda tenho alguns contos por ler, mas nada deve superar a grande obra-prima “A Terceira Margem do Rio”, onde um homem se afasta da família e vai viver no que seria “ A Terceira margem do Rio”.
O conto nos remete a muita coisa: a condição do artista; o passar das gerações, com o pai como que passando o bastão ao filho; o terreno da fé; a fuga ao desconforto do mundo como ele nos é oferecido etc.
Nelson Pereira dos Santos filmou “A Terceira Margem do Rio” (1994), mas combinou cinco contos de “Primeiras Histórias”, o que acabou tirando a potência do conto maior que dá título ao filme.
Para um tira-teima:
https://www.youtube.com/watch?v=aye0VPN9B1Y
“A Terceira Margem do Rio” (1994) – Filme Completo
O que vem de José Miguel Wisnick vale sempre a pena assistir:
https://www.youtube.com/watch?v=c4psxfwA_A8
(A Terceira Margem do Rio” (Guimarães Rosa), por José Miguel Wisnik
Publicado em 9 de out de 2016
José Miguel Wisnik comenta o conto de Guimarães Rosa “A terceira margem do rio”. Narrado na terceira pessoa, é a história de uma família sertaneja, cujo pai, "homem ordeiro, positivo, cumpridor", certo dia sem dizer palavra, faz canoa e com ela entra no rio, onde permanece sem jamais voltar.)
1.2- O Aleph” (1942)- Jorge Luís Borges
O Aleph é um ponto encontrado através do qual se enxerga todo o universo.
Da poesia acaba-se chegando a algo que quase que remete à ciência.
Numa palestra no CCBB-RJ traçou-se paralelos entre “Os Jardins dos Caminhos que se Bifurcam” (conto que não está em “O Aleph”) e elementos de Física Quântica.
Por que ter que escolher entre um ou outro? Por que não escolher os dois?
1.3 “O Cego e a Dançarina” (1980) - João Gilberto Noll
Foi o primeiro grande livro de prestígio de João.
O conto “Alguma Coisa Urgentemente”, deste livro, foi adaptado para o Cinema, gerando uma obra-prima: “Nunca Fomos Tão Felizes” (1984) de Murilo Salles.
1.4 “Feliz Ano Novo” (1975) - Rubem Fonseca
Este foi um dos livros proibidíssimos na Ditadura Militar.
Rubem iniciou sua carreira na polícia, como comissário. Através dela conheceu muitas histórias do submundo carioca, que transfigurou anos depois em Literatura, quando passou a dedicar-se inteiramente a ela.
Rubem queria ser cineasta. Daí vem forte pulsação desta ordem em seus trabalhos.
No conto “Feliz Ano Novo”, ladrões numa virada do ano, promovem assalto numa mansão. Mas um deles toma consciência de que por mais que roubem ali, o que levarem representa uma gota no oceano do que estas pessoas têm realmente. Assim, com raiva profunda, passa a matá-las.
Em “Passeio Noturno” um pai de família chega do dia de trabalho se reúne à família para o jantar e depois sai de carro a passear. O que ninguém sabe que nestes passeios ele sistematicamente atropela pessoas.
Com este conteúdo tão explosivo, não se justifica, mas presumimos o susto da ditadura militar.
Rubem simplesmente retratou uma violência que estava e está ainda bastante latente na sociedade brasileira.
1.5 “O Cobrador” (1979) - Rubem Fonseca
No conto que dá título ao livro, um marginal comete seus roubos, crimes, mas bastante consciente do que a sociedade brasileira lhe deve: educação, saúde, moradia etc. Algo que ele nos lembra com bastante compulsão e repetições.
Mas não temos nada de didático aqui e sim um fluxo intenso de violências que buscam suas justificativas, suas cobranças, algo bastante incômodo e desconcertante para o leitor. Mas fascinante.
1.6 “Lúcia McCartney” (1967) - Rubem Fonseca.
O contou título do livro foi adaptado ao cinema com prestígio por David Neves, com Adriana Prieto, como Lúcia McCartney, uma Garota de Programa (1971)
Confira:
https://www.youtube.com/watch?v=e1AMOucMx40
Filme Completo- “Lúcia McCartney, uma Garota de Programa”- 1971
1.7- “A Morte da Porta Estandarte”, “Tati, a Garota” e Outros Contos”. de Aníbal Machado
A obra de Aníbal Machado não é imensa, mas só este livro de contos tem vários que são obras-primas deste gênero da Literatura Brasileira.
Num olhar voltado para onde passamos alheios, tem uma história sobre o dia a dia de um ascensorista. Mas há um elemento para fazer avançar a história: surge um assassinato.
O dia a dia simplesmente dificilmente daria um bom conto. Há dramaturgicamente a necessidade desta virada.
Seus contos, “Tati, a garota”, “O iniciado do vento (O Menino e o Vento”, 1967) e “Viagem aos seios de Duília” ganharam versões para o cinema.
“Tati” (1973) foi a estreia de Bruno Barreto na direção de um longa-metragem, aos 17 anos.
Lembro-me bem, pois Bruno assim como Ang Lee, dentre outros artistas.
https://www.youtube.com/watch?v=BzgG20jolVQ
“Tati”- Bruno Barreto Filme Completo.- 1973
Carlos Hugo Christensen, cineasta argentino, que passou a ter uma segunda carreira, agora no Brasil, tem dois clássicos baseados em contos de Aníbal Machado:
https://www.youtube.com/watch?v=QzLlV_TnJJg&t=51s
“Viagem aos Seios de Duilia” (1964)- Carlos Hugo Christensen
(Aposentado solteirão e solitário viaja para a cidadezinha onde nasceu à procura do seu primeiro e único amor. Ainda com a imagem da garota aos quinze anos, acaba encarando a realidade nua e crua do passar dos anos, da velhice e dos tempos que já não mais existem).
https://www.youtube.com/watch?v=VNymM9SkfVI
“O Menino e o Vento” (1967) - Carlos Hugo Christensen
Um homem volta a uma pequena cidade, onde é acusado de pedofilia e ter feito desaparecer o corpo de um menino.
Um tema bastante pesado narrado com extrema sensibilidade e com respostas surpreendentes.
1.8 “Bestiário” (1951)- Julio Cortazar
1.9 “História de Cronópios e Famas” (1962) - Julio Cortazar
Com bastante humor e ironias, temos os cronópios que são bastante sonhadores e os famas bem pragmáticos.
1.10 “Todos os Fogos, o Fogo” (1966) - Julio Cortázar
1.11 “Orientação dos Gatos” (1980) - Julio Cortazar
Num dos contos, “Texto em Uma Caderneta” um homem passa a ter sensação impressionante de que pessoas estão desparecendo num metrô e que “Eles” que ali morariam, são os responsáveis, algo sempre presumido, nunca provado.
O clima de paranoia instalado (ou a realidade?) o leva a ser encontrado morto, com um texto em sua caderneta que conta a história que vivenciou e o matou.
A melhor homenagem que o Cinema prestou a Cortázar foi de Antonioni. Seu maior sucesso de crítica e público, dentre suas várias obras-primas, “Blow Up- Depois Daquele Beijo” (1966), é inspirada no conto “As Babas do Diabo, publicado em 1959 e retirado de “As Armas Secretas”(1959).
No fim da vida Cortázar se encantou com a Revolução Sandinista na Nicarágua, dedicando até um livro a ela, para espanto de críticos e leitores, pois é algo que fugia do que se considera o universo “cortaziano.”
Se vive fosse, estaria tristíssimo com o que acontece neste país hoje, onde Daniel Ortega, líder da Revolução de outrora, massacra cidadãos que protestam contra seu (des) governo.
Para Cortázar o conto está próximo de uma relação sexual. Já o romance da gestação de um filho.
Numa outra comparação, Cortázar considera o romance uma luta de boxe que se ganha por pontos e o conto por nocaute.
1.12 “Antes do Baile Verde” (1970) - Lígia Fagundes Telles
No conto título, uma jovem fica completamente dividida entre ficar em casa com familiar doente ou ir a um baile que considera imperdível.
1.13 “Seminário dos Ratos” (1977)- Lígia Fagundes Telles
Num dos contos um casal de namorados passeia num cemitério. Ela e nós, leitores, ficamos apreensivos. Mas acabamos por relaxar. Afinal estamos diante de jovens apaixonados.
Ele pede a ela que adentrem a um jazigo. Ele, num jogo rápido, sai e prende a porta. Realizam as nossas piores suspeitas.
Há um excelente conto de Lígia cujo teor já não me lembro mais. Mas o título transborda poesia: “A Estrutura da Bolha de Sabão”
1.14 ¨A Dama do Cachorrinho (1899) e Outros Contos”- Anton Tcheklov
Num dos mais belos e humanistas dos contos, um mendigo pede comida e um senhor lhe oferece trabalho em troca.
O mendigo passa a ser um bom trabalhador e o senhor passa a sentir orgulho do que fez.
Mas o ex-mendigo dá uma lição ao senhor. De início, estava muito fraco para trabalhar. Uma das empregadas o ajudou, até que ele conseguisse trabalhar sozinho. Foi o grande gesto generoso dela que o fez ter mais força para esta nova vida.
Baseado em “A Dama do Cachorrinho”, o cineasta russo Nikita Mikhalkov realizou o prestigiado “Olhos Negros” (1987), com mais um magnífico trabalho de Marcelo Mastroianni.
1.15 “O Homem no Estojo” -Anton Tcheklov
1.16 “Contos Consagrados” (1969)- Machado de Assis”
Em “O Caso da Vara”, um jovem está por receber uma surra. Mas quem vai aplicá-la está relutante. Mas lhe lembram interesses em que está envolvido. Em nome destes, não reluta mais e surra o rapaz.
“A Igreja do Diabo” é atualíssimo. Tudo que o Diabo vê acontecendo na Terra está é no seu reino. Deus passa longe.
E é o que vemos no mundo de hoje, no Brasil.
Em “Um Homem Célebre” temos um compositor exímio de polcas, mas sua ambição maior é ser mestre em compor música clássica. Esta obsessão o levará à ruína.
Em “A Cartomante” um homem reluta na ida à casa de uma amante, quando seu marido não está. Consulta uma cartomante que, por truques, logo sabe, sem que ele fale explicitamente ainda, qual é o dilema dele.
Ele encantado a ouve dizer que pode ir tranquilo. Mas .....
1.17 “Missa do Galo (Variações Sobre o Mesmo Tema ) “ (1977) - Antonio Calado, Autran Dourado, Julieta de Godoy Ladeira, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon e Osman Lins
Descrição
(O conto original é o relato de um rapaz que, retomando um momento do passado, tenta compreender o que se passou, na rapidez cronológica de pouco mais de uma hora, entre ele, então com dezesseis anos, e Conceição, já na casa dos trinta. Nas releituras, os seis autores jogam com o tempo e o espaço, além de dividirem os pontos de vista.)
Fonte:https://www.saraiva.com.br/missa-do-galo-variacoes-sobre-o-mesmo-tema-2595506.html,
1.18 “Urupês” (1918)- Monteiro Lobato
1.19 “Cidades Mortas” (1919) - Monteiro Lobato
1.20 “Negrinha” (1920)- Monteiro Lobato
Sabendo que Monteiro Lobato tinha uma obra para adultos, na infância para a adolescência, atrevidamente pulei de “O Saci” para estes.
Tempos depois é que soube que foi por desilusão com o mundo adulto é que Lobato se voltaria para Literatura Infantil.
Como ele era editor de suas próprias obras, ele escrevia com sintaxe e acentuação como achava melhor. Nada de linguagem oficial.
Este ato de rebeldia me atraiu bastante. Pena que na escola não poderia fazer o mesmo.
Há frases que ficam: “A excelente Dona Inácia era mestre na arte de judiar das crianças
1.21 “O Veredito e Na Colônia Penal (1919)- de Frantz Kafka
1.22 “Uma Artista da Fome seguido de A Colônia Penal e Outras Histórias”(1922)- Frantz Kafka
A resposta do artista da fome quando lhe perguntam o porquê de sua condição:
"Eu nunca descobri nada que me apetecesse."
Um conto sobre a condição do artista, que não encontra nada que o apeteça na vida que não seja a arte. Daí, por exemplo, os filmes de Ingmar Bergman onde artistas são humilhados, onde o mais conhecido é ”Noites de Circo”.
1.23 “A Muralha da China” (1931)- Frantz Kafka
1.24 “Bola de Sebo e Outros Contos e Novelas ” - Guy de Maupassant
O conto “Bola de Sebo” influenciou “Genni e o Zepelim” de Chico Buarque, que é um conto musicado. Mas temos inspiração. Não é um caso de plágio.
Guy de Maupassant é considerado um dos grandes contista da História da Literatura.
1.25 “Os Contos de Belazarte” (1924) - Mário de Andrade
No conto “Primeiro de Maio” temos a melancólica situação de um trabalhador, neste dia que é dedicado a ele, andar a esmo pela cidade, sem ter com quem, como e aonde comemorar.
1.26 “Contos Novos” (1947) - Mário de Andrade
1.27 “Contos de Aprendiz” (1951)- Carlos Drummond de Andrade
Foi publicado quando o autor estava por volta dos 50 anos. Nunca tinha publicado um livro de contos antes.
Reconhecido como poeta maior da língua portuguesa, ele adentrou aqui o universo do conto, como que pedindo licença, humildemente considerando-os algo de aprendiz.
1.28 “A Legião Estrangeira” (1964) - Clarice Lispector
Aqui temos o mais enigmático conto em Língua Portuguesa que conheço, que é “O Ovo”.
Até Clarice se espantou com o que escreveu. Reza a lenda que ela foi num Congresso de Bruxaria em Bogotá e simplesmente apresentou este seu conto.
1.29 “Laços de Família” (1960) - Clarice Lispector.
Num conto marcante, uma senhora bastante idosa tem seu aniversário comemorado junto a bisnetos, netos, filhos, parentes e convidados.
Enquanto todos se divertem, ela está com profundo tédio diante de tudo o que acontece.
Num texto, “As Alegrias Catalogadas”, onde servem “uísque com soda”, Clarice, ao seu modo, sem mencionar, comenta o espírito de seu conto, dentre outras situações em que a alegria tem de estar presente, mesmo que reine a melancolia dentro das pessoas.
Festas de Natal muitas vezes é assim. Principalmente quando não temos mais nossos pais vivos, relembrando o Natal com eles que nunca mais se repetirá.
1.30 “A Via-Crúcis do Corpo” (1974)- Clarice Lispector
1.31 “Necrológio” (1972)- Victor Giúdice
O conto/título é puro Kafka.
1.32 “Os Banheiros” (1979)- Victor Giúdice
(Comentário Crítico
Caio Fernando Abreu, Veja, outubro de 1979
Em todo o livro, mantém-se inalterada a elegância de seu estilo e o virtuosismo com que manipula personagens e universos distintos.
O amor e seu extremo oposto - o ódio - ; a pureza infantil e a loucura; a morte, o desespero e a solidão são os sentimentos mais freqüentes deste mundo onde convivem, harmonicamente, figuras como um menino capaz de provocar a morte dos parentes quando solta balões coloridos, um pierrô que retira do próprio cérebro, com um punhal, duas esferas prateadas, ou um diretor de vendas que esquece de assassinar a esposa e o amante, distraído por uma partida de xadrez. Dos detalhes requintados, como cristais Dupont ou colheres de prata Sheffield (em O visitante) ao mórbido erotismo de Mahablan, sua linguagem é sempre impecável, culta e refinada. Mas é curioso que, apesar do cerebralismo e do humor negro que dão colorido às suas narrativas, Giudice se realize tão plenamente numa história simples como Os balões. Aqui, a poesia ultrapassa a secura, resultando numa pequena obra-prima.
Neste tempo de diluição e oportunismo, Victor Giudice se afirma, definitivamente, como um dos nomes mais expressivos da ficção brasileira contemporânea.)
1.33 “Salvador Janta no Lamas” (1989) - Victor Giúdice
De forte teor cinematográfico, os contos de Giúdice dariam excelentes filmes, bem adaptados ao Cinema.
O conto/título é puro filme de Roman Polanski.
Tive o prazer de ser aluno de Victor num curso de criação literária. Ele conseguia ser bastante sério, mas não deixando de lado seu elevado senso de humor.
Não gostava nada do Cinema Brasileiro que chamava de CB. Odiava a versão que Nelson Pereira da Silva fez para “O Alienista” de Machado de Assis, agora com o título “Azylo Muito Louco” (1970).
Odiava o que considerava falta de sutileza do que tinha com CB.
Não suportava em “Faca de Dois Gumes” (1989) de Murilo Salles quando Marco Aurélio( Flávio Galvão) diz à amante ao telefone: “Vem cá minha putinha” .
Só que na vida real as pessoas falam assim mesmo.
E convenhamos, o Cinema Brasileiro tem uma longa filmografia, em que estes dois filmes citados são gotas no oceano. Não há como generalizar nada.
O escritor maior para ele era Jorge Luis Borges. Algo coerente. Victor nos lembra um Borges brasileiro que ambienta suas histórias em São Cristóvão.
Entendo sua birra com o Cinema Brasileiro. Com tantos contos de forte pulsação cinematográfica, até hoje, nenhum deles foi adaptado.
Fica aqui a sugestão, para reparar uma grande injustiça.
Ele considerou dois contos meus bons, nem mais, nem menos. Vindo dele é uma grande honraria.
Infelizmente o curso terminou com doença dele e posterior morte.
1.34 “O Museu Darbot e Outros Mistérios” (1994)- Victor Giúdice.
Vencedor do Prêmio Jabuti de 1995.
As empulhações do mercado de arte contemporânea são satirizadas de forma demolidora, deliciosa, bastante irônica no conto/título.
1.35 “O Vampiro de Curitiba” (1965)- Dalton Trevisan
1.36 “Guerra Conjugal” (1969) - Dalton Trevisan
Num dos contos uma mulher foi oprimida por toda uma vida pelo marido bastante machista e intimidador. Quando este morre, ela se aproxima de sua cabeça no caixão e passa a dizer tudo o que não pode quando ele estava vivo.
Noutro, um homem está sendo sempre traído pela mulher, mas que atitude toma? Envergonhado pelo que dizem os vizinhos, simplesmente vai mudando de bairro em bairro em Curitiba, numa longa peregrinação, sem fim.
Joaquim Pedro de Andrade realizou mais uma de suas obras primas transpondo contos de Trevisan ao Cinema, em “Guerra Conjugal” (1975), onde há contos do livro homônimo e aparece também Nelsinho, o vampiro de Curitiba.
1.37 “Dinorá e Outros Mistérios” (1994)- Dalton Trevisan
1.38 “Risíveis Amores” (1969)- Milan Kundera
1.39- “Morangos Mofados”(1982) - Caio Fernando Abreu
Um dos mais belos contos é “Aqueles Dois” que teve uma adaptação para o cinema pouca vista, mas excelente.
A tônica aqui é o que separa amizade de atração homoerótica/amor entre dois homens, o que pode se fundir e o preconceito num ambiente de trabalho bem mesquinho, seja que situação for.
https://www.youtube.com/watch?v=2LjzZn3Pnak
“Aqueles Dois” (1985) – Sérgio Amon
“Baseado no conto homônimo de Caio Fernando Abreu, o filme conta a história de Saul e Raul, colegas de trabalho em uma repartição pública. Raul, recém-saído de um casamento frustrado, é extrovertido e brincalhão e passa o tempo ouvindo e tocando bolero no pequeno apartamento onde mora. Saul é tímido, de espírito crítico e amargo. Saiu de um noivado quase interminável e se recupera de uma tentativa de suicídio. Os dois acabam unidos pela solidão e iniciam uma intensa amizade. Os outros colegas de trabalho confundem a amizade com um romance e os dois viram alvo de discriminação. Confusos, nem eles mesmos sabem se estão de fato apaixonados.”
Outra adaptação ao Cinema de um conto de “Morangos Mofados, bastante irônica e demolidora de hipocrisias, é “Sargento Garcia”.
https://www.youtube.com/watch?v=oobW4xjRZkI
Sargento Garcia (2000)- Diretor: Tutti Gregianin
1.40 “A Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada” (1972) - Gabriel Garcia Márquez
Erêndira trabalha para sua avó em regime de escravidão. Muito cansada, certo dia, derruba um candeeiro que incendeia a casa toda.
Sua avô a obriga a ser prostituir, até que ganhe o dinheiro suficiente para reconstruir tudo.
O fanático irrompe na história quando temos uma quantidade absurda de homens que fazem fila e entram e saem do espaço de prostituição, todo dia.
Muitas adaptações ao cinema de Garcia Márquez, não resultaram minimamente bons, mas Ruy Guerra realizou um filme notável, “Erêndira” (1983), com Cláudia Ohana como Erêndira e nada mais, nada menos do que Irene Pappás como a avó.
2- Novelas / Romances
Brasileiros
2.1 Infanto-Juvenil condensado: “Moby Dick (1851) de Herman Melville, “Memórias de Um Burro”(1860) da Condessa de Ségur, “Os Irmãos Corsos”(1844) de Alexandre Dumas, pai” e “Viagens de Gulliver” (1726) de Jonathan Swift
Este é o primeiro livro que li na vida, tendo ganho, aos nove anos. num concurso entre todos os colégios do curso primário de onde morava, Mogi das Cruzes, na grande São Paulo.
O tema era bastante irônico: “O que você quer ser quando crescer?”. Escolhi médico, com certa sinceridade. Mas com o tempo isto ficou cada vez mais difícil de decidir.
Queria ser escritor, tinha horror à fábricas, linhas de montagem, vida comezinha de escritórios, bancos e afins.
Já pelos 18 anos, terminado o então chamado científico resolvi estudar como um louco para ingressar no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), o que aconteceu.
Mas nunca me iludi. Minha vocação era para as artes. Ser engenheiro, como acabei sendo, foi um ganha pão.
A rigor, nestes anos todos, fui Mecenas de mim mesmo.
Deste livro lido, com bastante encanto, sem ser para nenhum trabalho escolar, surgiu a grande descoberta do prazer da leitura e de grandes autores, mesmo em versões simplificadas.
2.2 “O Saci” (1921) - Monteiro Lobato
É o segundo livro que li, ganho por ter sido considerado o melhor aluno do curso primário. Mas de forma que já comentei, sem passar pelos personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, através da grande biblioteca da cidade (hoje não há nenhuma), passei a ler obras adultas do escritor.
Os próximos três livros foram de trabalhos escolares.
2.3 “A Moreninha”(1844) - Joaquim Manuel de Macedo
Livro agradável, singelo, ótimo passatempo.
A obra gerou o também singelo “A Moreninha” (1970) de Glauco
Mirko Laurelli, com Sônia Braga como a protagonista Carolina.
https://www.youtube.com/watch?v=lsxSN1g7PQY
Filme “A Moreninha” - Gravações na Ilha de Paquetá
2.4 “A Escrava Isaura” (1876) - Bernardo Guimarães
Numa análise mais rigorosa e nada romântica, trata-se de um livro racista.
Temos que torcer pela alforria de Isaura. Afinal ela é branca e não negra como as outras escravas e escravos.
A Globo fez uma novela, com Lucélia Santos, com base no romance, que foi grande sucesso até na China.
2.5 “Senhora” (1874)- José de Alencar
Um livro mais rico do que esperava, com fino tratamento psicológico dos personagens. A virada do romance é espetacular.
2.6 “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) - Machado de Assis
Este é um dos livros fundamentais da minha vida, pois o considero o melhor trabalho de Machado de Assis e com temas que são muito caros.
Lido na adolescência, me causou grande impacto, além do prazer de descobrir um autor maior, que hoje é considerado um dos maiores de todos os tempos, num nível universal.
A história de um morto contar sua história já me encantou de cara.
A epígrafe dá o tom do livro, que é bastante agridoce, combinando humor, extrema ironia e drama humano: ”Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, eu dedico estas memórias póstumas”.
Brás Cubas nos narra uma vida de dissipação. Teve muitas mulheres na vida, mas a rigor nenhuma, nunca foi amado. Seu dinheiro é que as seduzia.
Atraia mulheres enquanto tinha dinheiro. Acaba até contabilizando o amor que teve de uma das mulheres em contos de réis.
A derradeira conclusão é inesquecível e expressa até hoje, minha visão quanto ao tema, uma identificação total, ainda que minha vida em nada se pareça com a de Brás Cubas:
“Não tive filho. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.
Nem por um segundo na vida pensei em ter ou adotar filhos. Posso ter grandes frustrações, mas jamais esta.
Júlio Bressane tem seu “Brás Cubas” (1985). Mas aqui temos mais um pretexto para Julio trabalhar seu cinema bastante pessoal e hermético, do que se aproximar com força do trabalho de Machado de Assis.
André Klotzel realizou o muito bom e pouco visto “Memórias Póstumas” (2001) com Reginaldo Farias como o protagonista.
Claro que não é a obra-prima do Cinema que o livro merece, mas é bastante digno e não está distante da essência do livro.
2.7 “O Alienista” (1882) - Machado de Assis
2.8 “Quincas Borba” (1891) - Machado de Assis
Rubião herda a fortuna do milionário Quincas Borba, mas também um cão chamado Quincas Borba como o dono do qual deve cuidar.
O herdeiro ingênuo será envolvido em tramas que o levará à demência.
Romance bastante cruel de Machado de Assis, nos passa a ideia de darwinismo social, onde há a sobrevivência dos mais espertos. Assim vem a frase clássica: Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.".
É uma súmula do que seria o humanitismo que Quincas Borbas quando vivo ensinou a Rubião.
Vale o mantra. Um romance mais do que atualíssimo.
2.9 “Dom Casmurro” (1899) - Machado de Assis
O narrador Bentinho/ Dom Casmurro é um homem bastante ciumento que narra porque expulsou a mulher Capitu, dado que ela o traiu com Escobar. Chega até a ver no filho, a cara de Escobar.
Assim temos um livro que considero com final em aberto: não podemos ter certeza nem que sim, nem que não ( dado o grande ciúme envolvido), se esta traição conjugal realmente aconteceu.
Quando Machado, pela boca de Bentinho, escreve que Capitu tinha “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, isto pode ou não ser verdadeiro.
O crítico Silviano Santiago, dentre outras personalidades, considera o desfecho em aberto. Já o escritor Dalton Trevisan, reza a lenda, disse que não conversa sobre Literatura, com quem não tem certeza de que Capitu realmente traiu Bentinho. O jornalista Paulo Francis tinha esta mesma visão.
2.10 “Esaú e Jacó” (1904)- Machado de Assis
Dois irmãos gêmeos brigam por toda vida, em opiniões e campos opostos. Um era monarquista, outro republicano.
Machado aproveita para dar seu recado de que passar da Monarquia à República foi trocar seis por meia dúzia.
2.11 “Memorial de Ayres” (1908) - Machado de Assis”
Um excelente romance do fim da vida do Mestre do Cosme Velho, mas longe da qualidade suprema dos chamados da maturidade do autor.
Temos as lembranças de uma vida insossa, perpassada por burocracias de vários níveis.
2.12 “Vidas Secas” (1938) - Graciliano Ramos
A vida de retirantes da seca nordestina como nunca mostrada antes.
Pais (Fabiano e Sinhá Vitória), filhos, junto com a cachorra Baleia, estão sempre lutando pela sobrevivência, perambulando de um lado para outro, procurando uma terra fértil pela chuva, mas que tanto pode aparecer e como logo desaparecer.
Trabalho que Fabiano consegue se revela como escravo. O que implica em nova partida.
Graciliano teve muita sorte no Cinema Brasileiro. “Vidas Secas” (1963) de Nelson Pereira dos Santos” é um dos filmes fundadores do Cinema Novo. Além de “São Bernardo” (comentado a seguir) teve “Memórias do Cárcere” (1884) de Nelson Pereira dos Santos como mais um clássico do Cinema Brasileiro.
https://www.youtube.com/watch?v=m5fsDcFOdwQ
Filme Vidas Secas -1963
2.13 “São Bernardo” (1934) - Graciliano Ramos
O livro ganhou adaptação primorosa de Leon Hirszman, “São Bernardo” (1972) com Othon Bastos e Isabel Ribeiro.
A solidão de Paulo Onório, depois que a mulher morre, é brutal e tocante, mesmo tratando-se de um personagem que foi bastante frio e cruel para enriquecer: “A culpa é desta terra agreste que me deu uma alma agreste”.
