1- Charlote Gainsbourg, Suas Fantásticas Mutações e Romain Gary, Vida e Obra Singulares
Ler meu texto após a sinopse – Nelson
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http://www.adorocinema.com/filmes/filme-236367/ - Promessa ao Amanhecer" (2018) de Eric Barbier
Sinopse- Trailer- Crítica Adoro Cinema – Críticas Nacionais e Internacionais
Sinopse- "Promessa ao Amanhecer"
Desde sua infância na Polônia até a adolescência em Nice; de seus anos de estudante em Paris ao período de seu treinamento como piloto durante a II Guerra Mundial; Romain Gary (Pierre Niney) atribui a vontade de viver intensamente à sua mãe, Nina (Charlotte Gainsbourg). É a força desse amor que o consagra como um dos mais famosos romancistas franceses e o único escritor a vencer o Prêmio Goncourt pela literatura francesa duas vezes, porém essa devoção também se torna um fardo em sua vida.
Título original "La Promesse de l'aube"
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Charlotte Gainsbourg tem seu imenso talento fruto de DNA. Seus pais eram grandes artistas: Serge Gainsbourg, grande cantor, compositor de canções, de trilhas sonoras para filmes, diretor de cinema (seu filme mais famoso e visto é “Paixão Selvagem” (“Je t'aime... moi non plus”- 1976) e Jane Birkin, cantora e atriz de filmes célebres como “A Bela Intrigante”(1991) de Jacques Rivette, tendo também dirigido “Caixas” (1967).
Serge Gainsburg pode ser tido hoje como um artista multimídia “avant la lettre”.
Serge e Jane são responsáveis pelo estrondoso sucesso “Je T'aime,...Moi Non Plus”, uma canção bastante erótica e de muito bom gosto.
Os pais transgressivos de Charlotte a impulsionaram, num certo nível´, para que ela aceitasse papéis bastante ousados e difíceis, como os de Lars Von Trier, onde ela pôde ( como em outros filmes) ser bastante forte ou frágil, ou ainda nem tanto. Ou ainda transitar num mesmo personagem por estas condições.
Não é qualquer atriz que aceitaria fazer “Ninfomaníaca” de Lars Von Trier, por exemplo.
Charlotte Gainsbourg tem em “Promessa do Amanhecer, em sua carreira, um dos seus mais vigorosos desempenhos, no nível de dois filmes que fez com Lars Von Trier. A saber: "Anticristo" ( 2009), que lhe deu Palma de Ouro de Melhor Atriz em Cannes; “Ninfomaníaca – Versão do Diretor – Volumes: 1 e 2" , onde ela é o que de melhor este filme irregular tem, uma obra ainda bastante corajosa e fascinante.
Sua entrega aos seus personagens foi sempre total e visceral, quando a obra exige. Mas Charlotte também sabe ser minimalista quando um filme pede esta atuação. É o que acontece em “Mundo Novo” (2006), obra-prima de Emanuele Crialese.
Neste admirável filme, seu personagem não italiano, faz um contraponto à efusividade dos camponeses da Sicília que vendem tudo e num navio querem ir para os EUA, no início do Século XX, onde haverá uma triagem bastante cruel. Há aqueles que dolorosamente terão que voltar ou descobrir um outro lugar ao sol.
As razões da personagem de Charlotte para querer ir para os EUA são um tanto misteriosas.
Em “Melancolia” (2011) do mesmo Lars Von Trier, ela é Claire, a mulher equilibrada da casa, promovendo uma festa de casamento para ajudar/ alegrar a irmã Justine (Kirsten Dunst) bastante depressiva, que não suporta mais o trabalho como publicitária e vai casar-se sem amor. E como isto fosse pouco tem relação muito ruim com a mãe.
Isto tudo na primeira parte. Já na segunda, enquanto Claire entra em desespero ao saber que o Planeta Melancolia vai chocar-se com a Terra e destruí-la, a irmã Justine da depressão passa à euforia, não sentindo nenhum medo, querendo que o mundo acabe mesmo, junto com ela.