Nas falas, Leon optou por ser bem fiel às do livro.
2.14 “Infância” (1945) - Graciliano Ramos
2.15 “Angústia” (1936) - Graciliano Ramos
Escrito em 1936 quando estava preso no Estado Novo, governo de Vargas.
Temos um fluxo de consciência de uma pessoa bastante angustiada, com idas e voltas no tempo, que talvez só tenha paralelo com textos de Virginia Woolf.
Como já mencionado, cheguei a cursar Português-Literatura na UERJ, à noite, por um ano e meio, trabalhando como Engenheiro pelo dia e estava insatisfeitíssimo com o curso, pensamento em sair.
É nesta época de vital decisão que tinha de realizar um trabalho sobre “Angústia”. Assim de um livro assim, jamais se esquece.
Graciliano Ramos chegou a ser prefeito de Palmeira dos Índios, Alagoas. A angústia desta experiência também comparece no livro.
2.16 “Grande Sertão: Veredas” (1956 ) - Guimarães Rosa
Posso dizer que não li “Grande Sertão: Veredas”, mas sim que o estudei. O que não significa que em novas leituras não haverá grandes descobertas.
Sempre ficou claro que temos o sertão propriamente dito com seus seres e paisagens, com destinos incontroláveis, errantes e a mesmo tempo um mergulho profundo no sertão-alma humana.
Poesia é mais difícil de ler do que Prosa. Isto talvez explique o porquê poesia vende menos.
E o que dizer de um romance com prosa altamente poética, como este monumento da Literatura Brasileira? Daí vem certa resistência à sua leitura.
Quando nos deparemos com um verso no livro, “E por seu destinozinho de chão, é que árvore abre muitos braços”, um portal se abre diante de nós e nos faz pensar em muitas coisas diferentes, mas correlatas. Uma delas, claro, é a condição humana de modo geral.
O cartunista de “A Pé Ele Vai Longe” (2018) de Gus Vant Sant, preso à sua cadeira de rodas, abre seus braços para as charges mesmo que não sejam nada convencionais e sim bastante politicamente incorretas, havendo os que as amam e outros que odeiam.
“Grande Sertão Veredas” apresenta linguagem colhida por lugares de Minas que Guimarães visitou, mas também tem palavras obtidas por fusão de outras, arcaicas e da pura imaginação.
Mesmo com seu forte lado místico (que nos aproxima de Yung) há aproximações com Lacan, pois “o inconsciente de Riobaldo se mostra estruturado pela linguagem”.
Passando a fazer análise lacaniana por algum tempo, descobri que o hoje bastante estranho M.D.Magno, foi um dos introdutores de Lacan no Brasil, tendo uma tese bastante elogiada sobre “Grande Sertão: Vereda”.
Hoje faço análise junguiana, pois é quem mais dá conta de fenômenos místicos, sendo suas noções de Arquétipos e Inconsciente Coletivo, algo que pra mim, são irrefutáveis.
Guimarães relutou bastante a se tornar membro da Academia Brasileira de Letras, mas adiou o quanto pode o ingresso e depois a posse, pois tinha para si que morreria depois.
Uns dois anos depois de aceito, já instado a tomar posse, consentiu e mais ou menos dois dias depois, teve um enfarte fulminante e morreu, como tinha vaticinado.
É de arrepiar e me lembro de Elis Regina em um do seus últimos shows dizendo: “Agora, sou uma estrela”.
Riobaldo fez um pacto com o Diabo para derrotar o perigoso jagunço Hermógenes, ao mesmo tempo em fica apaixonado pelo jagunço vaqueiro Diadorim.
Riobaldo se apaixonou pelo homem com que Diadorim se impunha ou pela mulher que estava escondida, camuflada?
Esta é uma questão eterna da nossa Literatura, como se Capitu traiu Bentinho ou não.
Hermógenes é morto, mas então o Diabo ouviu o narrador assustado Riobaldo, que se refere a ele por todos os nomes possíveis, como Tinhoso?
Mas de que forma o Diabo veio buscar a alma do jagunço?
O amor por Diadorim era tanto que ela fazia parte dele, um complemento de alma e corpo. Descobriu-se que era uma mulher e ela morre também.
A alma de Riobaldo foi buscada na forma da morte de sua amada.
Claro que é uma visão minha. Outras podem se impor.
No doc “Este Viver Ninguém Me Tira” (2014) de Caco Ciocler, é narrada a saga de Aracy Moebius de Carvalho, mulher de Guimarães Rosa, que trabalhou no consulado na Alemanha e ajudou muitos judeus a emigrarem para o Brasil. Fonte: goo.gl/9ri1JK
Uma hipótese é que para homenagear a mulher Rosa tenha criado uma mulher tão guerreira como os homens em “Grande Sertão Veredas”
2.17 “A Fúria do Corpo” (1981) - João Gilberto Noll
“São dois desocupados. Ele, sem nome, passado ou profissão. Ela, uma prostituta-mendiga. Dois seres que fazem de tudo para manter seu caso de amor. ... “ Fonte: goo.gl/gUZugZ
Uma história de amor e sexo na corda bamba, como poucas vezes se leu.
Estes dois seres só têm um ao outro e dão sentido â vida dando vazão a tudo que a fúria do corpo pode trazer, de forma vertiginosa.
O desfecho em que os dois se banham numa fonte, é um os momentos mais poéticos.
É um romance barroco, dos que puxam a mãos de quem lê do começo ao fim, que se lê ( me permitam o clichê) de forma bastante febril.
Hector Babenco tinha os direitos para levar o filme ao Cinema.
Mas dirigiu o excepcional e muito pouco visto “Ironwed” (1987) onde Jack Nicholson e Meryl Streep compõe dois deserdados do sonho americano que vivem pelas ruas, baseado em romance de William Kennedy.
Assim Bebenco, não se viu mais à vontade para levar “A Fúria do Corpo” ao Cinema. Mas aqui vale mais uma vez a pergunta: por que não vendeu os direitos a outros?
2.18 “As Mulheres de Tijucopapo” (1981) - Marilene Felinto
Um livro bastante elogiado, incluindo Marilena Chauí. Prêmio Jabuti 1982. Fui conferir. Não me marcou.
2.19 “Água Viva” (1973) - Clarice Lispector
Como formado em Engenharia, mas sempre ligado às artes, antes mesmo de estudar como um cão para ingressar no ITA, não esqueço, como se tivesse sido escrito pra mim: “Já aprendi Matemática que é a loucura do raciocínio, mas agora quero o plasma, quero alimentar-me diretamente da placenta”.
O ITA sugou muito meu tempo. Mas em fins de semana ia a São Paulo fazer maratonas de cinema. Ou seja, descansava carregando pedras. Isto para os que me percebiam.Para mim era um grande prazer.
2.20 “A Hora da Estrela” (1977) - Clarice Lispector
Aqui temos um narrador, Rodrigo S. M. bastante inquieto, inseguro, que procura a melhor forma de como contar a história de Macabéa, nordestina que chega ao Rio de Janeiro, desprovida de maiores habilidades cognitivas e práticas para sobreviver, fora a datilografia.
No superpremiado “A Hora da Estrela” (1985), adaptação de Susana Amaral, este personagem narrador não existe e temos a concentração em Marcela Cartaxo (divina como Macabéa, Melhor Atriz no Festiva de Berlim, com Urso de Prata), seu namorado vivido por José Dumont, com uma aparição essencial de uma cartomante interpretada por Fernanda Montenegro.
O crítico Sérgio Augusto cometeu uma das maiores barbaridades que já li: Marcela Cartaxo não estaria representando e sim sendo ela mesmo (sic).
O tempo confirmou a monstruosidade desta afirmação leviana.
Além do Berlim, Marcela foi tida como melhor atriz no Festival de Brasília, onde o filme recebeu todos os prêmios importantes.
E Marcela fez papéis excelentes em “Madame Satã, “A História da Eternidade”, “O Céu de Suely”, “Baixio das Bestas”, “Big Jato”, “Quanto Vale ou e Por Quilo?”, dentre outros.
Nos anos 80 eu estava bastante triste numa noite e passeie pela Feira do Livro na Cinelândia e nenhum livro me estimulou a comprá-lo.
Quando estava indo embora, me afastando, já estando um tanto longe do cine Odeon, quase no Passeio, me veio a ideia: “Por que não, “A Hora da Estrela”?
Voltei e as barracas estavam quase todas fechando e cheguei até uma onde os livros já estavam sendo guardados, com uma pilha onde justamente “A Hora da Estrela” estava à frente. Peguei o livro rapidamente, antes que fosse embora e naquela noite minha tristeza dissipou-se na leitura desta obra-prima.
https://www.youtube.com/watch?v=MBxAMJvSip0
“A Hora da Estrela” de Suzana Amaral - Filme Completo
2.21 “A Paixão Segundo G.H.” (1964) - Clarice Lispector.
Uma empregada arruma um quarto. A dona da casa vê nele depois uma barata na saída de um armário. Acertando no animal, este fica se debatendo. A partir desde fato corriqueiro passamos a ter uma longuíssima e maravilhosa epifania, num dos mais impressionantes livros que li.
Mas do que ler, eu o saboreie.
2.22 “Amar, Verbo Intransitivo” (1927) - Mário de Andrade
Gerou o filme “Lição de Amor” de Eduardo Escorel ( 1975 lde figurino clássico, sem experimentações formais como as do romance. Mas a essência do livro comparece: uma família burguesa contrata uma professora. Mas isto é um pretexto para que ela inicie o jovem filho na sexualidade, sem que ele tenha que se “manchar” com prostíbulos e afins.
Com Lílian Lemmertz como a professora, tem-se um dos grandes trabalhos de atriz no cinema brasileiro, numa daquelas adequações que nos dão a impressão de que só ela poderia enfrentar este personagem, como Regina Casé em “Que Horas la Volta”, “Isabel Ribeiro” em “São Bernardo, “Anecy Rocha em “A Lira do Delírio, dentre outros.
O filme é um clássico do Cinema Brasileiro.
https://www.youtube.com/watch?v=cwshvDVYDBs
“Lição de Amor” - Filme Completo
2.23 “Macunaíma – O Herói Sem Nenhum Caráter” (1928) - Mário de Andrade
Este clássico de Mário de Andrade que gerou tanto um espetáculo extraordinário de Antunes Filho, viajou também muito bem ao Cinema num filme de Joaquim Pedro de Andrade, onde Grande Otelo parece ter nascido para fazer este personagem.
Macunaíma traz enquanto “herói sem nenhum caráter,”, tanto um elogio ao brasileiro que mata um leão por dia para sobreviver e para isto se valendo, na defensiva de algumas espertezas e repulsa à aqueles que não tem caráter mesmo propriamente dito.
A questão da ausência de caráter remete também à grande miscigenação do povo brasileiro, onde comparecem o negro, o português, o índio e os imigrantes dos mais variados cantos do planeta.
Como atribuir a estes seres resultados de tudo isto, um caráter bem especificado?
Enfim em “Macunaíma” (o livro, a peça e o filme, por mais que sejam esteticamente bem diversos ) temos o elogio do brasileiro em suas grandezas, como também a decepção com suas grandes fraquezas.
Estes três clássicos da cultura brasileira, me ensinaram a ser mais tolerante com o povo brasileiro, ainda que como nestas obras não há a menor piedade e comiseração.
Mesmo assim me deparo sempre com sentimentos ambíguos com que é esta civilização brasileira, sendo que em muitos momentos me sinto um exilado em meu próprio país, principalmente quando a barra pesa mais por ser homossexual num país hegemonicamente homofóbico, machista, racista, principalmente nesta fase de retrocessos que se avizinha com o governo que começou neste primeiro de janeiro de 2009.
https://www.youtube.com/watch?v=XoyYFumkOqU
Macunaíma (1969) – Joaquim Pedro de Andrade- Filme Completo
2.24 “O Sétimo Punhal” (1995) - Victor Giúdice
2.25 “A Polaquinha” (1985) - Dalton Trevisan
2.26 Em Nome do Desejo” (1983) - João Silvério Trevisan
(Este livro conta a história de amor entre os jovens seminaristas Abel e Tiquinho. Após trinta anos, um homem retorna ao seminário onde estudou, transformado em orfanato, e mergulha em suas recordações. Principalmente na vivência de seu primeiro amor, do tempo em que era conhecido apenas por Tiquinho)
Fonte- goo.gl/XYPYxs
Em “Em Nome do Desejo” com a repressão social no seminário, bem como as internas, temos uma história de forte desejo e amor que não prospera, resvalando para a traição.
Tudo narrado com fervor e poesia, com sagrado e profano se confundindo.
2.27 “A Serviço del-Rey” (1984- Autran Dourado.
Autran Dourado inspirou-se nos tempos em que teve um cargo público no governo de Juscelino.
2.28 “Um Artista Aprendiz” (1989) - Autran Dourado
2.29 “O Equilibrista do Arame Farpado” (1996) - Flávio Moreira da Costa.
É uma muito bem-sucedida experimentação de vários gêneros e procedimentos literários, que trouxe ao autor prêmios importantes, como da Biblioteca Nacional, da União Brasileira de Escritores.
Outros romances e livros de contos de Flávio foram também bastante premiados.
Assisti algumas aulas de um curso de criação literária com Flávio Moreira da Costa, nos anos 90, no Estação das Letras, criado por Suzana Vargas.
Depois que eu saí, o curso logo acabou, pois colegas, ao contrário de mim, quase não traziam trabalhos para ser discutidos
.
Houve falta de empatia com Flávio, apesar de sua oficina em casa de mais de 20 anos. Empatia, que tinha de sobra no curso em paralelo que fazia com Victor Giúdica, onde ficaria por anos, se ele não tivesse morrido, conforme já escrevi.
Flávio sugeria que eu lesse João Cabral de Melo Neto, para treinar sínteses.Só que eu já havia lido o poeta, com também tinha muitas vezes caudalosos poemas de Fernando Pessoa/heterônimos, como leitura mais do que favoritas.
Como aprendizado de síntese de linguagem, há tempos leio excelentes cronistas de O Globo, como José Eduardo Agualusa, Fernando Gabeira, Cora Rónai, Elio Gaspari, Ana Maria Machado, Rosiska Darcy de Oliveira, Arnaldo Block, Joaquim Ferreira do Santos, dentre outros, por ter espaço de linhas já estabelecido, para expor suas ideias.
Mas a pá de cal mesmo para eu sair do curso foi uma situação de preso por ter cão, preso por não ter cão.
Muitos contos meus, dentre outros temas, trata de questões relativas à homossexualidade. Assim eu era aconselhado a que determinado conto em que narro em primeira pessoa, estaria contaminando o conto com minha personalidade e deveria ser passado para terceira pessoa.
Já outros, narrado em terceira pessoa, eu estaria me escondendo e deveria ir para levar para primeira pessoa.
Isto passou a ser muito frequente e não podia mais levar a sério. Homofobia?
Havia inclusive um conto que se fosse passado à terceira pessoa, perderia todo sentido.
Um e outro conto curto, onde não havia questões da homossexualidade, eram razoavelmente bem recebidos. Mas ficavam dúvidas? Homofobia? Não teria muito trabalho para ler em casa, no caso de contos longos?
O que aprendi mesmo com ele é detectar tudo que houver de politicamente correto ou que soe a autoajuda. E, claro, o que sempre soube: que escrever é reescrever, reescrever, reescrever....
Algo que é um calcanhar de Aquiles meu. Depois de certo nível de reescritas, sou movido mais pela vontade de escrever novas histórias.
Tenho histórias já escritas em que lembro do argumento, mas não me não mais do desenvolvimento, muito menos como termina. Gosto de saber disto, porque até eu vou me surpreender.
2.30 “Estorvo” (1991) - Chico Buarque
Muito atrativo formalmente, mas hermético no conteúdo, se é que conseguimos separar.
2.31 “Um Copo de Cólera” (1978) – Raduan Nassar
Um livro que se lê com perplexidade sobre um casal cuja relação vai se deteriorando, como insetos corroendo paredes.
https://www.youtube.com/watch?v=fINEXvW1bLQ
Um Copo de Cólera – Filme Completo
2.32 “Lavoura Arcaica” (1975)- Raduan Nassar
Não é exagero. Só com “Um Copo de Cólera” e principalmente “Lavoura Arcaica”, Raduan Nassar já mereceu conquistar o status de grande escritor que o Brasil tem.
Escreveu alguns poucos contos escritos durante anos que foram reunidos, formando seu terceiro livro.
Dedicou-se à vida do campo, vivendo numa fazenda em sua cidade natal Pindorama. Mais tarde mudou-se para Buri e acabou doando em 2010 sua fazenda para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O filme que Luiz Fernando Carvalho realizou em 2001, com base no romance, é um clássico instantâneo do Cinema Brasileiro, com bastante criatividade visual, lindíssima fotografia, trabalho impecável dos atores ( principalmente Selton Mello como a ovelha negra da família ) e momentos em que o texto de Raduan Nassar surge com mais clareza, principalmente quando o pai se dirige a todos, ocupando o lugar mais nobre da mesa, discursando justamente sobre a força de uma família.
Luiz Fernando hoje se dedica a novelas e séries onde imprime suas marcas bastante pessoais.
Seria interessante que em intervalos voltasse ao Cinema. Poderia também condensar trabalhos feitos para tevê para ser exibidos no Cinema, mesmo que resultem num filme com 4 horas, que com certo intervalo, vai encantar muita gente.
https://www.youtube.com/watch?v=FnibQvMlq-I
Filme Lavoura Arcaica- Filme Completo
2.33 “O Encontro Marcado” (1956)- Fernando Sabino.
Retrato de uma geração que no fundo é a de todas, pois são inevitáveis ilusões perdidas da juventude à nervura do real, como diz Marilena Chauí, da vida adulta.
Estrangeiros
2.34 “O Velho e o Mar” (1952) - Ernest Hemingway.
Um dos mais belos e influente livros que li na vida, sem nenhum favor.
A dignidade do velho pescador é emocionante, inquebrantável.
Depois de dias e dias de tentativas, somando 85 dias, de pescar peixes significativos, ele perde um enorme que finalmente pescado, foi destroçado por tubarões.
A postura e os sentimentos do velho são hoje difíceis de entender e incorporar, em tempos tão cínicos, pois já não entendem. É com se falássemos sânscrito ou aramaico.
Depois grande decepção o velho voltou e não se curvou aos que tentavam lhe humilhar sempre como um azarão.
Neste tempo em que pescava sozinho só contou com a solidariedade de um garoto que levava comida para ele.
Lembro-me de algo deste teor: “Agora não é hora de lamentar o que aconteceu, mas lembrar do que você pode fazer do que aconteceu”
Isto ecoa Jean-Paul Sartre, de uma forma mais sofisticada: “Agora não é hora de lamentar o que fizeram de você, mas sim de saber o que você pode fazer do que fizeram com você”.
O livro também me impressionou pelo fato de uma novela poder trazer um universo tão amplo. Pensava que isto fosse exclusividade de romances
.
Fiquei tão apaixonado pelo livro que antes de devolver à ampla Biblioteca Municipal, copiei alguns trechos.
Foi uma indicação de um amigo de adolescência e fui em busca de outros livros do autor.
Quando soube que Hemingway, já Prêmio Nobel de Literatura, morando em Cuba, se suicidou, provavelmente por crise criativa, fiquei tremendamente chocado, como se tivesse perdido alguém da família.
Isto de certa forma travou meus impulsos de escrever, que só voltaram anos depois.
Há uma adaptação do livro ao cinema: “O Velho e o Mar” (1958) de John Sturges, Fred Zinnemann, com Spencer Tracy como o pescador.
2.35 “O Sol Também se Levanta” (1926) - Ernest Hemingway
Temos um grupo de escritores em Paris que se reúnem em bares com momentos de hedonismo e dissipação, mas com muitas trocas.
Um deles ficou impotente depois da guerra, se envolve com uma mulher e tem que lidar com esta limitação.
O livro tanto aplacava minha grande solidão intelectual em Mogi das Cruzes (da grande São Paulo), como a desnudava, dado que tinha só um amigo, mas nem tanto, com quem conversava sobre livros.
Junto a mim me tratava de um jeito, junto a outras pessoas se juntava no bullying.
Mas passamos muitos bons momentos, principalmente quando íamos para São Paulo copiar documentos antigos no Arquivo do Estado de São Paulo, para um professor de História. Uma fase maravilhosa da minha vida, quando pude conhecer bastante a cidade, com concentração no Centro, Paulista, Augusta, Brigadeiro Luiz Antônio, Praça da Sé, Brás (aonde pegava o trem de volta para Mogi das Cruzes), Pamplona, dentre outras.
Esse amigo dúbio foi quem me apresentou a Hemingway. Sou-lhe eternamente grato.
O procurei anos depois, já formado e ele que escrevia belos poemas e que leu até o calhamaço “A Montanha Mágica” de Thomas Mann estava preso à sua mulher nipônica, um filho pequeno e trabalhando num turno menor da Aços Anhanguera, pois esta indústria estava em crise econômica.
Isto tudo me deixou bastante triste pois além do grande talento desperdiçado, sempre senti nele um homossexual que não desabrochava e dever ter se casado para dar satisfações a outros e tentar esconder de si mesmo o que sente.
Desnecessário escrever que foi uma paixão minha. Mas não era platônica. Soava assim porque ele era esquivo, mas eu estava disposto ao mais belo e prazeroso.
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O choque em vê-lo nestas condições inspirou-me a escrever um conto com mentiras da ficção e ainda com influências de “Viagem aos Seios de Duília” de Aníbal Machado, já comentado.
Há um conto menor onde estas circunstâncias são apresentadas, mas o mais importante do conto são outros elementos, como a ligação tortuosa com meu pai.
O livro gerou “E Agora Brilha o Sol” (1957- “The Sun Also Rises) – de Henry King
2.36 “Por quem os Sinos Dobram?” (1940) - Ernest Hemingway
Hemingway foi lutar na Espanha contra o regime em ascensão de Franco. O romance tem fortes elementos autobiográficos.
Tudo e ainda mais o desfecho me impressionou bastante. Nunca tinha lido algo assim: o combatente está encurralado para ser pego e assassinado por franquistas. Temos só a angústia dele, não é consumada esta morte diante de nós, o livro termina antes.
Assim o livro potencializa os efeitos e a dor desta morte, muito mais o que se tivesse a explicitada.
Foi a primeira vez que li a epigrafe bastante conhecida que vem de John Donne: “Não me perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti”.
O livro me trouxe muito prazer, mas também dor.
Hemingway teve uma vida de muitas aventuras pelo mundo. Assim como eu poderia me atrever a escrever, se tinha só minha vidinha em Mogi das Cruzes?
Quando conheci minha primeira obra de Ingmar Bergman, “A Paixão de Ana” (1969), algo que já sabia, veio com muita força: poderia escrever sobre as aventuras dos mergulhos nas almas humanas.
Isto já me era claro com outras obras, da Literatura ou do Cinema, mas Bergman me mostrou este caminho com mais profundidade e clareza.
E claro, mesmo não sendo um Indiana Jones/Heminguay, tenho minhas aventuras pela vida afora, passíveis de inspirar histórias.
2.37 “O Conformista” (1951) - Alberto Moravia.
Quando jovem a biblioteca de Mogi das Cruze era enorme e em cima do fantástico, gigante e mítico cinema de rua Urupema.
Preciso dizer que hoje, 2018, nada mais disto existe?
Havia os livros que tinha que ler por obrigação, mas outros buscava na Biblioteca, por puro prazer.
Com a imensidão de livros, ficava aturdido sobre qual escolher.
Passava a ler então revistas como O Cruzeiro para acompanhar trabalhos geniais de Millôr Fernandes e de Péricles com seu imortal “O Amigo da Onça”.
Havia ainda Carlos Estevão com seu genial “As Aparências Enganam”. Num quadro, com contornos negros víamos uma mulher perseguida por tarados. Mas na realidade o que se tinha era uma corrida com ovo na colher, em que uma mulher estava à frente.
Um dia deparei-me com “O Conformista” e me veio logo um insight: era este livro que devia e precisava ler.
Na juventude um jovem é seduzido/ atacado por um motorista de táxi e o mata.
Passa a sua vida como oficial do governo fascista de Mussolini, ansiando por se considerar uma pessoa normal, mesmo tendo uma morte nas costas, da qual o mundo não sabe.
Mas recebe uma missão: matar um professor que teve, hoje um antifascista, se aproximando da família de quem deve matar.
As consequências serão brutais, mas o passado dá suas caras.
O que me ficou com força do livro é que a rejeição da própria sexualidade pode levar a uma vida de vegetal, conformista e manipulável por poderes malignos. Se não lidamos bem com nossos impulsos que vem de dentro, podemos acabar sendo dominados.
Assim foi um dos livros fundamentais para procurar quebrar a casa de ovo e vivenciar o que realmente sou.
Um dos clássicos de Bernardo Bertolucci é justamente a adaptação “O Conformista” (1970).
2.38 “Notas do Subterrâneo” (1964)- Fiódor Dostoiévski.
2.39 “Noites Brancas” (1948)- Fiódor Dostoiévski
Dois seres bastante solitários se encontram em noites brancas russas (noite que só escurecerá bem mais tarde), numa passarela e uma centelha de amor começa a crescer cada vez mais.
O desfecho é inesquecível: “Será que uma noite é suficiente para preencher toda uma vida?”
Luchino Visconti adaptou o livro ao cinema tendo Marcello Mastroianni e Maria Schell como protagonistas, recebendo no Brasil o título “Um Rosto na Noite (1957), numa daquelas bobagens que muitos “tradutores” ainda fazem no Brasil de 2019.
2.40 “Crime e Castigo” (1866)- Fiódor Dostoiévski
Raskólnikov é um jovem estudante e precisa de dinheiro para crescer na vida como deseja.
Divide o mundo em pessoas ordinárias e extraordinárias. Para ele uma velha agiota seria meramente ordinária, ao contrário de um Alexandre, o Grande, uma pessoa imensa, que sim merece viver.
Nesta sua loucura ariana acaba matando a velha senhora. A irmã desta aparece subitamente e acaba matando-a também.
Num livro caudaloso a parte relativa ao crime é pequena. O que mais vai importar é o castigo, que virá principalmente da consciência atormentada de Raskólnikov.
Nesta grande trajetória de culpa ele vai encontrar Sônia que terá bastante importância na sua vida, até que uma forma de redenção surja ou não.
“Crime e Castigo” é mais um livro que se lê em estado febril. Mas numa maior intensidade. Começa-se e ficamos possuídos até terminar.
No meu caso estava de férias e pude me dedicar com afinco à sua leitura.
Foi numa aula-palestra de Domingos de Oliveira, no Parque Lage, na primeira metade dos anos 80, que ele, dispondo-se a fazer só depoimentos pessoais ( era o que sabia fazer e isto se reflete em seu Cinema e Teatro), que ouvi que Dostoiévski representa um grande salto na consciência da humanidade, aumentando minha vontade de conhecer suas obras.
Não por acaso, Dostoiévski foi um dos autores que Freud estudou e Friedrich Nietzsche disse que o excepcional escritor era o único psicólogo que lhe ensinara alguma coisa.
Grande exagero e pretensão de Nietzsche. Mas isto ressalta a grande importância de Dostoiévski na História da Literatura, como no pensamento humano.
Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski - Episódio 1 - BBC 2002 - Legendado PT
Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski - Episódio 2 - BBC 2002 - Legendado PT
2.41 “Os Irmãos Karamazov” (1881) - Fiódor Dostoiévski
Aqui tudo se passa como se Dostoiévski trouxesse vários elementos para não se acreditar em Deus, mas depois nos “puxasse” o tapete, como que enfatizando que tudo que lemos não é suficiente para descartarmos a existência de Deus.
Dostoiévski não fecha questões. Fica, como é hábito nos grandes autores, a conclusão por conta do leitor, ou até mesmo a aceitação do enigma.
Dado este e outros temas relevantes, como um parricídio, ainda hoje candentes, temos a Literatura de Dostoiévski sempre atual e pujante. Tudo isto sem contar que é um grande contador de história que fisga o leitor com os acontecimentos narrados.
Uma das partes mais comentadas de “Os Irmãos Karamazov” é “O Santo Inquisidor”, onde um homem opera milagres (Seria uma aparição de Jesus, realmente? ) e é preso por ameaçar o poder da Igreja, que planeja leva-lo à fogueira da inquisição, tida como santa.
O grande inquisidor chega a dizer que segue o Diabo pois as três propostas feitas a Jesus no deserto, ajudariam na qualidade de vida da humanidade, como o caso de transformar terra em pão, sem que se anseie pelo que pode vir depois da morte, no céu.
O inquirido permanece calado o tempo todo e o inquisidor diz que tudo o que relatou seu povo não saberá e somente a morte pela fogueira.
Aqui temos mais caso em que nossa fé é abalada, mas o romance não para por aqui, claro.
“O Grande Inquisidor” de Dostoiévski Legendado By Socram
(O filme tem um pequeno trecho sem som, imagens não bem definidas, mas vale muito a pena assistir, pois o texto está muito bem dramatizado)
Tanto “Crime e Castigo” como “Os Irmãos Karamazov” são leituras incontornáveis para os amantes de Literatura.
Para ficarmos só na Literatura de ficção, foi através das obras de Dostoiévski que li, passando por muita coisa de Herman Hesse, chegando a “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa, que saí do total niilismo vindo desde Machado de Assise, que cheguei ao deísmo, mesma seja ainda problemático e nada cristão.
Aliás, Dostoiévski pode ser tido como um cristão torturado, como veremos num ensaio mais adiante.
Uma versão de “Os Irmãos Karamazóv para o cinema, bastante conhecida, é a de Richard Brooks (1958).
2.42 “A Metamorfose” (1915) - Franz Kafka -Tradução de Modesto Carone.
Sofrendo tanto bullyng na vida por ser homossexual não é difícil me colocar na situação do protagonista Gregor Samsa : “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama, metamorfoseado num inseto monstruoso”.
Não é difícil enxergar no pai, mãe e irmã de Samsa como nossa própria família, que vai da tentativa de compreensão, até jogar maçãs no monstrengo que surgiu.
Tudo é narrado, como de hábito, de forma fria, distanciada por Kafka, o que potencializa nossos aturdimentos, não só aqui como em outras obras.
2.43 “Laranja Mecânica” (1962) - Anthony Burgess (Tradução- Nelson Dantas)
Como filme adaptado por Stanley Kubrick (1971), esta obra causou um impacto mundial que o livro de modo algum alcança, que Burgess jamais imaginava.
Uma vez visto o filme e ler o livro depois, não se consegue imaginar os personagens que não sejam do universo criado por Kubrick.
Burgess não gostou do final do filme. Já para mim é perfeito, independentemente do desfecho do livro.
2.44 “O Inverno da Nossa Desesperança” (1961) - John Steinbeck
Há muitos detalhes de que não lembro, mas há um fulcro inesquecível.
Um filho trabalha no comércio com o pai. Ele vence um concurso literário que traz muita alegria ao pai.
Mas não demorarão a descobrir que o filho fez um descarado plágio de outro trabalho.
As relações estremecidas revelam que o filho aprendia mesmo com o que o pai realmente fazia e não com o que dizia.
Num tempo de tantas falsas promessas, que na prática vão mostrar suas verdadeiras faces, os que apoiam impostores não vão incorporar virtudes e sim as falsidades.
Se bem que vivemos num tempo tal que promessas feitas é melhor mesmo que não sejam cumpridas, de tão terríveis que são. Lembrou-se de Trump e Bolsonaro? Bidu.
2.45 “Demian”(1917 )- Herman Hesse
2.46 “Sidharta” (1922)- Herman Hesse
Hesse travou contato com a espiritualidade oriental a partir de uma viagem à Índia em 1911 e com a psicologia analítica por meio de um discípulo de Carl Gustav Jung, em decorrência de uma crise emocional causada pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. Estas duas influências seriam decisivas no posterior desenvolvimento da sua obra. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hermann_Hesse
2.47 “O Lobo da Estepe” (1927)- Herman Hesse
2.48“Narciso e Goldmund” (1930) - Herman Hesse
2.49 “O Jogo das Contas de Vidro” (1943) - Herman Hesse
Dois grandes amigos acabam seguindo direções completamente opostas na vida. Enquanto um passou a se dedicar a um comércio, o outro se isolou num mosteiro onde estudava o Jogo de Avelórios, o Jogo das Contas de Vidro.
Conforme os anos passam ele se desenvolve cada vez mais no jogo. Até que um dia o mosteiro onde se isolara dos problemas do mundo, acaba tendo sérios revezes econômicos e ele tem de procurar outro lugar para viver, tendo agora de trabalhar.
Nesta saída em busca de novos caminhos, ele reencontra o amigo e ambos se consideram fracassados na vida. Um abandonou o cuidado com questões materiais necessárias da vida e o outro não desenvolveu nada de ordem espiritual que lhe aplacasse as angústias da alma.
Esta obra me marcou muito porque esta tentativa de equilíbrio entre materialismo e espiritualidade sempre me acompanhou.
Quando o Buda de “O Pequeno Buda” (1993) de Bernardo Bertolucci abandona uma vida de grande fausto, riqueza e passa a viver quase que como mendigo, ele encontra um barqueiro que diz algo muito importante para ele ( e para nós também, presumo): “ Quando as cordas de um instrumento estão frágeis o som sai horrível, enquanto quando estica-se demais, elas quebram”.
Isto ecoa e corrobora as conclusões de Herman Hesse que é seu melhor romance, dentre os que li. Sua obra-prima.
O poético jogo das contas de vidro de Hesse tem similitude com o jogo de búzios no candomblé.
Curiosamente nesta religião sou filho de Oxaguian (Oxalá velho) e os extremos realmente me fazem mal, uma característica forte deste orixá.
Um xamã pediu-me para trazer um pratinho, água, uma caixa de fósforos e algodão.
Jogou água no algodão e ele se desmanchou todo. Acendeu um fósforo, jogou nele e rápido evaporou-se.
Esta é a característica de meu orixá: o mal dos extremos.
Claro que nem sempre consigo agir com equilíbrio, mas uma vez lidando com situações extremas, demoro um tanto para me recompor.
2.50 “A Cidade e o Pilar” (1948) - Gore Vidal – Rocco (1989)
Os preconceitos sofridos nem sempre são escolas de virtude.
Em essência, há meios com homossexuais americanos nos anos 40, com muitas hipocrisias, crueldades, cinismos etc, que não mudaram ao se pensar no Brasil 2019.
Eu, particularmente, sempre fugi destes ardilosos homossexuais que sacrificam os menos aptos a estes jogos sociais, algo que me lembra, guardadas as devidas proporções, “A Regra do Jogo”( 1939) de Jean Renoir.
2.51“Juliano” - Gore Vidal (1925) - Rocco (1962/1964)
A história de Juliano nos é contada por uma troca de cartas entre dois filósofos, um corajoso, o outro com bastante medo do que fazem, dado que se falar de Juliano se tornou um tabu.
Juliano já morreu e o Cristianismo se tornou triunfante.
(Nascimento: maio ou junho de 332, Constantinopla, Império Romano- Morte: 26 de junho de 363 (31 anos)
Juliano sabia que estava destinado a ser imperador, desde jovem, mas era, secretamente, praticante de cultos pagãos (politeísmos). Ao ser coroado procura tornar o paganismo tão válido quanto o cristianismo. Mas claro que isto não conseguirá isto sem lutas.
Este ideal de Juliano sempre me remeteu aos cultos afros no Brasil, tal como o candomblé, onde através de uma cultura oral se cultua os orixás, que são forças da natureza.
Nesta época em evangélicos fanáticos perseguem, destroem casas de santo, expulsam pessoas e até mesmo as matam pelos seus cultos afros, o espírito guerreiro de Juliano contra este estado de coisas se faz bastante necessário, pois uma diferença fundamental entre o candomblé e o cristianismo é que nele não se aceita passivamente o “Se bateres numa face, ofereça a outra”.
Os orixás guerreiros como Ogum e Oxóssi confirmam isto.
Um dos vídeos mais assustadores e tristes que já vi e os delinquentes, fora de quadro, colocaram nas redes sociais, se tratava de, com uma arma, obrigar uma mãe de santo a destruir fundamentos de sua casa, das suas mais diversas formas.
Terreiros são também incendiados e o que se perde não há dinheiro algum que recupere. É a memória, a história, os fundamentos que são destruídos e irrecuperáveis. A casa passa a não ter mais chão.
Campo Grande-RJ já teve muitos candomblés. Soube de quem tem família lá, que agora só se tem igrejas evangélicas, o que mostra que algo muito ruim anda acontecendo.
Um dos imperativos que fez Gore Vidal se interessar bastante pela Roma antiga, acredito eu, é que com o avanço do cristianismo de forma hegemônica, a homossexualidade passou a ser cada vez mais proscrita.
2.52 “Um Momento de Louros Verdes” (1986) - Gore Vidal
2.53 “Giovanni” (1967) de James Baldwin
É uma daquelas belas histórias de amor e desejo, com muito para ir adiante, mas que se esvai por forças repressivas interiores e exteriores.
Baldwin voltou a ser bastante prestigiado com o contundente documentário “Eu Não Sou Negro” (2016) de Raoul Peck.
E temos agora em 2018 “Se a Rua Beale Falasse” de Barry Jenkins, baseado em obra de Baldwin.
2.54 “Cem Anos de Solidão” (1967) de Gabriel Garcia Márquez Lido na Tradução de Eliane Zagury- Sabiá
Quando era estudante de Engenharia do ITA tinha muitas listas de exercícios por fazer e provas nos rondando. Mas quando comecei a ler “Cem Anos de Solidão” não parei mais.
Quando estava lá pela página 50 por exemplo, já não sabia que posição determinado personagem tinha na árvore genealógica, mas fui até o fim sem perder o grande encantamento.
Fiquei aliviado, quando a tradutora Eliane Zagury escreveu que uma das grandes inovações do romance está em que um personagem passa a ser continuação do outro, não havendo necessidade de árvore genealógica à parte nenhuma, pois se houvesse, acrescento eu, seria um mal romance, dado que o texto tem que falar por si e não com vide bula.
Cheguei a ver um pocketbook do livro em tradução para o inglês, onde havia de início, a árvore genealógica. Pensei ser coisa apenas para americanos, mas me espantei quando vi que a última tradução do romance para o português feita pelo experimentado tradutor e escritor Eric Nepomuceno, traz a malfadada árvore.
No boom do chamado realismo mágico, Billie August (grande cineasta dinamarquês ligado bastante à Suécia, que ganhou duas vezes a Palma de Ouro em Cannes, com as obras-primas “Pelle, o Conquistador”(1987) e “As Melhores Intenções”(1992) ) foi chamado para dirigir o best-seller de Isabel Allende “A Casa dos Espíritos”(1993).
Mesmo com grandes atores como Meryl Streep, Jeromy Irons, o resultado foi um grande fiasco. O material a ser filmado seria mesmo muito difícil para um diretor escandinavo entender.
Já Gore Vidal lançou mais uma de suas boutades, a propósito de “Cem Anos de Solidão”, declarando que quando leu que havia quem levitasse, pensou: “Isto é “A Noviça Voadora”. E fechou o livro.
Pelo menos Billie August deu mais chances ao nosso realismo mágico que pode mesmo, para certas mentalidades soar ininteligível mesmo.
Uma criança faminta de “Cem Anos de Solidão” comendo reboco de parede, pode não ser mágico, mas dura realidade da América Latina, num desespero feroz em relação à fome.
Mas claro que estes dois romances ( de Isabel e de Márquez) foram sucessos mundiais. Não estamos tão sós assim. Muita gente entende a história da criança e o reboco em Cem Anos de Solidão”, por exemplo.
Spoilers
As palavras finais de “Cem Anos....” são inesquecíveis. “As famílias condenadas a cem anos de solidão, não terão outra chance pela Terra”.
2.55 “Ninguém Escreve ao Coronel” (1967) -Gabriel Garcia Márquez
Um coronel reformado aguarda a chegada do dinheiro de sua aposentadoria, num clima que nos remete a “Esperando Godot” de Samuel Beckett.
Vive numa gangorra emocional da decepção, das esperanças renovadas, até decepcionar-se novamente e votar a resistir, num ciclo infernal.
Tendo ainda que cuidar da mulher asmática, ele procura ganhar dinheiro em rinhas com seu galo, que pertenceu ao filho que faleceu.
Poucas vezes uma tristeza especial da América Latina nos foi mostrada de forma tão dolorosa.
O grande cineasta mexicano Arturo Ripstein realizou uma extraordinária adaptação para o cinema, “Ninguém Escreve ao Coronel” (1999) com Fernando Luján e Marisa Paredes.
2.56 “A Morte de Ivan Ilitch”- (1880)- Liev Tolstói
Uma obra bastante cruel sobre a visão de um juiz sobre vida e morte, estando bastante doente.
“Nas palavras do crítico Otto Maria Carpeaux: "A Morte de Ivan Ilitch é uma das obras mais comoventes e mais pungentes da literatura universal, talvez a obra-prima de Tolstói".
O escritor russo Vladimir Nabokov considerava-a uma das obras máximas da Literatura Russa.”- Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Morte_de_Ivan_Ilitch
2.57“A Máquina Fantástica” ( “A Invenção de Morel”- 1940)- Bioy Casares
2.58 “O Coração das Trevas” (1889) - Joseph Conrad
“O horror, o horror” do fim da novela ecoa até hoje, cada vez mais forte. Basta lembrar, para ficarmos num só exemplo, a imagem do garoto morto na praia, numa fuga de refugiados muito mal sucedida.
O livro serviu de inspiração para Francis Ford Coppola realizar um do seus filmes mais celebrados e certamente o mais atordoante ( ainda mais do que os sobre a família mafiosa Corleone), que é “Apocalypse Now” (1979).
Recomendo a todos que assistam a versão do diretor Redux, que é a anterior ampliada, pois o contexto histórico ficará mais claro, mostrando o papel de franceses.
2.59 “Lord Jim” (1899) - Joseph Conrad
2.60 “A Insustentável Leveza do Ser” (1984) – Milan Kundera
Poucas vezes um encontro entre Literatura e Filosofia foi tão bem-sucedido.
Num carnaval, larguei a folia de lado e mergulhou no romance minuciosamente.
Dentre vários temas temos a dor de um homem impedido de exercer a profissão que mais ama, no caso a Medicina.
Kundera tem um horror tão grande em relação à invasão e dissolução da Tchecoslováquia pela invasão dos tanques russos, o que gerou o fim do sonhos da Primavera de Praga, que fica reticente em relação a Dostoiévski, porque este representaria, ao seu modo, a impulsividade da alma russa.
A adaptação ao Cinema realizada por Philip Kaufman em 1979 é primorosa e uma oportunidade de ver dois dos melhores atores deste universo trabalhando juntos: Daniel Day-Lewis e Juliette Binoche.
2..61 “Aura” (1962) - Carlos Fuentes
2.62 “O Amante” (1984) - Marguerite Duras
De cunho autobiográfico, o grande sucesso de vendas da autora, foi levado ao Cinema pelo polivalente Jean-Jacques Arnauld em 1992, grande sucesso também
Pelos 70 anos, Marguerite conta sua história, quando jovem francesa que aos 15 anos passou a ter uma forte relação amorosa com um homem bem mais velho e rico de Saigon. Isto impactou bastante a vida da autora, bem como sua obra.
Tanto o livro quanto o filme têm um refinamento tal de modo a conciliar aspectos que agradem leitores/públicos mais amplos e outros mais exigentes.
Assisti alguns filmes de Marguerite Duras numa mostra na Caixa Cultural-RJ.
Não me entusiasmaram. Me soaram, numa primeira visão, excessivamente literários.
2..63 - “1984” (1949) - George Orwell
O que dizer desta distopia, onde há o Grande Irmão que controla tudo, todos e às pessoas vai ser concedido o momento de ódio de cada um, em todos os dias, para que tudo continue na mesma?
A crítica a “!984” que se pode fazer hoje é que a distopia que vivemos, pelo gume afiado do mundo digital, tem aspectos bem danosos que podem ser multiplicados mais facilmente.
Orwell nos apresenta em seu doloroso clássico a “novilíngua”, onde afirmações que negam a si mesmas, passam a ser tidas como verdade.
Num certo nível o autor já antecipava a guerra de narrativas, as fake News, que foram capazes de ajudar a eleger um Trump e no Brasil um Bolsonaro, onde não se sabia que facção política detinha maior poder de espalhar nas redes sociais informações falsas para prejudicar a candidatura de outra
.
Winston Smith é funcionário público que tem como função reescrever a História de forma positiva ao poder vigente, mas ao apaixonar-se por Júlia, quebra um tabu e passa a ser tido como um subversivo.
A mais famosa adaptação ao cinema é “!984” (1984) de Michael Radford, como John Hurt como Winston. Não a encontrei completa no Youtube, mas outra.
Aqui temos a visão de Michael Anderson em 1956, com Edmond O'Brien como Winston.
“1984” de George Orwell - Filme de 1956
2.64 “A Revolução dos Bichos” (1945) – George Orwell
Animais se revoltam contra o dono da fazenda e criam uma nova sociedade com a ambição de viver num regime democrático, mas os porcos se acham mais inteligentes, então.....
Seja qual for o regime político tem sido inescapável a tônica dominante: “Todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que os outros.
Houve uma adaptação ao cinema, em animação, por John Halas, Joy Batchelor em 1954.
2.65 “Admirável Mundo Novo” (1932)– Aldous Huxley
Nesta distopia de Huxley comenta-se até os efeitos de criações genéticas, algo com muitas implicações éticas que a ciência hoje já tem que se ocupar.
2.66 “O Exorcista” (1971) - William Peter Blatty
Deixando as cenas escatológicas do filme para ser imaginadas, o livro mostra-se muito bem estruturado. Vale por si, independentemente do grande sucesso do filme.
2.67 “Os Insaciáveis” (1961) - Harold Robbins ( tradução de Nelson Rodrigues)
Quem da minha geração não leu um best seller erótico de Robbins? Li, mas logo descobri que minha imaginação era melhor.
2.68 “Último Tango em Paris” (1973)- Robert Alley- Civilização Brasileira
O filme deu origem a este livro. Sua leitura é esquecível, enquanto a obra de Bernardo Bertolucci de 1882, com Marlon Branco e Maria Schneider está imortalizada na História do Cinema.
2.69 “O Lobo, o Bosque e o Homem Novo” - (1993)- Senel Paz
É o livro que deu origem a “Morango e Chocolate” (1993) de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío, de grande sucesso, sendo o primeiro filme cubano a ter grande repercussão fora de Cuba abordando a questão da homossexualidade.
3- Roteiros /Peças
Quando fiz curso de dramaturgia, com o dramaturgo e
encenador João das Neves e de roteiro de cinema, com o cineasta Alberto Salvá, na
primeira metade dos anos 80, no Parque Laje, era uma época em que, a ditadura
militar estava agonizando e a Nova República ainda não tinha nascido.
Acompanhei bastante o que pode, dentre meus recursos, sobre
este momento histórico.
Havia um linha dura militar inconformada querendo
criar desastres para ter o pretexto de fechar o regime militar com maior força
ainda, em vez da abertura.
Neste contexto insere-se a destruição do gasômetro do
Rio de Janeiro, que só não aconteceu porque o heroico Capitão Sérgio Macado
disse NÃO. Não cumpriria esta ordem, mais do que criminosa, do Brigadeiro
Burnier.
Sérgio perdeu a patente. Burnier ficou impune e quando
nosso herói recebeu reconhecimento por sua bravura, recuperando patentes, pode
desfrutar bem pouco, pois logo morreu.
Bombas destruíam bancas de jornais, porque venderiam jornais
e outros alternativos subversivos.
E houve o atentado ao Rio Centro, com vários grandes
artistas se apresentando, graças a Deus abortado, pois a bomba explodiu bem
antes, matando um dos pau-mandados.
Neste contexto escrevi a peça “O Primeiro Jornal”.
João das Neves considerou o segundo ato um happening.
Mas não era e sim a pura realidade. Devo escrever um entreato para deixar mais
claro que o protagonista teve um forte surto e já não respondia por si.
Já Alberto Salvá gostou bastante da peça. Disse que se
reconheceu na dolorosa relação pai/filho, entendeu o uso ambíguo de “Singing in
The Rain” depois que Kubrick a empregou em “Laranja Mecânica” e disse mais: “se
esta peça for encenada no exterior, vão ter uma boa ideia do que está acontecendo
com o Brasil hoje.”.
Escrevi o roteiro de um filme, “E o Diabo Por Todos...”.
Mas Salvá não comentou nada, quando mostrei. Havia pedido para que os alunos
desenvolvessem partes do roteiro de um argumento bem forte, que apresentou, com
um fim já pré-determinado, que era transcendente.
Só que além de criar um novo desfecho, em tudo
diverso, escrevi um roteiro por inteiro.
Entendo seus motivos para se omitir em termos de
comentários.
Hoje, como faleceu, posso buscar quem o queira filmar.
Mas tanto a peça como o roteiro, foram escritos, numa
época em que eu era bastante niilista. Hoje sou deísta, sem os dois pés em nenhuma
religião, me aproximando mais do candomblé.
Vale então a pena trazer estes trabalhos à tona?
Por outro lado, como o Brasil continua nos assombrando,
nos impingindo terror, cotidianamente, estas obras não perdem atualidade.
Então, quem sabe? Por que não?
De qualquer forma, pretendo trazer estes textos para o
meu Blog. O roteiro não é árido, deixando muitas margens para que se crie em
cima dele, como tendem a ser os roteiros hoje.
Só existe interior ou exterior, noite ou dia. Nada de
movimentos de câmera e afins.
3.2 a “Gritos e Sussurros” – (1978)- Ingmar Bergman – Nórdica
3,3 b “Sonata de Outono” (1979) - Ingmar Bergman – Nórdica
3.3 c “Vida de Marionetes” (1980)- Ingmar Bergman- Nórdica
3.1.d “Cenas de Um Casamento” (1985) - Ingmar Bergman – Nórdica
3.2 Peças
3.2.a “A Alma Boa de Setsuan” (1939-42/1943)- Berthold Brecht
Nesta peça onde uma vendedora tem duas personas, onde a primeira é explorada em sua bondade e surge um primo para por ordem neste comércio, sendo os dois a mesma pessoa, há uma moral mais do que desconcertante: “Não se pode ser bom num mundo injusto”.
Surge a pergunta: “A saída, onde está a saída? Deve haver alguma saída.
3.2.b “A Vida de Galileu” - Berthold Brecht- Abril Cultural- 1977
Brecht tem aqui tem a ousadia de mostrar Galileu Galilei abjurando suas ideias para não ser queimado pela inquisição.
Tendo descoberto que a Terra gira em torno do Sol e não o contrário, contrariou fortes poderes do papado católico, pois este queria como símbolo de sua força, o Sol rodeando a Terra, se curvando em penitência a ela.
As conclusões da Galileu eram bastante subversivas.
Quando Galilei mente para salvar a sua pele, lembramos da máxima de Brecht: “Pobre de um país que precisa de heróis”.
Em prisão domiciliar, Galileu trabalha em segredo e passa adiante suas descobertas por intermediários.
Em arte não se pode ser didático, pois assim nos aproximamos de panfletos, de bandeiras erguidas. Mas o gênio Millôr Fernandes abria uma exceção para Berthold Brecht, que é antes de tudo também um gênio e fazia peças didaticamente geniais, com suas estéticas particulares e sua grande capacidade de fazer fortes e intrincadas fabulações.
3.2.c “Seis Personagens à Procura de Um Autor” (1921) - Luigi Pirandello
3.2.d “Gilgamesh”- uma adaptação de Antunes Filho- Editora Veredas- 1999
(A trajetória de Antunes Filho exigiria que ele encontrasse um autor identificado totalmente com sua visão de mundo ou precisaria escrever os textos que estivesse disposto a encenar, para a perfeita unidade do espetáculo. O equilíbrio entre intenção e realização o diretor alcançou, ao tornar-se o dramaturgo de ´Gilgamesh´, baseado no poema épico babilônico sobre o rei de Uruk, dois terços divinos e um terço humano, que viveu cerca de 2.700 anos antes de Cristo. Essa adaptação cênica busca ser fiel ao original, sem reduzir nenhum aspecto da aventura fantástica do rei de Uruk, em que há referências até ao dilúvio.)
3.2.e “Do Fundo do Lago Escuro” (1979) - Domingos Oliveira
Li o texto com bastante emoção. Confirmei que era uma obra-prima de Domingos de Oliveira, estando à altura da ideia do que a classe artística tinha dela e o autor, que a considerava o seu melhor trabalho.
Montada pelo primeira vez no Teatro Ginástico-RJ como “Assunto de Família” por Paulo José, de certa forma me decepcionou logo de cara pelo fato de ter sido abandonada o título original, bastante poético e pertinente com o que é a peça: memórias da infância do autor, transfigurada pela arte.
Mas o mais relevante, é que mesmo tendo atores da qualidade de Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Carmem Silva, etc, foi imprimido um tom cômico que sobressaiu mais do que outras camadas.
Isto levou Domingos a dizer que Paulo José é um excelente diretor, mas dirigiria dali em diante todas as suas peças.
Não assisti à montagem do Grupo Tapa com sede em São Paulo. O espetáculo não veio ao Rio. Aqui perdi montagem com Domingos de Oliveira como a matriarca Mocinha, que domina toda a família. Uma realização de risco.
Com “Infância”(2014), Domingos de Oliveira leva “No Fundo do Lago Escuro” ao Cinema, gerando um dos grandes filmes de sua carreira, aqui contando com mais recursos do que em seus filmes assumidamente B.O. ( de baixo orçamento), com resultados irregulares, onde o ponto alto acredito seja “Carreiras” (2005), com trabalho magistral de Priscila Rosenbaum, parceira de vida e de arte do diretor.
“Infância” (2014) poderia ser melhor ainda se a Mocinha de Fernanda Montenegro fosse mostrada de forma ainda mais ácida, esvaziando comicidades.
Mesmo tendo modificado o final (agora temos Domingos adulto conversando com ele criança, dando até dicas de leituras e filmes), fugindo do desfecho melancólico da peça, o resultado é fabuloso.
“Infância” - Filme Nacional Completo
4 - Poesias
4.1 “Bagagem” (1976)- Adélia Prado
Um trecho é inesquecível do poema “Leitura”, a se ver adiante.
Descobri depois que João Gilberto Noll, o colocou como epígrafe de seu “O Cego e a Dançarina”.
“Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera."
4.2 “Reunião: 10 livros de Poesia” (1973) - Carlos Drummond de Andrade
(Esta reunião resgata a seleção de poemas que Carlos Drummond de Andrade publicou originalmente pela José Olympio em 1969. A obra foi posteriormente ampliada pelo autor e reeditada com 19 livros (1983). Agora temos 23 livros de poesia compilados em 3 volumes, um convite para a leitura (ou releitura) da poesia drummondiana.)
Fonte: https://www.estantevirtual.com.br/livros/carlos-drummond-de-andrade/reuniao-10-livros-de-poesia/2311226833
4.3 “Discurso de Primavera e Algumas Sombras” (1977) de Carlos Drummond de Andrade
4.4 “As Impurezas do Branco”- (1973)- Carlos Drummond de Andrade
(As Impurezas do Branco é um livro de poesias escrito por Carlos Drummond de Andrade e publicado originalmente em 1973.
(Da mesma forma que A Rosa do Povo havia sido marcado pela Segunda Guerra Mundial e pelo Estado Novo, este volume traz diversas referências à ditadura militar implantada no Brasil com o golpe de 1964. Assim, no poema Declaração em juízo, Drummond, então aos 71 anos e aposentado do serviço público, lamenta a perseguição a opositores do regime e afirma: "Não matei nenhum dos companheiros”
Também nessa coletânea foram incluídos os poemas escritos por Drummond para acompanhar o álbum de 21 desenhos de Cândido Portinari sobre Dom Quixote, reunidos sob o título Quixote e Sancho, de Portinari)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Impurezas_do_Branco
4.5 “A Paixão Medida” (1980) -Carlos Drummond de Andrade
4.6 “Antologia Poética” (1965) - João Cabral de Melo Neto
4.7 “Guardar” (1996- Antônio Cícero
4. 8 “Fernando Pessoa- Poesias” - Fernando Pessoa- LPM Editores- 1997
Há Fernando Pessoa enquanto ortônimo e heterônimos, de forma espantosa.
A Wikipédia traz algumas vezes informações bem anêmicas, mas no caso de Fernando Pessoa temos um panorama de vida, obras, ideias etc, bastante alentado, que vale muito a penar ler.