Uma sequência belíssima explica bem o estado de espírito a que Justine chegou, quando fica nua sobre um grande pedra e numa posição erótica pronta para receber Melancolia.
Nina de “Promessa ao Amanhecer” é um personagem como nenhum outro que Charlotte fez antes, com um lado “mamma” de papéis de Anna Magnani no Cinema.
Não por acaso, em termos de fervor para ter filho escritor, "Promessa ao Amanhecer" remete a "Belíssima" (1952) de Luchino Visconti, onde Madalena Ceccon (Anna Magnani) faz de tudo para que sua pequena filha se torne uma estrela de cinema.
Mas aqui, depois de muitas tentativas e até humilhações, Madalena cai em si, de que deve deixar a filha crescer para que esta descubra o que realmente quer da vida. Assim recusa até convites que acabam aparecendo. Já Nina não. É incansável no seu propósito, de uma forma tão comovente, que não enxergamos nela o estereótipo da mãe chata.
É uma mãe que é uma grande benção para o filho, o impulsionando já criança para ser um grande escritor, controlando até a vida sexual do filho, enquanto adolescente, para que as energias deste se dirija primordialmente à escrita. Já adulto, para ser ainda, em paralelo, um grande combatente pela França na Segunda Guerra Mundial, mesmo que baseado na Inglaterra, com a França ocupada pelo nazismo..
Mas seus esforços podem também pode soar como uma maldição, despertando sentimentos bastante contrastantes, ambivalentes no filho Romain.
Um personagem assim como Nina poderia cair facilmente na caricatura, mas Charlotte não deixa que isto aconteça de modo algum, se mostrando bastante comovente e convincente do início ao fim do filme. Foi candidata ao Cesar 2018, mas perdeu. Fizeram justiça? Acho muito difícil que houvesse trabalho melhor de atriz como o seu, pois não é algo que surja a toda hora.
Mas, em termos gerais, “120 Batimentos Por Minuto” (2017) de Robin Campillo, esnobado pelo Oscar, é o mais potente filme francês deste ano, vindo para ficar, tendo recebido o Grande Prêmio do Júri em Cannes, quando muitos o queriam premiado com a Palma de Ouro, incluindo o presidente do júri Pedro Almodóvar, mas que decidiu ser democrático.
Ao ser anunciado o segundo prêmio do Festival em importância, a plateia aplaudiu o diretor por volta de 10 minutos.
Assim, não foi surpresa que “120 BPM” tenha recebido 12 indicações para o César e vencido 6, incluindo melhor filme.
Desta forma, alguns quesitos de “Promessa ao Amanhecer” deveriam mesmo ficar em segundo plano. Mas Charlotte não. Repito: não há ano em que se encontre facilmente desempenho tão vigoroso.
Pierre Niney, como o filho atormentado Roman, confirma suas grandes qualidades como ator, conforme vimos no excelente e ao seu modo transgressivo, "Frantz" (2016) de François Ozon.
Em “Promessa...” temos um filme com direção, fotografia, direção de arte, adaptação, trilha sonora, tudo superlativo, contribuindo para uma reconstituição de época apuradíssima.
Baseado em obra autobiográfica do grande escritor francês do Século XX Romain Gary, que recebeu dois prêmios Goncourt de Literatura Francesa, o mais prestigiado do país, um deles com o pseudônimo Émile Ajar, "Promessa ao Amanhecer" transmite, como diria Rubem Fonseca, "vastas emoções e pensamentos imperfeitos" do começo ao fim.
É uma obra muito mais instintiva, visceral, emocional do que racional. Até onde Nina vai como mãe e Romain chega como filho é algo da ordem do irrepetível.
“Promessa....” foi, disparado, o melhor filme visto no Festival Varilux do Cinema Francês de 2018.
Revi o filme, agora que estreou, com mais encantamento ainda e pequenos detalhes melhor percebidos, além de elementos da própria narrativa mesmo.
O que ficou forte agora é o grande bullyng que Romain sofria por ser judeu, surgindo de certo modo, até mesmo na vida adulta.