Índice
1 Biografia
1.1 Primeiros anos em Lisboa
1.2 Juventude em Durban
1.3 Regresso definitivo a Portugal e início de carreira
1.4 Morte
1.5 Legado
2 Obra poética
2.1 Ortónimo
2.2 Heterónimos e Semi-heterónimos
2.2.1 Álvaro de Campos
2.2.2 Ricardo Reis
2.2.3 Alberto Caeiro
2.2.4 Bernardo Soares
3 Visões sobre política
4 Visões sobre religião
4.1 Gnosticismo
4.2 Neopaganismo
4.3 Ocultismo
5 Cronologia
6 Referências
7 Ver também
8 Ligações externas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa#Heter%C3%B3nimos_e_Semi-heter%C3%B3nimos
Dos poetas que conheço, não há nenhum que me desperte tantas emoções e prazer de leitura quanto Fernando Pessoa. Tanto que fico tentado a invés de ler outros poetas, ler mais obras de Pessoa, tanto poesia como prosa, que não conheço, bem como o que seu baú nos traz e pelo jeito ainda trará.
Espantosamente há novos heterônimos surgindo, bem como textos sobre religião, politica, ocultismo.
4.9 “Mensagem” (1934) - Fernando Pessoa
Único livro de Pessoa publicado em vida, o que considero bastante triste.
O genial poeta deveria ter recebido muitas flores em vida, pela beleza de tantas obras e a singularidade de escrever como ele mesmo e como vários heterônimos, com biografia e visão de mundo singulares de cada um deles.
De “Mensagem”, um verso do qual nunca mais esqueço:
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu”.
E um portal se abre para reflexões.
Poesia é muito mais difícil de ler do que prosa, porque ao nos depararmos com este verso destacado, dentre tantos outros, não temos uma narrativa que vai fluindo (mesmo com complexos flashbacks e fluxos de consciência) e tendemos a parar e pensar sobre quantos significados e exemplos ele nos traz.
O verso nos passa a ideia de que temos muitas razões para nos desesperar, mas ao mesmo tempo, para ter esperanças. Algo recorrente em poemas de Pessoa/heterônimos.
Guardadas as devidas proporções, lembro-me de Adoniram Barbosa: “Deus dá o frio, conforme o cobertor”.
4.10 “Antologia Poética” - Fernando Pessoa- Nova Fronteira –(2016)
4.11 “O Eu Profundo e os Outros Eus”- Fernando Pessoa- Cultrix-1974
Contém poemas dele próprio e seus heterônimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
4.12 “Tabacaria- The Tobacco Shop”- Edição Bilíngue (publicado em 1933)- autor: Fernando Pessoa, ilustrador: Pedro Sousa Pereira, tradutor: Richard Zenith- Língua Geral 2015
No primeiro contato que tive com “Tabacaria”, logo me bateu a grande impressão: “Nossa, este é o mais belo poema que li na vida”.
E até hoje, 2018, mantenho esta grande paixão, admiração espanto e maravilhamento, sempre descobrindo novas facetas, ainda que de Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”, Ultimatum”, “Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa”, dentre outros também me impressionem e os flua divinamente.
Numa feira do livro descobri que “Tabacaria” era um poema que se vendia à parte.
Hoje estou ciente de que não só eu, mas muita gente o tem como o mais belo e melhor poema do Século XX, em Língua Portuguesa.
Do que se trata o poema? De algo bastante simples, mas também bastante complexo: ele a todo tempo nos remete às nossas fraquezas e fragilidades, para depois nos levar a nossas grandezas e nossas grandes conquistas, ainda que aparentemente triviais.
Para quem gosta de Pessoa declamado recomendo o extraordinário trabalho de Paulo Autran na Coleção Poeta Falado Vol. 7.
Já em “A Música em Pessoa” (CD- Biscoito Fino - 2002) temos vários poemas de Fernando Pessoas/heterônimos espantosamente musicados, como se música e poesia tivessem nascido juntos.
Há exceções, em que o poema é declamado dramaticamente. É o que acontece com o trabalho excepcional de Jô Soares com “Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa”.
4.13 “Antologia Poética” - José Régio- Nova Fronteira – 1985
“Cântico Negro” de Régio é um daqueles poemas que soam que foram escritos para nós, por nós. Pelo menos é assim que acontece comigo:
( Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo')
Fonte: http://www.citador.pt/poemas/cantico-negro-jose-regio
4.14“A Divina Comédia” (1320) - Dante Alighieri
O poeta Virgílio vai apresentando à Dante do início aos mais variados círculos profundos do Inferno, onde Dante que além de poeta também foi político, inseriu alguns dos seus inimigos. Mas seria homofobia ter incluídos num destes espaços de horrores também os chamados sodomitas?
Lars von Trier em seu subestimado “A Casa Que Jack Construiu” (1918) nos mostra Virgílio dialogando com um serial-killer, culminando numa belíssima progressão aos elementos mais profundos do Inferno.
Pode parecer anedótico, mas a parte toda relativa ao Inferno tem uma poética divina, mas quando vamos avançando chegando ao Céu, acabamos caindo em algo admirável, mas um tanto chato.
4.15 “Andares- Antologia Poética” Herman Hesse- Nova Fronteira (1991)
5- Ensaios
5.1 “Nas Malhas da Letra” (1989) de Silviano Santiago
Silviano aponta uma forma original de aproximar escritores. Por exemplo: temos a falange dos irmãos do reino, onde pode-se incluir Guimarães Rosa, Jorge de Lima, João Gilberto Noll.
5.2 “A Literatura em Perigo” (2007)- Tzvetan Todorov – Difel- 2009
Para Todorov o excessivo apego ao formalismo nos estudos de Literatura, algo que considera hegemônico, está minando o poder de entender Literatura como se deve.
Constato algo análogo acontecendo no Cinema, em certos grupos.
5.3 “Dostoiévski, Um Cristão Torturado” (1980) – Virgínio Santa Rosa
O livro transmite muito do que senti lendo obras de Dostoiévski, que não é um cristão fanático e enxerga várias fissuras que impedem sua adesão sem restrições, vivenciando muitos conflitos que procura dividir com seus leitores.
5.4 “Dostoiévski” (1974) - Hamilton Nogueira
5.5 “Por Que Amo Barthes” (1985)- Alain Robbe-Grillet (tradução de Silviano Santiago)
Eu li e não li uma obra de ficção de Alain Robbe-Grillet.
Acontece que o roteiro de “O Ano Passado em Marienbad” (1961) de Alain Resnais, um dos monumentos da História do Cinema, que já assisti várias vezes, tem roteiro de Robbe-Grillet e junto a imagens e planos sequências deslumbrantes captadas por Resnais temos a prosa poética encantatória deste fabuloso escritor -roteirista.
São elementos indissociáveis as imagens e a narração, de forma a não mais se esquecer, formando um dos grandes enigmas que nos impressionam cada vez que assistimos este filme hipnótico.
5.6 “Caetano Veloso- Literatura Comentada” (1981)- Paulo Franchetti e Alcyr Pécora
5.7 “Clarice Lispector: A Paixão Segundo C.L.” (1983)- Berta Waldman (Coleção Encanto Radical)- Brasiliense
5.8 “Sexualidades Ocidentais” (1985) (organização Philippe Ariès e André Béjin)
5.9 “O que é homossexualidade” (1983) – Peter Fry, Edward MacRae – Coleção Primeiros Passos- Brasiliense
5.10 “A Inocência e o Vício – Estudos Sobre o Homoerotismo” (1992) - Jurandir Freire Costa
Jurandir apresenta um estudo bastante profícuo sobre vários autores e a questão da homossexualidade.
Em “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust constata que não há um personagem homossexual sequer que seja feliz, ou pelo menos tenha momentos de alegrias significativos.
Mas a conclusão a que Jurandir chega é bastante problemática.
Apesar do grande empenho de pesquisas e análises, considera melhor falar em relações homoeroticamente inclinadas e não em homossexuais.
Além disto não ser verdade, posso dar um exemplo claro por mim que sou homossexual em “tempo integral”, com atração amorosa e sexual durante toda minha, de forma inequívoca, só por homens. Não há nenhuma inclinação. É uma questão direta.
Participei do grupo Arco-Íris de Direitos Humanos em seus primórdios, carregando enorme bandeira gay do arco-íris nos dois primeiros anos, pela parte de trás com bastante visibilidade, com pouquíssimas pessoas participando e até muitos gays passivamente acompanhando tudo.
Saí numa foto da Revista Suis Generis, a melhor revista direcionada ao pessoal GLBT que já houve no Brasil (tenho a coleção inteira guardada) e já nem me preocupava se gente do trabalho me visse. Não tinha nada mais a esconder.
Aliás numa criei um álibi falso para disfarçar minha homossexualidade, intimidade no trabalho que só privava com poucos amigos.
Pois a tese de Jurandir no grupo não foi apoiada por ninguém no Grupo Arco-Íris.
Mas justiça seja feita, Jurandir numa noite inesquecível, foi ao MIS com a gente para debater sexualidade.
Em tom de blague narrou que ouvia tanto chororô, que pensava em fazer uma tabuleta com várias mensagens para pessoas marcarem encontros para se conhecerem.
Quanto à questão tão recorrente da "infidelidade" conjugal lembrou: “Usou, lavou, tá novo”.
Depois fomos todos jantar em Botafogo onde costumávamos ir nas noites de sábado, depois das reuniões do Arco-Íris de sexta-feira.
5.11 “Sem Fraude, Nem Favor – (estudos sobre o amor romântico) ” (1998)– Jurandir Freire Costa
Aqui Jurandir desenvolve a tese de que a obsessão em se ter um amor romântico pode ser um grande atalho para a infelicidade.
5.12 “Córidon”- André Gide ( sobre a homossexualidade à luz da História e da Biologia, da Moral e da Sociologia, da Literatura e das Artes Plásticas )- (1924) - Nova Fronteira- 1985.
Os homens são tão diversos dos animais, principalmente pela grande complexidade e mistérios da alma, que não gostei das comparações com animais e seus comportamentos homossexuais, com se com isto, validaria o dos homens.
Com animais pode ser algo eventual, Já o homem já nasce com suas inclinações sexuais.
Mas claro que o livro não se limita a esta questão. Conforme a apresentação do conteúdo, há muitas análises pertinentes e corajosas.
5.13 “Ensaios Insólitos” (1979)´- Darcy Ribeiro
Darcy aponta que a prosa de Gilberto Freire lhe soa saborosa, mas que discorda de muitas ideias do mestre de Apipucos.
No curta-metragem “O Mestre de Apipucos” (1959), Joaquim Pedro de Andrade nos mostra Gilberto Freire em sua intimidade.
O vemos mostrando as árvores que tem no quintal, como preparar uma bebida especial e enfim ter a mesa servida por um criado.....negro. Casa Grande e Senzala?
5.14 “Psicologia e Homossexualidade” - Acyr Maia (1998)- Planeta Gay Books
Acyr escreveu artigos no excelente jornal “Nós, Por Exemplo”.
Hoje, psicanalista, tem desenvolvido trabalhos sobre sexualidade, tendo seu consultório e ainda dando aulas.
5.15 “O Escrito e Seus Fantasmas” (1982)- Ernesto Sábato- Francisco Alves.
Sábato jovem foi estudar Física para organizar pensamentos da juventude em ebulição e formado, chegou até a trabalhar com a célebre Madame Curie nos EUA, que ganhou o Prêmio Nobel de Física. Mas Curie acabou morrendo por contaminação com radioatividade.
Antes deste fim de sua mestre, Sábato percebeu que sua vocação mesmo é ser escritor, mesmo com todos os fantasmas que isto implique. Sua fuga para um mundo organizado não lhe traria alegrias.
É preciso escrever que com este e o livro seguinte, minha identificação foi total?
5.16 “Nós e o Universo” (1985) - Ernesto Sábato- Francisco Alves.
Só com duas simples máximas, Ernesto nos traz inquietações que são ainda mais fortes hoje, no século XXI :
“A maior tragédia contemporânea é a hegemonia da ciência”.
De outra forma, num clima surrealista, Luís Buñuel tem a mesma sintonia com Sábato quando um personagem diz em “O Estranho Caminho de São Thiago- A Via Láctea (1969 ): “Meu ódio pela ciência e meu horror pela tecnologia, acabarão me levando a esta absurda crença em Deus.”
Aqui é bem fácil de concordar com Sábato, dado como redes sociais e afins, uso desenfreado de tablets, comunicações de agendas com órgãos públicos kafkianas etc nos estão extraindo momentos de genuíno contato com outras pessoas, além dos desleixos e desprezos com a situação climática e a volta de uma guerra fria, onde estão em jogo armas atômicas. Etc...etc...
Mais outra máxima de Sábato, também aponta para estes grandes impasses:
“O homem do Século XX ( e acrescento do Século XXI) é um gigante técnico e um infante ético”
5.17 “Henfil na China ( antes da Coca-Cola ) (1981)- Henfil- Codecri
Não reli o livro, mas creio que as incríveis mudanças que houve na China nos últimos tempos, para o bem ou para o mal, deve tornar este livro um tanto datado. O que não deve estar datado é a prosa sagaz, bem irônica, sarcástica do autor.
5.18 “Macho Masculino Homem” ( A sexualidade, o machismo e a crise de identidade do homem brasileiro ) -1986 – Ronaldo Pamplona da Costa e Outros.
5.19 “A Coragem de Criar” (1982)- Rollo May- Nova Fronteira
Rollo May (1909- 1994) foi um psicólogo existencialista americano que escreveu alguns livros acessíveis para os leigos.
Sobre o processo criativo, para May, tudo se passa como se houvesse um empecilho para a criação, para não ousarmos competir com Deus.
Propõe então uma luta consciente contra este estado de coisas.
May faz uma bela distinção: “A coragem não é a ausência do medo, mas a capacidade de seguir em frente apesar do medo.”
Ainda nos alerta: "O que importa é nossa coragem moral. A coragem física degenera em brutalidade".
5.20 “O Homem à Procura de Si Mesmo” - (1986)- Rollo May- Vozes
5.21 “O Eu e Os Outros” (1972) - R.D.Laing- Vozes
5.22 “A Política da Experiência e “A Ave do Paraíso” (1974) - R.D.Laing – Vozes
5.23 “Livro 15 Psicologia de Grupo e Análise do Ego/Verbetes de Enciclopédia” – Freud / Imago
Senti vontade de ler Freud, para ter contato com suas ideias e ao mesmo tempo com sua bastante elogiada prosa.
Nestes textos (Livros 15, 16 e 20 ) tem-se muitas vezes Freud atuando como se fosse um detetive perseguindo os mistérios da alma humana.
Yung que foi discípulo de Freud, de início aprendeu psicanálise com o mestre e enquanto Freud trabalhou com a classe média baixa, média e alta, Yung resolveu trabalhar com psicanálise numa instituição psiquiátrica.
Foi nesta que Yung tratou e curou Sabina Spielrein, com forte sinais de histeria, que viria a se tornar sua amante.
Quando Yung surgiu com as ideias do Inconsciente Coletivo, passou a se separar de Freud para seguir outro caminho.
Curiosamente Sabina abraçou mesmo foram as ideias de Freud, tendo ido estudar na Rússia e se interessado em terapias de crianças.
https://www.youtube.com/watch?v=GYJstSaajrI
“O jovem Dr Freud” - completo – legendado.
https://www.youtube.com/watch?v=DZtRYqpxIGQ
O Jovem Dr. Freud (Parte 2)
Um filme bastante prestigiado sobre Freud:
https://vimeo.com/138376755
“Freud, Além da Alma” (1962) de John Huston- Filme Completo- Legendado em Português- (com Montgomery Clift, como Freud)
5.24 “Livro 16 A Psicogênese de Um Caso de Homossexualismo Numa Mulher / Psicanálise e Telepatia e Outros Trabalhos” – Freud / Imago
5.25 “Livro 20 Conferências Introdutórias sobre Psicanálise” – Freud / Imago
5.26 “O Que Faz o brasil, Brazil?”(1984) - Roberto DaMatta
5.27 “Explorações- Ensaios de Sociologia Interpretativa”- (1986)- Roberto DaMatta
5.28 “O Horror Econômico” – (1996)- Viviane Forrester
5.29 “Praticamente Normal-Um discurso sobre homossexualismo”- (1996)- Andrew Sullivam- Companhia das Letras.
(A tradução deveria ser homossexualidade e não homossexualismo; o livro peca por certo viés politicamente correto demais )
5.30 “O Sexo Equívoco – A Homossexualidade Masculina e a Criação de Um Estigma”( 1970) – Martin Hoffman
5.31 “Macunaíma, da Literatura ao Cinema” (1978) - Heloisa Buarque de Holanda (depoimentos de Mário de Andrade e Joaquim Pedro de Andrade
5.32 “A Personagem de Ficção” (1972) – (Antônio Cândido, Anatol Rosenfeld, Décio de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes.)- Perspectiva
5.33“Gabriel Garcia Márquez Conta Como Contar um Conto (1985) (Oficina da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antônio de Los Bãnhos.)
Um momento curioso da narrativa se dá quando escrevem um roteiro com um personagem homossexual e Gabriel pergunta se entre os alunos existe um homossexual que os possa ajudar nesta composição.
Dá-se a entender que até neste grupo, homossexuais estariam no armário, não à vontade dentre colegas.
5.34 ‘Leitura: Uma Aprendizagem de Prazer” (1993) - Suzana Vargas
Pequeno, mas bastante significativo ensaio de como se aproximar de livros visando antes de tudo o prazer que se terá.
O ensino de Literatura, com leituras obrigatórias, de acordo com a forma em que é feito, muitas vezes, fugindo das faixas etárias mais adequadas, pode provocar afastamentos em vez de aproximação dos livros.
Lembro-me do terror provocado quando um professor indicou “Senhora’ de José Alencar para uma prova. O céu era o limite. Tudo poderia ser perguntando.
Suzana há anos está à frente do “Estação das Letras”, onde há ensinos das mais variadas etapas da construção de um livro, incluindo, claro, cursos de criação literária, tendo como mestres, pessoas do nível de José Castello.
Cheguei a fazer no Estação cursos de criação literária com os escritores Victor Giúdice ( interrompido pela morte dele) e com o bastante premiado Flávio Moreira da Costa. Este eu abandonei por não haver empatia, algo mais do que necessário para qualquer aula continuada.
Para que eu leia um livro como gosto e quero, preciso de total silêncio. Até música clássica como Mozart ao fundo me atrapalha e televisão ligada me causa verdadeiro horror.
Quando leio uma obra Literária, preciso ouvir o texto dentro de mim. Mas como isto será possível diante de tantas algaravias?
Hoje eu tenho como me isolar, graças a Deus, para minhas leituras.
Em trocas no Facebook, Suzana Vargas comungou do meu jeito para leituras. Com ela acontece o mesmo e associamos o caso de muitas casas com televisão ligada, que envolve vários ambientes, não permitirem concentração para leituras.
E para terminar: Para o bem ou para o mal, sou um leitor bastante minucioso; não passo para a página seguinte se não tiver captado bem o que temos na página presente.
5.35 “Páginas Verdes “(1983)- Edilson Martins – Codecri
Edilson Martins foi no Brasil um dos pioneiros preocupados com a situação das mudanças climáticas, num livro que clama pelo verde preservado.
5.36 “Karl Marx- O Apanhador de Sinais” (1987) - Horacio L Gonzales (Coleção Encanto Radical) – Brasiliense
5.37 “O Que é Ideologia? ” - Marilena Chauí (1980) – (Coleção Primeiros Passos)- Brasiliense
À luz de todos os acontecimentos políticos, sociais e econômicos (bem como em relação aos novos filósofos que surgiram), seria bastante interessante ler uma revisão de Marilena sobre o que é ideologia hoje.
5.38 “Entre o Deus e a Vasilha”( Ensaio sobre a reforma agrária brasileira, a qual nunca foi feita ) (1985) – Antônio Callado- Nova Fronteira (1985)
“...um artista
pode moldar o barro inerte
que tem sobre a tripeça do trabalho,
e fazer dele, à vontade,
uma vasilha ou um deus...
tenho a impressão que o Brasil
se decidiu pela vasilha.
Eça de Queiroz
(Inédito da Correspondência de Fradique Mendes )
Antônio Callado escreveu muitas belas crônicas no Jornal Folha de São Paulo, que se não foram ainda, merecem ser coligidas para formação de um excelente livro.
Nas últimas crônicas, quando já devia estar doente, se mostrava bastante frustrado com o atraso que o Brasil ainda era e tinha ojeriza de que culpassem a História que vem do império pelo estado do Brasil.
Se vivo estivesse sabendo que ainda temos movimentos dos sem- terra porque ainda não foi feita uma reforma agrária séria, mesmo com um governo de 12 anos e meio dito popular, estaria muito triste.
Criticava os que chamava de escritores de escritórios, que não viajavam para conhecer o Brasil.
Tinha simpatias pelo Plano Real do governo FHC. Antes dele, via o Brasil humilhado, de joelhos, diante do cenário internacional.
5.39 “200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro”- Augusto Boal (1979)- Civilização Brasileira
Boal trabalha até com Proust e sua ideia de que somos ainda mais felizes nas recordações, do que quanto vivenciamos momentos alegres.
Nas recordações podemos retirar todas as ansiedades e percalços que tivemos para que estes momentos tenham acontecido.
Trabalhando também para não atores, Boal nos dá ideia do que seria o que chama de Teatro do Oprimido. Não seríamos mais passivos na sociedade. Os exercícios e jogos praticados nos ajudam a lidar melhor com as situações embaraçosas que nos envolverem.
5.40 “Seis Balas Para Um Buraco Só: A Crise do Masculino” (1998) – João Silvério Trevisan- Record
A tônica dominante do livro é tentar explicar o porquê ocorre tantos crimes bárbaros contra homossexuais, como pessoas que levam vários tiros e facadas, quando somente com alguns já se matou quem queria.
Uma explicação para isto, que profissionais da área psi podem explicar melhor, é que estes bárbaros assassinos ao insistirem tanto estão é matando sua própria homossexualidade reprimida. .
Lembremos a morte terrível de Luis Alberto Martinez Correa, | irmão de Zé Celso.
(No día 23 de dezembro de 1987, Luís Antônio Martinez Corrêa morre brutalmente assassinado. Seu corpo é encontrado amarrado de pés e mãos com um golpe na cabeça, estrangulado e mutilado com 107 facadas em seu apartamento em Ipanema. Alguns pertences do diretor (uma secretária eletrônica, um videocassete e 17 mil cruzados) foram roubados.
Dois dias após o homicídio, o então surfista Gláucio Garcia de Arruda é identificado pelo porteiro do prédio como a última pessoa em sair do apartamento do diretor. Garcia foi preso e posteriormente julgado, foi absolvido em primeira instância e condenado em segunda instância a 20 anos de prisão por roubo seguido de morte. ) – Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Ant%C3%B4nio_Martinez_Corr%C3%AAa
5.41“A Burrice do Demônio” (1988) – Hélio Pelegrino- Rocco
Há um ensaio excepcional sobre a psicologia do torturador, bastante necessário nos tempos atuais onde temos um presidente ( o pior que democraticamente, “mas não muito”) que não só aprova, como louva estas práticas.
5.42 “História da História Nova do Brasil” (1987)- Nelson Werneck Sodré- Vozes
Nelson era um general reformado quando fiz um curso de História Nova do Brasil com ele na primeira metade dos anos 80.
Claro que suas visões iam contra a História Oficial e ele, sem ser nenhuma blague, disse que quem não tivesse cursado História, seria um aluno melhor para seus curso, pois não estaria contaminado pelo que hoje chamamos de falsas narrativas.
6- Religião
4.1 “Bagagem” (1976)- Adélia Prado
Um trecho é inesquecível do poema “Leitura”, a se ver adiante.
Descobri depois que João Gilberto Noll, o colocou como epígrafe de seu “O Cego e a Dançarina”.
“Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera."
4.2 “Reunião: 10 livros de Poesia” (1973) - Carlos Drummond de Andrade
(Esta reunião resgata a seleção de poemas que Carlos Drummond de Andrade publicou originalmente pela José Olympio em 1969. A obra foi posteriormente ampliada pelo autor e reeditada com 19 livros (1983). Agora temos 23 livros de poesia compilados em 3 volumes, um convite para a leitura (ou releitura) da poesia drummondiana.)
Fonte: https://www.estantevirtual.com.br/livros/carlos-drummond-de-andrade/reuniao-10-livros-de-poesia/2311226833
4.3 “Discurso de Primavera e Algumas Sombras” (1977) de Carlos Drummond de Andrade
4.4 “As Impurezas do Branco”- (1973)- Carlos Drummond de Andrade
(As Impurezas do Branco é um livro de poesias escrito por Carlos Drummond de Andrade e publicado originalmente em 1973.
(Da mesma forma que A Rosa do Povo havia sido marcado pela Segunda Guerra Mundial e pelo Estado Novo, este volume traz diversas referências à ditadura militar implantada no Brasil com o golpe de 1964. Assim, no poema Declaração em juízo, Drummond, então aos 71 anos e aposentado do serviço público, lamenta a perseguição a opositores do regime e afirma: "Não matei nenhum dos companheiros”
Também nessa coletânea foram incluídos os poemas escritos por Drummond para acompanhar o álbum de 21 desenhos de Cândido Portinari sobre Dom Quixote, reunidos sob o título Quixote e Sancho, de Portinari)
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Impurezas_do_Branco
4.5 “A Paixão Medida” (1980) -Carlos Drummond de Andrade
4.6 “Antologia Poética” (1965) - João Cabral de Melo Neto
4.7 “Guardar” (1996- Antônio Cícero
4. 8 “Fernando Pessoa- Poesias” - Fernando Pessoa- LPM Editores- 1997
Há Fernando Pessoa enquanto ortônimo e heterônimos, de forma espantosa.
A Wikipédia traz algumas vezes informações bem anêmicas, mas no caso de Fernando Pessoa temos um panorama de vida, obras, ideias etc, bastante alentado, que vale muito a penar ler.
Índice
1 Biografia
1.1 Primeiros anos em Lisboa
1.2 Juventude em Durban
1.3 Regresso definitivo a Portugal e início de carreira
1.4 Morte
1.5 Legado
2 Obra poética
2.1 Ortónimo
2.2 Heterónimos e Semi-heterónimos
2.2.1 Álvaro de Campos
2.2.2 Ricardo Reis
2.2.3 Alberto Caeiro
2.2.4 Bernardo Soares
3 Visões sobre política
4 Visões sobre religião
4.1 Gnosticismo
4.2 Neopaganismo
4.3 Ocultismo
5 Cronologia
6 Referências
7 Ver também
8 Ligações externas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa#Heter%C3%B3nimos_e_Semi-heter%C3%B3nimos
Dos poetas que conheço, não há nenhum que me desperte tantas emoções e prazer de leitura quanto Fernando Pessoa. Tanto que fico tentado a invés de ler outros poetas, ler mais obras de Pessoa, tanto poesia como prosa, que não conheço, bem como o que seu baú nos traz e pelo jeito ainda trará.
Espantosamente há novos heterônimos surgindo, bem como textos sobre religião, politica, ocultismo.
4.9 “Mensagem” (1934) - Fernando Pessoa
Único livro de Pessoa publicado em vida, o que considero bastante triste.
O genial poeta deveria ter recebido muitas flores em vida, pela beleza de tantas obras e a singularidade de escrever como ele mesmo e como vários heterônimos, com biografia e visão de mundo singulares de cada um deles.
De “Mensagem”, um verso do qual nunca mais esqueço:
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu”.
E um portal se abre para reflexões.
Poesia é muito mais difícil de ler do que prosa, porque ao nos depararmos com este verso destacado, dentre tantos outros, não temos uma narrativa que vai fluindo (mesmo com complexos flashbacks e fluxos de consciência) e tendemos a parar e pensar sobre quantos significados e exemplos ele nos traz.
O verso nos passa a ideia de que temos muitas razões para nos desesperar, mas ao mesmo tempo, para ter esperanças. Algo recorrente em poemas de Pessoa/heterônimos.
Guardadas as devidas proporções, lembro-me de Adoniram Barbosa: “Deus dá o frio, conforme o cobertor”.
4.10 “Antologia Poética” - Fernando Pessoa- Nova Fronteira –(2016)
4.11 “O Eu Profundo e os Outros Eus”- Fernando Pessoa- Cultrix-1974
Contém poemas dele próprio e seus heterônimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
4.12 “Tabacaria- The Tobacco Shop”- Edição Bilíngue (publicado em 1933)- autor: Fernando Pessoa, ilustrador: Pedro Sousa Pereira, tradutor: Richard Zenith- Língua Geral 2015
No primeiro contato que tive com “Tabacaria”, logo me bateu a grande impressão: “Nossa, este é o mais belo poema que li na vida”.
E até hoje, 2018, mantenho esta grande paixão, admiração espanto e maravilhamento, sempre descobrindo novas facetas, ainda que de Pessoa, “O Guardador de Rebanhos”, Ultimatum”, “Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa”, dentre outros também me impressionem e os flua divinamente.
Numa feira do livro descobri que “Tabacaria” era um poema que se vendia à parte.
Hoje estou ciente de que não só eu, mas muita gente o tem como o mais belo e melhor poema do Século XX, em Língua Portuguesa.
Do que se trata o poema? De algo bastante simples, mas também bastante complexo: ele a todo tempo nos remete às nossas fraquezas e fragilidades, para depois nos levar a nossas grandezas e nossas grandes conquistas, ainda que aparentemente triviais.
Para quem gosta de Pessoa declamado recomendo o extraordinário trabalho de Paulo Autran na Coleção Poeta Falado Vol. 7.
Já em “A Música em Pessoa” (CD- Biscoito Fino - 2002) temos vários poemas de Fernando Pessoas/heterônimos espantosamente musicados, como se música e poesia tivessem nascido juntos.
Há exceções, em que o poema é declamado dramaticamente. É o que acontece com o trabalho excepcional de Jô Soares com “Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa”.
4.13 “Antologia Poética” - José Régio- Nova Fronteira – 1985
“Cântico Negro” de Régio é um daqueles poemas que soam que foram escritos para nós, por nós. Pelo menos é assim que acontece comigo:
( Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo')
Fonte: http://www.citador.pt/poemas/cantico-negro-jose-regio
4.14“A Divina Comédia” (1320) - Dante Alighieri
O poeta Virgílio vai apresentando à Dante do início aos mais variados círculos profundos do Inferno, onde Dante que além de poeta também foi político, inseriu alguns dos seus inimigos. Mas seria homofobia ter incluídos num destes espaços de horrores também os chamados sodomitas?
Lars von Trier em seu subestimado “A Casa Que Jack Construiu” (1918) nos mostra Virgílio dialogando com um serial-killer, culminando numa belíssima progressão aos elementos mais profundos do Inferno.
Pode parecer anedótico, mas a parte toda relativa ao Inferno tem uma poética divina, mas quando vamos avançando chegando ao Céu, acabamos caindo em algo admirável, mas um tanto chato.
4.15 “Andares- Antologia Poética” Herman Hesse- Nova Fronteira (1991)
5- Ensaios
5.1 “Nas Malhas da Letra” (1989) de Silviano Santiago
Silviano aponta uma forma original de aproximar escritores. Por exemplo: temos a falange dos irmãos do reino, onde pode-se incluir Guimarães Rosa, Jorge de Lima, João Gilberto Noll.
5.2 “A Literatura em Perigo” (2007)- Tzvetan Todorov – Difel- 2009
Para Todorov o excessivo apego ao formalismo nos estudos de Literatura, algo que considera hegemônico, está minando o poder de entender Literatura como se deve.
Constato algo análogo acontecendo no Cinema, em certos grupos.
5.3 “Dostoiévski, Um Cristão Torturado” (1980) – Virgínio Santa Rosa
O livro transmite muito do que senti lendo obras de Dostoiévski, que não é um cristão fanático e enxerga várias fissuras que impedem sua adesão sem restrições, vivenciando muitos conflitos que procura dividir com seus leitores.
5.4 “Dostoiévski” (1974) - Hamilton Nogueira
5.5 “Por Que Amo Barthes” (1985)- Alain Robbe-Grillet (tradução de Silviano Santiago)
Eu li e não li uma obra de ficção de Alain Robbe-Grillet.
Acontece que o roteiro de “O Ano Passado em Marienbad” (1961) de Alain Resnais, um dos monumentos da História do Cinema, que já assisti várias vezes, tem roteiro de Robbe-Grillet e junto a imagens e planos sequências deslumbrantes captadas por Resnais temos a prosa poética encantatória deste fabuloso escritor -roteirista.
São elementos indissociáveis as imagens e a narração, de forma a não mais se esquecer, formando um dos grandes enigmas que nos impressionam cada vez que assistimos este filme hipnótico.
5.6 “Caetano Veloso- Literatura Comentada” (1981)- Paulo Franchetti e Alcyr Pécora
5.7 “Clarice Lispector: A Paixão Segundo C.L.” (1983)- Berta Waldman (Coleção Encanto Radical)- Brasiliense
5.8 “Sexualidades Ocidentais” (1985) (organização Philippe Ariès e André Béjin)
5.9 “O que é homossexualidade” (1983) – Peter Fry, Edward MacRae – Coleção Primeiros Passos- Brasiliense
5.10 “A Inocência e o Vício – Estudos Sobre o Homoerotismo” (1992) - Jurandir Freire Costa
Jurandir apresenta um estudo bastante profícuo sobre vários autores e a questão da homossexualidade.
Em “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust constata que não há um personagem homossexual sequer que seja feliz, ou pelo menos tenha momentos de alegrias significativos.
Mas a conclusão a que Jurandir chega é bastante problemática.
Apesar do grande empenho de pesquisas e análises, considera melhor falar em relações homoeroticamente inclinadas e não em homossexuais.
Além disto não ser verdade, posso dar um exemplo claro por mim que sou homossexual em “tempo integral”, com atração amorosa e sexual durante toda minha, de forma inequívoca, só por homens. Não há nenhuma inclinação. É uma questão direta.
Participei do grupo Arco-Íris de Direitos Humanos em seus primórdios, carregando enorme bandeira gay do arco-íris nos dois primeiros anos, pela parte de trás com bastante visibilidade, com pouquíssimas pessoas participando e até muitos gays passivamente acompanhando tudo.
Saí numa foto da Revista Suis Generis, a melhor revista direcionada ao pessoal GLBT que já houve no Brasil (tenho a coleção inteira guardada) e já nem me preocupava se gente do trabalho me visse. Não tinha nada mais a esconder.
Aliás numa criei um álibi falso para disfarçar minha homossexualidade, intimidade no trabalho que só privava com poucos amigos.
Pois a tese de Jurandir no grupo não foi apoiada por ninguém no Grupo Arco-Íris.
Mas justiça seja feita, Jurandir numa noite inesquecível, foi ao MIS com a gente para debater sexualidade.
Em tom de blague narrou que ouvia tanto chororô, que pensava em fazer uma tabuleta com várias mensagens para pessoas marcarem encontros para se conhecerem.
Quanto à questão tão recorrente da "infidelidade" conjugal lembrou: “Usou, lavou, tá novo”.
Depois fomos todos jantar em Botafogo onde costumávamos ir nas noites de sábado, depois das reuniões do Arco-Íris de sexta-feira.
5.11 “Sem Fraude, Nem Favor – (estudos sobre o amor romântico) ” (1998)– Jurandir Freire Costa
Aqui Jurandir desenvolve a tese de que a obsessão em se ter um amor romântico pode ser um grande atalho para a infelicidade.
5.12 “Córidon”- André Gide ( sobre a homossexualidade à luz da História e da Biologia, da Moral e da Sociologia, da Literatura e das Artes Plásticas )- (1924) - Nova Fronteira- 1985.
Os homens são tão diversos dos animais, principalmente pela grande complexidade e mistérios da alma, que não gostei das comparações com animais e seus comportamentos homossexuais, com se com isto, validaria o dos homens.
Com animais pode ser algo eventual, Já o homem já nasce com suas inclinações sexuais.
Mas claro que o livro não se limita a esta questão. Conforme a apresentação do conteúdo, há muitas análises pertinentes e corajosas.
5.13 “Ensaios Insólitos” (1979)´- Darcy Ribeiro
Darcy aponta que a prosa de Gilberto Freire lhe soa saborosa, mas que discorda de muitas ideias do mestre de Apipucos.
No curta-metragem “O Mestre de Apipucos” (1959), Joaquim Pedro de Andrade nos mostra Gilberto Freire em sua intimidade.
O vemos mostrando as árvores que tem no quintal, como preparar uma bebida especial e enfim ter a mesa servida por um criado.....negro. Casa Grande e Senzala?
5.14 “Psicologia e Homossexualidade” - Acyr Maia (1998)- Planeta Gay Books
Acyr escreveu artigos no excelente jornal “Nós, Por Exemplo”.
Hoje, psicanalista, tem desenvolvido trabalhos sobre sexualidade, tendo seu consultório e ainda dando aulas.
5.15 “O Escrito e Seus Fantasmas” (1982)- Ernesto Sábato- Francisco Alves.
Sábato jovem foi estudar Física para organizar pensamentos da juventude em ebulição e formado, chegou até a trabalhar com a célebre Madame Curie nos EUA, que ganhou o Prêmio Nobel de Física. Mas Curie acabou morrendo por contaminação com radioatividade.
Antes deste fim de sua mestre, Sábato percebeu que sua vocação mesmo é ser escritor, mesmo com todos os fantasmas que isto implique. Sua fuga para um mundo organizado não lhe traria alegrias.
É preciso escrever que com este e o livro seguinte, minha identificação foi total?
5.16 “Nós e o Universo” (1985) - Ernesto Sábato- Francisco Alves.
Só com duas simples máximas, Ernesto nos traz inquietações que são ainda mais fortes hoje, no século XXI :
“A maior tragédia contemporânea é a hegemonia da ciência”.
De outra forma, num clima surrealista, Luís Buñuel tem a mesma sintonia com Sábato quando um personagem diz em “O Estranho Caminho de São Thiago- A Via Láctea (1969 ): “Meu ódio pela ciência e meu horror pela tecnologia, acabarão me levando a esta absurda crença em Deus.”
Aqui é bem fácil de concordar com Sábato, dado como redes sociais e afins, uso desenfreado de tablets, comunicações de agendas com órgãos públicos kafkianas etc nos estão extraindo momentos de genuíno contato com outras pessoas, além dos desleixos e desprezos com a situação climática e a volta de uma guerra fria, onde estão em jogo armas atômicas. Etc...etc...
Mais outra máxima de Sábato, também aponta para estes grandes impasses:
“O homem do Século XX ( e acrescento do Século XXI) é um gigante técnico e um infante ético”
5.17 “Henfil na China ( antes da Coca-Cola ) (1981)- Henfil- Codecri
Não reli o livro, mas creio que as incríveis mudanças que houve na China nos últimos tempos, para o bem ou para o mal, deve tornar este livro um tanto datado. O que não deve estar datado é a prosa sagaz, bem irônica, sarcástica do autor.
5.18 “Macho Masculino Homem” ( A sexualidade, o machismo e a crise de identidade do homem brasileiro ) -1986 – Ronaldo Pamplona da Costa e Outros.
5.19 “A Coragem de Criar” (1982)- Rollo May- Nova Fronteira
Rollo May (1909- 1994) foi um psicólogo existencialista americano que escreveu alguns livros acessíveis para os leigos.
Sobre o processo criativo, para May, tudo se passa como se houvesse um empecilho para a criação, para não ousarmos competir com Deus.
Propõe então uma luta consciente contra este estado de coisas.
May faz uma bela distinção: “A coragem não é a ausência do medo, mas a capacidade de seguir em frente apesar do medo.”
Ainda nos alerta: "O que importa é nossa coragem moral. A coragem física degenera em brutalidade".
5.20 “O Homem à Procura de Si Mesmo” - (1986)- Rollo May- Vozes
5.21 “O Eu e Os Outros” (1972) - R.D.Laing- Vozes
5.22 “A Política da Experiência e “A Ave do Paraíso” (1974) - R.D.Laing – Vozes
5.23 “Livro 15 Psicologia de Grupo e Análise do Ego/Verbetes de Enciclopédia” – Freud / Imago
Senti vontade de ler Freud, para ter contato com suas ideias e ao mesmo tempo com sua bastante elogiada prosa.
Nestes textos (Livros 15, 16 e 20 ) tem-se muitas vezes Freud atuando como se fosse um detetive perseguindo os mistérios da alma humana.
Yung que foi discípulo de Freud, de início aprendeu psicanálise com o mestre e enquanto Freud trabalhou com a classe média baixa, média e alta, Yung resolveu trabalhar com psicanálise numa instituição psiquiátrica.
Foi nesta que Yung tratou e curou Sabina Spielrein, com forte sinais de histeria, que viria a se tornar sua amante.
Quando Yung surgiu com as ideias do Inconsciente Coletivo, passou a se separar de Freud para seguir outro caminho.
Curiosamente Sabina abraçou mesmo foram as ideias de Freud, tendo ido estudar na Rússia e se interessado em terapias de crianças.
https://www.youtube.com/watch?v=GYJstSaajrI
“O jovem Dr Freud” - completo – legendado.
https://www.youtube.com/watch?v=DZtRYqpxIGQ
O Jovem Dr. Freud (Parte 2)
Um filme bastante prestigiado sobre Freud:
https://vimeo.com/138376755
“Freud, Além da Alma” (1962) de John Huston- Filme Completo- Legendado em Português- (com Montgomery Clift, como Freud)
5.24 “Livro 16 A Psicogênese de Um Caso de Homossexualismo Numa Mulher / Psicanálise e Telepatia e Outros Trabalhos” – Freud / Imago
5.25 “Livro 20 Conferências Introdutórias sobre Psicanálise” – Freud / Imago
5.26 “O Que Faz o brasil, Brazil?”(1984) - Roberto DaMatta
5.27 “Explorações- Ensaios de Sociologia Interpretativa”- (1986)- Roberto DaMatta
5.28 “O Horror Econômico” – (1996)- Viviane Forrester
5.29 “Praticamente Normal-Um discurso sobre homossexualismo”- (1996)- Andrew Sullivam- Companhia das Letras.
(A tradução deveria ser homossexualidade e não homossexualismo; o livro peca por certo viés politicamente correto demais )
5.30 “O Sexo Equívoco – A Homossexualidade Masculina e a Criação de Um Estigma”( 1970) – Martin Hoffman
5.31 “Macunaíma, da Literatura ao Cinema” (1978) - Heloisa Buarque de Holanda (depoimentos de Mário de Andrade e Joaquim Pedro de Andrade
5.32 “A Personagem de Ficção” (1972) – (Antônio Cândido, Anatol Rosenfeld, Décio de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes.)- Perspectiva
5.33“Gabriel Garcia Márquez Conta Como Contar um Conto (1985) (Oficina da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antônio de Los Bãnhos.)
Um momento curioso da narrativa se dá quando escrevem um roteiro com um personagem homossexual e Gabriel pergunta se entre os alunos existe um homossexual que os possa ajudar nesta composição.
Dá-se a entender que até neste grupo, homossexuais estariam no armário, não à vontade dentre colegas.
5.34 ‘Leitura: Uma Aprendizagem de Prazer” (1993) - Suzana Vargas
Pequeno, mas bastante significativo ensaio de como se aproximar de livros visando antes de tudo o prazer que se terá.
O ensino de Literatura, com leituras obrigatórias, de acordo com a forma em que é feito, muitas vezes, fugindo das faixas etárias mais adequadas, pode provocar afastamentos em vez de aproximação dos livros.
Lembro-me do terror provocado quando um professor indicou “Senhora’ de José Alencar para uma prova. O céu era o limite. Tudo poderia ser perguntando.
Suzana há anos está à frente do “Estação das Letras”, onde há ensinos das mais variadas etapas da construção de um livro, incluindo, claro, cursos de criação literária, tendo como mestres, pessoas do nível de José Castello.
Cheguei a fazer no Estação cursos de criação literária com os escritores Victor Giúdice ( interrompido pela morte dele) e com o bastante premiado Flávio Moreira da Costa. Este eu abandonei por não haver empatia, algo mais do que necessário para qualquer aula continuada.
Para que eu leia um livro como gosto e quero, preciso de total silêncio. Até música clássica como Mozart ao fundo me atrapalha e televisão ligada me causa verdadeiro horror.
Quando leio uma obra Literária, preciso ouvir o texto dentro de mim. Mas como isto será possível diante de tantas algaravias?
Hoje eu tenho como me isolar, graças a Deus, para minhas leituras.
Em trocas no Facebook, Suzana Vargas comungou do meu jeito para leituras. Com ela acontece o mesmo e associamos o caso de muitas casas com televisão ligada, que envolve vários ambientes, não permitirem concentração para leituras.
E para terminar: Para o bem ou para o mal, sou um leitor bastante minucioso; não passo para a página seguinte se não tiver captado bem o que temos na página presente.
5.35 “Páginas Verdes “(1983)- Edilson Martins – Codecri
Edilson Martins foi no Brasil um dos pioneiros preocupados com a situação das mudanças climáticas, num livro que clama pelo verde preservado.
5.36 “Karl Marx- O Apanhador de Sinais” (1987) - Horacio L Gonzales (Coleção Encanto Radical) – Brasiliense
5.37 “O Que é Ideologia? ” - Marilena Chauí (1980) – (Coleção Primeiros Passos)- Brasiliense
À luz de todos os acontecimentos políticos, sociais e econômicos (bem como em relação aos novos filósofos que surgiram), seria bastante interessante ler uma revisão de Marilena sobre o que é ideologia hoje.
5.38 “Entre o Deus e a Vasilha”( Ensaio sobre a reforma agrária brasileira, a qual nunca foi feita ) (1985) – Antônio Callado- Nova Fronteira (1985)
“...um artista
pode moldar o barro inerte
que tem sobre a tripeça do trabalho,
e fazer dele, à vontade,
uma vasilha ou um deus...
tenho a impressão que o Brasil
se decidiu pela vasilha.
Eça de Queiroz
(Inédito da Correspondência de Fradique Mendes )
Antônio Callado escreveu muitas belas crônicas no Jornal Folha de São Paulo, que se não foram ainda, merecem ser coligidas para formação de um excelente livro.
Nas últimas crônicas, quando já devia estar doente, se mostrava bastante frustrado com o atraso que o Brasil ainda era e tinha ojeriza de que culpassem a História que vem do império pelo estado do Brasil.
Se vivo estivesse sabendo que ainda temos movimentos dos sem- terra porque ainda não foi feita uma reforma agrária séria, mesmo com um governo de 12 anos e meio dito popular, estaria muito triste.
Criticava os que chamava de escritores de escritórios, que não viajavam para conhecer o Brasil.
Tinha simpatias pelo Plano Real do governo FHC. Antes dele, via o Brasil humilhado, de joelhos, diante do cenário internacional.
5.39 “200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro”- Augusto Boal (1979)- Civilização Brasileira
Boal trabalha até com Proust e sua ideia de que somos ainda mais felizes nas recordações, do que quanto vivenciamos momentos alegres.
Nas recordações podemos retirar todas as ansiedades e percalços que tivemos para que estes momentos tenham acontecido.
Trabalhando também para não atores, Boal nos dá ideia do que seria o que chama de Teatro do Oprimido. Não seríamos mais passivos na sociedade. Os exercícios e jogos praticados nos ajudam a lidar melhor com as situações embaraçosas que nos envolverem.
5.40 “Seis Balas Para Um Buraco Só: A Crise do Masculino” (1998) – João Silvério Trevisan- Record
A tônica dominante do livro é tentar explicar o porquê ocorre tantos crimes bárbaros contra homossexuais, como pessoas que levam vários tiros e facadas, quando somente com alguns já se matou quem queria.
Uma explicação para isto, que profissionais da área psi podem explicar melhor, é que estes bárbaros assassinos ao insistirem tanto estão é matando sua própria homossexualidade reprimida. .
Lembremos a morte terrível de Luis Alberto Martinez Correa, | irmão de Zé Celso.
(No día 23 de dezembro de 1987, Luís Antônio Martinez Corrêa morre brutalmente assassinado. Seu corpo é encontrado amarrado de pés e mãos com um golpe na cabeça, estrangulado e mutilado com 107 facadas em seu apartamento em Ipanema. Alguns pertences do diretor (uma secretária eletrônica, um videocassete e 17 mil cruzados) foram roubados.
Dois dias após o homicídio, o então surfista Gláucio Garcia de Arruda é identificado pelo porteiro do prédio como a última pessoa em sair do apartamento do diretor. Garcia foi preso e posteriormente julgado, foi absolvido em primeira instância e condenado em segunda instância a 20 anos de prisão por roubo seguido de morte. ) – Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Ant%C3%B4nio_Martinez_Corr%C3%AAa
5.41“A Burrice do Demônio” (1988) – Hélio Pelegrino- Rocco
Há um ensaio excepcional sobre a psicologia do torturador, bastante necessário nos tempos atuais onde temos um presidente ( o pior que democraticamente, “mas não muito”) que não só aprova, como louva estas práticas.
5.42 “História da História Nova do Brasil” (1987)- Nelson Werneck Sodré- Vozes
Nelson era um general reformado quando fiz um curso de História Nova do Brasil com ele na primeira metade dos anos 80.
Claro que suas visões iam contra a História Oficial e ele, sem ser nenhuma blague, disse que quem não tivesse cursado História, seria um aluno melhor para seus curso, pois não estaria contaminado pelo que hoje chamamos de falsas narrativas.
6- Religião
6.1 “Um Vento Sagrado- História de vida de um adivinho da tradição nagô-kêtu brasileira” (1996)- Muniz Sodré e Luís Felipe de Lima – Mauad
Numa época de charlatanismos com fachada espiritual é mais do que necessário lembrarmos de Agenor de Oliveira e sua dedicação de uma vida como adivinho do Candomblé, saudado pelas mais variadas pessoas direta ou indiretamente envolvidas com cultos afros, famosos ou não.
6.2 “Psicologia e Religião” - C. J. Yung- (Vozes-1984)
Yung tem uma ideia de Deus como um arquétipo.
Jung sentiu-se obrigado a reconhecer, “como conteúdos arquétipos da alma humana, as representações primordiais coletivas que estão na base das diversas formas de religião”
Jung não vê Deus como prova, mas sim como arquétipo.
Depois de anos de vida e experiências pelas quais passei, não posso mais acreditar em religiões como fuga do mal estar da civilização.
Para quem como eu, que teve uma longa convivência em candomblés, não tenho como negar a noção de Inconsciente Coletivo de Yung.
Os orixás surgem nos mais variados cantos do país, na santeria cubana, na África etc. São figuras arquetípicas como que do Inconsciente Coletivo.
Para introduzir leigos ao universo do Candomblé sugiro esta bela matéria sobre a morte de Mãe Estela adiante, uma das mais prestigiadas Mães de Santo que o Brasil já teve, uma pessoa religiosa que não era nada fanática.
O principal é manter a essência e não os ritos. Assim pedia às pessoas que não dessem oferendas a Iemanjá, com barcos com perfumes em vidros etc, que poluem o mar.
https://oglobo.globo.com/opiniao/descanse-mae-ate-um-dia-23332288
por Flávia Oliveira : “Descanse, Mãe. Até um dia”
Líder de uma religião de transmissão oral de conhecimentos, imprimiu seu saber em livros.
Desenvolverei melhor algo já abordado.
Yung, que foi discípulo de Freud, de início aprendeu psicanálise com o mestre e enquanto Freud trabalhou com a classe média baixa, média e alta, Yung resolveu trabalhar com psicanálise numa instituição psiquiátrica.
Foi nesta que Yung tratou e curou Sabina Spielrein, com forte sinais de histeria, que viria a se tornar sua amante.
Quando Yung surgiu com as ideias do Inconsciente Coletivo, passou a se separar de Freud para seguir outro caminho.
Curiosamente Sabina abraçou mesmo foram as ideias de Freud, tendo ido estudar na Rússia e se interessado em terapias de crianças.
Estas relações entre Yung e Freud e as aproximações e afastamentos tornam imperdível, “Um Método Perigoso” (2001) de David Cronenberg, quando Freud já havia trabalhado bastante psicanálise com seus clientes pequenos ou burgueses mesmo.
O perigoso do título é que Yung trabalhará pela primeira vez com as ideias de Freud e ainda num manicômio, junto a uma paciente histérica, Sabine.Tudo através de falas. Nada de remédios e procedimentos violentos.
Hoje faço análise yunguiana ou o que chamam psicologia yunguiana, pois mais tarde, Yung se distanciou de pressupostos essenciais da psicanálise de como Freud a entendia.
Assim, por um imperativo ético, não quis mais ser considerado psicanalista e sim psicólogo ou analista yunguiano, reiterando o já escrito.
Mas Yung não discorda de ideias de Freud como a que o menino é o pai do homem. Só não dá o grande peso que Freud dá a vida sexual humana no nível de Freud.
Pelo fim da vida, Yung reconheceu que seus escritos não eram/são de fácil leitura. Assim em seu livro autobiográfico, “Memórias, Sonhos e Reflexões” - Carl Gustav Yung -Editora Cultura (2015), resolveu apresentar suas ideias de forma mais clara.
Sendo assim é o livro que recomendam para quem quer se iniciar pela obra de Yung.
Outro filme nos mostra a relação tensa e intensa de Yung com Sabina: “Jornada da Alma” (2003) de Roberto Faenza
https://www.youtube.com/watch?v=NS3PgqyoF84
Jornada da Alma (Prendimi l’anima) – Filme Completo-Dublado e Legendado em Português.
Sérgio Brito no prefácio de "Memórias....." de Jung, relata que já teve experiências nos palcos muito mais prazerosas do que relações sexuais que teve. Isto revela a atenção em relação à espiritualidade por Yung, que não tem a ver com religião, necessariamente.
O extraordinário documentário “Imagens do Inconsciente” (1987) de Leon Hirszman, nos apresenta três casos de pacientes com os quais Nise da Silveira trabalhava com arte-terapia. Mais tarde com veremos: obras de arte mesmo.
O mais impressionante é “A Barca do Sol” de Carlos Pertuis que em várias culturas significa a barca que leva as pessoas à morte.
Me arrepio só de lembrar que está é a última imagem que o filme apresenta, sendo que Leon ficou doente e morreu pouco tempo depois. O que, não importando a ordem em que foi filmada, esta imagem é também aquela derradeira e mais bela que ele nos legou de sua obra.
E é curioso que Leon, marxista nada ortodoxo, nenhum pouco ranheta, de vários filmes com fortes temáticas sociais, como Eles Não Usam Black-tie “ (1981), “ABC da Greve” ( 1990) , “São Bernardo” ( 1972) etc, tenha se interessado por um filme que se pode dizer metafísico, dados os mistérios em que toca.
https://www.youtube.com/results?search_query=imagens+do+inconsciente+filme
Tem-se uma série de trechos do filme “Imagens do Inconsciente” bem como intervenções de Nise da Silveira.
Muitas mandalas bem diferentes mentes foram
construídas, por pessoas de origem pobre, que nunca tiveram aulas de artes, como podemos ver na ficção “Nise: No Coração da Loucura” ( 2015) de Roberto Berliner, o crítico de arte bastante consagrado Mário Pedrosa, ao conhecer os trabalhos dos internos de Nise da Silveira, lhes deu o status de obras de arte e não simplesmente arte-terapia.
Temos no filme trocas de cartas/fotos de Nise com Yung, bem como imagens do encontro que os dois tiveram.
https://www.youtube.com/watch?v=pr6vfeOyxPY
Filme Completo - “Nise: O Coração da Loucura” HD
6.3 “A Provação do Labirinto - Diálogos com Claude-Henri Rocquet”- Mircea Eliade -Lisboa : Dom Quixote
Esta provação me lembra as iniciações das pessoas no Candomblé, quando raspam a cabeça e passam por vários rituais, até um mês depois, onde haverá a saída ritual e depois uma festa aberta para o Orixá de cabeça.
Como o orixá Exu é o emissário entre o mundo dos orixás e o nosso, em todas as oferendas em festas ou até mesmo num bori, são feitas oferendas a ele, bori este que muitas vezes chamam de misericórdia, para enfrentarmos energeticamente com mais força as dificuldades da vida.
Além das lindas festas, do contato com as forças dos rituais, dos orixás, do jogo de búzios etc, gosto muito de uma religião que se volta para a qualidade de vida que devemos ter na Terra e não num suposto mundo depois da morte do qual podemos ter uma ideia vaga, mas nunca teremos por aqui saber como é..