O filme com sua forte relação mãe/filho e suas consequências é um maná para psicanalistas.
A sequência em que Romain na África, preso a uma cama, com febre tifoide, recebe a mãe em delírio, mimetizando o que ela realmente lhe poderia dizer, dado seu temperamento e sonhos (como exemplo “Proíbo você de morrer!) é de uma tristeza profunda, mas de poética incrível.
A construção circular do filme, com o inevitável de volta ao começo, pois temos alguém lendo deste o início do filme um romance autobiográfico, é feita com grande habilidade dramática.
Aonde talvez a obra patine um pouco, seria a forma como Romain conduz outro combatente aéreo, bastante ferido, a voltar para a base na Inglaterra, encontrando tempo ainda para lançar bombas, num ato considerado bastante heroico. Mas isto de forma alguma compromete o filme. É uma questão de suspensão da descrença de cada um.
“Promessa ao Amanhecer” já tinha sido adaptado e filmado em 1970, por Jules Dassin, com sucesso, tendo Melina Mercouri, uma atriz intensa, como Nina.
Um filme de bastante prestígio e relativo sucesso, baseado em obra de Romain Gary, escrita sob o pseudônimo Émile Ajar ( “La vie devant soi”-1975), é “Madame Rosa- A Vida à Sua Frente ” (1977) de Moshe Mizrahi, com Simone Signoret como a protagonista.
Atenção: Adiante alguns spoilers, de maior ou menor importância
Romain foi para os EUA, escreveu roteiros, fez dois filmes ( “Kill”- 1971 e “Birds in Peru”- 1968), casou-se com a atriz Jean Seberg, célebre por ter contracenado com Jean-Paul Belmondo no primeiro filme e já clássico “Acossado” de Jean-Luc Godard, tendo ainda com grande sucesso “Bom Dia, Tristeza”(1958) de Otto Preminger, baseado em clássico da escritora François Sagan.
Mas mesmo com sucesso extraordinário como escritor, com mais de 30 livros publicados e outras conquistas, tudo isto não impediu que Romain tivesse um inferno interior, que o levaria ao suicídio aos 66 anos de idade, em 2 de dezembro de 1980.
Acredito que um dos componentes eternos desta grande tristeza tenha vindo do fato de sua mãe, que tanto sacrificou sua vida por ele, tenha morrido sem conhecer os sucessos que ela sempre ambicionou para o filho.
Mas repito: é um componente. O suicídio de alguém é sempre, em parte ou boa parte, eivado de mistérios.
E o suicídio de Jean Seberg em 30 de agosto de 1979 deve ter seu peso também para este gesto extremado do escritor, ainda que tenham ficados casados no período de 1962 a 1970.
Nelson
2- Links Associados
2-1 http://www.adorocinema.com/filmes/filme-120692/ - “Anticristo”(2009) de Lars Von Trier – Sinopse -Trailer- Créditos
2-2 http://www.adorocinema.com/filmes/filme-196465/ - “Ninfomaníaca Volume 1” (2014) de Lars Von Trier- Sinopse – Trailer - Créditos- Critica AdoroCinema- Críticas Nacionais e Internacionais
2- 3 http://www.adorocinema.com/filmes/filme-222021/“Ninfomaníaca Volume 2” (2014) de Lars Von Trier- Sinopse - Trailer – Créditos – Critica AdoroCinema – Críticas Nacionais e Internacionais.
2-4- http://www.adorocinema.com/filmes/filme-54150/- “Novo Mundo”(2006) de Emanuele Crialese – Sinopse – Trailer – Créditos
2-5 - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-173873/ - “Melancolia” (2011) de Lars Von Trier – Sinopse – Trailer - Créditos – Crítica AdoroCinema
2-6 - https://www.imdb.com/title/tt0066251/- “Promessa ao Amanhecer” (1970) de Jules Dassin – Sinopse – Créditos
2-7 -http://www.adorocinema.com/filmes/filme-27941/ - “Madame Rosa – Uma Vida à Sua Frente” ( 1977) de Moshe Mizrahi - Sinopse – Créditos