De Eliade surge uma máxima que merece ser um mantra cotidiano:
“O homem do ressentimento vive em estado larvar.”
Em dos seus livros Mircea conta que encontrou um jovem bastante
Realmente, guardarmos ressentimos não resolve nada.
Simplesmente ficamos com este sentimento muito ruim dentro de nós e que nos faz mal. O alvo deste sentimento continuará incólume e alheio.
Eliade, num dos seus livros, narra que encontrou um jovem bastante perdido na vida e que tinha uma religião que lhe trazia forças. Mesmo, como historiador, percebendo que está religião era bastante capenga, ele acrescenta, que não seria ele a tirar um forte sustentáculo do jovem. Que continuasse com ela até encontrar uma religião que tivesse fundamentos mais claros, bem definidos.
Eliade, nesta narrativa, nos mostra o quanto está no extremo oposto de tantos fanatismos religiosos que campeiam pelo mundo e no nosso Brasil.
6.4 “Mito e Realidade” - Mircea Eliade – Perspectiva (1998)
6.5 “O Mito do Eterno Retorno” (1949)- Mircea Eliade
6.6 “O Sagrado e o Profano- A Essência das Religiões” - (1959) Mircea Eliade
O romance de Eliade, “Juventude Sem Juventude”, não traduzido no Brasil, foi adaptado ao Cinema por Francis Ford Coppola, mas resultou em um filme muito confuso. Eu o vi num Festival do Rio.
Baseado em muitas questões caras a Eliade é de dificílima adaptação ao Cinema.
.
6.7 “O Livro dos Espíritos” (1857)- Allan Kardec
6.8 “O Que é Espiritismo?” (1859) - Alan Kardec
Instruções Práticas Sobre Manifestações Espiritas – Alan Kardec
É bastante importante, numa era em que podem confundir alhos com bugalhos, dado o caso tenebroso João de Deus, apresentar a pertinência das incorporações mediúnicas e outras formas de mediunidade, como a psicografia de toda uma vida modesta de Chico Xavier, que se outro fosse, poderia querer fazer fortuna com seus dons.
Sob este ponto de vista não gosto nada da quantidade de best-sellers que Zilba Gasparetto produziu. Ela há bom tempo, não pertencia a nenhuma sociedade espírita.
Um xamã me disse para sobre uma pequena mesa colocar uma toalha branca, acender uma vela, colocar um copo d’água, um bloco de papel, me concentrar, segurando uma caneta.
Nestas circunstâncias, minha mão escrevia sobre as folhas pulsos como se fosse um eletrocardiograma, fazendo este movimento com minha mão solta, se movendo sem esforço meu algum.
Fazia isto toda noite de terça-feira. Depois de meia hora, interrompendo, me sentia cansado como se tivesse estudado o dia inteiro.
Depois de certo tempo, comecei a escrever a palavra nelson como se um espírito estivesse iniciando uma comunicação comigo.
Mas eu tinha que ganhar a vida como Engenheiro, tinha fortes interesses na vida cultural eu não queria me dedicar à psicografia, pois esta exigiria uma grande entrega, que eu não estava disposto a dar.
Fazer as coisas mais ou menos, principalmente nesta atividade, é mais do que inadequado.
Assim, conversando com o xamã, ele me sugeriu, quase como que se fosse uma autorização, que eu parasse.
Assim como posso escrever/dizer que psicografia não existe, não é algo seríssimo?
Minha experiência vivenciada nesta área me faz não considerar qualquer objeção de validade venha de onde for. Eu diria a isto a Freud, Lacan, Nietzsche, Descartes, dentre outros.
O que senti/ vivenciei em casa corroborava ideias lidas de Allan Kardec, mesmo que eu não tenha me tornado espirita kardecista.
6.8 “A Chave da Teosofia” (1889) - Madame Blavatsky
Bem mais difícil de ler do que Alan Kardec, Blavatsky se refere a mestres de sabedoria ou mahatmas, com quem aprende mais do que com espíritos que são incorporados, pois estes podem não ter grande sabedoria, podem ser frutos de animismo ou até de fraudes.
Mas isto não impede que espíritos de forte luz apareçam e creio que foram muitos deles que banharam a vida de Chico Xavier.
Em relações aos mestres de sabedoria de Blavatsky temos que ter fé em suas palavras. E surge a questão imperiosa: como nós, pobres mortais, envolvidos com manifestações espíritas ou não, teremos acesso a estes mestres que ela cultua e com quem tanto aprende?
Mas é bom destacar que a obra de Blavatsky é imensa, sendo “A Chave da Teosofia” o seu trabalho mais conhecido e difundindo.
Ela sofreu grandes perseguições na Rússia, como era de se esperar de uma escritora envolvida em temas esotéricos, algo totalmente contrário aos impingidos realismos socialistas.
Plínio Marques tem uma peça, “Madame Blavatsky” onde trata da vida desta mulher bastante determinada e incomum, que não se deixava abater.
O texto nunca foi encenado no Rio de Janeiro.
Não sei se ele entra no mérito com força nas ideias dela ou se concentra nos horrores de uma pessoa perseguida, com obras censuradas como foram as de Plínio Marcos no Brasil.
Houve um período longo em que todos as peças de Plínio estavam proibidas. Ele viveu de jogos de Tarô e de vendas de seus livros manufaturados em portas de teatros.
Quando veio a abertura politica e ele pode encenar toda as suas peças( principalmente a proibidíssima “Abajur Lilás”, mas uma obra-prima deste autor que só perde em grandeza na dramaturgia brasileira para Nelson Rodrigues), ele já estava bastante combalido e pouco tempo depois morreu.
Pode-se dizer que a Ditadura Militar cometeu um grande assassinato cultural, além de pessoal.
Plínio dizia ser religioso, mas, como era de se esperar, não era ligado a nenhuma instituição. Teria ele aprendido bastante com Blavatsky, lido muitas de suas obras, além de A Chave da Teosofia”?
6.9 “Por Que Não Sou Cristão” (1957)- Bertrand Russell ( Livraria Exposição do Livro- 1972
Vários ensaios de Russell sobre o tema. Inclui : “A Essência do Deus- Um debate entre Bertrand Russell e o P.F.C. Copleston, S.J. -Apêndice: Como Bertrand Russell foi impedido de ensinar no City College de Nova York
Bertrand Russell neste seu livro, vendido de início com capa preta horrorosa, desmonta vário pilares sob o qual o cristianismo se sustenta.
Declara-se decidamente ateu e que nada sobreviverá dele quando morrer e que, modo algum, deixará de ter alegrias na vida, todos os dias, por ter esta visão do mundo.
Aonde Russell se equivoca, tal como um Friedrich Nietzsche é que descobrindo pés de barro do cristianismo, isto não implica em nada, necessariamente em ateísmo.
Quantas religiões existem, sejam orientais, afros, afro-brasileiras, afrocubanas, muçulmanas etc, sobre as quais não conhecem nada?
A estes dois, dos maiores críticos do cristianismo (coberto de razões) falta maior humildade e conhecimento de outras religiões.
Deveriam ter lido com atenção a fabulosa obra de Mircea Eliade, grande historiador das religiões, como também as de Yung, que não fecha questão sobre a existência ou não de Deus, mas conhece os grandes mistérios deste nosso mundo e não descarta a possibilidade de Deus existir, saiba-se lá como, algo inacessível para nós mortais.
Sou tentado a escrever que o efeito mais deletério, mais destrutivo do cristianismo repressivo, encarado de forma acrítica, prisioneiro de dogmatismos, por ignorância do que pode haver de distinto, é a disseminação do ateísmo.
6.10 “O Evangelho Segundo São Mateus” (“Bíblia Sagrada”- Editora Vozes) .
Já no prefácio logo me deparo com algo totalmente absurdo, autoritário, inacreditável e sem senso lógico.
Algo deste teor: “Estão vedadas interpretações que não sejam as da Santa Igreja Católica”.
Como assim? Querem patrulhar minha leitura, minhas interpretações? Estamos ainda no período da Inquisição?
Mas digamos que eu quisesse ser obediente. Mas se o primeiro contato que estou tendo com o tema é através desta Bíblia que comprei, como vou saber se estou interpretando como querem? Total nonsense. Lógica de grau zero.
Rose Marie Muraro, pessoa bastante admirável, uma das grandes precursoras de lutas pelos direitos das mulheres, fazia parte do comitê editorial da Vozes. Como deixou passar esta recomendação ridícula?
Não gostei da tradução, por ter uma linguagem empolada, o gênesis me soou cansativo e para justificar minha compra, lembrei-me que Pier Paolo Pasolini filmou “O Evangelho Segundo São Mateus” (1964).E foi este evangelho o que li.
Gostei bastante. A história de Cristo, com fé ou não, sempre achei muito bela. Há representações na arte de Cristo que são maravilhosas, como em obras de Caravaggio.
Da leitura uma máxima ficou para sempre: “Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas leves como as pombas.”
Isto define muitas atitudes que tenho tomado e pensamentos.
No Cinema gosto muito de “A Última Tentação de Cristo” (1988) de Martim Scorsese, “Jesus Cristo, Superstar” (1973) de Norman Jewison e o já citado filme de Pasolini.
Mas minha atração pela história de Cristo é tal que aprecio até a visão bastante canônica, sem nada transgressiva, de Franco Zeffirelli : “Jesus de Nazaré”( 1977), que é muito bonita e traz as linhas mestras do cristianismo por quem o sente.
Já de “A Paixão de Cristo” (2004) de Mel Gibson, dado o grau de violência que li e me contaram, passei longe.
Acredito que esta minha atração pela história/mitologia de Cristo venha do sincretismo com Oxalá, dado que sou no Candomblé filho de Oxaguiã ( Oxalá velho).
Se bem que sincretismo mesmo existe é na Umbanda e não no Candomblé, que é uma religião oral que vem de uma cultura própria da África.
7- Entrevistas
Numa época de charlatanismos com fachada espiritual é mais do que necessário lembrarmos de Agenor de Oliveira e sua dedicação de uma vida como adivinho do Candomblé, saudado pelas mais variadas pessoas direta ou indiretamente envolvidas com cultos afros, famosos ou não.
6.2 “Psicologia e Religião” - C. J. Yung- (Vozes-1984)
Yung tem uma ideia de Deus como um arquétipo.
Jung sentiu-se obrigado a reconhecer, “como conteúdos arquétipos da alma humana, as representações primordiais coletivas que estão na base das diversas formas de religião”
Jung não vê Deus como prova, mas sim como arquétipo.
Depois de anos de vida e experiências pelas quais passei, não posso mais acreditar em religiões como fuga do mal estar da civilização.
Para quem como eu, que teve uma longa convivência em candomblés, não tenho como negar a noção de Inconsciente Coletivo de Yung.
Os orixás surgem nos mais variados cantos do país, na santeria cubana, na África etc. São figuras arquetípicas como que do Inconsciente Coletivo.
Para introduzir leigos ao universo do Candomblé sugiro esta bela matéria sobre a morte de Mãe Estela adiante, uma das mais prestigiadas Mães de Santo que o Brasil já teve, uma pessoa religiosa que não era nada fanática.
O principal é manter a essência e não os ritos. Assim pedia às pessoas que não dessem oferendas a Iemanjá, com barcos com perfumes em vidros etc, que poluem o mar.
https://oglobo.globo.com/opiniao/descanse-mae-ate-um-dia-23332288
por Flávia Oliveira : “Descanse, Mãe. Até um dia”
Líder de uma religião de transmissão oral de conhecimentos, imprimiu seu saber em livros.
Desenvolverei melhor algo já abordado.
Yung, que foi discípulo de Freud, de início aprendeu psicanálise com o mestre e enquanto Freud trabalhou com a classe média baixa, média e alta, Yung resolveu trabalhar com psicanálise numa instituição psiquiátrica.
Foi nesta que Yung tratou e curou Sabina Spielrein, com forte sinais de histeria, que viria a se tornar sua amante.
Quando Yung surgiu com as ideias do Inconsciente Coletivo, passou a se separar de Freud para seguir outro caminho.
Curiosamente Sabina abraçou mesmo foram as ideias de Freud, tendo ido estudar na Rússia e se interessado em terapias de crianças.
Estas relações entre Yung e Freud e as aproximações e afastamentos tornam imperdível, “Um Método Perigoso” (2001) de David Cronenberg, quando Freud já havia trabalhado bastante psicanálise com seus clientes pequenos ou burgueses mesmo.
O perigoso do título é que Yung trabalhará pela primeira vez com as ideias de Freud e ainda num manicômio, junto a uma paciente histérica, Sabine.Tudo através de falas. Nada de remédios e procedimentos violentos.
Hoje faço análise yunguiana ou o que chamam psicologia yunguiana, pois mais tarde, Yung se distanciou de pressupostos essenciais da psicanálise de como Freud a entendia.
Assim, por um imperativo ético, não quis mais ser considerado psicanalista e sim psicólogo ou analista yunguiano, reiterando o já escrito.
Mas Yung não discorda de ideias de Freud como a que o menino é o pai do homem. Só não dá o grande peso que Freud dá a vida sexual humana no nível de Freud.
Pelo fim da vida, Yung reconheceu que seus escritos não eram/são de fácil leitura. Assim em seu livro autobiográfico, “Memórias, Sonhos e Reflexões” - Carl Gustav Yung -Editora Cultura (2015), resolveu apresentar suas ideias de forma mais clara.
Sendo assim é o livro que recomendam para quem quer se iniciar pela obra de Yung.
Outro filme nos mostra a relação tensa e intensa de Yung com Sabina: “Jornada da Alma” (2003) de Roberto Faenza
https://www.youtube.com/watch?v=NS3PgqyoF84
Jornada da Alma (Prendimi l’anima) – Filme Completo-Dublado e Legendado em Português.
Sérgio Brito no prefácio de "Memórias....." de Jung, relata que já teve experiências nos palcos muito mais prazerosas do que relações sexuais que teve. Isto revela a atenção em relação à espiritualidade por Yung, que não tem a ver com religião, necessariamente.
O extraordinário documentário “Imagens do Inconsciente” (1987) de Leon Hirszman, nos apresenta três casos de pacientes com os quais Nise da Silveira trabalhava com arte-terapia. Mais tarde com veremos: obras de arte mesmo.
O mais impressionante é “A Barca do Sol” de Carlos Pertuis que em várias culturas significa a barca que leva as pessoas à morte.
Me arrepio só de lembrar que está é a última imagem que o filme apresenta, sendo que Leon ficou doente e morreu pouco tempo depois. O que, não importando a ordem em que foi filmada, esta imagem é também aquela derradeira e mais bela que ele nos legou de sua obra.
E é curioso que Leon, marxista nada ortodoxo, nenhum pouco ranheta, de vários filmes com fortes temáticas sociais, como Eles Não Usam Black-tie “ (1981), “ABC da Greve” ( 1990) , “São Bernardo” ( 1972) etc, tenha se interessado por um filme que se pode dizer metafísico, dados os mistérios em que toca.
https://www.youtube.com/results?search_query=imagens+do+inconsciente+filme
Tem-se uma série de trechos do filme “Imagens do Inconsciente” bem como intervenções de Nise da Silveira.
Muitas mandalas bem diferentes mentes foram
construídas, por pessoas de origem pobre, que nunca tiveram aulas de artes, como podemos ver na ficção “Nise: No Coração da Loucura” ( 2015) de Roberto Berliner, o crítico de arte bastante consagrado Mário Pedrosa, ao conhecer os trabalhos dos internos de Nise da Silveira, lhes deu o status de obras de arte e não simplesmente arte-terapia.
Temos no filme trocas de cartas/fotos de Nise com Yung, bem como imagens do encontro que os dois tiveram.
https://www.youtube.com/watch?v=pr6vfeOyxPY
Filme Completo - “Nise: O Coração da Loucura” HD
6.3 “A Provação do Labirinto - Diálogos com Claude-Henri Rocquet”- Mircea Eliade -Lisboa : Dom Quixote
Esta provação me lembra as iniciações das pessoas no Candomblé, quando raspam a cabeça e passam por vários rituais, até um mês depois, onde haverá a saída ritual e depois uma festa aberta para o Orixá de cabeça.
Como o orixá Exu é o emissário entre o mundo dos orixás e o nosso, em todas as oferendas em festas ou até mesmo num bori, são feitas oferendas a ele, bori este que muitas vezes chamam de misericórdia, para enfrentarmos energeticamente com mais força as dificuldades da vida.
Além das lindas festas, do contato com as forças dos rituais, dos orixás, do jogo de búzios etc, gosto muito de uma religião que se volta para a qualidade de vida que devemos ter na Terra e não num suposto mundo depois da morte do qual podemos ter uma ideia vaga, mas nunca teremos por aqui saber como é..
De Eliade surge uma máxima que merece ser um mantra cotidiano:
“O homem do ressentimento vive em estado larvar.”
Em dos seus livros Mircea conta que encontrou um jovem bastante
Realmente, guardarmos ressentimos não resolve nada.
Simplesmente ficamos com este sentimento muito ruim dentro de nós e que nos faz mal. O alvo deste sentimento continuará incólume e alheio.
Eliade, num dos seus livros, narra que encontrou um jovem bastante perdido na vida e que tinha uma religião que lhe trazia forças. Mesmo, como historiador, percebendo que está religião era bastante capenga, ele acrescenta, que não seria ele a tirar um forte sustentáculo do jovem. Que continuasse com ela até encontrar uma religião que tivesse fundamentos mais claros, bem definidos.
Eliade, nesta narrativa, nos mostra o quanto está no extremo oposto de tantos fanatismos religiosos que campeiam pelo mundo e no nosso Brasil.
6.4 “Mito e Realidade” - Mircea Eliade – Perspectiva (1998)
6.5 “O Mito do Eterno Retorno” (1949)- Mircea Eliade
6.6 “O Sagrado e o Profano- A Essência das Religiões” - (1959) Mircea Eliade
O romance de Eliade, “Juventude Sem Juventude”, não traduzido no Brasil, foi adaptado ao Cinema por Francis Ford Coppola, mas resultou em um filme muito confuso. Eu o vi num Festival do Rio.
Baseado em muitas questões caras a Eliade é de dificílima adaptação ao Cinema.
.
6.7 “O Livro dos Espíritos” (1857)- Allan Kardec
6.8 “O Que é Espiritismo?” (1859) - Alan Kardec
Instruções Práticas Sobre Manifestações Espiritas – Alan Kardec
É bastante importante, numa era em que podem confundir alhos com bugalhos, dado o caso tenebroso João de Deus, apresentar a pertinência das incorporações mediúnicas e outras formas de mediunidade, como a psicografia de toda uma vida modesta de Chico Xavier, que se outro fosse, poderia querer fazer fortuna com seus dons.
Sob este ponto de vista não gosto nada da quantidade de best-sellers que Zilba Gasparetto produziu. Ela há bom tempo, não pertencia a nenhuma sociedade espírita.
Um xamã me disse para sobre uma pequena mesa colocar uma toalha branca, acender uma vela, colocar um copo d’água, um bloco de papel, me concentrar, segurando uma caneta.
Nestas circunstâncias, minha mão escrevia sobre as folhas pulsos como se fosse um eletrocardiograma, fazendo este movimento com minha mão solta, se movendo sem esforço meu algum.
Fazia isto toda noite de terça-feira. Depois de meia hora, interrompendo, me sentia cansado como se tivesse estudado o dia inteiro.
Depois de certo tempo, comecei a escrever a palavra nelson como se um espírito estivesse iniciando uma comunicação comigo.
Mas eu tinha que ganhar a vida como Engenheiro, tinha fortes interesses na vida cultural eu não queria me dedicar à psicografia, pois esta exigiria uma grande entrega, que eu não estava disposto a dar.
Fazer as coisas mais ou menos, principalmente nesta atividade, é mais do que inadequado.
Assim, conversando com o xamã, ele me sugeriu, quase como que se fosse uma autorização, que eu parasse.
Assim como posso escrever/dizer que psicografia não existe, não é algo seríssimo?
Minha experiência vivenciada nesta área me faz não considerar qualquer objeção de validade venha de onde for. Eu diria a isto a Freud, Lacan, Nietzsche, Descartes, dentre outros.
O que senti/ vivenciei em casa corroborava ideias lidas de Allan Kardec, mesmo que eu não tenha me tornado espirita kardecista.
6.8 “A Chave da Teosofia” (1889) - Madame Blavatsky
Bem mais difícil de ler do que Alan Kardec, Blavatsky se refere a mestres de sabedoria ou mahatmas, com quem aprende mais do que com espíritos que são incorporados, pois estes podem não ter grande sabedoria, podem ser frutos de animismo ou até de fraudes.
Mas isto não impede que espíritos de forte luz apareçam e creio que foram muitos deles que banharam a vida de Chico Xavier.
Em relações aos mestres de sabedoria de Blavatsky temos que ter fé em suas palavras. E surge a questão imperiosa: como nós, pobres mortais, envolvidos com manifestações espíritas ou não, teremos acesso a estes mestres que ela cultua e com quem tanto aprende?
Mas é bom destacar que a obra de Blavatsky é imensa, sendo “A Chave da Teosofia” o seu trabalho mais conhecido e difundindo.
Ela sofreu grandes perseguições na Rússia, como era de se esperar de uma escritora envolvida em temas esotéricos, algo totalmente contrário aos impingidos realismos socialistas.
Plínio Marques tem uma peça, “Madame Blavatsky” onde trata da vida desta mulher bastante determinada e incomum, que não se deixava abater.
O texto nunca foi encenado no Rio de Janeiro.
Não sei se ele entra no mérito com força nas ideias dela ou se concentra nos horrores de uma pessoa perseguida, com obras censuradas como foram as de Plínio Marcos no Brasil.
Houve um período longo em que todos as peças de Plínio estavam proibidas. Ele viveu de jogos de Tarô e de vendas de seus livros manufaturados em portas de teatros.
Quando veio a abertura politica e ele pode encenar toda as suas peças( principalmente a proibidíssima “Abajur Lilás”, mas uma obra-prima deste autor que só perde em grandeza na dramaturgia brasileira para Nelson Rodrigues), ele já estava bastante combalido e pouco tempo depois morreu.
Pode-se dizer que a Ditadura Militar cometeu um grande assassinato cultural, além de pessoal.
Plínio dizia ser religioso, mas, como era de se esperar, não era ligado a nenhuma instituição. Teria ele aprendido bastante com Blavatsky, lido muitas de suas obras, além de A Chave da Teosofia”?
6.9 “Por Que Não Sou Cristão” (1957)- Bertrand Russell ( Livraria Exposição do Livro- 1972
Vários ensaios de Russell sobre o tema. Inclui : “A Essência do Deus- Um debate entre Bertrand Russell e o P.F.C. Copleston, S.J. -Apêndice: Como Bertrand Russell foi impedido de ensinar no City College de Nova York
Bertrand Russell neste seu livro, vendido de início com capa preta horrorosa, desmonta vário pilares sob o qual o cristianismo se sustenta.
Declara-se decidamente ateu e que nada sobreviverá dele quando morrer e que, modo algum, deixará de ter alegrias na vida, todos os dias, por ter esta visão do mundo.
Aonde Russell se equivoca, tal como um Friedrich Nietzsche é que descobrindo pés de barro do cristianismo, isto não implica em nada, necessariamente em ateísmo.
Quantas religiões existem, sejam orientais, afros, afro-brasileiras, afrocubanas, muçulmanas etc, sobre as quais não conhecem nada?
A estes dois, dos maiores críticos do cristianismo (coberto de razões) falta maior humildade e conhecimento de outras religiões.
Deveriam ter lido com atenção a fabulosa obra de Mircea Eliade, grande historiador das religiões, como também as de Yung, que não fecha questão sobre a existência ou não de Deus, mas conhece os grandes mistérios deste nosso mundo e não descarta a possibilidade de Deus existir, saiba-se lá como, algo inacessível para nós mortais.
Sou tentado a escrever que o efeito mais deletério, mais destrutivo do cristianismo repressivo, encarado de forma acrítica, prisioneiro de dogmatismos, por ignorância do que pode haver de distinto, é a disseminação do ateísmo.
6.10 “O Evangelho Segundo São Mateus” (“Bíblia Sagrada”- Editora Vozes) .
Já no prefácio logo me deparo com algo totalmente absurdo, autoritário, inacreditável e sem senso lógico.
Algo deste teor: “Estão vedadas interpretações que não sejam as da Santa Igreja Católica”.
Como assim? Querem patrulhar minha leitura, minhas interpretações? Estamos ainda no período da Inquisição?
Mas digamos que eu quisesse ser obediente. Mas se o primeiro contato que estou tendo com o tema é através desta Bíblia que comprei, como vou saber se estou interpretando como querem? Total nonsense. Lógica de grau zero.
Rose Marie Muraro, pessoa bastante admirável, uma das grandes precursoras de lutas pelos direitos das mulheres, fazia parte do comitê editorial da Vozes. Como deixou passar esta recomendação ridícula?
Não gostei da tradução, por ter uma linguagem empolada, o gênesis me soou cansativo e para justificar minha compra, lembrei-me que Pier Paolo Pasolini filmou “O Evangelho Segundo São Mateus” (1964).E foi este evangelho o que li.
Gostei bastante. A história de Cristo, com fé ou não, sempre achei muito bela. Há representações na arte de Cristo que são maravilhosas, como em obras de Caravaggio.
Da leitura uma máxima ficou para sempre: “Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas leves como as pombas.”
Isto define muitas atitudes que tenho tomado e pensamentos.
No Cinema gosto muito de “A Última Tentação de Cristo” (1988) de Martim Scorsese, “Jesus Cristo, Superstar” (1973) de Norman Jewison e o já citado filme de Pasolini.
Mas minha atração pela história de Cristo é tal que aprecio até a visão bastante canônica, sem nada transgressiva, de Franco Zeffirelli : “Jesus de Nazaré”( 1977), que é muito bonita e traz as linhas mestras do cristianismo por quem o sente.
Já de “A Paixão de Cristo” (2004) de Mel Gibson, dado o grau de violência que li e me contaram, passei longe.
Acredito que esta minha atração pela história/mitologia de Cristo venha do sincretismo com Oxalá, dado que sou no Candomblé filho de Oxaguiã ( Oxalá velho).
Se bem que sincretismo mesmo existe é na Umbanda e não no Candomblé, que é uma religião oral que vem de uma cultura própria da África.
7- Entrevistas
7.1 “Conversas Com Cortázar” (2002)– Ernesto González
Bermejo – Zahar
7.2 “Sobre Loucos e Sãos’ (1981) Entrevista de R. D.
Laing a Vincenzo Caretti- Brasiliense
Lang é um dos pioneiros da visão antimanicomial, como
sendo o movimento da anti-psiquiatria.
“Vida em Família” (1971) de Ken Loach com roteiro de
David Mercer é uma obra de ficção totalmente inspirada nas ideias de Lang, onde
uma jovem tida como esquizofrênica é “exibida” para uma plateia como objeto de
estudo.
É um livro fundamental para se entender como conceitos
como normalidade são relativos e podem ser impostos por valores sociais que em
nada tem a ver com nossos anseios de libertação e sim com manutenção do poder.
Para confirmar suas teorias Lang relata um aspecto de
“Crime e Castigo” de Dostoiévski bastante original e significativo, pouco ou
nada comentado.
Raskólnikov não tem dinheiro para sobreviver como
deseja.
Considera uma velha agiota um ser inferior e pensa em matá-la,
para ficar com seu dinheiro.
Divide as pessoas do mundo como ordinárias e
extraordinárias. Claro que a agiota seria ordinária, inferior. Nada da grandeza
de um Napoleão, por exemplo.
Uma carta de sua mãe vai impulsioná-lo ao crime. Nela
ela relata que sua irmã vai fazer um casamento sem amor algum, insinuando que
era uma forma de prostituição.
Isto reforça a vontade imperiosa dele ter dinheiro e
não só mata a agiota, como a irmã desta que apareceu de repente.
7.3 “Clarice Lispector- Entrevistas” (2007) Rocco
Clarice entrevista várias personalidades da Cultura
Brasileira, como Rubem Braga, Nelson Rodrigues, dentre outros
.
Ao mesmo temo que conhecemos um tanto razoável dos entrevistados, conhece-se mais Clarice, pois ela
coloca muito dela nestas entrevistas, seja por afinidades ou discordâncias, com
muitas de suas inquietações emergindo na entrevista.
7.4 “Simone de Beavoir – Entrevista a Alice Schwartzer
7.5 “Sexualidade & Criação Literária- As
Entrevistas do Gay Sushine (1980) -( Organização de Winston Leyland) com Allen
Ginsberg , Gore Vidal, Tennesse Willians , dentre outros.
São muitas as facetas de cada escritor que aparece,
mas o que não esqueço mais é Tennesse Willians contando que o preconceito era
tal que diziam que as mulheres de suas
peças eram gays disfarçados. ( sic ).
7.6 “Liv Ullmann Sem Falsidades”(1979) - David E.
Outenbridge
7.7 “Nós Que Amávamos Tanto a Revolução-
Entrevistas/Diálogos – Cohen Bendit e Gabeira” (1985)- Rocco
7.8 “Viver @ Escrever”- Edla van Steen (1981) - Volumes
1 e 2
7.9 “A Última Entrevista de José Saramago”(2010)= José
Rodrigues dos Santos – Usina de Letras- Vermelho Marinho
7.10 “Entrevista Sobre o Teatro (1986)- Vittorio
Gasmann/ Luciani Lucignani - Civilização
Brasileira
7.11 “Conversas com Vargas Llosa” (2011) - Ricardo
Setti
7.12 “Moravia -
Entrevista Sobre o Escritor Incômodo” (1986)- Alberto Moravia - Nello Ajello-
Civilização Brasileira
8.1 “Abril Despedaçado- História de Um Filme” (2002)- Pedro
Butcher e Luiza Müller
( Roteiro de Walter Salles, Sérgio Machado e Karin
Aïnouz )
8.2 “Fellini
por Fellini” (Vida, obra e paixões do grande cineasta, contadas por ele mesmo) (1974)-
LPM
Como Fellini já disse “Minto,
mas sou sincero” sobre sua obra, fica
a dúvida, sobre quanto nestes relatos corroboram esta máxima.
Fellini admirava muito mais a prosa de Freud do que a
de Yung. Freud escreve muito bem, mas se considerava yunguiano e isto não é
difícil saber: sua obra está repleta de elementos que remetem ao Inconsciente
Coletivo.
Fellini nos conta que estava em forte dúvida se em “Em
La nave Va” (1983, teria sentido a presença do ator inglês Freddie Jonas como
Orlando.
Estava levando de volta o ator para o aeroporto, olhou
para trás e viu num outdoor a palavra Orlando e não teve mais dúvidas, Freddie
seria seu ator para este personagem.
Para uma situação ser tida como sincronicidade segundo
Yung é condição necessária que haja uma grande coincidência, Mas não é condição
suficiente: ela tem que ter um forte significância, um grande apelo emocional
para nós.
É o caso de Fellini: encontrar o ator adequado para
Orlando tinha bastante importância para ele, algo que o tocou, emocionou.
Sobre a essência do filme, declarou que não era sobre
o fim do mundo, mas sobre o fim de um mundo
8.3 “O Cinema Segundo François Truffaut” ( textos reunidos
por Anne Gilliam)
8.4 “Os Filmes
da Minha Vida” - François Truffaut (1989)- Nova Fronteira
Um dos melhores livros sobre Cinema que li. Aqui entra
tanto as qualidades dos filmes, que Truffaut expõe magnificamente, mas tem um
tom bastante afetivo e pessoal.
Aqui o crítico iconoclasta dos Cahiers du Cinéma dar
luga ao amante de Cinema acima de tudo, colocando em evidência, antes de tudo,
as suas preferências, que sabemos nós, podem estar sujeitas até a nossas
idiossincrasias, humanas, demasiadamente humanas.
É este tom pessoal que inspirou meus Blogs Pela Luz dos
Meus Olhos*, que implica que não sou crítico de cinema, não pretendo ter a
objetividade que eles buscam (o que acredito que não conseguem, pois tem também
gostos e as idiossincrasias comentadas) e sim trazer minha visão particular dos
filmes e outras questões que considerar relevantes.
Mas não vou toda hora repetir isto. O título do Blog
dá o tom e não preciso pedir licença para fazer minhas “críticas”.
8.5 “Sobre o filme Lavoura Arcaica- Luiz Fernando
Carvalho- Transcrição do debate realizado no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro,
02/10/2001
8.6 “O Cinema
Brasileiro Moderno” (2001) - Ismail Xavier
8.7 “O Olhar
Crítico de Ronald F. Monteiro”- ACCRJ e Riofilme-Secretaria Municipal de
Cultura
8.8 “O Cinema
Segundo Bergman” (1977)- Autores: Torsten Manns, Jonas Sima, Stig Byörkman
Um livro de entrevistas com Bergman pelos críticos Torsten
Manns, Jonas Sima, Stig Byörkman, onde bebi incialmente muita coisa sobre o
diretor que já tinha me maravilhado com alguns filmes já fundamentais em sua
carreira.
Já “Noites de Circo” que não tinha assistido ainda,
apresentava uma sequência de imagens belíssimas, ainda que retratassem
pessoas em desespero.
Foi também a primeira vez que vi a imagem clássica da
fusão dos rostos de Liv Ullmann e Bibi Andersson em Persona (1996), formando um
rosto só.
8.9 “Imagens” (1980)
– Ingmar Bergman
Bergman comenta filmes seus até então.
Ele não ficou satisfeito como o resultado de “A Fonte
da Donzela”(1960), uma de suas obras-primas que lhe deu o Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro.
No filme temos a temática do silêncio tão forte como
em outros filmes seus.
Um camponês, Herr Töre (Max von Sydow), de uma
família, bastante religiosa tem uma filha de 15 anos, que sofre uma emboscada, sendo
estuprada por dois pastore e inclusive um jovem.
Pedindo pousada a Herr eles são descobertos enquanto
assassinos e este vai se despindo de qualquer noção de sua religião e num
galpão se vinga de todos, com bastante ódio, inclusive do jovem criminoso,
matando-os.
Ao estar diante de onde a filha está morta, uma fonte
começa a nascer e sua água, tido como sagrada, passa a ser usada para banhar as pessoas.
Creio que esta é uma pista para Bergman não ter
gostado tanto do filme: pela primeira vez em sua obra aparece um evento mágico.
Ao realizar anos depois “Fanny e Alexander” (1982),
ele introduziu elementos mágicos. Inclusive a fuga
dos meninos da casa do padrasto fanático se dá por ilusionismo, aparecendo
depois até um ser andrógino, onisciente de muitas coisas,
Bergman questionado, à aquela altura da vida, saiu-se muito simples e bem:
O cinema é
o cinema, a realidade é a realidade”.
Este descontentamento do autor com seu filme nos
atesta que o criador nem sempre é o melhor crítico de sua obra.
“A Fonte da Donzela” é um clássico. Confira.
“A fonte da
donzela” (1960)- Filme Completo -Legendado
8.10 “A
Anarquia da Fantasia: ensaios, anotações de trabalho, conversas e entrevistas” (1988)
- Rainer Werner Fassbinder
Fassbinder se declara um anarquista romântico. E esta
síntese vale para várias de suas obras.
Fassbinder nunca escondeu a grande influência que os
melodramas nobres (nada de baratos, de dramalhões) de Douglas Sirk exerceram
nas suas obras.
Neste livro temos a oportunidade de acompanhar uma
conversa de Fassbinder com seu grande mestre Douglas Sirk, alemão como ele, mas
que fez seus grandes clássicos em Hollywood, muitos deles com Rock Hudson.
Aliás, outros diretores são tributários da obra de Sirk,
sendo o mais famoso deles, Pedro Almodóvar.
O fascínio de Todd Haynes pela obra de Sirk é tal que,
além de seus filmes mais experimentais, como “Não Estou Lá” (2007), realizou uma
versão de “Tudo o Que o Céu Permite” (1955) de Sirk , que é o belíssimo “Longe
do Paraíso” (2002).
Seu “Carol” de 2015 tem um tanto de Douglas Sirk.
Fassbinder era um inveterado workaholic. Era diretor
de cinema, roteirista, dramaturgo, encenador, escrevia e fazia filmes para
televisão e partiu de filmes de baixo orçamento para filmes mais caros com o
tempo, quando ganhou mais prestígio, como “O Casamento de Maria Braun”(1979), “Lili
Marlene”(1980”).
Realizou ainda o monumental “Berlim Alexanderplatz” (1981), com mais de 12
horas, feito para televisão, mas que vi
no Cinema, numa grande maratona, inesquecível.
“Querelle”(1982), seu
testamento, é uma obra belíssima.
Para gostarmos
de “Querelle” temos que adentrar o universo de Jean Genet e sua
cosmovisão estética e assim entenderemos
melhor as situações e personagens, a
misoginia, num ambiente em que predomina o machismo mesmo em homossexuais, com
éticas bastante particulares.
Trata-se de um filme politicamente incorretíssimo e
hoje certas alas do feminismo o execrariam. Só que o filme tem eventuais
narrações e godardianas intervenções com textos entremeados e não se
trata da visão de Fassbinder do mundo. Mas de um universo imaginado e crítico
de Jean Genet.
Não podemos dizer que Genet assina embaixo da ética de
tudo o que acontece. A obra/filme “Querelle” quer nos mostrar a ética particular
de um mundo. Muito menos, Fassbinder,
pois se aqui existe misoginia (“Você não passa de uma mulher”- dizem à
personagem de Jean Moreau, sendo que ela insiste: “Todo homem mata aquilo que
ama”),
Fassbinder fez muitas obras onde o centro eram mulheres nas mais variadas
circunstâncias, mas sempre complexas, procurando não julgar, demonizar ninguém,
de modo geral.
Reza a lenda que Fassbinder ainda arranjava tempo para
participar de um grupo de Hells Angels
Fassbinder dizia que queria realizar mais filmes que
John Ford e dormia por anos, apenas duas horas por noite.
Num documentário sobre Fassbinder, que assisti num
Festival do Rio, um amigo dele conta que mesmo tomando remédio forte para
dormir, Fassbinder só conseguia duas horas de sono por noite.
Um dia este amigo, curioso e intrigado, tomou este
remédio à noite, Só acordou lá pela tarde do dia seguinte.
É triste dizer/escrever, mas o caso Fassbinder é uma
crônica de uma morte anunciada. Além de o terem como grande artista, amigos o
deveriam ter sacudido e o fizesse entender que estava precisando urgentemente
de alguma forma forte de psicoterapia.
Numa noite (mais precisamente de 1982) este filho da
Baviera, morre em Munique, de overdose, com provável mistura de álcool e
cocaína, aos 37 anos, numa tragédia simular à que acometeu vários artistas que
amamos.
Num outro doc sobre Fassbinder que assisti, agora no
Cine Odeon, falava-se de tudo, incluindo detalhes sobre sua morte, Mas não
houve nenhuma menção à bi ou homossexualidade deste gênio do Cinema, que mesmo
morrendo cedo, deixou uma obra autoral bastante significativa e que veio para
ficar com seus temas fortes, mas bastante humanos.
Como não se comover com o protagonista de "Berlim
Alexanderplatz" e sua saga cada vez mais difícil de se tornar uma pessoa com
vida que não seja marginal.
E o que dizer do amor e desejo entre uma senhora alemã
e um turco bem mais jovem, patrulhado por todos, em “O Medo Corrói a Alma”(1974)?
Aqui temos o Fassbinder que com estética minimalista conseguia obras prodigiosas.
Nestes casos de minimalismos temos obras da qualidade
de “Por Que Deu a Louca no Sr. R”(1970), “Eu Só Quero que Vocês Me Amem”(1976)
e a “A Lei do Mais Forte” (1975), com um dos desfechos de filme mais
atordoantes e perversos já realizados e ao mesmo tempo de realização bem simples.
Domingos de Oliveira num curso que fiz no Parque Laje
já nos tinha passado a noção de sem exigir grandes cenários e em pequeno
espaços, Fassbinder extraia o máximo de seus filmes que podiam ser também
grandes peças teatrais, como se viu no Brasil, com o estrondoso sucesso de “As
Lágrimas Amargas de Petra Von Kant” nos anos 80, com Fernanda Montenegro, Renata
Sorrah e Juliana Carneiro da Cunha.
Fassbinder não perdoava as sociedades como a Alemanha que
não tinham a menor preocupação com a felicidade das pessoas.
E para ele : "O amor é a pior forma de tortura que existe".
Eu me atrevo a fazer um reparo: "O amor pode se transformar na pior forma de tirania que existe.
Também nos mostrava grandes resquícios do nazismo na
sociedade alemã do pós-guerra. Isto fica bastante evidente em “O Desespero de
Verônica Voss” (1982), onde uma atriz viciada em drogas em vez de se curar, fica
prisioneira de uma “trambiclínica” ( uma clínica trambiqueira ).
Um motorista de táxi descobre que há algo de muito errado, mas não conseguir
salvá-la.
Eu que acompanhava com a maior atenção a obra de
Fassbinder que assistia nos Cinemas e Festivais e no circuito, tive um choque
tremendo com a sua morte. Depois da morte de Elis Regina, esta foi a morte de
um artista que mais me doeu, pela pessoa, pela obra futura, pelo artista que se
perdia, pela forma como morreu,
Mas, infelizmente, a péssima atenção que amigos dão a
outros, continua fazendo vítimas como Heath Ledger, Philip Seymour Hoffman,
Robin Willians, Amy Winehouse , Michael Jackson, Elis Regina, dentre outros.
8.11 “Posso
Descansar Quando Estiver Morto” – Harry Baer ( sobre Rainer Werner Fassbinder )
8.12 “A personagem homossexual no cinema brasileiro” (2001)-
Antonio Moreno- Eduff
O politicamente
correto faz grande mal ao livro e o afasta da realidade. Assim critica-se os
clássicos “O Beijo da Mulher Aranha” (1985) de Hector Babenco” e “A Rainha
Diaba” (1974) de Antonio Carlos Fontoura, com Milton Gonçalves extraordinário,
num personagem inspirado em Madame Satã e todos os elogios vão para o clássico “O Menino
e o Vento” ( 1967), com se só a grande sutileza, acompanhada de virilidade desse
conta do tema.
Para se ter uma ideia do politicamente correto reinado
e cegando : (Nos anos 60, filmes como "Noite Vazia", de Walter Hugo
Khouri, usam mulheres em cenas de lesbianismo para agradar o público
heterossexual, segundo o pesquisador. "A cena em que Norma Bengell e Odete
Lara têm que transar causou tanta polêmica que foi desaconselhada por
organizadores do Festival de Cannes", afirmou.) Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/5/15/ilustrada/1.html
Ora, o filme retrata algo que acontece entre homens.
Não se pode crucificar Khouri por retratar isto. O olhar carinhoso do diretor é
para as mulheres e a grande força do filme está em não demonizar ninguém.
Acreditem: homens também sofrem nesta história, vivem
angustiados, numa vida que se mostra vazia, um mais que o outro.
Que existe a exploração de gays palhaços para se fazer
rir, não há dúvida. Mas existem outras abordagens.
É um tema que merece ser mais estudado, ainda mais que
muitos filmes excelentes com esta temática agregada a outras surgiram, como
Tatuagem (2013) de Hilton Lacerda, “Hoje eu Quero Voltar Sozinho” (2014) de
Daniel Ribeiro e o mais recente “Tinta
Bruta” (2018) de Filipe Matzembacher,
Márcio Reolon.
8.13 “As Últimas Palavras do Herege”- (1983)- Pier
Paolo Pasolini- Entrevista com Jean Duflot
8.14 “Pasolini- Orfeu na Sociedade Industrial” (1983)–
Luiz Nazário- Coleção “Encanto Radical” da Brasiliense
8.15 “O Que é Cinema” – Jean-Claude Bernardet (
Coleção Primeiros Passos)- Brasiliense (1980)
8.16 “Infinito Cinema” (1988)- Ely Azeredo- Universos
Um dos melhores livros de Cinema que já li, passeando
por várias temáticas, como Crepúsculo, O Cinema da Paixão, O Subterrâneo da
Memória etc, comentando com argúcia filmes que vão de “A Regra do Jogo” (1939)
de Jean Renoir a “A Laranja Mecânica” ( 1971), dentre outros.
Sobre “Cenas de Um Casamento “(1973) de Ingmar Bergman,
aponta, com bastante argúcia, algo nunca comentado: que terminado o relacionamento entre Johan e Marianne, não há apaziguamento
como amantes.
Quando ele acende uma lareira, estando de costas pra
ela, Liv Ullman com sua expressão facial nos passa muito bem, que Marianne está
desconfortável nestas relações, ainda o amando.
8.17 “O Cinema Segundo a Crítica Paulista”- (1986)-
Nova Estela
Existem filmes saudados pela crítica paulista, mas por
raros críticos cariocas. A maioria destes os ignora ou os denigre.
Isto aconteceu com a extraordinária obra autoral de
Walter Hugo Khouri, cineasta bastante reconhecido em São Paulo, mas houve os
que o considerasse um diluidor de Bergman e Antonioni, por parte da crítica
carioca.
É forçoso ressaltar que Ely Azeredo, navegant contra a
corrente, é um grande admirador de Khouri, escrevendo no Rio de Janeiro.
8.18 “A Linguagem Secreta do Cinema” (1994)-
Jean-Claude Carrière- Nova Fronteira
8.19 “Grandes Diretores de Cinema” (2002)- Laurent Tirard-
Nova Fronteira (2006)
Trata-se de um dos melhores livros sobre Cinema que
li.
O crítico e cineasta Laurent Tirard entrevista grandes
diretores, como Martim Scorsese, David Linch, Pedro Almodóvar, Lars Von Trier,
dentre outros.
Concentrando-se nos magníficos 15 minutos iniciais de
“Era Uma Vez no Oeste” (1968), uma das obras-primas de Leone, fica difícil eu concordar
com Almodóvar.
9- Humor
9.1 “100 Fábulas Fabulosas” (1965) – Millôr Fernandes
Lembro-me bem de uma delas:
Um ratinho vai ao restaurante com um leão. O garçom
pergunta ao ratinho o que vai comer. Depois pergunta ao leão e este responde:
“Imbecil, você acha que se eu estivesse com fome, estaria com o ratinho aqui do
meu lado?”.
Moral: “Mesmo no mundo da fábula há que se manter
certa lógica”.
9.2“O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr” (1973)
– Millôr Fernandes
Não esqueço mais, algo deste teor: “Não tenha dúvida.
A função da crítica cinematográfica é nos fazer de bobos”, numa conversa com
Sérgio Augusto.
9.3 “O Livro
Branco do Millôr”- (1975)- Millôr Fernandes
Nos quatro cantos de uma página em branco, em cima,
embaixo e nas laterais tem-se a descrição em línguas diversas do que está: “as ideias de um político”, “mulher estendendo
roupa no varal, atrás dele” etc.
9.4 “O Enterro
do Anão” (1973)- Chico Anísio
O genial humorista se tivesse tido mais tempo, poderia
ter escrito impagáveis histórias como esta.
9.5 “A Volta do Fradim- Uma Antologia Histórica”
(1992- Henfil- Geração Editorial
9.6 “Graúna
Ataca Outra Vez” (1994)- Henfil- Geração Editorial
9.7 “A Volta de Ubaldo, o Paranoico” (1994)- Henfil-
Geração Editorial
9.7 “Hirsoshima, meu humor” (1996) – Henfil – Geração
Editorial.
É impressionante a atualidade destas quatro antologias
de trabalhos de Henfil, tanto em forma como em conteúdo.
Graúna é quem mais nos desconcerta, com suas ironias
cortantes ( há algo nela do Baixim), criada com 3 0u 4 traços e gerando emoções
das mais variadas com seus olhinhos e movimentos de corpo.
Sobre os personagens de Henfil, Ziraldo na
apresentação de “A Volta da Graúna” com toda razão, comenta que a forma com que
ele nos conta as histórias já contém uma estrutura de desenho animado.
Junto com o intelectual Bode Orellana ( que come
livros) e o Cangaceiro Zeferino, Graúna, sob um sol inclemente, procura
sobreviver, sob o domínio do coronelismo, que tenta impedir a vida e a
felicidade
.
Precisa explicar mais a atualidade desta simples mas
eterna alegoria?
9.7 “O Menino Maluquinho” (1980) – Ziraldo Alves
Pinto.
Perguntaram a Ziraldo de onde vinha tanta sensibilidade
para o universo das crianças, com tantos livros mais direcionados a elas. A resposta foi simples e definitiva: “eu fui
criança também”.
Já “O Menino Maluquinho”, brilhante, é para as
crianças e para as que fomos.
10 Graphic Novel/ Quadrinhos
Spirit é um dos quadrinhos mais originais que se tem.
“Renascido” num cemitério, para onde foi levado com veneno insuficiente que o
fez acordar, passa a usar uma máscara e com colaboração do comissário Dolan,
fugindo quase sempre ao comando deste, se põe a combater o crime em Central City,
ajudado muitas vezes pelos meninos assistentes Ebony e Pierpoint.
A influência do Cinema e Romances Noir é patente, pois
Spirit tem seu forte lado detetive e se deixa enganar e encantar por femme
fatales.
Cada história de Spirit tem invariavelmente sete
páginas e, assim como Millôr fazia, o nome do protagonista surge de uma forma
sempre original, nunca sendo repetida.
As sete páginas têm uma concentração de situações,
fusões, óticas diversas de quadrinhos que podem ser largos ou estreitos, closes
e outros elementos que nos remetem a um filme sendo assistido.
Os enquadramentos e a iluminação dos quadrinhos do
Spirit são influenciados pelo Cinema Expressionista Alemão, atestando ainda mais
o quanto estas histórias que surgiram em 1940, revolucionando as HQs, tem de
cinematográfico, com um herói mascarado, sem superpoderes, que enfrenta a criminalidade,
roubos e corrupção de Central City, com
seus punhos e sagaz inteligência.
.
Há histórias em que Spirit aparece muito pouco,
principalmente ao final. Isto acontece, por exemplo, na história fantasmagórica
“A Mansão de Hangly Hollyer”.
Ou então Spirit faz parte de uma história que é
paralela ao outra que tem importância muito maior, como em “A História de
Gerhard Shnobble” onde este voa, mas o principal não acontece: ninguém o vê
nesta façanha que o redimiria de uma vida medíocre.
Estas duas histórias, das melhores que Will Eisner
escreveu de Espirit, constam no volume 2 da LPM citado em 10.2.
10.2 Spirit volume 2 (1986)- Will Eisner- LPM
Quadrinhos -1986
10.3 Spirit volume 3 (1987)- Will Eisner- LPM
Quadrinhos - 1987
10.4 “O Edifício” (1989)- Wil Eisner – Editora Abril
10.5 “Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço”
– Um Romance Gráfico de Will Eisner
(1978)- Editora Brasiliense
Esta obra-prima do que Eisner chamou depois de quadrinhos sequenciais, gerou, de forma pioneira, o que consideramos Graphic Novel, definidor de muitos trabalhos que vieram depois. .
10.6 “Pequenos Milagres”- Will Eisner (2000)- Devir Literatura (2006)
Esta obra-prima do que Eisner chamou depois de quadrinhos sequenciais, gerou, de forma pioneira, o que consideramos Graphic Novel, definidor de muitos trabalhos que vieram depois. .
10.6 “Pequenos Milagres”- Will Eisner (2000)- Devir Literatura (2006)
10.7 “A Baleia Branca”- Uma adaptação de Moby Dick de
Herman
Melville”- Will Eisner ( 1998)- Cia.Das.Letras ( 1998)
10.8 “No Coração da Tempestade- Volumes 1 e 2” – Will
Eisner (1991)- Abril Jovem
A história mais autobiográfica de Will Eisner contada, virtuosamente, com vários flashbacks e flashforwards.
Por ela, entenderemos melhor o universo com o qual Eisner trabalharia.
Will Eisner nasceu em 1917 e morreu com 87 anos, ainda criativo.
10.9 “Fagin. o Judeu” (2003)- Will Eisner – Cia. Das
Letras (2007)
Aqui temos a sordidez de que o ser humano é capaz, num
nível inacreditável.
Fagin, várias vezes lembrado como o judeu em “Oliver
Twist” de Charles Dickens explora crianças dando-lhes teto e comida, desde que
trabalhem para ele, com roubos e outros delitos pelas ruas da cidade.
Nesta sua magistral Graphic Novel, Will Eisner nos
mostra Fagin,
interpelando o próprio Dickens, narrando a sua história em todos
os detalhes para que ele se transformasse em quem leitores do romance e os que
viram os filmes adaptados conhecem, mas o julgando sem conhecer sua verdadeira história.
Will Eisner queria ser escritor e pintor, Assim
encontrou nos quadrinhos uma forma de exercer estes dois talentos.
Assim, como em outros trabalhos, “Fagin, o Judeu” traz
textos mais ou menos longos, relativamente, do autor e une imagens e estes textos
com sua maestria habitual.
A Eisner não escapa o fato de góis (não judeus)
delinquentes não terem esta condição repetida, mas para Fagin não. Dickens
lembra todo o tempo ao leitor que Fagin é judeu.
10.10 “Trise Fim de Policarpo Quaresma”(2010) de Lima
Barreto por Edgar Vasques& Flávio Braga – Grandes Clássicos em Graphic
Novel- Desiderata.
Numa época com ministros bizarros, retrocessos travestidos de avanços. ministro que na posse cita linguagem tupi e outras coisas estapafúrdias à guisa de ordem e progresso da pátria, “resgatando” a família, Lima Barreto mostra a sua impressionante atualidade. Sua obra é um espelho do que vivemos hoje.
10.11 “A Vizinhança Avenida Dropsie” ( direitos 1995,2004 e 2009 Will Eisner )- Devir-2009
Um dos mais belos, ousados e críticos trabalhos de Will Eisner e, consequentemente, uma das obras-primas da História das Graphic Novels.
A Avenida Dropsie e sua vizinhança, em Nova York , tem sua história contada, na evolução do tempo ( existe até menções à estupidez da Guerra do Vietnã eclodindo), através de muitos personagens de origens diversas, como ingleses, irlandeses, alemães, italianos, judeus hassídicos* etc, em um processo crescente de destruição, decadência, que ocorre, principalmente, pela ganância sem limites e intolerância idem, que provoca perseguições, vidas do conforto, que passam a ser miseráveis e até a procura de outros lugares para se viver, deixando para alugar espaços cada vez mais empobrecidos, pouco habitáveis.
* Judeus que estudam os mistérios da Cabala, sendo um movimento surgido no interior do judaísmo ortodoxo, que promove a espiritualidade, através da popularização e internalização do misticismo.
Neste processo surgem, ressaltemos, crescente degradação de valores humanos e das condições dos ambientes, viciados em droga, contrabandistas de bebidas, prostitutas exploradas por cafetões, personagem que enlouquece quando seu cachorro que morre, passa a ser tido como seu marido, incêndios criminosos etc.
Mas o pior são políticos oportunistas e demagogos, ligados a especuladores imobiliários inescrupulosos, que querem dominar territórios à custa de sua destruição.
Como em outras obras, a compreensão do mundo da marginalidade a que pobres são relegados e dos ricos que contribuem para isto (algo bem forte em “Fagin, o Judeus” ) que Will Einser tem, é primorosa, com bastante verismo, esbanjando naturalidade, autenticidade, meio à fantástica poesia visual e dos textos.
Mas seu mundo não é nada maniqueísta. Há pobres que tendo oportunidade oprimem e exploram outros, havendo até um ex-mendigo, que quando cresce economicamente, passa a ser tirano e argentário, como ricos, havendo até um mutilado de guerra que anda sobre uma tábua bastante cruel. Quer que a crueldade que sofreu passe a outras pessoas.
Felipe Hirch, um dos grandes encenadores que o Brasil tem, levou com muito sucesso de crítica e público, justamente “Avenida Dropsie”, para o palco, mostrando grande conhecimento do universo Will Eisner, havendo um momento maravilhoso, nada gratuito, em que chove sobre os personagens mais variados.
Esta Graphic c Novel de Eisner, assim como outras dele, ecoam muito, de forma visionária, o mundo de hoje, tanto no Brasil, EUA e parte da Europa, onde a extrema direita está conseguindo ou já conseguiu grandes espaços, com efeitos bastante perversos, para escrever o mínimo.
Spoilers
Sobre os escombros da vizinhança da Avenida Dropsie, consegue-se construir modernos prédios e belas casas.
Mas no diálogo entre dois personagens, ao final, temos a intolerância e o preconceito grassando de novo, o que pode, como uma praga contagiosa, levar a região a um novo ciclo de decadência, de destruições.
10.12 “Assunto de Família” (1998 e 2009)- Will Eisner – Devir-2009
“Assunto de Família” de Will Eisner, ao seu modo, dialoga com “Assunto de Família” (2018), (no original ‘Shoplifters- Ladrões de Lojas”), obra-prima de Hirokazu Kore-eda, Palma de Ouro em Cannes 2018
No primeiro temos uma família com laços de sangue que se reúne para os noventa anos do pai, mudo, mas que ainda tem audição. entrevado numa cadeira de rodas, mas estes parentes estão interessados mesmo é no espólio do velho, ameaçando interna-lo num asilo, em espaço bem barato.
Há parentes pobres e de classe média de diferentes níveis.
No segundo temos exatamente o oposto, uma família miserável que mora numa periferia, de salários mal pagos e de pequenos roubos.
Há interesses econômicos envolvidos, para sobrevivência, com cada um fazendo o que pode, mas o que paira acima de tudo é a enorme afetividade e respeito.
Esta família, onde não há laços sanguíneos entre ninguém, unidos pela miserabilidade, chega até a acolher uma garotinha que sofre maus tratos dos pais, incluindo escoriações e queimaduras.
A garotinha vai cada vez mais se entrosando e se sente encantada com o novo lar.
Mas seu futuro vai ser de cortar o coração.
10.13 Um Sinal do Espaço – Will Eisner- Abril Jovem- Grafhic Album
Um sinal de outras formas de vida no espaço, em vez de trazer paz à Terra, pelas ambições mas variadas e lutas pelo poder por todos os cantos, vai ser uma maldição e não uma benção.
Belíssima graphic novel colorizada sob supervisão de Will Eisner.
10.14 'Viagem a Tulum" - Federico Fellini @ Milo Manara (1991) Editora Globo- Devir
Fellini sempre teve muito amor e conhecimento sobre quadrinhos, conhecendo até os primórdios desta arte popular e tendo também talento para tal, trabalhou nela , mas depois foi fisgado pelo Cinema.
Isto não impediu que aqui e ali em seus filmes, não haja homenagens ou influências dos quadrinhos
.
Um filme desejado que Fellini por vários contratempos, não conseguiu realizar é “A Viagem do Capitão Mastorna”. Tentativas não faltaram, até que ele desistisse completamente, mesmo porque a história envolve morte e, supersticioso, depois de sonhos muito ruins, decidiu por bem não realizar mesmo, como já escrito, algo que também assustava o produtor Dino de Laurentis.
“Viagem a Tulum”, feito por desenhos, diálogos de Milo Manara e conversas com Fellini, ao seu modo, é uma homenagem/evocação do filme não feito, tendo elementos dele.
Nesta maravilhosa Graphic Novel, que nenhum amante desta arte e/ou de Fellini, pode perder, temos fortes elementos metalinguísticos.
Fellini preferiu chamar de
VIAGEM A TULUM
de um roteiro feito por
FEDERICO FELLINI
para um filme a ser realizado adaptado para os quadrinhos por
MILO MANARA
colorido por
Cetina Novelli
Fellini chegou a viajar para o México para conhecer Carlos Castaneda*, cujos livros o tinha impressionado bastante. E “Viagem a Tulum” é bastante influenciado por esta viagem.
*Um escritor e antropólogo formado pela Universidade da Califórnia; notabilizou-se após a publicação, em 1968, de sua dissertação de mestrado intitulada The Teachings of Don Juan - a Yaqui way of knowledge, lançada no Brasil como A Erva do Diabo.[1] – Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Castaneda
Claro que muita gente não conseguindo ser humilde o bastaste e reconhecer quantos mistérios há no mundo, sejam intelectuais ou não, taxavam Carlos de farsante.
Fellini quis que Manara trabalhasse enquanto personagem com seu alter-ego de sempre: Marcelo Mastroianni. Aqui sendo Snàporaz, seu personagem em “A Cidade das Mulheres” (1980), um filme de Fellini a ser melhor visto e avaliado, pois na época, junto com “Casanova’ Fellini”, houve quem dissesse que felliniano, depreciativamente, se tornou um gênero.
Só que a História do Cinema mostrou o quanto a filmografia deste gênio do Cinema passou a fazer filmes bem diversos, como os excelentes “Ginger e Fred” , “Prova de Orquestra” e as obras-primas “Entrevista” e “E La Nave Va”.
Manara, ao mesmo tempo em que está em seu universo de mulheres lindamente nuas, capta maravilhosa e surpreendentemente o universo de Fellini, havendo citações bastante evidentes a “Fellini’Satyricon”, “Amarcord”, “E La Nave Va”, “8 e ½”, “Entrevista” etc.
Mesmo que não tenhamos conhecimento destes quadrinhos, basta olhar uma página para se reconhecer Fellini.
Todos os personagens que viajam pelo México, irão de um lugar a outro passando por provas iniciáticas, sendo uma delas é ter o espirito amarrado ao corpo, viajando, como uma pipa amarrada por um fio.
Claro que quem quer conhecer Castaneda deve ler seus livros com a atenção devida. Aqui como sempre em seu Cinema, Fellini promove transfigurações bastante poéticas.
Descrever o que é esta Gaphic Novel é difícil, de tão rica que é, com significados bem fortes nos desenhos ( Will Eisner combina texto e imagens com a mesma força), mas é relativamente fácil, travar contado com sua beleza e farta poesia.
Aqui temos Fellini que é Manara que é Marcelo que é Snàporaz que é Helem que é Fellini que é Manara .......nesta corrente para toda eternidade.
Assim, o que está esperando para viajar a Tulim, com Federico e Manara?
10.15 "O Último Dia No Vietnã- Reminiscências"- Will Eisner - Devir- 2001
Com base em suas experiências de guerras, para as quais elaborou manuais em quadrinhos, sobre atitudes e práticas para soldados, Will Eisner, anos depois, conforme o título, através de reminiscências de ordem afetiva e humanista, como observador privilegiado que foi, criou 6 histórias onde a mais alentada é a que dá título ao trabalho.
Nesta há um repórter, ao qual o oficial preparando-se para ir embora da guerra, se dirige, mas que não nos é mostrado.
Assim, a rigor, somos nós leitores este repórter, que estamos ouvindo dados sobre o que está acontecendo, principalmente quando o oficial sente-se ameaçado de não mais voltar à sua casa.
Quando ele se dá conta de que crianças norte-vietnamitas estão presas, houve quem diga que os dedos delas que pegam em armas, não são pequenos (sic).
Isto nos remete ao desfecho atordoante de "Nascido Para Matar" (1987) de Stanley Kubrick.
Aqui temos uma Graphic Novel longe das grandes obras-primas de Will Eisner.
Mas vale o comentário: um Eisner menor é maior.....
10.11 “A Vizinhança Avenida Dropsie” ( direitos 1995,2004 e 2009 Will Eisner )- Devir-2009
Um dos mais belos, ousados e críticos trabalhos de Will Eisner e, consequentemente, uma das obras-primas da História das Graphic Novels.
A Avenida Dropsie e sua vizinhança, em Nova York , tem sua história contada, na evolução do tempo ( existe até menções à estupidez da Guerra do Vietnã eclodindo), através de muitos personagens de origens diversas, como ingleses, irlandeses, alemães, italianos, judeus hassídicos* etc, em um processo crescente de destruição, decadência, que ocorre, principalmente, pela ganância sem limites e intolerância idem, que provoca perseguições, vidas do conforto, que passam a ser miseráveis e até a procura de outros lugares para se viver, deixando para alugar espaços cada vez mais empobrecidos, pouco habitáveis.
* Judeus que estudam os mistérios da Cabala, sendo um movimento surgido no interior do judaísmo ortodoxo, que promove a espiritualidade, através da popularização e internalização do misticismo.
Neste processo surgem, ressaltemos, crescente degradação de valores humanos e das condições dos ambientes, viciados em droga, contrabandistas de bebidas, prostitutas exploradas por cafetões, personagem que enlouquece quando seu cachorro que morre, passa a ser tido como seu marido, incêndios criminosos etc.
Mas o pior são políticos oportunistas e demagogos, ligados a especuladores imobiliários inescrupulosos, que querem dominar territórios à custa de sua destruição.
Como em outras obras, a compreensão do mundo da marginalidade a que pobres são relegados e dos ricos que contribuem para isto (algo bem forte em “Fagin, o Judeus” ) que Will Einser tem, é primorosa, com bastante verismo, esbanjando naturalidade, autenticidade, meio à fantástica poesia visual e dos textos.
Mas seu mundo não é nada maniqueísta. Há pobres que tendo oportunidade oprimem e exploram outros, havendo até um ex-mendigo, que quando cresce economicamente, passa a ser tirano e argentário, como ricos, havendo até um mutilado de guerra que anda sobre uma tábua bastante cruel. Quer que a crueldade que sofreu passe a outras pessoas.
Felipe Hirch, um dos grandes encenadores que o Brasil tem, levou com muito sucesso de crítica e público, justamente “Avenida Dropsie”, para o palco, mostrando grande conhecimento do universo Will Eisner, havendo um momento maravilhoso, nada gratuito, em que chove sobre os personagens mais variados.
Esta Graphic c Novel de Eisner, assim como outras dele, ecoam muito, de forma visionária, o mundo de hoje, tanto no Brasil, EUA e parte da Europa, onde a extrema direita está conseguindo ou já conseguiu grandes espaços, com efeitos bastante perversos, para escrever o mínimo.
Spoilers
Sobre os escombros da vizinhança da Avenida Dropsie, consegue-se construir modernos prédios e belas casas.
Mas no diálogo entre dois personagens, ao final, temos a intolerância e o preconceito grassando de novo, o que pode, como uma praga contagiosa, levar a região a um novo ciclo de decadência, de destruições.
10.12 “Assunto de Família” (1998 e 2009)- Will Eisner – Devir-2009
“Assunto de Família” de Will Eisner, ao seu modo, dialoga com “Assunto de Família” (2018), (no original ‘Shoplifters- Ladrões de Lojas”), obra-prima de Hirokazu Kore-eda, Palma de Ouro em Cannes 2018
No primeiro temos uma família com laços de sangue que se reúne para os noventa anos do pai, mudo, mas que ainda tem audição. entrevado numa cadeira de rodas, mas estes parentes estão interessados mesmo é no espólio do velho, ameaçando interna-lo num asilo, em espaço bem barato.
Há parentes pobres e de classe média de diferentes níveis.
No segundo temos exatamente o oposto, uma família miserável que mora numa periferia, de salários mal pagos e de pequenos roubos.
Há interesses econômicos envolvidos, para sobrevivência, com cada um fazendo o que pode, mas o que paira acima de tudo é a enorme afetividade e respeito.
Esta família, onde não há laços sanguíneos entre ninguém, unidos pela miserabilidade, chega até a acolher uma garotinha que sofre maus tratos dos pais, incluindo escoriações e queimaduras.
A garotinha vai cada vez mais se entrosando e se sente encantada com o novo lar.
Mas seu futuro vai ser de cortar o coração.
10.13 Um Sinal do Espaço – Will Eisner- Abril Jovem- Grafhic Album
Um sinal de outras formas de vida no espaço, em vez de trazer paz à Terra, pelas ambições mas variadas e lutas pelo poder por todos os cantos, vai ser uma maldição e não uma benção.
Belíssima graphic novel colorizada sob supervisão de Will Eisner.
10.14 'Viagem a Tulum" - Federico Fellini @ Milo Manara (1991) Editora Globo- Devir
Fellini sempre teve muito amor e conhecimento sobre quadrinhos, conhecendo até os primórdios desta arte popular e tendo também talento para tal, trabalhou nela , mas depois foi fisgado pelo Cinema.
Isto não impediu que aqui e ali em seus filmes, não haja homenagens ou influências dos quadrinhos
.
Um filme desejado que Fellini por vários contratempos, não conseguiu realizar é “A Viagem do Capitão Mastorna”. Tentativas não faltaram, até que ele desistisse completamente, mesmo porque a história envolve morte e, supersticioso, depois de sonhos muito ruins, decidiu por bem não realizar mesmo, como já escrito, algo que também assustava o produtor Dino de Laurentis.
“Viagem a Tulum”, feito por desenhos, diálogos de Milo Manara e conversas com Fellini, ao seu modo, é uma homenagem/evocação do filme não feito, tendo elementos dele.
Nesta maravilhosa Graphic Novel, que nenhum amante desta arte e/ou de Fellini, pode perder, temos fortes elementos metalinguísticos.
Fellini preferiu chamar de
VIAGEM A TULUM
de um roteiro feito por
FEDERICO FELLINI
para um filme a ser realizado adaptado para os quadrinhos por
MILO MANARA
colorido por
Cetina Novelli
Fellini chegou a viajar para o México para conhecer Carlos Castaneda*, cujos livros o tinha impressionado bastante. E “Viagem a Tulum” é bastante influenciado por esta viagem.
*Um escritor e antropólogo formado pela Universidade da Califórnia; notabilizou-se após a publicação, em 1968, de sua dissertação de mestrado intitulada The Teachings of Don Juan - a Yaqui way of knowledge, lançada no Brasil como A Erva do Diabo.[1] – Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Castaneda
Claro que muita gente não conseguindo ser humilde o bastaste e reconhecer quantos mistérios há no mundo, sejam intelectuais ou não, taxavam Carlos de farsante.
Fellini quis que Manara trabalhasse enquanto personagem com seu alter-ego de sempre: Marcelo Mastroianni. Aqui sendo Snàporaz, seu personagem em “A Cidade das Mulheres” (1980), um filme de Fellini a ser melhor visto e avaliado, pois na época, junto com “Casanova’ Fellini”, houve quem dissesse que felliniano, depreciativamente, se tornou um gênero.
Só que a História do Cinema mostrou o quanto a filmografia deste gênio do Cinema passou a fazer filmes bem diversos, como os excelentes “Ginger e Fred” , “Prova de Orquestra” e as obras-primas “Entrevista” e “E La Nave Va”.
Manara, ao mesmo tempo em que está em seu universo de mulheres lindamente nuas, capta maravilhosa e surpreendentemente o universo de Fellini, havendo citações bastante evidentes a “Fellini’Satyricon”, “Amarcord”, “E La Nave Va”, “8 e ½”, “Entrevista” etc.
Mesmo que não tenhamos conhecimento destes quadrinhos, basta olhar uma página para se reconhecer Fellini.
Todos os personagens que viajam pelo México, irão de um lugar a outro passando por provas iniciáticas, sendo uma delas é ter o espirito amarrado ao corpo, viajando, como uma pipa amarrada por um fio.
Claro que quem quer conhecer Castaneda deve ler seus livros com a atenção devida. Aqui como sempre em seu Cinema, Fellini promove transfigurações bastante poéticas.
Descrever o que é esta Gaphic Novel é difícil, de tão rica que é, com significados bem fortes nos desenhos ( Will Eisner combina texto e imagens com a mesma força), mas é relativamente fácil, travar contado com sua beleza e farta poesia.
Aqui temos Fellini que é Manara que é Marcelo que é Snàporaz que é Helem que é Fellini que é Manara .......nesta corrente para toda eternidade.
Assim, o que está esperando para viajar a Tulim, com Federico e Manara?
10.15 "O Último Dia No Vietnã- Reminiscências"- Will Eisner - Devir- 2001
Com base em suas experiências de guerras, para as quais elaborou manuais em quadrinhos, sobre atitudes e práticas para soldados, Will Eisner, anos depois, conforme o título, através de reminiscências de ordem afetiva e humanista, como observador privilegiado que foi, criou 6 histórias onde a mais alentada é a que dá título ao trabalho.
Nesta há um repórter, ao qual o oficial preparando-se para ir embora da guerra, se dirige, mas que não nos é mostrado.
Assim, a rigor, somos nós leitores este repórter, que estamos ouvindo dados sobre o que está acontecendo, principalmente quando o oficial sente-se ameaçado de não mais voltar à sua casa.
Quando ele se dá conta de que crianças norte-vietnamitas estão presas, houve quem diga que os dedos delas que pegam em armas, não são pequenos (sic).
Isto nos remete ao desfecho atordoante de "Nascido Para Matar" (1987) de Stanley Kubrick.
Aqui temos uma Graphic Novel longe das grandes obras-primas de Will Eisner.
Mas vale o comentário: um Eisner menor é maior.....
11 Dicionários / Consultas
11.2 “Dicionário de Mitologia Grega e Romana” (1990)-
Mário da Gama Kury- Jorge Zahar Editor
11.3 “Tudo Sobre Cinema” (2011)- Editor Geral: Philip
Kemp ( Prefácio de Sir Cristopher Frayling)
– Sextante
11.4 “Guia
Ilustrado Zahar Cinema” (2006) -Ronald Bergman- Zahar-2007
11.5 “...ISMOS Para Entender Cinema” (2010)
-Ronald Bergman – Editora Globo
“11.6 Dicionário Teórico e Crítico de Cinema” (2001)
Jacques Aumont – Michel Marie- Papirus Editora- 2003
11.7 “O Livro do Cinema” ( As Grandes Ideias de Todos
os Tempos )
(2015) – Editor Consultor: Danny Leigh – Penguin Randon House-
Globo Livros
11.8 “Dicionário de Rimas da Língua Portuguesa” (1984)
– José Augusto Fernandes – Record
Para Carlos Drummond de Andrade: “... a salvação da
lavoura poética.”
11.9 “501 Grandes Escritores”- (2008)-Editor Geral:
Julian Patrick (com prefácio de John Sutherland )- Sextante- 2009
11.10 "Dicionário Ilustrado de Símbolos" – Maria Cecília Amaral da Rosa
11.11 "Almanaque Ilustrado SÍMBOLOS" – Mark O’Connell- Raj Airey - Editora Escala
11.10 "Dicionário Ilustrado de Símbolos" – Maria Cecília Amaral da Rosa
11.11 "Almanaque Ilustrado SÍMBOLOS" – Mark O’Connell- Raj Airey - Editora Escala
11 - Gerais/ Híbridos
11.1 “Apocalipse seguido de O Homem Que Morreu”- D.H.Lawrence- Companhia das Letras- 1980
Lawrence comenta os eternos alardes de apocalipse que nunca ocorreram.
Já em “O Homem Que Morreu”, Jesus desce da cruz, sem que ninguém o veja e vai viver a vida que quer, encontrando e sendo atraído pela deusa Ísis.
11.2 “Carta ao Pai” - Frantz Kafka-1919) – Companhia das Letras (Tradução de Modesto Carone )- 2010
Trata-se de uma publicação póstuma de uma carta que Kafka escreveu ao pai, mas nunca enviou
.
Costumo dizer que não tenho pai ausente. Ele não poderia me dar aquilo que não recebeu.
Mas isto não impede que a leitura de “Carta ao Pai” não tenha reverberado em mim com tanta força.
Trata-se de uma carta que eu gostaria de ter escrito e enviado ao meu pai. Com acréscimos, cortes, adaptações, claro
Numa parte das mais impressionantes, Kafka pede ao pai que imagine que ele esteja deitado sobre uma mesa. As partes livres, os interstícios, significariam os lugares e caminhos que Kafka poderia percorrer na vida.
O escritor, biógrafo e crítico literário José Castello escreveu o romance “Ribamar” (2010), onde o protagonista estabelece relações (apenas imaginárias?) com o pai, inspirado em “Carta ao Pai” de Kafka.
11.3 “A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen”- Eugen Herrigel (1975)-Pensamento
Muitas vezes na vida há sempre o momento certo para agir. O livro, metaforicamente, discute esta questão, com o arqueiro buscando o momento certo para soltar a flecha e atingir o alvo.
11.4 Conversas Com Kafka” - G. Janouch
11.5 “Conversas Com o Invisível -Especulações Sobre o Universo” (1997)- Jean Audouze – Michel Cassé – Jean-Claude Carrière
11.6 “Diário de Um Escritor” – Dostoiévski- Editora Tecnoprint Gráfica – (1967)
11.7 “O Afeto que Se Encerra” (1980) - Paulo Francis.
Meu sentimento de despertemcimento ao Brasil me fez me identificar bastante com o livro.
Meu afeto já tinha se encerrado também. Imaginem hoje, neste Brasil de extrema direita, com recrudescimento de racismos, homofobias, elogio das armas, truculências, negação da laicidade do Estado, etc.
Gostei muito de saber que há quem aprecie bastante Cinema, Teatro, Música, Artes Plásticas, Jornalismo e gostava também de criar com seus romances.
Claro que há no livro muitas coisas de que não concordo de forma alguma, como: "Morte em Veneza" é um filme de bicha velha.
Mas o conjunto da obra me seduziu bastante, por haver alguém que comungava com todos os meus interesses na área cultural, guardadas as devidas proporções.
11.8 “Paulo Francis – Uma Coleta dos Seus Melhores Textos Já Publicados ( Três não foram da Editora Três )
11.9 “Antes Que Anoiteça”- Reinaldo Arenas- Record- 1984
É um livro fundamental na minha vida, por colocar os pingos nos is na minha relação com as esquerdas auto-proclamadas revolucionárias.
Li e trago aqui, em resumo:
“Arenas reunia três condições essenciais para se tornar uma vítima do regime de Fidel Castro: era escritor, homossexual e dissidente”.
Poucos livros me causaram tanto impacto quanto este derradeiro de Arenas, escrito de forma frenética, antes que anoiteça. E morra.
Há outro sentido para o título: Arenas se escondia num jardim durante o dia para escrever seus livros, mas teria de interromper quando a noite chegasse.
Se já não tinha mais nenhuma simpatia, ilusão por Cuba, dominada pela ditadura militar de Fidel Castro e sua família, com o livro de Arenas, com lucidez e honestidade extraordinária, temos o lado B bastante sinistro da ditadura, o que me causa mais repulsa. E põe sinistro nisto.
É bom ressaltar que mesmo em 2018, não há clima para o chamado casamento gay, equiparação em direitos, como o que acontece no “‘mundo heterossexual”.
Uma população infantilizada manifesta não estar preparada para isto. Mas estará para a grande crise econômica que se avizinha?
O grande sonho de Arenas era fugir de Cuba. Para tal chega a tentar se valer de um atrapalhado e falho voo de balão.
Mesmo nas prisões que sofreu, não parava de escrever. Seus escritos foram “contrabandeados” para fora de Cuba por amigos.
Arenas nutriu um ódio profundo a Gabriel Garcia Márquez. Este era amigo íntimo de Fidel, estava presente em Cuba quando Arenas e outros se refugiaram em uma embaixada.
Garcia Márquez não moveu uma palha sequer para ajudar seu colega escritor, dentre outros. O que chegou a fazer José Castello, crítico, escritor etc, em sua coluna no Estado de São Paulo escrever que continuaria a ler Garcia, mas o cidadão que ele é, seria visto doravante com bastante suspeição, não mais o admirava.
Como forma de exorcizar todas a angústias e sofrimentos que passava em Cuba, se envolvia em relações sexuais homoeróticas bastante compulsivas.
11.10 “Dostoiévski-Prosa Poesia”(1982)- Boris Schnaiderman- Perspectiva
(O foco principal deste livro é o conto O Senhor Prokhartchin, escrito por Dostoiévski quando ele tinha apenas 25 anos. Trata-se de uma tradução direta do russo, realizada por Boris Schnaiderman, que tem como prioridade a maior fidelidade ao texto e ao estilo do escritor; e também de uma análise deste conto, que já foi subestimado como obra imatura, mas que é revalorizado aqui por seu caráter premonitório e de ruptura. )
Fonte: goo.gl/6QwMHY
11.11 “Mutações”(1978) - Liv Ullmann- Nórdica
11.12 “Escuta, Zé Ninguém! – Wilhem Reich - Escrito em 1946, publicado pela Martins Fontes em 1977)
Reich procura sacudir o leitor para que ele saia de sua passividade, não viva com seu eu-mínimo, como um Zé Ninguém, que é esteio daqueles que o tiranizam.
Quer que os Zé-Ninguém, abordados frontalmente, abandonem sua passividade e façam parte daqueles que mudam suas próprias vidas, consequentemente a dos outros e paulatinamente até o mundo.
Precisa dizer que é atualíssimo?
No Teatro houve uma adaptação de muito sucesso com a bailarina e atriz Marilene Ansaldi e Rodrigo Santiago ( irmão de Silviano e já falecido)
11.13 “Manoel Maurício de Albuquerque- Mestre- Escola bem amado-Histórias do Maldito- Obra Póstuma- Zahar Editores
Perseguido pela Ditadura Militar, Manoel dava aulas em cursinhos e era consultor de muitos espetáculos teatrais, onde passava as ideias relativas ao contexto histórico das peças.
11.14 “Fábulas de Esopo” – Cia. Das Letrinhas (1994)
Do mundo animal passado ao dos homens, passamos a ter um interessante Manual de Sobrevivência na Selva Urbana.
11.15 “O Destino” – Vários (Eduardo Mascarenhas, Joaquim Assis, Dina Sfat, dentre outros )- Terceira Margem Editora.
11.16 “O Livro do Caminho Perfeito”- Lao Tsé- Pensamento Editora.(2003)
11.17 “Sete Noites” (1980)-Jorge Luis Borges- Max Limonad
Foram sete noites de palestras com o mesmo brilhantismo dos seus escritos. Bastante privilegiados os que o ouviram.
Mas Borges é injusto com Mahatma Gandhi, pois para ele o mestre indiano era fanático pela ideia de karma e reencarnação. não se preocupando com pessoas em hospitais, pois haveria uma outra vida....
Gandhi, pelo que sabemos, conseguiu ser um líder que derrotou os colonizadores ingleses com a noção de pacifismo, algo que ao meu ver só foi possível num país com religiões propícias a isto, bem como pela força moral e de liderança de Gandhi.
O que foi comentado aqui me lembra a ideia de quem escreve melhor que todos no seu meio, não é necessariamente o que melhor pensa.
Woody Allen problematiza este tema no subestimado “Homem Irracional” (2015) com um professor de filosofia ( Joaquin Phoenix) que vai aos poucos mostrando seus traços de psicopatia.
11.18 “Conversas com o Invisível” (1991)- Conversas com Jean Ardouzer, Michel Cassé.
Jean-Claude Carrière estudou bastante o livro sagrado dos indús, “O Mahabharata” para um filme homônimo (1989), que foi realizado por Peter Brook, mais conhecido por suas grandes montagens teatrais que viajam pelo mundo, mas merece ter sua filmografia mais vista.
Assim Jean-Claude conversa aqui com dois astrofísicos e traçam paralelos entre religiões orientais e o trabalho destes cientistas.
O livro não fecha questão, mas as que levanta são bastante inquietantes.
11.19 “A Alma do Homem Sob o Socialismo” - Oscar Wilde- LPM
Vale a pena meditar sobre o texto que está estampado na capa do livro mostrada.
Oscar Wilde escreveu esta obra antes de ter sido preso.
É bastante profética em relação a tudo o que passou depois ao ser julgado e preso.
E mais, ainda é um texto muito atual.
11.19 “A Alma do Homem Sob o Socialismo” - Oscar Wilde- LPM
Vale a pena meditar sobre o texto que está estampado na capa do livro mostrada.
Oscar Wilde escreveu esta obra antes de ter sido preso.
É bastante profética em relação a tudo o que passou depois ao ser julgado e preso.
E mais, ainda é um texto muito atual.
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Derradeiras conclusões, simples, mais essenciais:
Tenho em casa muitos livros comprados me esperando por ler. Todos são do meu grande interesse.
Assim, uma das resoluções de ano novo é que eu volte a ser um excelente leitor, como já fui.
Para isto vou procurar ver filmes de uma forma bem selecionada, para ter mais tempo para leituras e me dedicar a outros livros que sejam editados ou reeditados, que também me interessem.
Esta é uma postagem/obra, quase como fosse, o que se considera em progresso.
Até o fim do carnaval, que será em março de 2019, os livros lidos vão ser acrescentados à esta postagem do Blog.
Inclusive, depois de publicada, já acrescentei a esta postagem, comentários e histórias que julgo pertinentes.
Esta é uma postagem/obra, quase como fosse, o que se considera em progresso.
Até o fim do carnaval, que será em março de 2019, os livros lidos vão ser acrescentados à esta postagem do Blog.
Inclusive, depois de publicada, já acrescentei a esta postagem, comentários e histórias que julgo pertinentes.